“Henry Blackwood”Desde que Evie chegou e me encarou como se quisesse pular no meu pescoço, percebi que foi uma péssima ideia sugerir à Chloe que convidasse as amigas para nos acompanhar. Quando a loira começou a descontar sua frustração na bebida, minha vontade era levantar e ir embora, mas algo dentro de mim me impediu. Senti a necessidade de ficar e me certificar de que ela ficaria bem.No início, achei uma má ideia, mas quando vi aquele idiota se aproximar e começar a tocá-la como um maldito tarado, percebi que foi bom eu ter ficado. Se não estivesse aqui, quem estaria intervindo agora?— Está surdo? — pergunto, sentindo a raiva pulsar em minhas têmporas. — Vai tirar as mãos dela por bem ou prefere sair daqui numa ambulância?O babaca arregala os olhos, percebendo que não estou brincando. Lentamente, levanta as mãos em rendição e desaparece na multidão. Encaro Evie, que está pálida, visivelmente abalada, mas ainda tenta manter a compostura.— Você está bem? — pergunto, me aproximan
O beijo intenso desperta um misto de emoções, e por um segundo, deixo que o desejo tome conta de mim. Suas mãos deslizam pelo meu pescoço, e o jeito como ela me puxa me faz querer esquecer de tudo lá fora e me render completamente.Então, algo finalmente me puxa de volta à realidade, mostrando o quão errado seria continuar. O gosto de álcool em seus lábios, o jeito descoordenado com que seus dedos tentam abrir minha camisa… Ela não está no controle. Não de verdade.Fecho os olhos, respirando fundo, lutando para retomar o controle da situação antes que vá longe demais, antes que traga arrependimentos maiores do que o ato em si. Meu corpo quer ceder, mas minha mente grita que isso não está certo. Ela bebeu. Muito. E eu… não sou esse tipo de homem.Com muito esforço, me afasto do beijo, ainda a segurando pela cintura para não perder o equilíbrio.— Evie… — minha voz sai rouca, mais do que eu gostaria. — Não podemos fazer isso.Ela solta uma risada baixa, incrédula, e se aproxima de novo,
“Evie Ashford”Minha cabeça lateja, e a sensação é horrível. É como se uma banda de rock bem ruim estivesse ensaiando dentro de mim. Isso sem mencionar o gosto amargo que domina minha boca. Ressaca. Ótimo. Não poderia ser diferente depois de tudo que bebi ontem.Pisco algumas vezes, ainda desnorteada, e só então percebo que estou em casa, no meu quarto. Solto um suspiro aliviado. Pelo menos estou no lugar certo. As lembranças da noite anterior são confusas, mas acredito que tudo o que lembro de Henry me beijando deve ter sido parte de algum sonho maluco.Fecho os olhos, tentando afastar a náusea que sobe lentamente. Mas algo me incomoda, algo físico. Um peso. Quando me mexo, percebo um braço em volta da minha cintura.— Um braço? — murmuro, arregalando os olhos ao me dar conta da situação.Num salto quase acrobático, me jogo para fora da cama apenas para descobrir que estou nua. NUA. Mas, quando levanto o olhar, o choque só aumenta. Henry está dormindo serenamente na minha cama. Sem ca
Rapidamente, a vergonha dá lugar à curiosidade, e eu franzo o cenho, confusa com as palavras dele. “Na casa dele? Desde quando este apartamento pertence ao Henry?”, penso, abrindo a boca para questionar. Mas ele limpa a garganta rapidamente, como se tivesse percebido o que disse.— Quero dizer… na casa do Ben. Ainda estou com sono depois de ser acordado pela segunda vez aos gritos — ele se justifica, evitando meu olhar por um momento enquanto tira o pano de prato queimado da pia e o j**a no lixo. — Enfim, é melhor eu fazer um café decente antes que você conclua seus planos de nos matar.— O temido CEO Henry Blackwood fazendo café… — debocho. — Essa quero ver.Henry revira os olhos, mas não diz nada. Apenas abre um dos armários com a confiança de quem conhece o lugar como a palma da própria mão. Isso só aumenta minha curiosidade. Como ele está tão à vontade aqui, no apartamento de Benjamin? Será que o CEO e o advogado moram juntos? Os dois são amigos, então faz sentido.— Se quer ficar
O silêncio que se instala entre nós é quase sufocante. Enquanto mastigo lentamente, Henry mantém um semblante tranquilo, tomando seu café como se fosse uma manhã comum entre nós, enquanto luto para entender as camadas que ele acabou de revelar.Meus olhos se fixam nele, e é como se ele soubesse o que estou pensando. Henry limpa a garganta, chamando sutilmente minha atenção, o que me faz despertar da minha tentativa de ler o que se passa por trás de seus olhos.— O café está ruim? — ele pergunta, arqueando uma sobrancelha. Me ajeito na cadeira, tentando disfarçar o turbilhão de pensamentos que me cerca.— O café está ótimo — respondo, tentando amenizar o clima enquanto volto minha atenção para a comida. — Dá até para matar a fome. Quem diria que Henry Blackwood sabe como alimentar alguém além de alimentá-lo de ego?— Matar a fome é uma das minhas especialidades, Evie. — Ele responde com um sorriso malicioso, inclinando-se para frente.Sua resposta vem carregada de duplo sentido, o que m
Sentada à minha mesa, tento me concentrar em uma proposta interminável, que parece ter o único propósito de me distrair da ausência de Henry. Já se passaram três dias desde aquele café da manhã, e dois dias desde que ele foi embora, envolvido em uma reunião importante em… onde mesmo? Edimburgo, na Escócia.Uma parte de mim sente alívio por não ter que lidar com toda a tensão que surgiu depois daquele vexame naquela noite, mas a outra parte se irrita por não conseguir parar de pensar nele desde então.— Que droga! — resmungo, percebendo que mal li as linhas que meus olhos percorreram.Sacudo a cabeça, tentando forçar minha atenção de volta ao trabalho, mas meus pensamentos continuam a vagar. É como se Henry estivesse presente, mesmo estando longe, e a sensação de que algo está mudando em mim cresce, me deixando inquieta.Justo agora, quando eu deveria focar apenas em recuperar o que Sebastian me roubou, estou aqui, pensando no homem que deveria ser apenas meu aliado, mas que agora vira
Assim que o avião toca o solo suíço à tarde, respiro fundo, tentando afastar a inquietação que me acompanhou durante todo o voo. As palavras de Henry continuam ecoando na minha cabeça: uma viagem inesquecível.Por várias vezes, peguei o celular para ligar para ele, só para acabar com a dúvida sobre o que ele quis dizer. No fim, desisti. Não queria que parecesse uma desculpa esfarrapada para falar com ele, porque, no fundo, sei que era exatamente isso que eu queria: um pretexto para ouvir a voz dele.Na pressa de organizar tudo, ainda esqueci de perguntar a Thomas sobre o tal senhor mal-humorado que enfrentarei.— Grande preparação, Evie Ashford — resmungo enquanto caminho pelo aeroporto para pegar minha mala.Olho para a esteira de bagagens, que gira vagarosamente. Os passageiros do meu voo pegam suas malas, uma a uma. O fluxo diminui e, quando percebo, as bagagens terminam de chegar… e a minha não está entre elas.— Que ótimo — resmungo, sacudindo a cabeça, já me preparando mentalment
Me viro lentamente para encará-lo, e sua expressão é tão tranquila quanto a voz quando volta a se sentar. Quase como se ele tivesse planejado isso. Claro que ele não teria controle sobre uma tempestade de neve, mas o jeito como está lidando com a situação me deixa com uma irritação crescente.— Você… sabia que isso ia acontecer? — murmuro, franzindo as sobrancelhas. — Aliás, por que você está aqui e não o Thomas?— Thomas… — Henry se inclina levemente, pegando o copo de whisky na mesa, sem nunca tirar os olhos de mim. — Ele está em Amalfi resolvendo uma negociação… difícil.— Thomas está na Itália? — pergunto, sentindo meus lábios se entreabrirem involuntariamente. — Henry, vim aqui para trabalhar, e você me coloca numa armadilha, no meio de uma tempestade de neve em um chalé no fim do mundo? Isso só pode ser brincadeira.— Não é brincadeira, Evie. Eu precisava de você aqui — ele responde, levantando-se do sofá e caminhando lentamente em minha direção, com o sorriso que só ele sabe dar