No Olimpo a última luz do dia brilhava, tochas já eram acesas, todos riam e conversavam com vigor, a comemoração corria perfeitamente e junto de minha mãe eu conversava com algumas deusas, tudo estava tão animado e feliz, em momentos assim eu esquecia sobre o vazio e meu sorriso se tornava constante, era tão bom conversar com outras pessoas, o calor, as vozes preenchendo o lugar, simplesmente maravilhoso. De repente uma sensação estranha me toma, como se alguém me observasse, eu procuro com os olhos em meio a multidão e então de relance vejo alguém nas sombras, um homem alto e bonito me olhava, mas assim que percebeu meu olhar desviou o rosto parecendo desconcertado e então ouço murmúrios, comentários espantados, desgostosos, aparentemente alguém indesejado havia aparecido, o que era estranho já que a maioria ali eram deuses, talvez algum outro ser havia invadido de alguma forma a festa, logo cessou os cochichos e a risada de Zeus é ouvida seguida por ele dizendo que se ausentaria momentaneamente, a música aumenta e então tudo volta ao normal.
Em um lugar afastado da festa dois deuses conversam...
-Não pensei que viria irmão, fico feliz que tenha se juntado a nós em um momento tão agradável.
-Deixe seu teatro para aqueles bajuladores, sei que não fui convidado e que minha presença não é apreciada, vim pois possuo assuntos a tratar.
-E que assuntos seriam esses ?
-Pode ter derrotado o titã, mas não se importou com o que ocorria em volta, sua batalha provocou grande comoção no vulcão Etna, o que influencia diretamente no meu domínio, não me importa o que você e os seus fazem, só não interfira no meu trabalho, já que foi você mesmo que me pôs naquele inferno para ser odiado e temido enquanto fica com a glória e as festas para si e os outros.
-Irmão, essas coisas acontecem, sabe como é, mas como sou justo eu lhe devo algo por ter causado tal infortúnio, há algo que deseja ?
-Como é justo..me dá um favor após tudo isso, devo realmente me comover hoje, talvez eu chore e lhe dê oferendas também.
-Não zombe de mim Hades, diga o que quer.
-Pois bem, duvido que possa me dar muito, mas há algo que me chamou a atenção, mais precisamente alguém, ela está aqui esta noite, mas não sei seu nome ou seu domínio, eu a quero.
-Um pedido um tanto surpreendente irmão, me diga como ela é e eu verei o que posso fazer. -disse com um sorriso zombeteiro.
-Seus cabelos são vermelhos como o entardecer, seus olhos verdes como os campos e ela estava na companhia de Deméter.
Nesse momento Zeus pareceu travar, abriu a boca mas as palavras se demoraram a sair.
-Não poderá tê-la irmão, ela é filha de Deméter e sua protegida, jamais chegou perto de homem algum, deus ou mortal, Deméter jamais permitiria seu envolvimento com ela.
-Pois bem, eu tenho meus meios, mas ela será minha, isso eu garanto.
-Seja prudente Hades.
-Não venha ser moralista comigo irmão, você não está e nunca esteve em posição para isso, agora vá e aproveite a sua festa, talvez até consiga escapar do olhar de sua esposa, afinal, o mundo mortal ainda não está coberto por seus filhos, ou devo dizer bastardos ?
Hades saiu com um sorriso frio e sem que ninguém notasse foi embora com pensamentos ocupando cada espaço de sua mente.
Dias se passaram após a festa e eu agora estava próxima a floresta na companhia de alguns animais enquanto apreciava o perfume das flores em volta, de repente a mesma sensação de ser observada, olho para todos os cantos mas não vejo nada, respiro fundo e deixo de lado isso, mas a sensação continuava, então em um momento ouço algo se movimentar e confirmando isso os animais se colocam em posição de defesa e então fogem me deixando só, eu olho na direção do barulho e então eu vejo na sombra de uma árvore o mesmo homem da festa, ele me encara, sua expressão é neutra mas algo emana dele, uma aura pesada, enquanto nos olhamos por segundos que parecem horas ele fala e sua voz é bela.-Você deveria fazer como eles.-Desculpe eu não entendi.-Fugir, deveria fugir como eles, pelo menos esse é o esperado.-Não me deu motivos para fugir, não foi agressivo ou demonstrou más intenções, então não vejo m
Sinto então o chão voltar, meus olhos estavam fechados por medo, mas então ouço a voz dele calma.-Abra os olhos, está tudo bem agora. Quando abro meus olhos suas roupas mudaram e não estávamos mais na floresta. Quando abro meus olhos suas roupas mudaram e não estávamos mais na floresta-Bem-vinda ao meu reino, minha adorada.-Onde estamos ?-Aqui é o submundo, o meu domínio.-Você é....Hades.-Sou, isso a amedronta ?-Não, deu sua palavra e eu não menti quando disse que confiava em você.- disse com um sorriso.-Que bom, vamos, vou levá-la ao meu palácio. Ele me estende a mão e eu a pego, andamos pelo submundo, ele me mostra e explica com calma sobre tudo e apesar do lugar onde estamos eu não sinto medo, a presença dele me deixa tr
Quando eu acordei estava tudo absolutamente quieto, Hades deu sua palavra que ninguém me perturbaria e isso havia se cumprido. Eu olhei em volta, o quarto não possuía janelas, era espaçoso e iluminado por tochas que mantinham o ambiente com uma aura misteriosa, talvez eu sentisse medo se estivesse só, mas a presença e as palavras de Hades me mantinham tranquila, pensando nisso eu me levantei, meus pés descalços sentiram a diferença de temperatura assim que pisaram no chão, o lugar todo era de um frio diferente, não era algo realmente físico, se sentia no corpo mas também na alma, rapidamente eu fui me ver no espelho para arrumar algumas mechas fora de lugar, lavei meu rosto em uma bacia com água fresca e assim que me senti pronta saí do quarto. Caminhei por corredores compridos a meia luz, olhava para cada detalhe tentando lembrar sem sucesso do caminho que percorri ontem, começando a temer estar completamente perdida eu vi uma som
Ficamos no tribunal por algum tempo, não sei dizer se pouco ou muito, infindáveis almas apareciam, os juízes julgavam e eu via Hades assentir com as decisões, nenhuma palavra dita, nenhuma expressão, se mantinha impassível com todos, homens, mulheres, idosos e até mesmo crianças, não lhe causavam nenhuma reação, mas eu não deveria me surpreender, ele deve fazer isso a tanto tempo que já nada o comove, além de ser esse o seu dever, mas mesmo assim eu me preocupava com como ele se sentia. Saímos de lá e ele permanecia neutro, quando entramos na carruagem vi que não seguíamos o mesmo caminho, mas permaneci quieta esperando que ele me dissesse ou que chegássemos ao local. Logo paramos as margens de um rio, descemos e então em um momento vi uma barca se aproximando e uma figura a conduzia em meio as águas até que chegou a nossa frente.-Cuidado ao subir, permita-me. Hades estendeu a mão par
Na volta Hades escolheu ir por um caminho mais longo, queria me mostrar os outros rios, assim que saímos do Lete, desembocamos no rio Estige.-Aqui é o maior rio do submundo, corta todo o domínio e sai no oceano, suas águas são conhecidas também por rio da Invulnerabilidade afortunados são aqueles que tem a sorte de se banharem nele.-Muitos mortais fazem isso ?-Não, poucos tem acesso ao submundo e aqueles que entram sem permissão costumam ficar por aqui. Eu observava as águas do rio de repente mudarem, sua cor fica vermelha como sangue e borbulhando como um caldeirão liberando um calor terrível.-Onde estamos ?-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo.-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo-Por que é tão diferente dos outros ?-Aqui é onde se pune os crimes cruéis, o fogo purifica, por isso o calo
Um cão enorme estava no salão e seu focinho me cheirava freneticamente, mas logo Hades interferiu ficando entre nós, ele esticou a mão e o cão se deitou no chão para que sua cabeça pudesse ser acariciada, ele parecia até dócil quando estava sendo tratado pelo deus, mas eu não me arriscava a tentar sozinha.-Venha minha adorada, ele não lhe fara mal. Ele estende a mão e eu a pego receosa, vou me aproximando e então minha mão é colocada no focinho do animal, não há resistência e eu percebo como seu curto pelo é macio, aproveito para explorar além e acaricio mais acima da sua cabeça, ele deita e parece gostar.-Ele gosta de você, só estranhou pois não são muitas as pessoas vivas que entram aqui, o Cérbero está acostumado a pegar invasores e não receber, mas agora que já se familiarizaram ficará tudo bem. Hades então se afasta e pega um bolo muito comum de farinha e mel de cima d
Como com toda aquela comoção meu coração acelerou, tive dificuldades em dormir e Hades chamou para mim Hypnos, deitada na cama com ele sentado ao meu lado nós conversamos um pouco.-Que confusão minha flor, mas tudo vai dar certo, não digo para Zeus e os dele mas para alguém.-Eu desejo permanecer aqui.-E porquê ? Duvido que seja pelo nosso lindo clima e vastas florestas verdejantes. -disse ele ironicamente com um sorriso.-Eu... me sinto bem aqui, me sinto livre.-Nada mais ? -ele levanta uma sobrancelha me olhando mais perto.-É só isso...-Se você diz minha querida, mas te dou uma dica, pode ser tarde demais quando resolver ver verdadeiramente o motivo. Ele se levanta e beija minha testa, de repente um sono começa a me tomar e logo adormeço profundamente. Meus sonhos são um turbilhão de vozes, sussurrando, falan
Assim que eu toquei o chão fora do submundo e o sol tocou minha face eu soube que não o veria por muito tempo e lágrimas caíram, quando tocaram o solo o chão tremeu e mesmo não tendo certeza senti que Hades havia sentido e o tremor era seu sofrimento e raiva, o submundo sentiria pelo acontecido e eu tinha certeza que as almas sofreriam ainda mais do que antes nesses meses que se seguiriam. Talvez tenham se passado quatro ou cinco meses, eu já não sabia, os dias corriam devagar para mim, as colheitas, safras e o clima tinham voltado ao normal, apesar de que quanto mais se aproximava o tempo de eu voltar, mais o clima mudava para uma brisa fria ou uma geada, nada seria como antes, eu com certeza não era a mesma, um buraco ainda maior havia se formado no meu peito desde que eu voltara, mesmo sentindo o sol eu sentia frio, mesmo estando cheia de alimento e seres em volta eu me sentia faminta e sozinha, algo faltava