Celular tocando – música de despertador.Eu desliguei o despertador às 05:15, nem mais nem menos, e nunca, jamais colocava na soneca.Dobrei os lençóis e guardei. Arrumei a cama e me certifiquei que estava tudo bem esticado. Adorei a combinação de tons roxos degradê até lilás e a cômoda azul, ficou igual a revista. Ainda bem porque estar saindo com aquele QI de me*da, tem que valer alguma coisa.Enfim, colocar minha legging de quinta-feira e partiu para academia. _ Karla, minha filha, pode passar hoje na companhia de luz e verificar aquelas contas em atraso pra mamãe? _ Mãe, ninguém vai nesses lugares, tem aplicativo pra isso agora. E que história é essa de luz em atraso? Aquele imprestável do seu… _ Karla, pelo amor de Deus, minha filha, fale mais baixo, ele está em casahoje. _ Milagre, né, uma vez por mês. Aproveita e pede pra ele consertar otelhado. Sabe que tá chovendo em cima dos filhos dele, já estão todos lascados com bronquite desse mofo horrível nos quartos. _
_ Esperando pra começar a partida e não apareceu na jogada? Ele parecia realmente furioso. _ Tá me fazendo de otário, gata, me fez comprar aquele monte de lingerie à toa… _ Hei!! Olha como fala comigo, tá pensando o que, cara mal? Fala direito com sua gata. Sentadinho aí.Como eu tive que falar alto, as meninas correram para meu guichê. _ Karla, cê tá doida.Eu coloquei o celular no mudo e corri para a copa. _ Vocês duas fiquem de olho e não deixe ninguém entrar aqui, eu tenho que resolver isso. _ E como você quer que nós façamos isso? _ Se virem, depois eu compro um presente pra cada… – eu empurrei as duas para fora rapidamente e fechei a porta do cômodo. _ Mas Kar… _ Aí, gata, não começa, cê sabe como eu fico… _ Ca-la-di-nho!!! — Então abri a câmera do celular e apoiei o aparelho na cafeteira.Era só eu começar um showzinho meia boca pra ele se acalmar. _ Karla, não vai rolar. Essas paradas tuas aí de me enfeitiçar e deixar eu pegar fogo pra depois cai
— Lili, que bom que você chegou, quem te trouxe? Vi você pela janela. Hannah me esperava em casa, procurei pela amiga dela, mas não vi. — Longa história, já abriu um vinho pra gente? Estou varada de fome, vou colocar uma lasanha para esquentar – joguei minhas coisas no sofá e fui até a cozinha. Hannah me seguia. — Onde está sua amiga? — Entrou no banheiro já tem um tempo. Você acha que devo bater? — Ahhh, sei lá, vai lá e pergunta se ela precisa de alguma coisa. Nesse momento a gente tem que dar espaço, mas tem que ficar de olho né? – Eu passei a minha adolescência, entrando e saindo de relacionamentos tóxicos. Sabia muito bem como era isso. Eu ouvi lá da cozinha Hannah batendo de leve na porta e falando baixinho com ela. Não consegui ouvir o que ela respondeu, mas acho que estava tudo bem, não ouvi ninguém gritando. — Lili, ela está bem, imagino que está chorando. Não quis dar queixa, mas conversou com a assistente social. — Então ela chegou a ir à delegacia com você? – Fiquei
— Bom dia, Lili. – Dei a volta no balcão, ainda dava tempo de eu atender dois ou três clientes para ela, pois a cafeteria ficava bem mais perto do meu trabalho do que de minha kitnet. — Próximo. Bom dia. — Um café com leite sem lactose e duas torradas francesas. — Para viagem ou vai… — Viagem e rápido que estou atrasado. — Claro, senhor. Hiiii!!! Lili ouviu, lá vem ela. — Senhor, a cafeteria a cinco quadras daqui tem delivery, pode pedir do seu serviço. Este é o número para reclamar do nosso serviço. Acho que o senhor está atrasado para discutir, então tenha um bom dia e não precisa nem voltar. — Mas o que é isso? Que falta… — Próximo! – Ela mesma chamou para mim. Como os clientes dela eram já fiéis e conhecidos, entraram na frente do homem e nem deixaram ele falar nada, foram se espremendo e o empurrando até o fulano chegar lá na calçada. Todos aplaudiram a atitude da Lili. — Oi, Hannah, um capuccino e um croissant, para viagem, por favor. — Ola Sr. Valter é pra já. – Enqu
Ficava olhando a hora do computador de cinco em cinco minutos, e não via a hora de Antonella me falar que eu podia ir ao hospital. Como será que ele ia me receber? O último telefonema não foi nada legal. Mas temos que deixar esses assuntos de lado quando se trata de saúde. Depois vejo o que houve. — Hannah, acorda!! As flores e o chocolate já chegaram, estão na recepção, vá logo, o motorista vai te deixar no hospital. Não demore, tenho que te… Enquanto ela falava, eu já tinha pegado minha bolsa, fechado minha tela, guardado as agendas e colocado cada documento no organizador de mesa. — Uau.. Garota, é bom saber que você pode ser ágil assim, pra variar. – Ela estalou os dedos e me dispensou. — Obrigada, Antonella, volto rapidinho…– e lá do elevador ainda gritei: — VOU COMENDO NO CAMINHO. Só vi a cara dela, enquanto atendia o telefone, balançando a cabeça em negativo. — Oi, o buquê para o segurança… — Olá, Hannah, aqui estão. — Cravos, que lindos. — E tem essa caixa de chocolat
Eu estava extasiado com a visão da Karla dançando. Ela fazia cada movimento calculadamente sensual. Seu sorriso criava uma moldura em volta do casal com um brilho só deles, ofuscando todos os outros. Ela usava um vestido aveludado verde claro curto arredondado com um decote que ia demorar milênios para sair da minha cabeça. Espera um pouco, eles estão subindo, acho que vão para o bar. É minha chance de cumprimentá-la. — Cavalheiro, aqui está seu pedido…— Tá, tá, tá… coloca aí. Só faltava o cara me atrapalhar pegar a fila atrás dela. Me apressei para subir os degraus, o senhor que a acompanhava mantinha sua mão nas costas nuas dela, onde o vestido tinha uma abertura. Como eu queria ser aquele velho agora. Espera um pouco, não estão indo para a fila do caixa… — Garçom, o que é aquela área ali? — Agora o senhor quer falar comigo? Só então olhei para o rapaz, que, aliás, me deu medo. E sim, tinha certeza que minha comida deveria estar cuspida também. — Me desculpe. Pode, por fa
Fiquei olhando aquela foto e fechei a porta novamente. — Pai, isso é o que eu estou pensando? — Sim, filho. — Qual nome dela? — Gabriela. Eu fui até a parede de vidro que tinha uma vista muito bonita da cidade. Estava com a foto ainda em minhas mãos. Na foto, a garotinha morena devia ter não mais que seis ou sete anos. Sentada em frente da velha e m*****a casa, ainda mais destruída do que me lembrava. Ela brincava com algo em suas mãos, o velho boneco do Batman, que um dia foi meu. — Filho, essa foto é antiga. Eu realmente não queria ter que falar mais sobre essa vida com você. — Ok, papai, fala de uma vez – não queria ser desrespeitoso com o homem que me salvou de todas as formas que podiam imaginar. Mas falar desse passado me incomodava muito. — Quando soubemos da sua… A palavra ficou presa na boca dele por um instante. Parecia que precisava da minha permissão. Eu olhei para ele e acordei com a cabeça. — …irmã, ela já tinha dez anos. A sua … – ele parou um pouco e pensou.
— Bom dia, Lili. Precisa de uma ajudinha aí? — Bom dia, Sara – olhei para o rosto dela e estava visivelmente inchado de chorar. Ela estava com o celular na mão, então foi só somar dois mais dois. — Vou precisar depois de você tomar o seu café. — Estou meio sem jeito de falar, mas eu não tomo café. Ele espremeu o rosto entre o pescoço, e fez careta. — Sem problemas, vou preparar um achocolatado que você vai amar. Senta aí. — Obrigada. — Dormiu bem? — Eu apaguei depois daquele vinho maravilhoso. Eu ia preparando tudo e distraindo-a. Vi que olhava algumas vezes para o celular. A loja estava mais vazia naquele horário, todos já tinham ido pro trabalho. — Se você ficar aqui em casa, tem sempre uma garrafa. — Então, sobre isso… Eu coloquei a caneca de achocolatado no balcão e toquei a mão dela. — Não falei para te pressionar, apenas tome sua decisão com calma, quero que saiba que tem um lugar seguro para ficar. E … – ofereci uma colher para ela com um largo sorriso. — …mexa bem