Henry se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa com a maior naturalidade do mundo, como se nada tivesse acontecido, como se o beijo entre nós não tivesse acabado de ser interrompido abruptamente. Ele finge que está tudo perfeitamente normal, enquanto eu, provavelmente, estou parecendo um tomate.— Está tudo bem, Srta. Turner — ele diz, dispensando a secretária com um simples aceno de mão.Ela hesita por um segundo, lançando um olhar entre mim e Henry antes de se retirar, fechando a porta suavemente atrás de si. Assim que a porta se fecha, o silêncio na sala se torna quase sufocante. Tento controlar minha respiração, mas meu coração continua acelerado.Henry arqueia as sobrancelhas e, com um tom que beira a impaciência, pergunta:— O que você está fazendo aqui, Harper? Marcamos de nos encontrar após o almoço, não agora. E por que você entrou desse jeito?— O que está acontecendo aqui, Henry? — Harper repete, com as mãos na cintura, claramente irritada. Ele revira os olhos, e
Entro na minha sala com o coração disparado, ainda processando tudo o que acabou de acontecer. Aperto o cordão com força, sentindo um nó se formar na garganta, mas a ideia de que minhas coisas podem estar com Harper se torna pequena diante da notícia do casamento.— Como fui idiota! — exclamo, sentindo um gosto amargo na boca.Todos os sinais estavam lá, indicando que era errado, que Henry não era alguém em quem eu pudesse confiar, mas me deixei levar pelo momento. Pior, me envolvi com ele, um homem comprometido. E, mesmo que eu não soubesse disso, a culpa me domina. Eu, que sempre abominei traições, agora me vejo do outro lado.A raiva e a frustração se misturam à vergonha. Como pude ser tão ingênua? Pensei que estava começando a entender Henry, mas, na verdade, fui apenas parte da vingança dele. Nada mais.Solto um suspiro pesado, sentindo o nó na garganta apertar. Caminho até minha mesa e começo a arrumar minhas coisas, decidida a ir embora o mais rápido possível. Quero distância de
“Henry Blackwood”Ajusto a gravata em frente ao espelho pela quinta vez, mas ainda parece apertada demais. Suspiro, puxando o nó para afrouxá-lo um pouco, e encaro meu reflexo. Por que essa cerimônia está parecendo mais sufocante a cada minuto?Enquanto tento me concentrar, minha mente volta para Evie. A imagem dela me encarando com aqueles olhos incrédulos e decepcionados me atingiu com uma força que eu não esperava. Não entendo por que me importo tanto, mas a verdade é que ver aquele olhar a derrubou mais do que eu gostaria de admitir.Desde então, tentei ligar para ela algumas vezes, mas ela não atendeu. Quando finalmente decidi enviar uma mensagem, percebi que meu número foi bloqueado. Isso deveria me irritar, mas, em vez disso, só me faz querer consertar as coisas. Mas como?— Por que tudo isso não parece mais divertido? — murmuro, ajustando a gravata mais uma vez.Parte de mim quer rir da ironia da situação. Sempre fui calculista, sempre soube esperar pelo momento certo para agir
A primeira imagem surge na tela. Harper, em um hotel de luxo. Acompanhada, não por mim, mas por outro homem cujo rosto não aparece claramente, embora os cabelos claros deixem evidente que não sou eu. O vídeo continua, mostrando cenas íntimas entre eles: beijos, toques, sussurros… Todos em dias diferentes. Mas, ao contrário das expectativas dos convidados, não pertencem ao “romântico casal” que eles vieram prestigiar.— O que… o que é isso? — Harper balbucia, com a voz trêmula.— Sua surpresa, meu amor — respondo friamente, sem esconder o prazer em ver a máscara dela cair.Os murmúrios entre os convidados ficam cada vez mais altos. Pessoas se entreolham, cochicham, e as câmeras captam cada segundo da verdadeira face de Harper. Ela tenta se aproximar de mim, mas ao notar minha expressão, recua.— Querido, eu posso explicar! — ela implora, claramente desesperada. Sorrio, balançando a cabeça em descrença.— Acho que as imagens dispensam explicações, não?— Isso… é uma montagem! É falso, He
“Evie Ashford” Sentada no sofá com Lily ao meu lado, tento seguir um dos conselhos da psicóloga: maratonar uma série para me esquecer do mundo lá fora. Na tela, os personagens estão envolvidos em uma trama confusa de mentiras e traições, o que, ironicamente, parece uma réplica do que está acontecendo na minha própria vida. — Viu? Eu disse que ele era o vilão! — comenta Lily, empolgada, apontando para a tela enquanto mantém os olhos fixos na série. Esboço um sorriso, fingindo prestar atenção, mas mal consigo me concentrar. A verdade é que, por mais que eu tente, os pensamentos insistem em voltar para o mesmo lugar: o casamento de Henry. A pergunta, sempre a mesma, ecoa na minha cabeça. “Por que ele seguiu com isso, mesmo sabendo de tudo o que Harper fez?” Balanço a cabeça e bufo, irritada, tentando afastar esses pensamentos inúteis. Já me convenci de que Henry é uma causa perdida e que preciso continuar afastada. Mesmo assim, não consigo evitar que isso me corroa por dentro.
Forço um sorriso ao me aproximar de Chloe e dou-lhe um abraço. Benjamin me cumprimenta com um beijo rápido na bochecha, mas quando chega a vez de Henry, me limito a um aceno de cabeça. Nada além de pura educação.— Evie — ele responde, com um olhar intenso que tento evitar ao máximo.Ignoro o peso daquele olhar e me sento ao lado de Chloe, pegando o Martini dela sem hesitar. Dou um longo gole na bebida, indiferente ao olhar surpreso que ela me lança. “Se quero sobreviver a essa noite, vou precisar de outro drink”, penso, esvaziando o copo com mais um gole.— Ei, devagar com isso aí! — sussurra Chloe, rindo enquanto observa meu copo esvaziar rapidamente. — Isso não vai te ajudar a esquecer o que está te incomodando, Evie.— Mas vai me ajudar a ignorar — resmungo, desviando o olhar para Henry antes de voltar a encarar Chloe e balançar a taça vazia. — Preciso de mais um desses.Aceno para o garçom e peço outro Martini. O primeiro gole me acalma mais um pouco, e eu lanço um olhar discreto
“Henry Blackwood”Desde que Evie chegou e me encarou como se quisesse pular no meu pescoço, percebi que foi uma péssima ideia sugerir à Chloe que convidasse as amigas para nos acompanhar. Quando a loira começou a descontar sua frustração na bebida, minha vontade era levantar e ir embora, mas algo dentro de mim me impediu. Senti a necessidade de ficar e me certificar de que ela ficaria bem.No início, achei uma má ideia, mas quando vi aquele idiota se aproximar e começar a tocá-la como um maldito tarado, percebi que foi bom eu ter ficado. Se não estivesse aqui, quem estaria intervindo agora?— Está surdo? — pergunto, sentindo a raiva pulsar em minhas têmporas. — Vai tirar as mãos dela por bem ou prefere sair daqui numa ambulância?O babaca arregala os olhos, percebendo que não estou brincando. Lentamente, levanta as mãos em rendição e desaparece na multidão. Encaro Evie, que está pálida, visivelmente abalada, mas ainda tenta manter a compostura.— Você está bem? — pergunto, me aproximan
O beijo intenso desperta um misto de emoções, e por um segundo, deixo que o desejo tome conta de mim. Suas mãos deslizam pelo meu pescoço, e o jeito como ela me puxa me faz querer esquecer de tudo lá fora e me render completamente.Então, algo finalmente me puxa de volta à realidade, mostrando o quão errado seria continuar. O gosto de álcool em seus lábios, o jeito descoordenado com que seus dedos tentam abrir minha camisa… Ela não está no controle. Não de verdade.Fecho os olhos, respirando fundo, lutando para retomar o controle da situação antes que vá longe demais, antes que traga arrependimentos maiores do que o ato em si. Meu corpo quer ceder, mas minha mente grita que isso não está certo. Ela bebeu. Muito. E eu… não sou esse tipo de homem.Com muito esforço, me afasto do beijo, ainda a segurando pela cintura para não perder o equilíbrio.— Evie… — minha voz sai rouca, mais do que eu gostaria. — Não podemos fazer isso.Ela solta uma risada baixa, incrédula, e se aproxima de novo,