Novo Aluno

— Para de palhaçada, Anne! A secretária já te falou isso. Ele já tinha certa idade, teve um acidente e não resistiu. Melhor marcarmos com algum outro médico. Ainda temos que descobrir por que está tendo esses desmaios.

Sem dizer nada, fui para meu quarto. Estava muito confusa. O que realmente aconteceu na clínica? Aquele homem, qual era mesmo o nome dele? Ezequiel...

Peguei o telefone ansiosa e liguei para a clínica. Inventei um nome qualquer e pedi a atendente para marcar uma consulta com o Doutor Ezequiel.

— Doutor Ezequiel? Tem certeza que é esse o nome? 

— Claro que tenho certeza! — Por que as atendentes tratam os clientes como se fossem retardados? OU será que tem gente que realmente chama pelo nome errado? 

— Desculpe-me, senhora, deve haver algum engano, não temos nenhum médico aqui com esse nome. Gostaria que lhe indicasse um de nossos médicos em plantão?

Confusa e sem saber o que pensar sobre toda aquela situação, tentei me lembrar de tudo que tinha acontecido. Levantei e peguei minha agenda na mochila, que estava jogada atrás da porta. Verifiquei a data e o que ele dissera era verdade. Todas às vezes que desmaiei aconteceram no primeiro dia de lua cheia...

Lua cheia, nos filmes de terror, está ligada a lobisomens e bruxas... Seja lá que peça minha mente estava me pregando, só podia ser coisa de minha imaginação. Um homem lindo e misterioso que invade os meus sonhos, que aparece e desaparece do nada, de quem ninguém ouviu falar, luas cheias e lobisomens? 

Sem essa! 

A última coisa que eu pretendia era ficar louca e acabar num daqueles hospícios horrendos que aparecem nos filmes de terror, com aqueles seguranças criminosos, ou com um bando de loucos psicopatas babando em suas camisas de força naquelas histórias que não sabemos se é sobrenatural ou fruto de uma imaginação doentia.

Olhei para o relógio despertador que ficava sobre a mesinha de cabeceira, azul de corda, daqueles bem antigos, parecendo peça de museu. A repetição monótona e mundana do tic tac me trouxe de volta à realidade. Achei melhor tomar um banho e me arrumar logo antes de descer para almoçar, não podia perder a prova na faculdade, e para piorar, não tinha estudado nem um pouco...

Pelo visto, meu futuro seria ser internada como uma louca com o C.R baixo.

Chegando na faculdade, sentei no banco do pátio e olhei meu relógio de pulso, passavam quinze minutos das quatro horas da tarde. Como o horário de entrada do meu turno era às seis, tinha um bom tempo para tentar estudar. Descobri que o tempo não era o problema quando, por mais que eu tentasse me concentrar, tudo o que vinha em minha mente era a possibilidade de estar enlouquecendo. 

Creio que estava realmente absorta em meus pensamentos, pois não percebi a aproximação de minha amiga Fernanda.

— Oi, Anne! Estudou para a prova de hoje?

— Eu?— Perguntei por puro reflexo causado pelo susto que levei ao perceber que Nanda estava parada ao meu lado. — Hm... Não estudei nada esses dias, não consigo me concentrar.

— Entendo, amiga, também não estudei nada! Escute, já foi ao médico ver o motivo do seu desmaio?

— Fui, ou melhor, não fui.

— Como assim?— Ela perguntou me encarando curiosa.  

— Acredita que o médico morreu pouco antes de chegar ao consultório hoje? Parece um Carma que ele decidiu morrer hoje, só para me contrariar. Vou ter que marcar outro dia com outro médico.

Naquele momento eu pensava se deveria ou não me abrir com minha amiga, dividir minhas preocupações com ela parecia uma boa ideia, talvez assim, eu me sentisse um pouco aliviada de toda essa pressão psicológica.

— Você já pensou na possibilidade de estar grávida, amiga? — Perguntou Nanda me olhando com uma das sobrancelhas erguida, demonstrando uma desconfiança cômica.

— O quê?! Nanda! Você sabe muito bem que nem namorado eu tenho! Que pergunta idiota! — Respondi sem saber se sentia raiva ou se achava graça na cara que ela fez ao perguntar.

Foi essa pergunta estapafúrdia que me fez chegar à conclusão de que era melhor guardar meus problemas para mim mesma até saber como agir, para evitar mais comentários maldosos e sem noção.

Conheci Nanda no primeiro ano do jardim de Infância e, desde então, não desgrudamos mais uma da outra. Ela era aquele tipo de amiga que sempre está disponível, sempre do nosso lado, mesmo quando estamos errados, sabe?

— Minha avó disse que quando estava grávida costumava desmaiar igual a você e me perguntou se você sai com alguém... Você não esconderia isso de mim, esconderia, Anne?

— Não estou escondendo nada! — Respondi emburrada. — Se eu estivesse saindo com alguém, você seria a primeira a saber!

De repente, Nanda segurou meu braço com excitação evidente nos olhos.

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