— Oh, isso realmente é animador — esbocei um sorriso.— Estou bem, obrigada — ela enfim respondeu a minha pergunta. — Venha comigo.— Não há de que agradecer — falei enquanto a acompanhava. — Nunca vou deixar que a insultem em minha frente. Sei que ela nunca foi amante do... meu pai. Você também não deveria acreditar nas mentiras que a mídia cria para ganhar audiência. — Não pode me culpar, você faria o mesmo no meu lugar.— Eu já fiz, afinal foi da minha família que falaram — Amanda arqueou uma sobrancelha diante da afirmação. — Quando eu nasci, sua mãe já trabalhava com o meu pai, então eu a considero da mesma forma que ele a considerou — expliquei.Amanda ponderou minhas palavras por um tempo. Ela sabia que tinha muitos anos que a mãe trabalhava na empresa, mas creio que não imaginava que fosse tanto tempo assim.“Se ela soubesse dos segredos que a mãe escondia, talvez começasse a ficar preocupada agora.”— E a sua mãe? — Amanda perguntou tentando trocar o assunto.— Ela saiu de c
Amanda ficou por um tempo calada, pensativa enquanto se dirigia à última cama. — Esse é o meu canto. Como pode ver, nada muito luxuoso, senhor empresário. Sente-se.Eu me sentei. A cama não era dura, mas também não era das mais confortáveis. O quarto era grande, tinha amplas janelas, mas precisava de uma reforma. Uma que eu sinceramente não estava a fim de custear de forma alguma. E foi essa percepção que fez com que eu começasse a falar novamente.— Pode mudar essa condição aceitando minha oferta.— Gosto de como você é direto. — Ela jogou o paletó para mim, foi até a cômoda e pegou um novo sutiã e uma blusa em uma de suas gavetas. — Como pode ver, não há muita privacidade aqui, então não fique retraído, nem se gabe.E virando de costas, retirou o sutiã, colocou o outro e vestiu a blusa. É claro que não passou nenhuma maldade em minha cabeça, mas ela poderia ao menos ter avisado antes, para não me deixar tão desconcertado.— Você já viu uma mulher nua antes, não é? Está vermelho com
Sair um pouco daquele lugar me faria bem, mesmo que fosse com Djovig filho. Ainda via em meus sonhos o seu olhar dirigido a mim no cemitério e no salão onde foi realizado o velório o que sempre me perturbava e eu não imaginava o porquê. Cogitei algumas vezes em ligar para a Djovig Softwares, mas sempre acabei me convencendo de que Ricardo não era como o pai e que eu não tinha nenhuma obrigação com seu bem-estar, então simplesmente não ligava.Fiquei grata por ele ter chegado mais tarde no velório, eu não me sentiria bem em me despedir de Jerrrilly com sua presença ali. O homem era como um tio, eu recebi muitos conselhos dele e sabia que ele jamais aprovaria a mentira que espalharam sobre minha mãe. Perdê-lo ao mesmo tempo em que a perdi foi um baque forte para mim, pois sempre pensei que quando ela não estivesse mais por mim, ele estaria.Alguma parte em meu interior dizia que eu deveria ir ao menos agradecer a Ricardo, dar minhas condolências ou ao menos perguntar como ele estava, ma
Pensei em agradecer por ele mover o processo, mas poderia fazer isso depois. Ainda estava cedo para abordar um assunto tão pesado quando Ricardo estava fazendo de tudo para manter o clima agradável.— Eu acho que gosto disso. — Entrei no carro e coloquei o cinto. — Nada de seguranças? — perguntei ao olhar ao redor e não ver nenhum carro suspeito por perto.— Eu sou o chefe agora — ele respondeu colocando a chave na ignição.Me perguntei se ele sabia mesmo dirigir. Em toda a minha vida, tudo o que eu sabia sobre Ricaro era o que minha mãe e ocasionalmente Jerrilly falavam. Era como se o mundo soubesse que o homem tivesse um filho, um herdeiro, e ao mesmo tempo ninguém soubesse onde encontrá-lo. O homem ao meu lado era como uma lenda, onde a gente duvida mesmo se existe ou não. Na verdade, pelo que a mídia insistia em falar, ainda havia muitas desconfianças de que ele era quem dizia ser.— Então, para onde estamos indo? — perguntei quando saímos do estacionamento.— Com medo de ser seq
— Não, ela não está comigo — falou assim que parou de rir. — E sim, ela sabe que eu existo, mas aparentemente prefere viver com qualquer um, menos comigo.Lá estava a amargura de novo em seu tom, mas ele não deixou de parecer que achava a situação engraçada, ou dolorida demais para não rir. Eu não sabia o que pensar. Que ele era louco? Talvez. Mas se a irmã dele não queria morar com ele, por que eu deveria? Mais uma vez as desconfianças sobre ele e suas intenções comigo martelavam em minha cabeça, mas eu não podia tomar decisões baseadas no achismo ou mesmo em emoções passageiras, antes deveria observar as coisas com mais atenção.Talvez fosse apenas um problema de família no qual eu não tinha nada a ver com isso, afinal, irmãos brigam, não é mesmo? — Sabe — eu falei após me recompor de meus pensamentos aleatórios —, talvez devesse dar um tempo a ela. Quem sabe assim não reconsidera?— Estou fazendo isso — ele voltou a ficar sério. — Sei que pressioná-la não vai surtir efeito nenhum
À tarde fomos para um parque onde conversamos mais sobre a vida em geral e sério, gostei muito.Terminamos o dia com um sorvete. Então notei os olhares das pessoas ao redor, a maioria maldosos e não pude evitar me incomodar. — Está tudo bem — disse Ricardo quando nos sentamos um em frente ao outro em uma pequena mesa. — É da natureza humana olhar, criar fantasias e depois fofocar. Resta a você decidir como isso vai afetar a sua vida.— E o que vai acontecer — perguntei, abordando o assunto que tanto estávamos empenhados em ignorar, embora ele pairasse no ar toda vez que conversávamos —, se eu aceitar sua proteção?— Provavelmente a mídia vai falar demais quando souber, iremos ignorar alguns, processar outros e a vida vai continuar. O importante é que eu e você sabemos o que um representa na vida do outro.Suas palavras tiveram um importante peso. Eu nem o conhecia, mas sabia que ele era importante para minha sobrevivência de alguma forma. Minha mãe sempre dizia que sua vida estava li
Subi, peguei uma roupa qualquer e fui para o banheiro. Tomei um banho demorado, pois lavei bem meus cabelos e me arrumei. Queria estar apresentável no jantar, já que nunca me dei o trabalho de comparecer à refeição.Aguardei Ricardo na sala de espera, depois fomos para o salão de refeições onde separei uma mesa apenas para nós. Por mais incrível que pareça, o jantar estava comestível, ou era apenas eu que estava mais suscetível a engolir a comida. Ricardo não elogiou, mas também não reclamou, limpando seu prato, o que o imitei por educação.Quando terminamos, o acompanhei em uma caminhada para um dos pátios abertos para termos nossa conversa decisiva.— Foi bom passar o dia com você — falei, quebrando o silêncio da caminhada.— Também gostei de te conhecer, Amanda. — Ele enfiou as mãos nos bolsos, coisa que durante o dia, notei, ele não havia feito.— Apenas diga — falei dirigindo minha total atenção à lua, que estava cheia. — Qual é a sua proposta, senhor Djovig?— Faça um teste, ven
Nem bem saí do estacionamento, ouvi um som e vi um brilho entre os bancos dianteiros do carro. Encostei e procurei, então encontrei o celular de Amanda. Pensei em devolvê-lo no outro dia, mas sabia que seria muito mais bem visto caso fosse naquela mesma hora. Ou talvez fosse somente a coceira em meu braço e a voz que falava comigo dizendo para retornar imediatamente.“Apresse-se!”, gritou uma voz interior e minha cabeça latejou. Obedeci ao que quer que fosse e voltei o mais rápido que pude. Entrei, a recepcionista do turno disse que eu podia subir. Como se agarrado a uma mão invisível, fui andando o mais rápido possível sem correr, chegando em tempo somente de presenciar a maior tragédia que poderia acontecer em minha vida.Amanda levou uma facada no peito. O grito que saiu de minha garganta foi maior do que o que eu ouvi em minha cabeça. A agitação em meu sangue foi tão grande que não vi quando tiraram a outra garota de lá.Depois eu lidaria com ela pessoalmente, se fosse possível,