Início parte 2

 Olá, me chamo Anne! Tenho uma consulta marcada com o Doutor Rodrigues, a atendente me disse que ele estaria aqui.

— Disse é? Que estranho... Ele não veio trabalhar hoje, está doente e tirou o dia de folga.

— Que droga! — Eu disse por impulso. — Ninguém me avisou e eu vim para cá à toa!

— Eu posso te atender, se você não se importar de ser atendida por um médico diferente. Vejamos o que posso fazer por você, não tenho nenhum paciente no momento. Como sou novo aqui, minha agenda está bastante livre.

Que voz! Confesso que estava satisfeita com a ausência do doutor Rodrigues, nem sequer queria ir ao médico, e logo que chego, descubro que meu médico não cuida direito nem da própria saúde, que fará da minha! Mas o seu substituto é um homem jovem, misterioso e atraente, quem rejeitaria? Só podia ser coisa do destino!

— Se não for problema para você...Na verdade eu não queria vir, mas minha mãe insistiu muito.

— As mães às vezes são super protetoras. — Ele comentou sorrindo.

— A minha "às vezes" me trata como se eu ainda fosse uma criança...

Ele me olhou direto nos olhos e sorriu, então, passados alguns segundos quase imperceptíveis, disse:

— E você já é uma mulher, não é? Pela sua aparência, está próxima dos dezoito anos...

— Farei dezoito amanhã.

— Então devo parabenizá-la. Dezoito anos é uma idade muito importante para uma moça, especialmente para você!

— Verdade...Mas por que especialmente para mim?

— Porque você é especial... Conte-me o que te trouxe aqui e eu verei como posso te ajudar.

— Ontem eu desmaiei no meio da aula na faculdade, alguém me segurou e meu professor ligou para meus pais.

— Já tinha acontecido antes?

— Sim, umas três vezes, pelo que me lembro.

— Quando esses desmaios começaram?

— Bem...A primeira vez aconteceu em uma festa. Era aniversário de uma amiga minha, e eu comecei a me sentir estranha, zonza, com falta de ar e não me lembro de mais nada. Quando acordei, estava em meu quarto e mamãe estava ao meu lado muito preocupada.

— Se lembra da data exata?

— Sim, era o aniversário de Rose, essa amiga de quem falei. Dia vinte e dois de junho.

— Então foi há cinco meses?

— Sim...

Ele fez outras perguntas, todas relativas a datas e lugares que frequentava, achei estranho. Pensei que me perguntaria o que comi, como me sentia, se eu usava algum tipo de droga e coisas do tipo.

— Anne, você percebeu que seus desmaios ocorreram no primeiro dia de lua cheia de cada mês?

— Não, e o que isso tem a ver? Acaso eu vou virar lobisomem? — Perguntei bem-humorada.

Ele me encarou sério e eu parei de rir, fiquei sem graça com o jeito que ele me olhou, parecia estar me reprovando. Não respondeu a minha brincadeira. Levantou-se, passou as mãos pelos cabelos negros que caíam sobre a testa e me encarou novamente.

— Teve algum tipo de sonho enquanto esteve inconsciente?

— Tive. — Respondi surpresa.

Como ele poderia saber? O que significavam aquelas perguntas que ele me fazia? Senti-me incomodada, minha dor de cabeça estava voltando.

— Consegue lembrar desses sonhos?

— Si-sim...— Minha respiração começou a ficar mais difícil, como se, por mais que inspirasse, não conseguisse absorver oxigênio.

Tentei me levantar, mas fiquei zonza e caí sentada novamente na cadeira onde estava. Ele me olhou, tinha um brilho estranho nos olhos. Sorriu ao me encarar, seus dentes muito brancos se mostraram. Um belo sorriso, mas me deu calafrios. Não conseguia me mover e nem parar de olhar aqueles olhos negros e frios.

— Você me reconheceu desde que me viu, não é verdade, Anne? — Ele perguntou e passou a língua pelos lábios.

— Do que está falando? Eu nunca vi o senhor antes! — Respondi com dificuldade.

— Precisa se acalmar, Anne, precisa deixar que seu sangue fale mais alto. — Ele se abaixou na minha frente, as mãos esfregando meus braços, como se para me aquecer. — Relaxe, respire de vagar...— Obedeci ao comando de sua voz. 

— O que está fazendo comigo? 

— Não estou fazendo nada, Anne, mas não temos muito tempo! Me diz onde você mora, quem está vigiando você?

Enquanto ele falava, bateram à porta do consultório. Era a secretária do Doutor Rodrigues chamando meu nome. Olhei em direção a porta, a maçaneta se mexia, alguém tentava abrir, mas a porta parecia estar trancada. Voltei os olhos novamente para aquele homem, mas ele não estava mais lá.

Senti como se tivessem interrompido a pressão no meu cérebro. Aos poucos minha respiração se normalizou, me levantei e olhei a salinha interna, ele também não estava lá. Eu estava sozinha trancada no consultório.

"Parece que estou ficando louca" Pensei enquanto abria a porta. 

Retirei-me sem prestar atenção ao que a mulher tentava me dizer. Segui pela rua assustada. Precisava voltar para casa, precisava ver minha mãe.

Senti-me ao mesmo tempo aliviada e idiota quando mamãe abriu a porta de casa enxugando as mão no avental. Olhou para mim levantando as sobrancelhas.

— O que houve com você, Anne? Parece arrasada, não sabia que você era tão apegada ao Doutor Rodrigues assim!

— Como assim apegada a ele? Do que a senhora está falando?

Joguei-me no sofá colocando meus pés sobre a mesinha de centro. Mamãe deu um tapa e meus pés foram ao chão. Ela me olhou intrigada.

— A secretária dele me ligou. Disse que você o aguardava no consultório quando ela te informou que ele não compareceria, porque teve um acidente de carro a caminho de lá e morreu, você saiu correndo sem dizer mais nada. Ela estava preocupada contigo.

— Ele morreu? — Perguntei incrédula, não podia acreditar em meus próprios ouvidos.

— Para de palhaçada, Anne! A secretária já te falou isso. Ele já tinha certa idade, teve um acidente e não resistiu. Melhor marcarmos com algum outro médico. Ainda temos que descobrir por que está tendo esses desmaios.

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