Nem bem saí do estacionamento, ouvi um som e vi um brilho entre os bancos dianteiros do carro. Encostei e procurei, então encontrei o celular de Amanda. Pensei em devolvê-lo no outro dia, mas sabia que seria muito mais bem visto caso fosse naquela mesma hora. Ou talvez fosse somente a coceira em meu braço e a voz que falava comigo dizendo para retornar imediatamente.“Apresse-se!”, gritou uma voz interior e minha cabeça latejou. Obedeci ao que quer que fosse e voltei o mais rápido que pude. Entrei, a recepcionista do turno disse que eu podia subir. Como se agarrado a uma mão invisível, fui andando o mais rápido possível sem correr, chegando em tempo somente de presenciar a maior tragédia que poderia acontecer em minha vida.Amanda levou uma facada no peito. O grito que saiu de minha garganta foi maior do que o que eu ouvi em minha cabeça. A agitação em meu sangue foi tão grande que não vi quando tiraram a outra garota de lá.Depois eu lidaria com ela pessoalmente, se fosse possível,
Sem ter uma pessoa com quem conversar, acabei ligando para Augusto, que em pouco tempo estava comigo, esperando.— Como ela está? — perguntou assim que chegou.— Eu não sei. A levaram para a cirurgia, mas até agora não deram notícias.— E o seu braço? O que aconteceu?— Eu forneci um pouco de sangue para ajudar. Eu... eu estou com medo, Augusto.— Acha que foi um caso isolado? —- O velho mudou de assunto para me tirar do meu medo interior. — Eu não sei, mas quero que a responsável seja punida, se não pela justiça, mas pela forma Djovig.— Você tem certeza? — ele perguntou espantado. — Pensei que aboliria todos os atos clandestinos de seu pai.— Eu também. Mas ainda que eu fizesse isso estaria sendo hipócrita. Amanda e eu ainda estamos aqui. Agora eu entendo porque ele os mantinha.— Se eu não te conhecesse, rapaz, diria que sua obsessão pela garota é um tanto obscena.Não era de todo uma mentira, mas eu não me importava. Sempre soube que nossa relação seria particularmente estranha q
Amanda não tinha namorado, o que julguei ser bom, tinha uma melhor amiga, Ghenos, onde conversavam de tudo, inclusive foi ela quem a alertou sobre o Fake News produzido pelo Basgie e disse que o pai ficaria bem satisfeito em nos processar. Aquela conversa me interessou por vários motivos. Mandei um print para Augusto investigar. Depois disso, percebi, pelas conversas, que a amizade entre elas esfriou.Amanda ainda tinha alguns outros contatos com quem conversava pouco. Resolvi, porque podia, investigar todos eles, mas só depois que eu olhasse suas redes sociais.Ela gostava da praia, estava em alguns clubes de leitura, conversava com vários experts em informática – peguei os contatos de todos – e mantinha o foco nos estudos.“Nada de drogas, amizades ilícitas, exceto alguns hackers, não participa de nenhuma seita obscura e não tem nenhum crush. É, acho que isso é bom.”Apaguei tosos os meus rastros e guardei o aparelho no bolso. Olhei para o relógio na parede, já passava da meia noit
Fui para casa tomar um banho. Eu sinceramente estava mais do que precisado. Quando cheguei, Laila, a nossa governanta me passou todas as relações da casa.— O quarto da senhorita Amanda já está pronto, a carta de aceitação do colégio Red Academy já chegou...— Explicou que Amanda ainda demorará alguns dias para comparecer e que talvez não precise do quarto, mas que deve ficar sempre à sua disposição? — perguntei subindo as escadas.— Sim, senhor. — O que mais?— O juiz já assinou a guarda permanente, está no seu escritório. E a despensa está pelo meio...— Algo mais sobre Amanda, Laila? — perguntei impaciente.— Não, mas...Eu sabia que o resto da conversa era só frivolidade, então peguei um cartão da empresa e dei a ela. Entrei no meu quarto e fui direto para o banho. Quando terminei de me arrumar, fui ao quarto que mandei decorar para minha garota, depois fui ao escritório revisar seus documentos originais e maquiados e voltei ao hospital com o motorista.Quando cheguei no quarto
Decidir ir com Djovig filho não foi uma decisão ruim no fim das contas. A única coisa que pude dizer é que minha vida mudou drasticamente a partir do momento em que pisei os pés fora do hospital em sua companhia.Quando mencionei a Ricardo que ele poderia me tirar dali e consequentemente aceitei seu pedido para que eu fosse morar com ele, eu já havia tomado uma decisão.Rita, a assistente social, havia me visitado quando Ricardo não estava e, conversando comigo, me convenceu de que uma casa onde eu pudesse ficar tranquila e chamar de lar era com certeza muito melhor do que um abrigo onde eu não teria paz, porque querendo ou não, aquela louca ainda estaria lá quando eu voltasse.A primeira pessoa que conheci ao lado do filho de Jerrilly foi Tony, o motorista. Era um homem já em idade avançada, na faixa de 75 anos e era um amor de pessoa. Já na mansão Djovig, conheci a governanta, Laila, que também me tratou muito bem, a cozinheira Tomázia, que me fazia comer a cada três horas respectiv
Eu abri e quase chorei de emoção quando vi seu conteúdo. Era do Red Academy, uma escola para pessoas superdotadas tanto intelectualmente como em magia e na carta dizia que eu fui aceita. — Mas nesta escola não aceitam qualquer um — falei choca da sem entender direito o que acontecia. — Eu... — Você não é qualquer um e você sabe disso. Seu sangue possui magia pura, Amanda, e foi isso que curou você, ou estou enganado? —Eu... eu não sabia... — Ninguém sabe até precisar — ele sorriu e pegou o envelope vermelho. O movimento em seu braço fez com que sua tatuagem de lobo em seu antebraço se mexesse em um ângulo um tanto estranho, como se estivesse vivo. Senti meus pelos se arrepiarem com a visão, mas foquei em olhar para a carta.— Eu só vou deixar você ir com uma condição, Amanda.— E qual é? — perguntei preocupada com a seriedade de seus olhos.— Que você volte todos os finais de semana.Liberdade. Era o que ele estava me oferecendo. Me deu o ingresso ao internato mesmo antes d
— O que ele quis dizer com isso? — perguntei me levantando.— Não é óbvio, Amanda? — ele falou sem tirar os olhos do papel que estava lendo. — Não sou casado, não tenho filhos e tecnicamente te adotei.— Você não me adotou — retruquei. — E você nem é assim tão mais velho do que eu e ainda tem a sua irmã. Aliás, você não falou mais nela, como ela está?— Não, não sou, mas estar com a sua tutela te faz minha legítima herdeira. Não discuta, está no testamento. — Eu o encarei surpresa e ele abaixou os olhos para mim. — E quanto à minha irmã, segui seu conselho. A deixei decidir o que quer sozinha. Devo te agradecer por isso, pois ela já até veio à empresa, embora eu não garanta que voltará tão cedo.— Discutiram? — perguntei me sentado novamente, interessada.— Algo bobo, ela ainda fala comigo se quer saber. E respondendo a sua pergunta, ela herdou tudo de minha mãe, não precisa de um centímetro sequer dessa empresa, então conforme-se.— Não foi esse o acordo que fizemos — protestei. — E
Amanda era uma pessoa extremamente gentil. Augusto, apesar de eu o tolerar, ainda era um verdadeiro canalha. Eu sabia que Amanda não gostava dele e que era recíproco o sentimento da parte do advogado, só nunca entendi o porquê de ele não gostar dela. Meu pai não poderia ter feito um trabalho melhor para me colocar em maus lençóis e eu me lembraria disso quando o encontrasse no além-túmulo.Ver Amanda me perguntar por minha irmã me abriu um buraco no peito. Eu não queria mentir, mas se ela soubesse que minha irmã podia ser a pessoa mais doce e ao mesmo tempo a mais terrível de lidar, não questionaria tanto, na verdade, nem sequer tocaria no assunto. O importante é que pelo menos engoliu tudo o que eu disse sobre ser minha herdeira legítima sem questionar.E para evitar mais questionamentos desnecessários ou que eu não queria responder, resolvi colocar tudo o que eu havia planejado desde que ela foi para minha casa em prática. Naquele prédio, todos deveriam conhecê-la e saber que ela