– Isso vai ser interessante – murmurou, alegre.
Ri, me ajoelhando no chão, mas antes disso dei uma escorregada, caindo sentado, depois me ajoelhei novamente, gargalhando, nervoso.
Jenn riu, aquela risada alta e gostosa, do tipo que se era boa para ouvir todos os dias, para sempre.
– Ai, meu Deus, você é patético – disse ela, recuperando o fôlego.
– E daqui uns dias você vai ser tonar a Sra. Patética Grey, então calada! – zombei. Tirei a caixinha do bolso a abrindo delicadamente, enquanto sorria. – Jessica Winters, quer ser minha namorada?
Ela sorriu, mas não falou nada, arqueou a sobrancelha. Fez um sinal de zíper fechado em frente a boca.
– Tá, pode falar – revirei os olhos.
Ela riu.
Nos dias seguintes, a temperatura baixou bruscamente, aos poucos transformando Ophelia em uma paisagem branca e nevoada.Jenn já havia encontrado um vestido para se casar. Nos casaríamos no alto do penhasco, ao por do sol, uma escolha da própria Winters. Não seria possível uma lua de mel em outra cidade, porque infelizmente Jenn teria que estar sobre a vistoria de médicos e enfermeiras, cada vez mais. No lugar disso, ficaríamos em um chalé alugado, em uma das reservas da cidade. Só faltava eu conversar com meus pais e fazer o pedido formal para Jenn. Fiquei imaginando como meus pais agiriam. Provavelmente a primeira coisa que perguntariam seria se Jenn estava grávida, vendo que eu não havia falado para eles que ela estava doente.Antes de ir pra escola, eu conversei com eles que mais tarde Jenn jantaria lá, junto com o pai. Meus pais concorda
— Tudo bem, Jessica, pode falar, a culpa é mesmo de Luis. Esse idiota não sabe diferenciar uma bexiga de uma camisinha — falou meu pai, com um muxoxo.Ei! Muito obrigado pelo apoio, mesmo.— Jenn não está grávida, cacete! — bati a mão na mesa, para chamar a atenção. — Não está!Minha mãe nos olhava com total descrença.— Então por que vão casar? São duas crianças de 17 anos!Jenn se ajeitou na cadeira, colocou uma mecha dos fios atrás da orelha e umedeceu os lábios.— Bem… quando eu era mais nova, fui diagnosticada com um tipo raro de câncer para minha idade e por eu sou uma garota, no estômago. Eu fiz o tratamento e depois de vários meses lutando
Comecei a acordar todos os dias pensando que aquele seria o último.Novos hematomas apareciam em Jenn a cada 24 horas do tempo corrido. Ela dormia 20 horas por dia e tê-la diante de mim acordada era um grande trunfo. Parecia que o dia do casamento não chegava e quando chegaria, já seria tarde demais.Tentei procurar uma solução. Jenn não conseguiria mais ajuda na ciência e mesmo se agora tentasse, não ajudaria com o pouco de tempo.Comecei a rezar. A implorar. Peguei a bíblia de mamãe e implorei para o Deus dali provar para mim que existia e fazer seu milagre. Mas nada aconteceu.– Luis, eu sei que você nunca foi muito religioso, nem todas as tentativas e as suas idas a igreja mudaram isso e eu sei que agora você está clamando por ele, mas você tem que entender que certas coisas simplesmente estão destinadas a acorreram de tal maneira. Talvez o
Ela estava linda. Mais linda que o comum. Os cabelos ruivos exibiam pequenas ondas nas pontas. O vestido era branco e comprido, todo coberto por rendas. Os braços e o decote tinham rendas graciosas, que davam um ar romântico. Uma coroa de flores enfeitava sua cabeça. O véu caia para trás, o vento fazendo-o esvoaçar. Sua pele apresentavam pouca maquiagem, mas o suficiente para aliviar as olheiras e os hematomas roxos.Jessica estava maravilhosa.Ela vinha de braço dado ao pai, com um sorriso no rosto, um brilho no olhar iluminador. Eu via a cena acontecendo em câmera lenta, tendo certeza que dali 50 anos eu iria ver a cena novamente, exatamente como estava acontecendo naquele instante, aí eu ia sorrir, pensando que eu não podia ter feito uma melhor escolha em minha vida.Troquei o peso de um pé para o outro, ansioso. Seus olhos verdes estavam presos nos meus azuis, fixados um no outr
No segundo dia de nossa estadia no chalé, uma enfermeira apareceu. Não posso dizer que estava surpreso. O prazo de Jenn se resumia a uma semana e eu sabia que o médico dela havia avisado que mandaria uma enfermeira.A enfermeira era uma mulher de uns 30 anos, cabelos curtos, castanhos, olhos da mesma cor, baixa.Jenn estava sempre dormindo. Eu sei que quando se pensa em alguém dormindo, pensa nela calma, relaxada, tranquila, bonita. Mas não era assim que Jenn ficava/estava. Com certeza bonita, porque ela era de qualquer jeito, mas nunca tranquila. Sua pele estava tão pálida e de tão pálida, arroxeada. Havia hematomas. Sua barriga estava inchada.Olheiras em seus olhos. Seu cabelo havia perdido o brilho. Ela sentia um frio descomunal e toda vez que estava dormindo, parecia estar definhando ao mesmo tempo. Aquilo acabava comigo. Não par
— Me lembro de quando eu soube que Oliver morreu — Jenn abraçava os cobertores, com um copo de chá na mão. — Inverno de 2011, frio pra cacete. Eu estava sentada no parapeito da minha janela, quando meu pai entrou no meu quarto e me abraçou, disse que sentia muito. Eu soube na hora. Foi estranho. Quero dizer, não tínhamos nem chegado a trocar mais do que um ou dois beijos. Mas eu gostava dele. Eu estava saindo do hospital, estava melhor e ele só piorava, parecia sentir tanta, tanta dor — ela deu uma risada dolorosa, triste. — Agora eu sei a dor que ele sentiu antes de descansar em paz. Daí um belo dia no meio do verão ele foi embora pra França e no inverno eu soube que ele nunca mais voltaria. Foi péssimo.Eu estava sentado na cama, de pernas cruzadas, apenas de cueca, processando as palavras, de cabeça baixa.Seg
Passando a mão no espaço ao meu lado, eu sentia que estava frio e vazio, como se há vários minutos estivesse abandonado. Um barulho de água caindo se fazia ouvir não muito distante dali.– Jenn? – chamei baixinho. Silêncio. A escuridão me parecia tenebrosa, solitária. Sentei-me na cama, estiquei o braço e acendi o abajur. A claridade fez meus olhos arderem. Pisquei rapidamente durante poucos segundos, os poucos segundos em que fiquei atordoado, até que joguei o cobertor para o lado, pulei da cama, em pânico, correndo para o banheiro.Não... Não... agora não!– JENN! JENN! JENN! ABRA A PORTA, POR FAVOR! ABRA! – berrei.O meu coração estourava dentro de mim. Bati na porta sem parar, chutei, soquei e me joguei contra ela, mas o único som que saía era a água caindo, se chocando contra o chão.
As pessoas me abraçavam. Diziam “pêsames, lamento”. Choravam em meu ombro. Falavam que eu devia seguir em frente, que tudo continuaria. Mas eu não queria, não queria que chorassem em meu ombro, não queria seguir em frente e nem que as coisas continuassem.O que eu gostaria de dizer? Que o “sinto muito” ali apenas significou que ele sentia muita, muita felicidade por ter feito um milagre e salvado Jessica Grey e que depois disso eu e Jenn prosseguimos com nossa lua-de-mel e que vivemos juntos, felizes para sempre. Mas não foi o que aconteceu e eu não vou contar mentiras.— ELA MORREU! ESTÁ MORTA! NÃO ME IMPORTO DE SABER QUE TENHO UMA VAGA NA LANGSTON!NÃO ME IMPORTO, O.K? — soltei, fitando minha mãe na porta do quarto. Respirei fundo. — Apenas… apenas… me deixe só.