Acordo sentindo que minha cabeça vai explodir, a dor pulsando como uma faca cravada em minhas têmporas. Solto um gemido baixo, tentando mover meu corpo dolorido. Reviro-me na cama estreita, atônita, com a mente enevoada enquanto tento entender o que diabos aconteceu.Levo alguns segundos para me lembrar. O puxão, os gritos, o golpe. De repente, as memórias me atingem com força, como uma enxurrada.Sento-me devagar, levando a mão à cabeça, onde a dor é mais intensa, enquanto meus olhos vagueiam pelo ambiente ao meu redor. O quarto é pequeno e claustrofóbico, com paredes gastas e sujas. Há apenas uma cama desconfortável, uma mesa de madeira desgastada e uma cadeira solitária no canto.Uma janela pequena e alta perto do teto deixa entrar raios de luz fraca, sugerindo que é dia lá fora. O ar é pesado e sufocante, carregado de um cheiro estranho que mistura umidade e mofo.Minha garganta seca parece queimar enquanto tento engolir. Estou sozinha, mas a sensação de estar sendo observada não
Um notebook é colocado diante de mim por um homem, que rapidamente digita algo. Suas habilidades, de certa forma, me impressionam. Logo, um vídeo é pausado na tela. O homem se levanta, se curva diante de Ren e sai do quarto. Eu olho fixamente para a tela, e a imagem que aparece parece um ginásio ou um galpão abandonado, não consigo ter certeza.— Eu queria matá-la, mas graças à aliança de Giovanni com o meu chefe, eu não posso tocá-la. Então, pensei em fazermos um pequeno acordo. — Ele aponta para a tela do notebook. — Esse vídeo mostra o assassino do seu pai. — Ele faz uma pausa, sorrindo de maneira enigmática. — Nesse vídeo, você verá o exato momento em que seu pai foi assassinado.Meu coração, que já estava acelerado, bate ainda mais rápido.Eu esperei tanto por isso.Deixo as lágrimas saírem, um sinal de alívio. Finalmente, depois de tanto tempo, vou conseguir trazer justiça ao meu pai. A sensação de um peso que me acompanhava por tanto tempo começando a se dissipar é quase imposs
Despauso o vídeo e vejo meu pai amarrado a uma cadeira, sendo brutalmente espancado por Rodolfo. Mesmo com a imagem borrada e distorcida, consigo compreender o que está acontecendo. Vejo o exato momento em que Alexander se aproxima, fazendo Rodolfo se afastar. Eles trocam algumas palavras, mas o vídeo não tem som, então não consigo entender.Meu coração dói, queima como fogo ao ver Otávio se aproximando com uma cadeira e uma pasta na mão. Meu pai cospe sangue, e eu me afasto brutalmente da mesa, sentindo o ar me faltar. Uma angústia sufocante me aperta, me fazendo sentir tonta e uma raiva que não consigo controlar.Foram eles... Eles mataram meu pai. Otávio...Não consigo concluir o pensamento. Fecho meus olhos, tentando afastar a imagem, mas não há como. É mentira, tem que ser mentira.— A parte mais interessante está no final. - Ouço Ren Katakana, mas não olho para ele. Tento controlar minhas mãos trêmulas, o choro e o grito que estão presos na garganta. — Veja, menina.Me viro e,
Mantém a calma.Essa palavra reverberava na minha cabeça todas as vezes que me questionava onde Desirée poderia estar. Mobilizei todas as conexões, todos os recursos da organização, e ainda assim, nada.Cinco horas. Fazem cinco horas que estamos virando Nova York de cabeça para baixo em busca dela, e mesmo assim nada. Cada minuto que passa só aumenta o peso no meu peito, como se a cidade inteira estivesse se fechando ao meu redor.A incerteza é sufocante. E, pior, o silêncio é absoluto.É como se Desirée tivesse evaporado. Não conseguimos acessar as câmeras de segurança, o que, para mim, não é nenhuma surpresa — sei que Ren Katakana está com ela.Mas onde?Essa incerteza aumenta ainda mais minha tormenta. A ideia de que ela está sob o poder de alguém tão cruel e imprevisível me consome, e cada minuto que passa sem notícias é uma faca girando no meu peito.Olho para Rodolfo, que está concentrado no notebook, analisando rotas e lugares que provavelmente ainda não verificamos. Ele está c
—Você não pode trair o conselheiro da Cosa Nostra.Depois de revelar a Giovanni tudo o que sabia, a única coisa que ele conseguiu entender foi que eu, de alguma forma, estaria traindo Otávio. Como se eu tivesse a obrigação de ser fiel a ele, como se eu fosse uma peça qualquer nesse jogo sujo deles, como se entre Otávio e Marcela eu fosse escolher Otávio.Nem morta faço uma besteira dessa.Otávio mentiu, me enganou, me usou... e a única preocupação de Giovanni foi com minha lealdade. A lealdade que me exigiam, enquanto Otávio, o homem com quem achei que poderia compartilhar uma história, me arrancava do meu próprio chão, me traía de uma forma tão profunda que nem mesmo minha dor parecia suficiente para aplacá-la.Frustrada, joguei o vaso de flores contra a parede. As flores que ele mesmo me deu essa semana, e que agora se estilhaçam ao chão, como uma metáfora para tudo o que era bonito, mas se partiu. O impacto do vaso contra a parede ecoa pela sala, e o som das flores se espalhando pa
Sinto o calor reconfortante me envolvendo, um perfume familiar que traz uma sensação de segurança, mas não consigo afastar o peso da dor e da raiva que ainda estão em minha mente. Ele me levanta do chão, e o conforto que sua presença deveria me trazer agora só me causa repulsa. Eu tento resistir, mas as lágrimas ainda se acumulam, ameaçando cair a qualquer momento enquanto ele me aperta contra seu peito.Quando sou colocada na cama, me viro, ainda tentando afastar o cansaço que ameaça me consumir, e abro os olhos. O que vejo me faz parar por um instante: Otávio está ao meu lado, sua mão segurando a minha. Seus olhos, os mesmos que presenciaram a morte do meu pai, me fitam com uma intensidade que me faz querer gritar.Meus dedos tremem quando tento puxar minha mão das suas, mas é como se um peso invisível me impedisse. A mesma mão que apertou o gatilho, a mesma mão que tirou a vida de meu pai, agora me segura com força.Como eu pude, um dia, achar que esse homem poderia ser o meu futur
Um grito desenfreado escapa da minha garganta, a raiva e o ódio me consumindo de uma forma que eu nunca imaginei ser capaz. Quando percebo, estou golpeando-o com as mãos, o ódio que sinto por ele tomando conta de todo o meu ser. Queria matá-lo ali mesmo, arranhar e destruir cada pedaço desse monstro, mas não posso. Não posso deixá-lo morrer agora, não posso deixar que ele acabe, por mais que a dor que ele me causou seja insuportável. Ele ainda tem um valor. Marcela, minha amiga... A vida dela está entrelaçada com a dele, e essa troca nojenta, essa barganha, me consume por dentro.Eu continuo esmurrando-o, e ele permanece lá, quieto, sem revidar, aceitando o furor das minhas mãos, permitindo que todo o ódio que sinto seja despejado sobre ele. Eu grito, eu choro, e o som das minhas emoções rasgando o silêncio é o único que ecoa. Ele, em sua estranha calmaria, não responde. Apenas se mantém em silêncio, como se já soubesse que nada que ele diga poderia mudar o que eu sinto, a destruição
Essa noite foi uma das mais terríveis que já experimentei. O silêncio se arrastava pelo quarto enquanto minha mente mergulhava em cenários que eu preferia não imaginar. No entanto, como combinado, às sete horas eu já estava na garagem, esperando por ele. Não baixaria a guarda, muito menos voltaria atrás na minha decisão. Por mais que meu coração doa, por mais que minha mente grite para que eu não faça isso, não há escolha. E, mesmo que houvesse, acredito que ainda assim não escolheria outro caminho.O som do elevador subterrâneo rompe o silêncio me fezendo levantar a cabeça. A porta se abriu e lá estava ele. Otávio. Calmo, tranquilo, como se fosse mais um dia qualquer. Uma rocha inabalável, como sempre, mas algo dentro de mim não consegue mais interpretar essa calma como força. É indiferença, ou talvez resignação. Ele caminha em minha direção, e tudo em sua postura diz que ele não teme o destino que o aguarda.A morte. Fecho meus olhos com força ao sussurrar essa palavra em meus pen