Eu estava extasiado com a visão da Karla dançando. Ela fazia cada movimento calculadamente sensual. Seu sorriso criava uma moldura em volta do casal com um brilho só deles, ofuscando todos os outros. Ela usava um vestido aveludado verde claro curto arredondado com um decote que ia demorar milênios para sair da minha cabeça. Espera um pouco, eles estão subindo, acho que vão para o bar. É minha chance de cumprimentá-la. — Cavalheiro, aqui está seu pedido…— Tá, tá, tá… coloca aí. Só faltava o cara me atrapalhar pegar a fila atrás dela. Me apressei para subir os degraus, o senhor que a acompanhava mantinha sua mão nas costas nuas dela, onde o vestido tinha uma abertura. Como eu queria ser aquele velho agora. Espera um pouco, não estão indo para a fila do caixa… — Garçom, o que é aquela área ali? — Agora o senhor quer falar comigo? Só então olhei para o rapaz, que, aliás, me deu medo. E sim, tinha certeza que minha comida deveria estar cuspida também. — Me desculpe. Pode, por fa
Fiquei olhando aquela foto e fechei a porta novamente. — Pai, isso é o que eu estou pensando? — Sim, filho. — Qual nome dela? — Gabriela. Eu fui até a parede de vidro que tinha uma vista muito bonita da cidade. Estava com a foto ainda em minhas mãos. Na foto, a garotinha morena devia ter não mais que seis ou sete anos. Sentada em frente da velha e m*****a casa, ainda mais destruída do que me lembrava. Ela brincava com algo em suas mãos, o velho boneco do Batman, que um dia foi meu. — Filho, essa foto é antiga. Eu realmente não queria ter que falar mais sobre essa vida com você. — Ok, papai, fala de uma vez – não queria ser desrespeitoso com o homem que me salvou de todas as formas que podiam imaginar. Mas falar desse passado me incomodava muito. — Quando soubemos da sua… A palavra ficou presa na boca dele por um instante. Parecia que precisava da minha permissão. Eu olhei para ele e acordei com a cabeça. — …irmã, ela já tinha dez anos. A sua … – ele parou um pouco e pensou.
— Bom dia, Lili. Precisa de uma ajudinha aí? — Bom dia, Sara – olhei para o rosto dela e estava visivelmente inchado de chorar. Ela estava com o celular na mão, então foi só somar dois mais dois. — Vou precisar depois de você tomar o seu café. — Estou meio sem jeito de falar, mas eu não tomo café. Ele espremeu o rosto entre o pescoço, e fez careta. — Sem problemas, vou preparar um achocolatado que você vai amar. Senta aí. — Obrigada. — Dormiu bem? — Eu apaguei depois daquele vinho maravilhoso. Eu ia preparando tudo e distraindo-a. Vi que olhava algumas vezes para o celular. A loja estava mais vazia naquele horário, todos já tinham ido pro trabalho. — Se você ficar aqui em casa, tem sempre uma garrafa. — Então, sobre isso… Eu coloquei a caneca de achocolatado no balcão e toquei a mão dela. — Não falei para te pressionar, apenas tome sua decisão com calma, quero que saiba que tem um lugar seguro para ficar. E … – ofereci uma colher para ela com um largo sorriso. — …mexa bem
— Sr.Trindade, olhe para a direita, siga essa lanterna – o médico estava me avaliando, tinha mais ou menos uns minutos que eu tinha voltado a minha consciência. — Onde está a Hannah? A lanterna que ele insistia em colocar diretamente nos meus olhos me dava uma leve náusea. Minha cabeça doía e me sentia muito fraco. — Agora, por favor, siga meu dedo. Eu olhei para os olhos dele e perguntei mais uma vez. A cama estava na posição com o encosto alto, mas com ele na minha frente não conseguia achar ela. — Onde está a moça que estava… — Estou aqui, Apolo, não se preocupe, vou ficar até estar melhor. Ela estava em pé, no cantinho da sala à minha esquerda. — Sr. Trindade, precisamos levá-lo para fazer alguns exames. — Eu entendo, podem me dar alguns minutos com a minha … – como definir Hannah, amiga? Conhecida? Visitante, talvez? — Com a Hannah? — Claro, vou pedir para irem preparando as salas e eles vêm buscar o senhor em alguns minutos. — Muito obrigado. Ela tinha uma expressão p
— Kleiton, pare com isso. – Eu estava fazendo meu dever de casa, na mesa da cozinha. Meu irmão mais velho, dois anos, jogava milho de pipoca. — Mãe, olha aqui esse moleque infernal!!!— Mãe, blá blá, blá, infernal… Ele tentava imitar minha voz fazendo careta e continuava a jogar os milhos. Minha mãe, coitada, mal conseguia ficar em pé de tão cansada; tinha acabado de chegar da segunda faxina e ainda pegou uma trouxa de roupa para passar. Ela evitava de pedir minha ajuda, queria que me dedicasse aos estudos, mais do que meus irmãos; e eles sentiam essa diferença. O mais velho engravidou uma garota do bairro e foi morar com ela na casa dos pais da menina. Comia o pão que o diabo amassou na mão da sogra. — Karla, amanhã o Dr. Alessandro quer que eu vá fazer faxina na casa dele, se quiser pode vir comigo e ficar quietinha fazendo seu dever lá. — Mas amanhã é domingo. — E desde quando o calendário paga as contas aqui nessa casa? – Ela abriu as panelas em cima do fogão. — Onde Kristiam
— Senhorita, quero deixar bem claro que se não quiser prestar queixa, não será obrigada, se continuar agindo dessa maneira …— Eu já disse que estou bem, e quero que soltem ela, por favor. — … vou prendê-la por desacato, pela última vez, senhorita, se afaste da viatura. — Lili, por favor, fale com eles … – fui até ela com a esperança de que ela me ajudasse a convencer o policial. — Eu te peço, se ela for presa, quando sair vai ser muito pior. Ela estava vendo Paola sentada em uma viatura com as mãos algemadas para trás. Sentada em uma das mesas de sua cafeteria com a maior calma desse mundo. — Sara, está pedindo para a pessoa errada. Elas se encaravam como touros em uma arena. E Lili ainda tinha que acenar com a mão, quando a viatura ia saindo? — Vou pegar minha bolsa e vou até a delegacia, preciso amenizar as coisas. — Antes de você ir, quero te mostrar uma coisa. Lili me falou, levantando e desfilando até o outro lado da bancada. — Meu Deus, Lilith, como consegue ficar tão a
— Bom dia, Tabita, tudo bem com você?Pra quem passou a noite na emergência, eu estou viva. — Bom dia Rodolfo, eu estou…— Enfim, você sabe se a Karla já chegou? — … mais ou menos, obrigada por perguntar. E sim, porque são mais de dez horas da manhã e todos já estão trabalhando há algum tempo.É muito sem noção mesmo, de onde será que ele saiu? — É verdade. Eu começo na segunda. Mas vim falar com o Sr. Cole. — E tem hora marcada? — Não, mas tem um pressentimento que ele vai me atender. Pode tentar. Ele apontou para o telefone todo se achando, parecia mais o dono da empresa. Quero só ver a cara dele quando o Sr. Cole falar que não pode. — Sr. Cole, o rapaz que foi contratado para segundo secretário da Sra. Solto, ele… Mas que coisa, o homem mandou ele subir e nem perguntou o assunto. Fiquei de cara olhando para Rodolfo todo se “achando”. — Dá logo o crachá para eu subir, minha doce queridinha. — Ele já está subindo, Sr.Cole. Obrigada. — Depois você pode me contar o que está
— Então senhor…, quer dizer Nico. – Depois que olhei o rosto dele desaprovando a maneira formal de falar. — Quantos anos vão fazer suas sobrinhas? — As princesas farão cinco anos. Estávamos no elevador, antes de sair, a última coisa que vimos foi a cara de desaprovação de Antonella. O que nem liguei, afinal tinha feito todas as tarefas que ela tinha pedido para fazer. Mas o que aconteceu a seguir, me chateou um pouco. A porta abriu e as moças que tinham encontrado outro dia no banheiro, entraram. — Boa tarde,Sr.Nicolas. — Boa tarde, Greta, como você está? — Estou bem, faz tempo que não o vejo. Ocupado como sempre. Nina perguntou por que não ligou mais para ela? Ele deu um sorriso constrangido e não respondeu nada. Até chegar no térreo começou um jogo de olhares pelos espelhos dentro do local. Ficou um ambiente pesado e incômodo. Quando o elevador parou, segundos antes da porta abrir, Greta ainda destilou um pouco de veneno: — Ela ainda acredita que você gosta dela, pobre coita