Puxo meu braço com força, me soltando do aperto de Henry. Meu olhar vai direto para ele, a raiva cintilando enquanto massageio o lugar onde seus dedos me seguraram.— Você acha que pode simplesmente sair por aí agarrando as pessoas? — pergunto, estreitando os olhos. — Bebeu seu juízo com o whisky?Ele me encara com aquele sorriso presunçoso de sempre, sem sequer piscar.— Achei que tinha deixado algo claro — ele diz, num tom irônico. — A viagem para Dublin deveria ser estritamente profissional, lembra?— Devo agradecer por querer me lembrar disso hoje, num sábado à noite? — rebato a ironia, sem entender onde ele quer chegar. — Não esqueci.— Bem, vendo você assim, se divertindo e flertando com o Sr. Neville, parece que a profissionalidade ficou lá na empresa. Você deve estar esquecendo que tudo o que faz, de uma forma ou de outra, reflete no que acontece na empresa e, principalmente, no trato entre nós.— Por que, ao invés de controlar minha vida pessoal, você não se preocupa com o que
É domingo à tarde, eu poderia estar descansando da noite mal dormida, mas, em vez disso, continuo tentando terminar de arrumar a mala para Dublin. Já devo ter tirado e colocado tudo de volta umas cinquenta vezes, e ainda sinto que falta alguma coisa.— Como isso é possível? É só uma viagem de negócios, por que parece que estou indo embora para sempre? — resmungo, jogando uma blusa qualquer na mala.Fecho o zíper, mas algo me incomoda. Fico parada, encarando a mala, como se isso fosse ajudar a aliviar a inquietação.— Margot teria arrumado essa mala em dez minutos… — murmuro, sentindo um nó na garganta.Margot. Para a maioria, ela era apenas a governanta da casa; para mim, ela era a minha mãe. Ela fazia tudo por mim, cuidava dos meus horários, me fazia sentir que sempre havia alguém ao meu lado, não importava o que acontecesse. Quando meu pai faleceu, Margot ainda estava lá, forte como sempre. Mas, poucos dias depois, ela também se foi… como se tivesse decidido que era hora de partir.E
Engulo em seco, lutando para manter a compostura. Meu coração acelera, mas não de uma maneira boa, e a tensão volta com força total. O simples fato de Henry estar aqui, com aquele tom provocador, faz com que eu queira qualquer coisa, menos entrar no mesmo avião que ele. Finalmente, a mensagem enigmática que recebi faz sentido. É óbvio que ele não me daria alguns dias de paz.— Bom dia para o senhor também — murmuro, ajeitando a mala ao meu lado, tentando ignorar seu sorriso irritante. — Me atrasei, mas não perderia o voo nem se tivesse que entrar na frente do avião.— Bom dia, Evie — Thomas me cumprimenta, sorrindo enquanto se aproxima para me abraçar. — Como você está?— Bom dia, Thomas. Estou bem — respondo, tentando me concentrar nele e ignorar o olhar de Henry, que parece queimar minha nuca. Sem conseguir conter a curiosidade, sussurro: — Você sabia que ele viria?— Estou tão surpreso quanto você — ele responde, forçando um sorriso antes de me soltar.Me afasto de Thomas, puxando m
Desde que cheguei a Dublin, ontem pela manhã, me tranquei no quarto do hotel. Até as refeições foram feitas aqui, pois me recusei a descer ao restaurante ou ao bar. O motivo é simples, mas complicado: Henry Blackwood.A verdade é que, desde aquela noite na boate, quando quase nos beijamos, não sei mais como me comportar perto dele. Não sei como manter a postura fria e indiferente que me esforcei tanto para construir, sem parecer outra coisa. Sem parecer exatamente o que ele imagina: que minhas provocações, na verdade, são um pedido silencioso para sentir seus toques.— Idiota! Como se eu quisesse isso — resmungo, ajeitando o blazer em frente ao espelho e endireitando os ombros.Infelizmente, hoje não posso me dar ao luxo de continuar me escondendo. Tenho uma reunião importante, e esse contrato… preciso dele. Sinto um frio na barriga, mas me recuso a deixar isso me abalar. A proposta que viemos apresentar para o Sr. Donovan, dono do charmoso Hotel Whitmore, é exatamente o que preciso pa
Franzo a testa por um segundo, surpresa com a exigência. Rapidamente, encaro Thomas, que me devolve o olhar com as sobrancelhas arqueadas, claramente sem saber o que fazer.— Tudo bem, Sr. Donovan — concordo, antes que Henry possa dizer algo, já que ele parecia prestes a rebater. — Aceito seus termos.— Muito bem. Vocês dois podem entrar — ele diz, apontando para Henry e Thomas, e depois para a pequena recepção. — Minha assistente, Aisling, vai acomodá-los e servir um café para não precisarem esperar em pé. Não se preocupem, não demorarei.— Boa sorte, Evie — Henry murmura para mim em um tom quase inaudível. Não consigo decifrar se é sarcasmo ou se ele realmente está me incentivando.Sigo o Sr. Donovan pelo corredor estreito até seu escritório. Ele me conduz a uma poltrona de couro em frente à sua mesa de madeira maciça e, lentamente, se senta na cadeira do outro lado. — Sr. Donovan, não quero tomar muito do seu tempo, e imagino que o senhor esteja torcendo para que eu vá embora quant
“Henry Blackwood”Sentado na área lounge do hotel, olho para o relógio pela terceira vez em menos de cinco minutos. Ao meu lado, Thomas parece mais tranquilo do que eu, folheando um jornal local que encontrou em algum lugar. Eu, por outro lado, tento ignorar o olhar da senhora rechonchuda sentada do outro lado do lounge, que me observa como se eu fosse um alienígena. Ou talvez eu esteja apenas ficando paranoico com a espera.Evie está trancada naquela sala com o Sr. Donovan há quase duas horas, e a demora começa a me incomodar. O velho mal-humorado já deveria ter recusado a proposta, e ela já deveria estar de volta com uma desculpa qualquer, pronta para tentar de novo.Respiro fundo, tentando dissipar a ideia de estar provando do meu próprio veneno. Afinal, o plano inicial era acompanhar de perto como Evie lidaria com o impossível, uma boa oportunidade de provocá-la enquanto eu fugia de Harper e suas incessantes indecisões sobre o casamento. Mas agora, com o tempo se arrastando, começo
“Evie Ashford”A sensação de dever cumprido me envolve enquanto tomo um gole do meu Martini, sentindo o calor do álcool se espalhar pelo corpo. Convencer o Sr. Donovan a finalmente fechar o negócio foi, sem dúvida, um dos melhores momentos da minha carreira recente.Mas o que realmente me pegou de surpresa foi o elogio de Henry. Saber que consegui algo que até ele julgava impossível me deu uma sensação de vitória única. E o melhor de tudo? Passei horas sem precisar suportar suas provocações constantes, uma paz tão rara quanto uma folga inesperada.Essa paz, no entanto, chegou ao fim, porque agora Henry está a poucos passos de distância, sentado no bar e apreciando seu whisky, como se soubesse que meu alívio tinha um prazo de validade.— Será que o Sr. Blackwood não vai nos achar mal-educados por não convidá-lo para tomar um drink conosco? — Thomas pergunta, como se notasse a presença de Henry mesmo sem vê-lo.Me remexo na cadeira, tomando um pouco do Martini enquanto pondero suas palav
Henry finalmente levanta o olhar, e o sorriso provocador que conheço tão bem se espalha pelo seu rosto.— Só achei que seria educado compartilhar um vinho com a responsável pela maior vitória da All Seasons no momento — ele diz, me entregando a taça com uma tranquilidade que me desconcerta.Meus dedos tocam a taça e, por um segundo, sinto como se o mundo estivesse girando ao contrário. Henry, no meu quarto, no meio da noite, e eu… enrolada em um roupão. Tento ignorar a batida acelerada do meu coração enquanto pego a taça, incapaz de evitar a sensação de que estou sendo arrastada para uma armadilha.— Isso não faz sentido — murmuro, tentando colocar uma barreira entre nós, mas falhando miseravelmente.— Faz para mim. Não queria que eu reconhecesse sua capacidade? — ele responde, levantando-se lentamente antes de tocar sua taça na minha. — Nada mais justo que um brinde à sua competência, Srta. Ashford.— Achei que já tivéssemos feito isso no bar, na presença de Thomas — respondo, tentand