Sinto então o chão voltar, meus olhos estavam fechados por medo, mas então ouço a voz dele calma.
-Abra os olhos, está tudo bem agora.
Quando abro meus olhos suas roupas mudaram e não estávamos mais na floresta.
Quando abro meus olhos suas roupas mudaram e não estávamos mais na floresta
-Bem-vinda ao meu reino, minha adorada.
-Onde estamos ?
-Aqui é o submundo, o meu domínio.
-Você é....Hades.
-Sou, isso a amedronta ?
-Não, deu sua palavra e eu não menti quando disse que confiava em você.- disse com um sorriso.
-Que bom, vamos, vou levá-la ao meu palácio.
Ele me estende a mão e eu a pego, andamos pelo submundo, ele me mostra e explica com calma sobre tudo e apesar do lugar onde estamos eu não sinto medo, a presença dele me deixa tranquila e sua voz me envolve de tal forma que nem vejo quando chegamos ao palácio, as grandes portas se abrem para nós e um vasto salão é iluminado por tochas, entramos e então vejo uma mesa farta.
-Com fome ?- Ele me estende uma fruta e eu aceito de bom grado.
-Obrigada.
Como as sementes da fruta e o sabor é diferente de tudo que eu já tenha provado.
-Gostou ?
-Sim, muito.
Ele sorri suavemente e então me mostra os cômodos, o lugar é enorme e eu poderia facilmente me perder, mas uma dúvida surge enquanto andamos.
-Você vive sozinho aqui ?
-Sim.
-E não se sente solitário ?
-Não mais, a muitas eras eu estou aqui, esse é meu domínio e não me importo mais sobre ter pessoas em volta como é no olimpo.
-Mesmo que não se importe, agora eu estou aqui, nenhum de nós dois ficará sozinho nunca mais.
Pego as mãos dele nas minhas e aperto suavemente, ele me olha e dentro de seus profundos olhos negros eu vejo algo gentil, um calor que me faz ignorar o frio de sua pele. Ele sorri minimamente de lado e diz em tom cálido.
-Agora eu tenho você, quero que se sinta livre para me pedir o que quiser, para falar sobre o que quiser comigo, eu a ouvirei com muito gosto.
-Você está sendo tão atencioso e gentil comigo, por qual razão ?
-Você para mim é como eu havia dito, uma flor delicada que me deu a vontade de protege-la assim que coloquei meus olhos em você.
Senti meu rosto aquecer, ser nenhum jamais havia falado daquela forma comigo e tais palavras faziam meu coração palpitar como as asas de um pássaro em pleno voo, eu parecia ter borboletas na barriga e essa sensação me distraiu por alguns segundos, Hades em momento algum desviou os olhos de mim e devagar tirou uma de suas mãos das minhas e a levou a minha bochecha, parando antes de encostar.
-Posso ?
Eu assenti devagar e então carinhosamente ele acariciou minha face com o polegar, era um toque lento e cuidadoso, como se ele medisse o que fazer e as minhas reações, da minha parte eu apenas aproveitava o que me era dado e envolvida pelo carinho fecho meus olhos.
-É a mais bela de todas, nem mesmo Afrodite possui tanta beleza e graciosidade como você.
-Por favor não diga tal coisa, pode ofendê-la- disse abrindo meus olhos em preocupação.
-Não tema ira alguma, aqui minha palavra é ordem e lei, deus algum tem o poder de saber o que se passa aqui, este lugar é afastado de tudo e todos então seja livre para dizer o que desejar e agir como bem quiser minha adorada.
-Por que me chama assim ?
-É como você é para mim, minha adorada, minha musa, minha luz em meio à escuridão, não tenho palavras para descrever minha admiração e adoração por você Perséfone.
Sua voz grave era tudo em que eu conseguia focar, jamais me senti tão feliz e aérea como agora, suas palavras me enchiam de alegria e carinho, mas de repente somos interrompidos por algo que passa rente aos meus tornozelos me fazendo tomar um susto e quebrando o contato entre nós, eu olho para baixo e vejo uma sombra trêmula vagando ao redor, instintivamente eu aperto a mão de Hades e ele me responde tranquilamente pondo a mão em meu ombro.
-Isso é apenas uma sombra, muitas delas rondam o palácio evitando que qualquer intruso passe despercebido, mas não se preocupe ela não pode lhe fazer mal algum, aliás, ninguém aqui lhe fará mal, você é minha protegida.
Eu concordo e me acalmo olhando para aquela criatura incorpórea que logo se vai com um gemido baixo e triste.
-Há muito que eu gostaria de lhe mostrar, mas você deve descansar, vou lhe mostrar seu aposento.
Ele solta minhas mãos e então me guia até onde eu ficaria.
Quando eu acordei estava tudo absolutamente quieto, Hades deu sua palavra que ninguém me perturbaria e isso havia se cumprido. Eu olhei em volta, o quarto não possuía janelas, era espaçoso e iluminado por tochas que mantinham o ambiente com uma aura misteriosa, talvez eu sentisse medo se estivesse só, mas a presença e as palavras de Hades me mantinham tranquila, pensando nisso eu me levantei, meus pés descalços sentiram a diferença de temperatura assim que pisaram no chão, o lugar todo era de um frio diferente, não era algo realmente físico, se sentia no corpo mas também na alma, rapidamente eu fui me ver no espelho para arrumar algumas mechas fora de lugar, lavei meu rosto em uma bacia com água fresca e assim que me senti pronta saí do quarto. Caminhei por corredores compridos a meia luz, olhava para cada detalhe tentando lembrar sem sucesso do caminho que percorri ontem, começando a temer estar completamente perdida eu vi uma som
Ficamos no tribunal por algum tempo, não sei dizer se pouco ou muito, infindáveis almas apareciam, os juízes julgavam e eu via Hades assentir com as decisões, nenhuma palavra dita, nenhuma expressão, se mantinha impassível com todos, homens, mulheres, idosos e até mesmo crianças, não lhe causavam nenhuma reação, mas eu não deveria me surpreender, ele deve fazer isso a tanto tempo que já nada o comove, além de ser esse o seu dever, mas mesmo assim eu me preocupava com como ele se sentia. Saímos de lá e ele permanecia neutro, quando entramos na carruagem vi que não seguíamos o mesmo caminho, mas permaneci quieta esperando que ele me dissesse ou que chegássemos ao local. Logo paramos as margens de um rio, descemos e então em um momento vi uma barca se aproximando e uma figura a conduzia em meio as águas até que chegou a nossa frente.-Cuidado ao subir, permita-me. Hades estendeu a mão par
Na volta Hades escolheu ir por um caminho mais longo, queria me mostrar os outros rios, assim que saímos do Lete, desembocamos no rio Estige.-Aqui é o maior rio do submundo, corta todo o domínio e sai no oceano, suas águas são conhecidas também por rio da Invulnerabilidade afortunados são aqueles que tem a sorte de se banharem nele.-Muitos mortais fazem isso ?-Não, poucos tem acesso ao submundo e aqueles que entram sem permissão costumam ficar por aqui. Eu observava as águas do rio de repente mudarem, sua cor fica vermelha como sangue e borbulhando como um caldeirão liberando um calor terrível.-Onde estamos ?-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo.-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo-Por que é tão diferente dos outros ?-Aqui é onde se pune os crimes cruéis, o fogo purifica, por isso o calo
Um cão enorme estava no salão e seu focinho me cheirava freneticamente, mas logo Hades interferiu ficando entre nós, ele esticou a mão e o cão se deitou no chão para que sua cabeça pudesse ser acariciada, ele parecia até dócil quando estava sendo tratado pelo deus, mas eu não me arriscava a tentar sozinha.-Venha minha adorada, ele não lhe fara mal. Ele estende a mão e eu a pego receosa, vou me aproximando e então minha mão é colocada no focinho do animal, não há resistência e eu percebo como seu curto pelo é macio, aproveito para explorar além e acaricio mais acima da sua cabeça, ele deita e parece gostar.-Ele gosta de você, só estranhou pois não são muitas as pessoas vivas que entram aqui, o Cérbero está acostumado a pegar invasores e não receber, mas agora que já se familiarizaram ficará tudo bem. Hades então se afasta e pega um bolo muito comum de farinha e mel de cima d
Como com toda aquela comoção meu coração acelerou, tive dificuldades em dormir e Hades chamou para mim Hypnos, deitada na cama com ele sentado ao meu lado nós conversamos um pouco.-Que confusão minha flor, mas tudo vai dar certo, não digo para Zeus e os dele mas para alguém.-Eu desejo permanecer aqui.-E porquê ? Duvido que seja pelo nosso lindo clima e vastas florestas verdejantes. -disse ele ironicamente com um sorriso.-Eu... me sinto bem aqui, me sinto livre.-Nada mais ? -ele levanta uma sobrancelha me olhando mais perto.-É só isso...-Se você diz minha querida, mas te dou uma dica, pode ser tarde demais quando resolver ver verdadeiramente o motivo. Ele se levanta e beija minha testa, de repente um sono começa a me tomar e logo adormeço profundamente. Meus sonhos são um turbilhão de vozes, sussurrando, falan
Assim que eu toquei o chão fora do submundo e o sol tocou minha face eu soube que não o veria por muito tempo e lágrimas caíram, quando tocaram o solo o chão tremeu e mesmo não tendo certeza senti que Hades havia sentido e o tremor era seu sofrimento e raiva, o submundo sentiria pelo acontecido e eu tinha certeza que as almas sofreriam ainda mais do que antes nesses meses que se seguiriam. Talvez tenham se passado quatro ou cinco meses, eu já não sabia, os dias corriam devagar para mim, as colheitas, safras e o clima tinham voltado ao normal, apesar de que quanto mais se aproximava o tempo de eu voltar, mais o clima mudava para uma brisa fria ou uma geada, nada seria como antes, eu com certeza não era a mesma, um buraco ainda maior havia se formado no meu peito desde que eu voltara, mesmo sentindo o sol eu sentia frio, mesmo estando cheia de alimento e seres em volta eu me sentia faminta e sozinha, algo faltava
O dia havia chegado, eu voltaria ao submundo e o veria, dessa vez eu tinha certeza do que sentia e não esconderia dele, seria sincera comigo e com ele, um nó se formava na minha barriga e a ansiedade só aumentava, eu tinha resolvido as coisas com a minha mãe, ela não aprovava, mas agora tudo estava claro e como eu passava a maior parte do ano com ela tudo parecia ficar mais tranquilo. Eu estava na entrada do submundo, fazia um ano desde que eu tinha colocado meus pés aqui, as almas não pareciam tão sombrias agora pois eu sabia que não me fariam mal, então quando Caronte chegou eu subi com coragem, o rio seguia tranquilo seu curso e a cada curva eu me sentia ainda mais ansiosa, perdida em meus pensamentos sinto uma mão em meu ombro, quando vejo é a alma de uma mulher, uma mortal de talvez 40 anos, parecia cansada e se aproximou devagar.-Que estranho, você é carne, o que uma jovem veio fazer ao submundo ?-Vim ver meu amado.
Meu coração acelerou e tudo que eu queria era estar em seus braços, mas por algum motivo estava travada.-Eu voltei, estou feliz de estar aqui. -mentalmente eu corrigia "feliz de estar com você". Ele então atravessou o espaço entre nós com passos largos e parou com um pequeno espaço entre nossos corpos, levou as mãos a minha face mas assim como no início na chegou a encostar, seus olhos estavam ainda mais escuros do que da última vez e sua voz soou mais grossa, como se estivesse se contendo.-Eu esperei tanto por você, cada minuto era um suplício maior do que esse inferno a que fui posto por tanto tempo, minha adorada, minha luz. Devagar tomando coragem eu fui me aproximando e então envolvi seu corpo em um abraço deixando o que segurava cair mas sem ouvir realmente o som e em uma voz baixa eu disse.-Senti sua falta. Ele retribu