— Oh, isso realmente é animador — esbocei um sorriso.— Estou bem, obrigada — ela enfim respondeu a minha pergunta. — Venha comigo.— Não há de que agradecer — falei enquanto a acompanhava. — Nunca vou deixar que a insultem em minha frente. Sei que ela nunca foi amante do... meu pai. Você também não deveria acreditar nas mentiras que a mídia cria para ganhar audiência. — Não pode me culpar, você faria o mesmo no meu lugar.— Eu já fiz, afinal foi da minha família que falaram — Amanda arqueou uma sobrancelha diante da afirmação. — Quando eu nasci, sua mãe já trabalhava com o meu pai, então eu a considero da mesma forma que ele a considerou — expliquei.Amanda ponderou minhas palavras por um tempo. Ela sabia que tinha muitos anos que a mãe trabalhava na empresa, mas creio que não imaginava que fosse tanto tempo assim.“Se ela soubesse dos segredos que a mãe escondia, talvez começasse a ficar preocupada agora.”— E a sua mãe? — Amanda perguntou tentando trocar o assunto.— Ela saiu de c
Amanda ficou por um tempo calada, pensativa enquanto se dirigia à última cama. — Esse é o meu canto. Como pode ver, nada muito luxuoso, senhor empresário. Sente-se.Eu me sentei. A cama não era dura, mas também não era das mais confortáveis. O quarto era grande, tinha amplas janelas, mas precisava de uma reforma. Uma que eu sinceramente não estava a fim de custear de forma alguma. E foi essa percepção que fez com que eu começasse a falar novamente.— Pode mudar essa condição aceitando minha oferta.— Gosto de como você é direto. — Ela jogou o paletó para mim, foi até a cômoda e pegou um novo sutiã e uma blusa em uma de suas gavetas. — Como pode ver, não há muita privacidade aqui, então não fique retraído, nem se gabe.E virando de costas, retirou o sutiã, colocou o outro e vestiu a blusa. É claro que não passou nenhuma maldade em minha cabeça, mas ela poderia ao menos ter avisado antes, para não me deixar tão desconcertado.— Você já viu uma mulher nua antes, não é? Está vermelho com
Era um final de tarde estranho, mais ainda do que o normal, porque estava acinzentado como se cinzas de fogo sujassem o ar, ao contrário do arroxeado-marrom que sempre estava presente naquela hora. Eu estava com minha amiga Ghenos na praia à espera de minha mãe, que estava mais de meia hora atrasada. Poderia ter considerado o fato como mal presságio, não fosse o chefe dela, Jerrilly Djovig, que raramente a deixava sair em seu horário normal de trabalho. Ainda assim, algo me dizia que não foi apenas trabalho que havia a atrasado.Eu conhecia o chefe dela o suficiente para ter uma relação de amor e ódio por aquele homem. Amor, porque havia algo nele, desde que eu era bem pequena, que me dizia que ele estava sempre por perto não apenas por causa do trabalho de minha mãe e no quesito figura masculina, era o mais perto de um tio para mim. E ódio porque minha amada mãe era uma profissional excelente, tudo o que eu havia aprendido no mundo da tecnologia, eu devia a ela, e mesmo assim pref
A Acaia não é um dos melhores países do mundo. Não, eu gostava mesmo era do bom café produzido em Beréia, do arroz branco e de outras delícias que só encontramos bem feito quando pelas mãos de nossos conterrâneos.Embora quisesse muito voltar à minha nação, e imaginava inúmeras formas de voltar para lá, nunca pensei que fosse com uma ligação de meu pai.Pela primeira vez na vida eu estava fazendo algo de útil: estudando para não levar bomba no último semestre da faculdade. Estava com a cara nos livros há tantas horas que tinha certeza que meus olhos estavam inchados. Eu estava querendo apenas uma desculpa para largar o material de estudo e me arrependi de pedir isso aos deuses assim que o pensamento terminou.O telefone tocou. Jerrilly Djovig ligava para mim. — Pai, eu não estou na balada — revirei os olhos ao atender o telefone, meu pai só me ligava para dar sermão, geralmente porque estava me divertindo em vez de estar estudando, mas isso geralmente acontecia nos finais de semana.
A assistente social foi ao quarto. Pediu informações sobre Amanda e o seu endereço. Eu não estava disposto a fornecer nenhum dos dois. Augusto entrou, falando sobre minha alta e sobre o que deveríamos fazer, mas parou assim que viu a mulher.— E quem é você? — ele perguntou com sua habitual carranca.— Rita Ecker, assistente social. — Ela lhe esticou a mão e ele a pegou. — Eu estava falando com o senhor Djovig, preciso dos dados e endereço da filha da assistente do seu patrão, mas ele insiste em se recusar a me fornecer.— Meu cliente tem suas razões para fazer isso, senhora. — Ele lhe entregou um envelope. — Jerrilly Djovig e Regina Wentz assinaram um seguro, onde diz que se acontecer qualquer coisa a ela, a custódia da filha, caso menor de idade e de todos os seus bens, ficam com Jerrrilly até que a garota complete 18 anos. Como ele não está disponível, a obrigação fica para seu herdeiro. Ele está agindo de acordo com a lei.A mulher observou os documentos e pareceu não gostar muit
Eu travei e olhei para o rumo do barulho. Com toda a agitação, nos esquecemos da mídia. As imagens do acidente estavam escancaradas e repórteres comentavam o tempo inteiro sobre o assunto.— Droga! — resmungou Augusto e saiu com o celular na mão, provavelmente para fazer ligações e calar as fofocas e insinuações, pois prejudicariam a investigação tanta desinformação andando por aí.Deixei que ele cuidasse do assunto. Meu único dever ali seria convencer Amanda a vir comigo. O resto poderia ficar para depois.— Ah, querida. Eu sinto muito — a mulher pegou em sua mão e a sentou no sofá, depois pegou o controle da televisão e desligou o aparelho.— Vão me levar para um abrigo? — perguntou ela, com receio, olhando para mim.— Não — falei no calor da emoção. — Você vem comigo.Rita me olhou irritada e ia falar dos direitos de Amanda em decidir e blábláblá, mas a garota foi mais rápida.— E quem é você?Ela não me reconheceu, isso poderia ser bom. Pensei que em algum lugar no seu íntimo, ela
Minha vida tinha ficado de ponta cabeça. Eu não sabia mais quem era ou o que iria fazer... Não tinha mais nada e nem ninguém, até aquela mulher bater à minha porta e o filho de Jerrilly Djovig me fazer uma proposta.No começo estranhei, é claro. Não vi um motivo aparente para Ricardo Djovig, o herdeiro e filho intocável de Jerrilly vir atrás de mim. No entanto, ficar com ele seria melhor que um orfanato. Tudo o que só precisava ser uma boa aluna, me manter longe dele o maior tempo possível para não atrair sua atenção a mim durante nove meses.Então eu seria livre.Voltaria para casa, investiria em alguma empresa até terminar o ensino médio e entraria na mesma como acionista depois disso... bem longe da Djovig Softwares de preferência.Não seria tão difícil assim, não fosse eu estar com a mala arrumada e ir ao quarto de minha mãe pegar a caixa que ela deixou ali com alguma razão, como se soubesse que algo iria acontecer. Quando coloquei a mão no objeto, meu telefone começou a tocar. E
Quando o choque passou, uma raiva súbita me alcançou. Tantos anos se dedicando à empresa e era assim que ela terminava? Como a vadia do chefe? Nem minha mãe, nem Jerrilly mereciam isso.Me levantei decidida e desci as escadas. Quando cheguei na base, apenas informei ao herdeiro Djovig que iria ao abrigo. Não sabia se ele estava ciente das notícias, mas aquele print me fez ver que eu estava seguindo o mesmo caminho de minha mãe e eu definitivamente não queria isso para minha vida.Vi o empresário filho e o advogado tentarem argumentar sobre não estar em minhas mãos decidir, mas a minha raiva era cega, e com fundamentos, minhas fotos nos quadros concordando comigo. Eu não iria discutir com eles aquele assunto. Ricardo ainda tentava entender, então lhe mostrei o motivo de minha raiva, entregando a ele o meu celular, ato no qual me arrependi na hora. Fiquei com medo de que não me devolvesse, um medo bobo e irracional, dadas as circunstâncias, mas ele me devolveu e sem falar uma palavra,