Rosa
Parei nos degraus e respirei fundo, consertei minha postura, não estava preparada para encará-los na mesa do almoço, mesmo assim dei um passo à frente.
Os saltos eram exagerados e eu não sabia como andar com eles, ainda assim dei mais um passo à frente, descendo às escadas com calma, a casa estava silenciosa, olhei para os lados, tudo o que eu queria era voltar para o quarto e me deitar, ficar na cama de moletom e me remoer em minha dor, mas precisava cumprir o cronograma.
Entrei na sala de estar e era como se meus olhos se enchessem, às lembranças pairavam em minha mente brotando involuntariamente a cada segundo que se passava, eram tantas recordações com o Sr Antonio naquela mesa, comíamos juntos algo que quase ninguém entendia, mas ele era um homem solitário e após meses de insistência, eu me sentei a mesa e passei a comer todos os dias com ele, desde então não percebemos quando haviamos esvaziado o prato, continuavamos na mesa conversando por um tempo enquanto Antônio falava de suas histórias ou mesmo conversava sobre coisas aleatórias, ou suas preocupações, suas dores.
Meus olhos se encheram de lágrimas, era estranho me sentir feliz e triste ao mesmo tempo, enquanto sorria queria chorar.
Um barulho no fundo fez com que eu me alertasse, afastei às lágrimas nos cantos dos olhos e consertei minha postura, Damon saiu das sombras, carregava um livro consigo, ele fez um gesto com a mão como se fosse um soldado batendo continência, só que de forma mais leve e se inclinou sobre a farta mesa beliscando um pedaço de carne.
— Te dei um susto?
— Não — Menti e olhei em volta — Cadê os outros?
Ele deu de ombros.
— Eu nunca sei onde está Renato e Edgar deve estar fazendo alguma boa ação na cidade ou plantando uma árvore, seila.
Balancei a cabeça assentindo e ele pegou o garfo e faca e cortou um pedaço generoso da carne a arrancando, ele parou antes de a morder percebendo que eu o olhava.
— O que foi?
— Nada.
— Por que está vestida assim?
Olhei para o meu vestido e botei a mão em volta da barriga.
— Eu só achei…
— Não me importa — Disse ele dando de ombros e botando o pedaço de carne na boca, então pegou seu livro e deixou os talheres em cima do prato vazio.
— Espera! — Falei e ele parou antes de começar a andar — Você não vai ficar e comer comigo?
Ele balançou a cabeça e riu.
— Por que eu faria isso?
— Por que está no testamento…
Ele assentiu.
— Sim, está e não me lembre disso! — Ele olhou em volta e assentiu, suspirou e então pegou a cadeira arrastando — Tudo bem, terei que fazer isso às vezes, melhor que não junto com Renato todas às vezes.
Balancei a cabeça e me aproximei, me sentando à sua frente sorri, ele franziu a testa e me olhou, abaixei os olhos envergonhada.
— Eu e o Sr. Antônio nos sentávamos assim, ele falava bem mais do que comia, a nossa comida esfriava e tudo tinha que ser esquentado de novo às vezes, o Sr. Antônio não gostava de comida fria no início, mas depois mal percebia que estava fria enquanto falava e comia — Ergui meus olhos, Damon não estava comendo, ele me olhava concentrado com um semblante sério, só então percebi que era cedo demais para falar sobre Antônio no almoço — Me desculpa, eu…
Ele ergueu a mão me interrompendo,então a abaixou devagar enquanto me olhava sério. Ele largou os talheres em cima do prato vazio e suspirou, se inclinou sobre a cadeira, senti meu rosto esquentar, a cada segundo meu coração disparava mais sentindo o clima estranho entre nós.
— Eu perdi a fome.
— Me desculpe.
Ele balançou a cabeça e já estava me levantando quando senti sua mão forte sobre meu braço, ele havia se levantado rápido e erguido o braço me impedindo de continuar a andar, me encarava sério, soltou a mão devagar.
— Por favor, fale sobre o meu avô
A minha primeira reação foi ficar chocada, depois, suavizei às expressões e balancei a cabeça assentindo e me sentei de novo, ele fez o mesmo, olhei em volta, às lembranças brotavam em minha mente, toda a arrumação, o som alto dá risada de Antônio sobre o cômodo.
— Ali — Apontei — Aquela janela estava sempre fechada, era a única, o Sr Antônio dizia que se abrisse todas fazia muita claridade e seus olhos doíam, costumávamos comer aqui nessa mesa, mas às vezes em dias mais quentes comíamos no jardim, na mesa perto das hortênsias.
— Você comia aqui na mesa com meu avô?
Balancei a cabeça assentindo.
— Por que?
Suspirei tentando formular a resposta em minha mente de forma simples e resumida, então olhei para Damon de novo.
— Quando comecei a trabalhar, não comia aqui. Mas ele insistiu meses para que eu começasse, o Sr Antonio se sentia sozinho e ele gostava de companhia para comer, porque gostava muito de conversar enquanto comia, sem pressa, deixava a hora passar, a comida esfriar…
Damon balançou a cabeça devagar.
— Ele não gritava e xingava você?
Ri das palavras diretas de Damon.
— Sim, ele fazia isso. Às vezes a convivência era difícil, insuportável, principalmente no início. Mas depois de dois anos, o Sr Antônio foi mudando, ele foi ficando mais triste… Mas pensativo… Havia passado por muitos médicos, ficou muito tempo internado e passou a enxergar a vida com outros olhos, passou a me tratar melhor e também a todos os outros funcionários.
Ele riu incrédulo.
— Você foi a santa da vida dele?
Balancei a cabeça negando.
— Não! Eu só fazia o meu trabalho…
— Mas então por que ele gostava tanto de você?
Fiquei quieta e olhei para o meu prato.
— Você gosta de comer nessa mesa Rosa?
Olhei em seus olhos, não respondi, não sabia qual era a pretensão da sua pergunta.
— Renato me disse que você dormiu no quarto da nossa mãe essa noite…
Suspirei e larguei os talheres segurando firme na cadeira, pensando se deveria me levantar ou tentar conversar, temia que Damon explodisse como Renato, não sabia até onde a semelhança dos irmãos Bonner ia, mas Damon era parecia bem mais contido do que Renato.
— Você não tem voz Rosa?
— O que quer que eu diga, isso vai mudar seu pensamento sobre mim? Deixarei de ser vista como uma oportunista?
— Mas não é isso que você é, uma oportunista?
Franzi a testa incrédula e entreabri os lábios chocada com a sua resposta.
— Você nem mesmo me conhece!
— Não é preciso, eu nasci rico, conheço um oportunista quando vejo um!”
— Eu não sou, eu…— Percebi que não sabia mais o que dizer, por que eu era tão ruim nisso? Meus olhos se encheram de lágrimas e pisquei tentando não deixar que elas caíssem.
— Não me diga que você quer chorar? — Ele ergueu as sobrancelhas e arregalou os olhos surpresos.
— Não.
— Pelo amor do meu falecido avó, faça um favor para mim e para você e pare de mentir! — Disse ele de forma grossa — Você é uma péssima mentirosa Rosa!
Me levantei rápido.
— O Sr Antônio estava certo em não querer dar o dinheiro a vocês dessa maneira, é um grosso, apático que não sabe como tratar às pessoas, precisa mesmo de uma pessoa que o faça enxergar o que é amor!
— E esse alguém é você? Eu não consigo entender que experiência você tem para avaliar minha futura esposa! — Disse ele torcendo a boca com desdém.
Arregalei os olhos, a raiva fervilhava dentro de mim, peguei o copo de vinho em cima da mesa e joguei no rosto de Damon, só então percebi o quão longe eu fui. Todos os meus músculos se enrijeceram, peguei rápido o meu guardanapo de pano por cima da mesa e tentei enxugar seu rosto.
— Me desculpe Sr Damon, eu…
Ele se levantou se afastando, andei apressada contornando a mesa parando em sua frente.
— Eu.. eu não devia…
— Por favor Rosa, pare!
Assenti e abaixei o guardanapo, meus lábios tremeram percebendo que havia ido longe e que talvez as coisas dificultaram ainda mais, me virei incapaz de conter as lágrimas e saí a passos firmes para fora do cômodo, foi então que vi um rosto familiar do qual reconheceria em qualquer lugar, Jonathan estava com as malas na mão ainda, ele me olhou sério e deixou as malas no chão bem a tempo de me enfiar em seus braços e desatar a chorar.
— Tudo bem Rosa, agora estou aqui!
Meus amados leitores espero de coração que estejam gostando do livro, as coisas vão começar a esquentar agora haha espero que o seu coração esteja preparado para tantos altos e baixos e muitos desejos proibidos. Não esqueçam de comentar e curtir, para mim é muito importante!!
Rosa Eu e Jonathan subimos as escadas, ele parecia impressionado com o quarto enquanto eu contava os últimos acontecimentos, Jonathan balançava a cabeça e dizia poucas palavras. Ele tocou em um dos quadros de António antigo do qual havia um barco ao fundo, em um mar turbulento. — Por favor Jonathan, não toque em nada, esse quarto não é meu! — Não é ? — Ele se virou e abriu um sorriso — Você tem noção da sorte que você tem? Agora essa casa inteira é sua, isso é tão incrível quanto absurdo! Ele se aproximou rápido da cama onde eu estava sentada e me deu um beijo rápido que me pegou desprevenida. — Jonathan… — Ele me beijou de novo, um beijo rápido, mas forte me impulsionando um pouco para trás — Jonathan, você ouviu o que eu disse? — Sim, você acabou de ganhar na mega sena! — Não — Falei segurando o rosto dele, tentando impedir que ele me beijasse de novo e ele me puxou pela cintura me aproximando mais de si, tirou a alça do meu vestido e beijou meu p
Rosa Sai do terraço me sentindo vitoriosa, com um sorriso nos lábios, sabia que agora Damon estava com ainda mais raiva de mim, mas entre às desavenças e o desejo deles de me diminuir a qualquer custo eu estava chegando a um ponto onde me sentia sufocado, não tinha mais lágrimas para chorar ou cabeça para suportar, entre os cochichos dos meus colegas de trabalho e o olhar penetrante e julgador de Renato que insistentemente jogava piadas quase sempre que me via, Damon também não facilitava, era mais sutil, porém, tinha o mesmo desdém de todos da casa. Fazer com que todos gostassem de mim nunca foi tão difícil… Suspirei e parei em uma das janelas do corredor sentindo um nó em minha garganta, notei pelo lado de fora da janela e logo depois do grande gramado que se estendia a muitos metros, que atrás dos muros estavam abarrotados de jornalistas, todos pelos quais havia me prendido naquelas paredes, sem que eu pudesse sair para espairecer nem mesmo no quintal, pois sabia que logo
Rosa — A Sra. Rosa — Wallace me olhou de cima a baixo — Suas roupas. Olhei para minhas roupas, mas elas não estavam fora do lugar, me sentia envergonhada como se tivesse sido pega de surpresa e olhei para os olhos dele. — O que tem minhas roupas? — Elas estão amarrotadas, quer que eu as leve para as passar? — Agora? — Franzi a testa — O Sr. Antonio às vezes pedia para que passassem a roupa dele no meio do dia… Wallace balançou a cabeça assentindo. — E nesse tempo ele ficava como? Pelado? — De roupão, em sua sala de descanso. Balancei a cabeça assentindo, parece que havia coisas sobre a rotina de Antônio que eu não sabia. — Não é preciso, eu vou tomar um banho e me deitar. Já estava saindo quando Wallace chamou meu nome de novo, parei e olhei para ele. — Diga. — Isso é para você — Ele ergueu a mão revelando uma carta. A segurei, então olhando para ele e para ela a abri com cuidado para não rasgar o conteúdo de de
Rosa Ainda era muito cedo quando abri os olhos e perdi o sono. Deixei Jonathan dormindo na cama e caminhei pela casa perambulando pelos corredores que eu conhecia bem, mas que agora, de alguma forma, pareciam diferentes. Eu havia acordado pensativa, com tantas coisas acontecendo eu não sabia como agir, o que pensar, o que fazer. Todos pareciam contra mim, tudo parecia sufocante, eu ainda estava com um milhão de memórias que me vinham e iam pela mente durante o dia do Sr Antônio que foi como um pai para mim e todos os meus colegas e alguns que eu considerava amigos, viraram às costas para mim. Caminhei pelo campo e parei perto de um pequeno lago bonito, era frio e a neblina deixava tudo parecendo ainda mais monótono. Foi quando vi Jonathan dirigindo como um louco em um carrinho de golfe e gritando, vindo em minha direção. — O que é isso? — Perguntei incrédula e balancei — Parece uma criança. — É divertido — Disse ele saindo do carrinho de golfe, ele botou a mão e
Rosa Na mesa do jantar o silêncio reinava, Edgar havia pintado os cabelos de vermelho a uma hora atrás fazendo com que Renato o olhasse com desdém e Damon risse do seu novo visual. Ninguém me olhava e quando olhava era com desdém, mas Jonathan parecia ser ignorado completamente por eles. Era algo bem melhor do que o que eu estava passando. — Você também irá à festa Damon? — Como? — Perguntou Damon me olhando surpreso. — Você foi convidada? — Perguntou Renato com indignação. Alternei o olhar entre eles. — Sim, eu fui. Edgar esboçou um riso contido e me olhou com olhos travessos. — Você não vê, né Rosa? — Não vejo o que? — Ninguém te conhece, ninguém quer você lá, ganhou destaque por causa do nosso avô, mas se você for, será motivo de piada! — Wallace disse que… — O Wallace que diz é o nosso Wallace, o mordomo? — Perguntou Renato e balancei a cabeça assentindo — O que ele sabe? — Ele era o braço direito do Sr Antônio
Rosa Assim que vi todos saírem a passos rapidos, me permiti desabar. Olhei em volta e senti como se meu peito estivesse sendo esmagado a cada segundo mais, doía, como aquela sala nunca me doeu antes. Estava impregnado em cada cômodo, cada canto às lembranças de Antônio, eu havia aprendido a amar aquele Senhor como se fosse minha própria familia, a familia que eu não tinha e agora a dor era inegável, assim como a mesa quebrada parecia ser o fim do ciclo de algo que nunca mais voltará a ser como antes. Me abaixei e peguei um caco de vidro de um prato quebrado no chão. — Rosa, deixe isso que os empregados iram limpar amanhã — Pediu Jonathan tocando em meu ombro. Balancei a cabeça negando. — Não dá para deixar isso — Falei na certeza de que logo ia desabar em lágrimas. — Rosa, você não é mais funcionária daqui. Vamos sumir e tomar um banho, deitar, eu te faço uma massagem. O dia foi estressante, deixe que os criados limpem a… — Criados? — O questionei
Não esperei que Damon respondesse e também não olhei para o seu rosto de novo, estava envergonhada demais para isso. Segui rápido sem olhar para os lados em direção ao meu quarto e quando cheguei vi Jonathan deitado na cama dormindo como uma pedra. Tirei os sapatos sujos de comida os deixando pelo caminho, exausta, esgotada da noite, nem mesmo tive ânimo de responder ao carinho feito pelo meu gato que veio me receber de prontidão. Apenas me despi e me deitei na cama ao lado de Jonathan. Senti suas mãos em volta de mim me puxando para um abraço e conchinha e fechei os olhos sentindo meu coração disparar, me sentindo errada, completamente culpada mesmo sem ter de fato acontecido algo. Passei a noite em claro pensando, nada batia na minha mente, não fazia sentido. Eu poderia entender que estava sensível, que precisava de apoio, que não estava em uma fase boa do meu relacionamento, mas Damon? Isso não se encaixava na minha mente, a forma como me sentia atraída por ele só podia
O sol estava bem quente, pela primeira vez em meses, o que deixou a praia cheia. Paramos em um quiosque da praia, em um local menos cheio onde achamos uma mesa vazia e Jonathan pediu cerveja e tira gostos. A música baixa, o vento e o sol, a paisagem, o som do mar, a areia sob meus pés. Tudo parecia perfeito. — Aqui devia fazer mais sol, é sempre tão frio — Falei relaxada na cadeira. — Podemos viajar para um lugar que seja agora você tem rios de dinheiro — Disse Jonathan. Balancei a cabeça assentindo, talvez viajar me faça bem. — Eu estou mesmo precisando me distrair. — Para onde quer ir? Pensei um pouco. — Portugal? — Então vamos para lá, semana que vem. — Semana que vem? — Repeti suas palavras incrédula — Já? — Sim, não tem porque ficamos aqui todo esse tempo. — Mas os Bonner precisam… — Quem liga para o que os Bonner precisam? E o que você precisa Rosa, será que alguém pensou nisso? Ponderei suas palavras. —