A governanta

     Mesmo envergonhada, mantive meus olhos fixos nele. Não sabia o que dizer e a cada segundo podia sentir meu rosto esquentar mais envergonhada, me sentindo culpada, intrusa, como se eu fosse a vilã naquela casa.

     — Eu… eu…

     — Você?

     —  Eu…

    Renato esfregou o rosto perdendo a paciência e caminhou pelo quarto.

     — Você acha que podemos chegar em nossas vidas e tirar tudo o que temos? Você sabe o que esse quarto significa para mim?

     — Não Fechei os olhos percebendo que havia piorado a situação.

      Assim não dá, eu não consigo manter uma conversa com você. Você é oportunista.

      Arregalei os olhos.

     — O que?

     — O que está acontecendo? Perguntou Edgar da porta, ele cruzou os braços sério e alternou o olhar entre nós.

     — Essa garota ai Ele apontou Ela mal tomou a casa e já está no quarto da nossa mãe.

     — Edgar a mamãe odiava esse quarto, ela dizia que era mal assombrado, se você botou os pés aqui foi por três vezes, no máximo!

  Renato abriu e fechou a boca incrédula olhando para Edgar.

    — Você está contra mim, Edgar? 

    — Eu não estou do lado de ninguém, apenas do que é certo.

    — E acha certo que ela fique com metade do que nosso avô construiu?

 Edgar ficou quieto, o clima parecia pior, sufocante, parado e me segurei para não chorar.

    Renato foi o primeiro a se movimentar, ele percorreu o quarto como um furacão e parou em minha frente, seu semblante vermelho e os dentes trincados.

     — Eu odeio você, não vai durar nem um ano nessa casa!

     Quando abri a boca para me defender Renato já havia se virado, ele caminhou para fora do quarto deixando apenas eu e Edgar olhando um nos olhos do outro.

      — Não ligue para Renato, na verdade você deu sorte por que Renato tem a tendencia ser bem mais desagradavel… Ele fez uma pausa e suspirou.

       — Eu não queria ficar aqui, na verdade, não queria nada disso.

       — Eu acredito que isso é possível, mas não acredito em você Olhei para os olhos dele Para acreditar em algo assim é preciso confiança e eu não acho que ficarei tempo suficiente aqui para conhecer você e nem quero, mas você pode sair também!

       — Posso? Perguntei animada.

       — Sim, mas Damon e Renato ainda dependem de você para ganhar a parte da herança deles. É os três na mesma casa, a sua parte está garantida, mas a deles… São regras estreitas Edgar fez uma careta engraçada

 Desmanchei o sorriso e assenti, então olhei para minhas mãos.

        Eu entendo.

 Um silêncio pairou entre nós, nenhum dos dois parecia querer continuar a conversa.

        Bem-vinda a família Bonner!

      Ele saiu me deixando sozinha no quarto, ainda era cedo demais para dramas, mas Renato parecia decidido a tornar a minha vida um inferno.

     Tomei um banho e troquei de roupa, ao sair do banheiro tomei um susto com o rosto de Wallace entrando pela porta, ele abaixou a cabeça como forma de cumprimento, havia esquecido a porta aberta.

       — Me desculpe entrar assim, mas eu vi o Sr. Renato sair daqui parecendo soltar brasas pela boca” Ele ergueu a cabeça e me olhou nos olhos Queria saber se você está bem.

     Deixei meus músculos relaxarem.

        — Estou bem, só está sendo difícil…

      Ele assentiu e se aproximando da cômoda botou uma carta em cima, franzi a testa e me aproximei.

      Peguei o pequeno embrulho e o abri, era o chaveiro, olhei para Wallace esparanda.

      — O que é isso Wallace?

      — Presumo que às chaves, de todos os quartos da casa.

     Balancei a cabeça incrédula e deixei as chaves em cima do criado mudo, então andei pelo quarto.

     — Não, não… isso não está acontecendo Esfreguei as mãos nervosas e olhei para Wallace de novo, ele continuava imovel Isso é mesmo real?

      — Sim.

      — Não Voltei a andar de novo, era como se a ficha enfim estivesse caindo Eu não posso ficar com essa casa, com as chaves, com esse quarto. Você não viu o que acabou de acontecer Wallace, isso tudo, esse lugar, esse quarto era de Cecília e tudo isso não é meu!

      — Presumo que agora seja.

     Me aproximei de Wallace, mal havia notado o coração acelerado e as mãos que já começavam a suar.

      — E o que eu faço?

      — Seja a governanta.

      — E o que netos de Antonio?

      — Vai precisar lidar com eles, mas você também pode sair.

     Balancei a cabeça assentindo.

      — Tudo bem, Edgar falou, ele disse eu posso sair, mas isso não favorece Damon e Renato, pelo contrário os prejudica. Então é, eu posso aprender a lidar com isso pelo menos durante esse ano, posso ser a dona da mansão até que se cumpra o prazo para que eles recebam sua parte, tenho certeza de que eles se casaram, que acharam o amor.

     Wallace soltou um riso, o olhei rápido.

     — Não ria Wallace, é possível, é bem possível não é? Todo mundo se apaixona… Abri um sorriso nervoso.

     — Não com os Bonner.

    Desmanchei o sorriso desanimado.

      — Você não está ajudando Wallace Voltei a caminhar pelo quarto e esfregar as mãos.

       — Rosa, você precisa manter a calma.

     Balancei a cabeça assentindo.

      — Eu estou calma, mas sei que será difícil convivermos no mesmo teto!

      — E por que você se preocupa tanto com eles? Acabou de conhecê-los, se o Sr Antonio a escolheu como herdeira de metade de tudo o que possui, não deveria se sentir mal, eles fizeram por onde merecer.

      — Eu não sei, Antonio era um homem cheio de mágoas, talvez tenha pegado pesado e…

      — Rosa, eu trabalho nessa casa a mais de trinta anos, vi esses meninos engatinhar pelos corredores e te afirmo, Antônio foi longe, mas ao mesmo tempo, era preciso…

     Balancei a cabeça assentindo e respirei fundo tentando me acalmar.

      — Tudo bem, então eu não devo me sentir culpada.

     Wallace balançou a cabeça me dando ainda mais calma.

      — Wallace, manda trazerem todos os meus pertences para cá, avisa que não sairei do quarto pela manhã e que não quero ser incomodada.

      — A governanta Gisele quer falar com você a respeito da comida, arrumação e regras da casa. Tem mais uma coisa. Wallace fez uma pausa e tirando do bolso um cartão preto e dourado o pôs em cima da cômoda ao lado das chaves Esse é o cartão sem limite, sem fundos de Antonio que agora, pertence a você. A senha está no papel.

 Olhei para o cartão, o papel em branco com quatro dígitos da senha ao lado e dei de ombros, não pretendia o usar, não era meu foco começar uma discussão a respeito do cartão agora, a minha cabeça estava cheia, mil pensamentos me passavam de forma rápida, eu estava aflorando, agitada, ansiosa.

     — Tudo bem o deixe aí, sobre Gisele, eu vou recebê-la. Mas para o resto da casa, eu estou indisponível.

     Ele fez um meneio com a cabeça e me encarou nos olhos.

      — O que foi Wallace?

      — Esses olhos estão tramando algo!

 Balancei a cabeça assentindo, não precisava mentir para Wallace.

     — Eu posso não ser boa em discussões, ser sensível e estar de luto por tudo, eu preciso pensar, preciso dessa manhã para mim, mas no momento eu devo estar sendo odiada por todos da casa… Eu preciso pelo menos parecer forte na frente dos Bonner ou eles iram me esmagar!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo