Beleza, iríamos fazer uma loucura. Melhor, eu arrastava Jenn para uma. Mas quem é que liga quando se pretende entrar escondido em um hospital para loucos? O mais provável era que seríamos confundidos com pacientes, até que um belo dia ensolarado eles notariam que aqueles dois não era tão totalmente retardados. Mas qual o problema? Além de sermos presos e condenados por invasão, falsa identidade e etcetera e tal… quem é que se importa!
Eu.
Porque no Estados Unidos eu já era de maior.
Porque se eu fosse pego, eu ia me ferrar.
E faria Jenn se ferrar também, afinal, ela estava junto comigo nessa até o pescoço.
— Certo — sussurrei quando terminamos de atravessar a avenida, parando atrás de uma árvore no lado oposto do Hospital. —
— Acha que se eu pedir pra Cordélia, ela me deixa acessar?— Não custa tentar. Ou talvez custe, tipo, cadeia.— Não está ajudando, namorado.— Desculpe, namorada.— Cordélia estava vindo dali. Ainda não te viu. Saia de perto de mim.Você quem manda, madame.Acelerei o passo enquanto Jenn parou para falar com Cordélia.— Ei, você! O quarto 201 precisa de ajuda! Corra lá! — uma mulher baixinha e atarracada falou, provavelmente alguma expert dali. Fiquei parado, fazendo cara de paisagem, até que me toquei de que ela falava comigo. — Você é surdo?!— Hã… certo! — falei rapidamente, me enrolando todo.— Jesus, esses enfermeiros às vezes parecem piores que os pacientes — reclamou, bufando. — Vamos! Eu vou junto!Ela correu na minha fren
Fechei a porta atrás de mim e fitei o pequeno quarto.Havia uma cama de solteiro, uma janela aberta com grandes cortinas que chegavam até o chão. O teto era escuro e cheio de desenhos de estrelas. Havia um tapete fofo no centro do quarto e uma mesa do lado direito. Era ali que ela estava.Estava sentada, sequer olhou para trás quando a porta se abriu. Os cabelos eram compridos e emaranhados, ruivos com vários tufos já acinzentados. Usava uma camisola e parecia vidrada no que quer que rabiscava freneticamente a sua frente.– Ellen – sussurrou Jenn, tremendo.A mulher parou, levantando a cabeça, fitando a parede.Jenn deu um passo lento, temerosa. Então deu outro e outro e outro, ficando atrás dela, tão próxima quanto possível.– Eu... h&at
Se você está lendo essas palavras, é claro que eu não morri. Acho que ainda não é possível escrever do além, mas se for, não é o meu caso.Se eu senti dor, só fui descobrir depois que Jenn e eu já estávamos em um táxi. Ela deitou a cabeça no meu ombro e eu afaguei seus cabelos, tentando conforta-la enquanto suas lágrimas caíam.Meu tornozelo doía horrivelmente, provavelmente estava torcido. Meus braços estavam arranhados e as palmas das minhas mãos sangravam.Se você não é Jackie Chan e decide pular em um toldo do 5° andar de um prédio, você ou vai acabar morto ou vai acabar como eu.– Machucou muito? – sussurrei no ouvido de Jenn. – Onde dói?– Dói
Deixei meu celular cair no chão depois que ouvi a mensagem. Apenas sei que eu não conseguia processar direito, não conseguia chegar a uma conclusão do por quê aquilo estar acontecendo, até que percebi que não tinha uma, além da lógica: Jenn estava doente, o resto era injustiça. Pensei em invadir a casa dela, para leva-la ao hospital mais próximo, para salva-la enquanto ainda havia tempo, daí do nada eu soube que com certeza o pai dela já tinha feito isso.O hospital mais próximo da casa de Jenn era há 15 minutos dali. Correndo, entrei no carro de mamãe e dei partida.~~~ // ~~~Os cheiros costumeiros de antissépticos e álcool dançavam pelo ar, o que particularmente me deixa enjoado. Me apressei a ir na recepção, onde uma mulher de cabelos escuros atendia uma l
– Isso vai ser interessante – murmurou, alegre.Ri, me ajoelhando no chão, mas antes disso dei uma escorregada, caindo sentado, depois me ajoelhei novamente, gargalhando, nervoso.Jenn riu, aquela risada alta e gostosa, do tipo que se era boa para ouvir todos os dias, para sempre.– Ai, meu Deus, você é patético – disse ela, recuperando o fôlego.– E daqui uns dias você vai ser tonar a Sra. Patética Grey, então calada! – zombei. Tirei a caixinha do bolso a abrindo delicadamente, enquanto sorria. – Jessica Winters, quer ser minha namorada?Ela sorriu, mas não falou nada, arqueou a sobrancelha. Fez um sinal de zíper fechado em frente a boca.– Tá, pode falar – revirei os olhos.Ela riu.
Nos dias seguintes, a temperatura baixou bruscamente, aos poucos transformando Ophelia em uma paisagem branca e nevoada.Jenn já havia encontrado um vestido para se casar. Nos casaríamos no alto do penhasco, ao por do sol, uma escolha da própria Winters. Não seria possível uma lua de mel em outra cidade, porque infelizmente Jenn teria que estar sobre a vistoria de médicos e enfermeiras, cada vez mais. No lugar disso, ficaríamos em um chalé alugado, em uma das reservas da cidade. Só faltava eu conversar com meus pais e fazer o pedido formal para Jenn. Fiquei imaginando como meus pais agiriam. Provavelmente a primeira coisa que perguntariam seria se Jenn estava grávida, vendo que eu não havia falado para eles que ela estava doente.Antes de ir pra escola, eu conversei com eles que mais tarde Jenn jantaria lá, junto com o pai. Meus pais concorda
— Tudo bem, Jessica, pode falar, a culpa é mesmo de Luis. Esse idiota não sabe diferenciar uma bexiga de uma camisinha — falou meu pai, com um muxoxo.Ei! Muito obrigado pelo apoio, mesmo.— Jenn não está grávida, cacete! — bati a mão na mesa, para chamar a atenção. — Não está!Minha mãe nos olhava com total descrença.— Então por que vão casar? São duas crianças de 17 anos!Jenn se ajeitou na cadeira, colocou uma mecha dos fios atrás da orelha e umedeceu os lábios.— Bem… quando eu era mais nova, fui diagnosticada com um tipo raro de câncer para minha idade e por eu sou uma garota, no estômago. Eu fiz o tratamento e depois de vários meses lutando
Comecei a acordar todos os dias pensando que aquele seria o último.Novos hematomas apareciam em Jenn a cada 24 horas do tempo corrido. Ela dormia 20 horas por dia e tê-la diante de mim acordada era um grande trunfo. Parecia que o dia do casamento não chegava e quando chegaria, já seria tarde demais.Tentei procurar uma solução. Jenn não conseguiria mais ajuda na ciência e mesmo se agora tentasse, não ajudaria com o pouco de tempo.Comecei a rezar. A implorar. Peguei a bíblia de mamãe e implorei para o Deus dali provar para mim que existia e fazer seu milagre. Mas nada aconteceu.– Luis, eu sei que você nunca foi muito religioso, nem todas as tentativas e as suas idas a igreja mudaram isso e eu sei que agora você está clamando por ele, mas você tem que entender que certas coisas simplesmente estão destinadas a acorreram de tal maneira. Talvez o