Ao ouvir sua insinuação, minha paciência atinge o limite. A frustração que venho guardando, todas as coisas que já tolerei até agora, começam a borbulhar dentro de mim. Respiro fundo, mas em vez de deixar minha raiva transparecer, uso-a como motivação. Mais uma razão para seguir adiante com o que planejei.Harper, percebendo a tensão no meu rosto e a mudança na minha postura, se adianta para se explicar. Ela sabe que tocou em algo muito importante para mim.— Henry… Me expressei mal, amor — ela diz, suavizando o tom. — Só estou preocupada com a sua mãe se sentir desconfortável. Você sabe que ela nunca ficou à vontade no meio social que frequentamos, e não quero que ela se sinta… deslocada.— Talvez minha mãe não esteja presente — digo, controlando o tom, mesmo com a raiva queimando por dentro. — Mas, se ela decidir ir, Harper, você aceitará e ficará caladinha. Se não, quem não aparecerá no casamento sou eu.O rosto dela empalidece por um momento. Harper abre a boca para dizer algo, mas
“Evie Ashford”Enquanto coloco a última peça na mala, sinto uma mistura de ansiedade e alívio tomar conta de mim. Após uma semana nos Alpes Franceses, é hora de voltar a Mayfair. Passei por exames, consultas e, claro, segui as recomendações de Adrian, incluindo as terapias. Esse tempo me ajudou a focar no meu bem-estar, algo que negligenciei por muito tempo.A pedido da psicóloga que me acompanhou nestes dias, desconectei-me do mundo exterior, e isso foi mais difícil do que imaginei. Por mais que eu tentasse manter minha mente longe de Londres e de todos os problemas que me esperavam lá, era impossível não pensar em Henry. Seu nome, seu rosto, suas provocações… Era ridículo, mas a lembrança de tudo o que aconteceu antes de eu partir me perseguia.Eventualmente, inventei uma desculpa para enviar uma mensagem a ele. Algo simples, um “obrigada” pela ajuda, mas, logo depois, desliguei o telefone. Não queria me apegar à expectativa de uma resposta.Além das terapias, tive bons momentos com
Ao entrar na empresa, o ambiente familiar me envolve, trazendo uma estranha sensação de alívio misturado com ansiedade. Hoje, volto oficialmente à rotina. Depois de uma semana longe de tudo, a rotina parece um alívio, mas algo dentro de mim também se revira com a expectativa de estar de volta a Londres. De estar de volta a ele.Sacudo a cabeça enquanto caminho em direção à minha sala, tentando afastar o pensamento insistente. Após dias de terapias e consultas, me sinto mais calma, mais centrada, mas nada poderia me preparar para o reencontro. Especialmente depois da última vez.“O que tiver que ser, será”, penso, enquanto coloco a bolsa sobre a mesa e ligo o computador. Trabalho é o que preciso agora. Algo concreto, algo que me distraia, que me faça não pensar no que pode acontecer quando nossos caminhos se cruzarem.— Ao menos assim você sairá dos meus pensamentos, Sr. Blackwood — resmungo, ao começar a trabalhar.Meu foco se mantém no trabalho por algumas horas, o suficiente para me
Henry se inclina para frente, apoiando os cotovelos na mesa com a maior naturalidade do mundo, como se nada tivesse acontecido, como se o beijo entre nós não tivesse acabado de ser interrompido abruptamente. Ele finge que está tudo perfeitamente normal, enquanto eu, provavelmente, estou parecendo um tomate.— Está tudo bem, Srta. Turner — ele diz, dispensando a secretária com um simples aceno de mão.Ela hesita por um segundo, lançando um olhar entre mim e Henry antes de se retirar, fechando a porta suavemente atrás de si. Assim que a porta se fecha, o silêncio na sala se torna quase sufocante. Tento controlar minha respiração, mas meu coração continua acelerado.Henry arqueia as sobrancelhas e, com um tom que beira a impaciência, pergunta:— O que você está fazendo aqui, Harper? Marcamos de nos encontrar após o almoço, não agora. E por que você entrou desse jeito?— O que está acontecendo aqui, Henry? — Harper repete, com as mãos na cintura, claramente irritada. Ele revira os olhos, e
Entro na minha sala com o coração disparado, ainda processando tudo o que acabou de acontecer. Aperto o cordão com força, sentindo um nó se formar na garganta, mas a ideia de que minhas coisas podem estar com Harper se torna pequena diante da notícia do casamento.— Como fui idiota! — exclamo, sentindo um gosto amargo na boca.Todos os sinais estavam lá, indicando que era errado, que Henry não era alguém em quem eu pudesse confiar, mas me deixei levar pelo momento. Pior, me envolvi com ele, um homem comprometido. E, mesmo que eu não soubesse disso, a culpa me domina. Eu, que sempre abominei traições, agora me vejo do outro lado.A raiva e a frustração se misturam à vergonha. Como pude ser tão ingênua? Pensei que estava começando a entender Henry, mas, na verdade, fui apenas parte da vingança dele. Nada mais.Solto um suspiro pesado, sentindo o nó na garganta apertar. Caminho até minha mesa e começo a arrumar minhas coisas, decidida a ir embora o mais rápido possível. Quero distância de
“Henry Blackwood”Ajusto a gravata em frente ao espelho pela quinta vez, mas ainda parece apertada demais. Suspiro, puxando o nó para afrouxá-lo um pouco, e encaro meu reflexo. Por que essa cerimônia está parecendo mais sufocante a cada minuto?Enquanto tento me concentrar, minha mente volta para Evie. A imagem dela me encarando com aqueles olhos incrédulos e decepcionados me atingiu com uma força que eu não esperava. Não entendo por que me importo tanto, mas a verdade é que ver aquele olhar a derrubou mais do que eu gostaria de admitir.Desde então, tentei ligar para ela algumas vezes, mas ela não atendeu. Quando finalmente decidi enviar uma mensagem, percebi que meu número foi bloqueado. Isso deveria me irritar, mas, em vez disso, só me faz querer consertar as coisas. Mas como?— Por que tudo isso não parece mais divertido? — murmuro, ajustando a gravata mais uma vez.Parte de mim quer rir da ironia da situação. Sempre fui calculista, sempre soube esperar pelo momento certo para agir
A primeira imagem surge na tela. Harper, em um hotel de luxo. Acompanhada, não por mim, mas por outro homem cujo rosto não aparece claramente, embora os cabelos claros deixem evidente que não sou eu. O vídeo continua, mostrando cenas íntimas entre eles: beijos, toques, sussurros… Todos em dias diferentes. Mas, ao contrário das expectativas dos convidados, não pertencem ao “romântico casal” que eles vieram prestigiar.— O que… o que é isso? — Harper balbucia, com a voz trêmula.— Sua surpresa, meu amor — respondo friamente, sem esconder o prazer em ver a máscara dela cair.Os murmúrios entre os convidados ficam cada vez mais altos. Pessoas se entreolham, cochicham, e as câmeras captam cada segundo da verdadeira face de Harper. Ela tenta se aproximar de mim, mas ao notar minha expressão, recua.— Querido, eu posso explicar! — ela implora, claramente desesperada. Sorrio, balançando a cabeça em descrença.— Acho que as imagens dispensam explicações, não?— Isso… é uma montagem! É falso, He
“Evie Ashford” Sentada no sofá com Lily ao meu lado, tento seguir um dos conselhos da psicóloga: maratonar uma série para me esquecer do mundo lá fora. Na tela, os personagens estão envolvidos em uma trama confusa de mentiras e traições, o que, ironicamente, parece uma réplica do que está acontecendo na minha própria vida. — Viu? Eu disse que ele era o vilão! — comenta Lily, empolgada, apontando para a tela enquanto mantém os olhos fixos na série. Esboço um sorriso, fingindo prestar atenção, mas mal consigo me concentrar. A verdade é que, por mais que eu tente, os pensamentos insistem em voltar para o mesmo lugar: o casamento de Henry. A pergunta, sempre a mesma, ecoa na minha cabeça. “Por que ele seguiu com isso, mesmo sabendo de tudo o que Harper fez?” Balanço a cabeça e bufo, irritada, tentando afastar esses pensamentos inúteis. Já me convenci de que Henry é uma causa perdida e que preciso continuar afastada. Mesmo assim, não consigo evitar que isso me corroa por dentro.