“Evie Ashford” Sentada no sofá com Lily ao meu lado, tento seguir um dos conselhos da psicóloga: maratonar uma série para me esquecer do mundo lá fora. Na tela, os personagens estão envolvidos em uma trama confusa de mentiras e traições, o que, ironicamente, parece uma réplica do que está acontecendo na minha própria vida. — Viu? Eu disse que ele era o vilão! — comenta Lily, empolgada, apontando para a tela enquanto mantém os olhos fixos na série. Esboço um sorriso, fingindo prestar atenção, mas mal consigo me concentrar. A verdade é que, por mais que eu tente, os pensamentos insistem em voltar para o mesmo lugar: o casamento de Henry. A pergunta, sempre a mesma, ecoa na minha cabeça. “Por que ele seguiu com isso, mesmo sabendo de tudo o que Harper fez?” Balanço a cabeça e bufo, irritada, tentando afastar esses pensamentos inúteis. Já me convenci de que Henry é uma causa perdida e que preciso continuar afastada. Mesmo assim, não consigo evitar que isso me corroa por dentro.
Forço um sorriso ao me aproximar de Chloe e dou-lhe um abraço. Benjamin me cumprimenta com um beijo rápido na bochecha, mas quando chega a vez de Henry, me limito a um aceno de cabeça. Nada além de pura educação.— Evie — ele responde, com um olhar intenso que tento evitar ao máximo.Ignoro o peso daquele olhar e me sento ao lado de Chloe, pegando o Martini dela sem hesitar. Dou um longo gole na bebida, indiferente ao olhar surpreso que ela me lança. “Se quero sobreviver a essa noite, vou precisar de outro drink”, penso, esvaziando o copo com mais um gole.— Ei, devagar com isso aí! — sussurra Chloe, rindo enquanto observa meu copo esvaziar rapidamente. — Isso não vai te ajudar a esquecer o que está te incomodando, Evie.— Mas vai me ajudar a ignorar — resmungo, desviando o olhar para Henry antes de voltar a encarar Chloe e balançar a taça vazia. — Preciso de mais um desses.Aceno para o garçom e peço outro Martini. O primeiro gole me acalma mais um pouco, e eu lanço um olhar discreto
“Henry Blackwood”Desde que Evie chegou e me encarou como se quisesse pular no meu pescoço, percebi que foi uma péssima ideia sugerir à Chloe que convidasse as amigas para nos acompanhar. Quando a loira começou a descontar sua frustração na bebida, minha vontade era levantar e ir embora, mas algo dentro de mim me impediu. Senti a necessidade de ficar e me certificar de que ela ficaria bem.No início, achei uma má ideia, mas quando vi aquele idiota se aproximar e começar a tocá-la como um maldito tarado, percebi que foi bom eu ter ficado. Se não estivesse aqui, quem estaria intervindo agora?— Está surdo? — pergunto, sentindo a raiva pulsar em minhas têmporas. — Vai tirar as mãos dela por bem ou prefere sair daqui numa ambulância?O babaca arregala os olhos, percebendo que não estou brincando. Lentamente, levanta as mãos em rendição e desaparece na multidão. Encaro Evie, que está pálida, visivelmente abalada, mas ainda tenta manter a compostura.— Você está bem? — pergunto, me aproximan
O beijo intenso desperta um misto de emoções, e por um segundo, deixo que o desejo tome conta de mim. Suas mãos deslizam pelo meu pescoço, e o jeito como ela me puxa me faz querer esquecer de tudo lá fora e me render completamente.Então, algo finalmente me puxa de volta à realidade, mostrando o quão errado seria continuar. O gosto de álcool em seus lábios, o jeito descoordenado com que seus dedos tentam abrir minha camisa… Ela não está no controle. Não de verdade.Fecho os olhos, respirando fundo, lutando para retomar o controle da situação antes que vá longe demais, antes que traga arrependimentos maiores do que o ato em si. Meu corpo quer ceder, mas minha mente grita que isso não está certo. Ela bebeu. Muito. E eu… não sou esse tipo de homem.Com muito esforço, me afasto do beijo, ainda a segurando pela cintura para não perder o equilíbrio.— Evie… — minha voz sai rouca, mais do que eu gostaria. — Não podemos fazer isso.Ela solta uma risada baixa, incrédula, e se aproxima de novo,
“Evie Ashford”Minha cabeça lateja, e a sensação é horrível. É como se uma banda de rock bem ruim estivesse ensaiando dentro de mim. Isso sem mencionar o gosto amargo que domina minha boca. Ressaca. Ótimo. Não poderia ser diferente depois de tudo que bebi ontem.Pisco algumas vezes, ainda desnorteada, e só então percebo que estou em casa, no meu quarto. Solto um suspiro aliviado. Pelo menos estou no lugar certo. As lembranças da noite anterior são confusas, mas acredito que tudo o que lembro de Henry me beijando deve ter sido parte de algum sonho maluco.Fecho os olhos, tentando afastar a náusea que sobe lentamente. Mas algo me incomoda, algo físico. Um peso. Quando me mexo, percebo um braço em volta da minha cintura.— Um braço? — murmuro, arregalando os olhos ao me dar conta da situação.Num salto quase acrobático, me jogo para fora da cama apenas para descobrir que estou nua. NUA. Mas, quando levanto o olhar, o choque só aumenta. Henry está dormindo serenamente na minha cama. Sem ca
Rapidamente, a vergonha dá lugar à curiosidade, e eu franzo o cenho, confusa com as palavras dele. “Na casa dele? Desde quando este apartamento pertence ao Henry?”, penso, abrindo a boca para questionar. Mas ele limpa a garganta rapidamente, como se tivesse percebido o que disse.— Quero dizer… na casa do Ben. Ainda estou com sono depois de ser acordado pela segunda vez aos gritos — ele se justifica, evitando meu olhar por um momento enquanto tira o pano de prato queimado da pia e o j**a no lixo. — Enfim, é melhor eu fazer um café decente antes que você conclua seus planos de nos matar.— O temido CEO Henry Blackwood fazendo café… — debocho. — Essa quero ver.Henry revira os olhos, mas não diz nada. Apenas abre um dos armários com a confiança de quem conhece o lugar como a palma da própria mão. Isso só aumenta minha curiosidade. Como ele está tão à vontade aqui, no apartamento de Benjamin? Será que o CEO e o advogado moram juntos? Os dois são amigos, então faz sentido.— Se quer ficar
O silêncio que se instala entre nós é quase sufocante. Enquanto mastigo lentamente, Henry mantém um semblante tranquilo, tomando seu café como se fosse uma manhã comum entre nós, enquanto luto para entender as camadas que ele acabou de revelar.Meus olhos se fixam nele, e é como se ele soubesse o que estou pensando. Henry limpa a garganta, chamando sutilmente minha atenção, o que me faz despertar da minha tentativa de ler o que se passa por trás de seus olhos.— O café está ruim? — ele pergunta, arqueando uma sobrancelha. Me ajeito na cadeira, tentando disfarçar o turbilhão de pensamentos que me cerca.— O café está ótimo — respondo, tentando amenizar o clima enquanto volto minha atenção para a comida. — Dá até para matar a fome. Quem diria que Henry Blackwood sabe como alimentar alguém além de alimentá-lo de ego?— Matar a fome é uma das minhas especialidades, Evie. — Ele responde com um sorriso malicioso, inclinando-se para frente.Sua resposta vem carregada de duplo sentido, o que m
Sentada à minha mesa, tento me concentrar em uma proposta interminável, que parece ter o único propósito de me distrair da ausência de Henry. Já se passaram três dias desde aquele café da manhã, e dois dias desde que ele foi embora, envolvido em uma reunião importante em… onde mesmo? Edimburgo, na Escócia.Uma parte de mim sente alívio por não ter que lidar com toda a tensão que surgiu depois daquele vexame naquela noite, mas a outra parte se irrita por não conseguir parar de pensar nele desde então.— Que droga! — resmungo, percebendo que mal li as linhas que meus olhos percorreram.Sacudo a cabeça, tentando forçar minha atenção de volta ao trabalho, mas meus pensamentos continuam a vagar. É como se Henry estivesse presente, mesmo estando longe, e a sensação de que algo está mudando em mim cresce, me deixando inquieta.Justo agora, quando eu deveria focar apenas em recuperar o que Sebastian me roubou, estou aqui, pensando no homem que deveria ser apenas meu aliado, mas que agora vira