Capítulo 3

       Dias se passaram após a festa e eu agora estava próxima a floresta na companhia de alguns animais enquanto apreciava o perfume das flores em volta, de repente a mesma sensação de ser observada, olho para todos os cantos mas não vejo nada, respiro fundo e deixo de lado isso, mas a sensação continuava, então em um momento ouço algo se movimentar e confirmando isso os animais se colocam em posição de defesa e então fogem me deixando só, eu olho na direção do barulho e então eu vejo na sombra de uma árvore o mesmo homem da festa, ele me encara, sua expressão é neutra mas algo emana dele, uma aura pesada, enquanto nos olhamos por segundos que parecem horas ele fala e sua voz é bela.

-Você deveria fazer como eles.

-Desculpe eu não entendi.

-Fugir, deveria fugir como eles, pelo menos esse é o esperado.

-Não me deu motivos para fugir, não foi agressivo ou demonstrou más intenções, então não vejo motivos para tal ação.

-Não sabe quem sou eu, sabe ?

-Não.

-Se soubesse talvez teria uma reação diferente ao me ver, mesmo que não saiba, eu estava claramente te observando e tenho certeza que percebeu isso.

-Sim, mas pode ser por você ser tímido e não saber se aproximar dos outros, eu entendo isso.

-Em parte pode ser isso, sim, não estou acostumado a tratar com outros, eu sou bem...reservado.

-Então é por isso, vou te mostrar como é fácil.- disse sorrindo docemente.

     Me aproximei devagar dele e então estendi a mão quando estava mais perto.

-Eu sou Perséfone, fico feliz de conhecer você.

   Os olhos dele se abriram um pouco mais como se ficasse surpreso ou admirado, mas não demorou para que ele retribuísse o aperto de mão com cuidado, sua mão era maior que a minha, mais dura e com um aperto mais firme mesmo ele sendo receoso.

-Eu também por conhecê-la.

   Quando separamos as mãos eu fiquei olhando por um tempo a minha própria analisando a sensação do toque.

-Algo errado ?

-Não, perdoe-me, é que eu nunca peguei na mão de um homem, nem conversei ou cheguei perto de um sem a presença da minha mãe, eu sei que parece estranho, mas ela se preocupa muito.

-É compreensível, uma bela flor como você deve ser cuidada.

   O elogio fez meu rosto aquecer e dentro de mim algo acendeu, ele parecia ser diferente de todos que eu já havia visto, meu coração palpitava estranho na presença dele, enquanto eu pensava ele se aproximou devagar e estendeu a mão para tocar meu rosto, mas então parou um pouco antes de tocar em minha bochecha e me olhou de modo sério.

-Posso tocá-la ? Não quero que se assuste.

    Eu concordei com um movimento sutil e ele tocou minha face com gentileza, no momento que o fez seu olhar se tornou terno e sua expressão se suavizou, o traço de um sorriso apareceu em sua boca e aquilo aqueceu meu coração enquanto suas carícias aqueciam meu rosto.

-É ainda mais bela de perto, sua pele é tão macia quanto as pétalas de uma flor e seu cabelo é lindo aos raios do sol.

-Obrigada- disse um pouco constrangida- mas eu não deveria estar aqui com você, minha mãe ficará brava.

-Permita-me ficar ao seu lado, eu não a tocarei sem sua permissão, tem minha palavra.

-Minha mãe diz que homens não são confiáveis.

-Então aceite a palavra de um deus.

    Meus olhos se abriram com surpresa e eu me afastei um pouco interrompendo seu toque, ele abaixou a mão mas não pareceu ofendido.

-Não se preocupe, a última coisa que eu quero é machucá-la, cumprirei com o que disse.

    Ele parecia sincero no que dizia, então concordei.

    Passamos o dia conversando sobre tudo e nada, seu silêncio não era desconfortável e sua presença me deixava feliz de um modo que eu nunca havia experimentado, o tempo parecia correr e logo o entardecer veio.

-Eu devo ir, logo minha mãe retornará.

-Fique comigo, venha comigo para meu reino.

-Não posso...isto é...não devo...eu..

-Perséfone -ele colocou as mãos uma de cada lado meu rosto mas sem tocar, apenas para direcionar meu foco- você confia em mim ?

-Confio.

     Meu coração batia rápido, ele então se aproximou e me envolveu com seus braços, a última coisa que eu vi foi a carruagem de Apollo passando e então senti o chão ceder sob meus pés.  

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