Dias se passaram após a festa e eu agora estava próxima a floresta na companhia de alguns animais enquanto apreciava o perfume das flores em volta, de repente a mesma sensação de ser observada, olho para todos os cantos mas não vejo nada, respiro fundo e deixo de lado isso, mas a sensação continuava, então em um momento ouço algo se movimentar e confirmando isso os animais se colocam em posição de defesa e então fogem me deixando só, eu olho na direção do barulho e então eu vejo na sombra de uma árvore o mesmo homem da festa, ele me encara, sua expressão é neutra mas algo emana dele, uma aura pesada, enquanto nos olhamos por segundos que parecem horas ele fala e sua voz é bela.
-Você deveria fazer como eles.
-Desculpe eu não entendi.
-Fugir, deveria fugir como eles, pelo menos esse é o esperado.
-Não me deu motivos para fugir, não foi agressivo ou demonstrou más intenções, então não vejo motivos para tal ação.
-Não sabe quem sou eu, sabe ?
-Não.
-Se soubesse talvez teria uma reação diferente ao me ver, mesmo que não saiba, eu estava claramente te observando e tenho certeza que percebeu isso.
-Sim, mas pode ser por você ser tímido e não saber se aproximar dos outros, eu entendo isso.
-Em parte pode ser isso, sim, não estou acostumado a tratar com outros, eu sou bem...reservado.
-Então é por isso, vou te mostrar como é fácil.- disse sorrindo docemente.
Me aproximei devagar dele e então estendi a mão quando estava mais perto.
-Eu sou Perséfone, fico feliz de conhecer você.
Os olhos dele se abriram um pouco mais como se ficasse surpreso ou admirado, mas não demorou para que ele retribuísse o aperto de mão com cuidado, sua mão era maior que a minha, mais dura e com um aperto mais firme mesmo ele sendo receoso.
-Eu também por conhecê-la.
Quando separamos as mãos eu fiquei olhando por um tempo a minha própria analisando a sensação do toque.
-Algo errado ?
-Não, perdoe-me, é que eu nunca peguei na mão de um homem, nem conversei ou cheguei perto de um sem a presença da minha mãe, eu sei que parece estranho, mas ela se preocupa muito.
-É compreensível, uma bela flor como você deve ser cuidada.
O elogio fez meu rosto aquecer e dentro de mim algo acendeu, ele parecia ser diferente de todos que eu já havia visto, meu coração palpitava estranho na presença dele, enquanto eu pensava ele se aproximou devagar e estendeu a mão para tocar meu rosto, mas então parou um pouco antes de tocar em minha bochecha e me olhou de modo sério.
-Posso tocá-la ? Não quero que se assuste.
Eu concordei com um movimento sutil e ele tocou minha face com gentileza, no momento que o fez seu olhar se tornou terno e sua expressão se suavizou, o traço de um sorriso apareceu em sua boca e aquilo aqueceu meu coração enquanto suas carícias aqueciam meu rosto.
-É ainda mais bela de perto, sua pele é tão macia quanto as pétalas de uma flor e seu cabelo é lindo aos raios do sol.
-Obrigada- disse um pouco constrangida- mas eu não deveria estar aqui com você, minha mãe ficará brava.
-Permita-me ficar ao seu lado, eu não a tocarei sem sua permissão, tem minha palavra.
-Minha mãe diz que homens não são confiáveis.
-Então aceite a palavra de um deus.
Meus olhos se abriram com surpresa e eu me afastei um pouco interrompendo seu toque, ele abaixou a mão mas não pareceu ofendido.
-Não se preocupe, a última coisa que eu quero é machucá-la, cumprirei com o que disse.
Ele parecia sincero no que dizia, então concordei.
Passamos o dia conversando sobre tudo e nada, seu silêncio não era desconfortável e sua presença me deixava feliz de um modo que eu nunca havia experimentado, o tempo parecia correr e logo o entardecer veio.
-Eu devo ir, logo minha mãe retornará.
-Fique comigo, venha comigo para meu reino.
-Não posso...isto é...não devo...eu..
-Perséfone -ele colocou as mãos uma de cada lado meu rosto mas sem tocar, apenas para direcionar meu foco- você confia em mim ?
-Confio.
Meu coração batia rápido, ele então se aproximou e me envolveu com seus braços, a última coisa que eu vi foi a carruagem de Apollo passando e então senti o chão ceder sob meus pés.
Sinto então o chão voltar, meus olhos estavam fechados por medo, mas então ouço a voz dele calma.-Abra os olhos, está tudo bem agora. Quando abro meus olhos suas roupas mudaram e não estávamos mais na floresta. Quando abro meus olhos suas roupas mudaram e não estávamos mais na floresta-Bem-vinda ao meu reino, minha adorada.-Onde estamos ?-Aqui é o submundo, o meu domínio.-Você é....Hades.-Sou, isso a amedronta ?-Não, deu sua palavra e eu não menti quando disse que confiava em você.- disse com um sorriso.-Que bom, vamos, vou levá-la ao meu palácio. Ele me estende a mão e eu a pego, andamos pelo submundo, ele me mostra e explica com calma sobre tudo e apesar do lugar onde estamos eu não sinto medo, a presença dele me deixa tr
Quando eu acordei estava tudo absolutamente quieto, Hades deu sua palavra que ninguém me perturbaria e isso havia se cumprido. Eu olhei em volta, o quarto não possuía janelas, era espaçoso e iluminado por tochas que mantinham o ambiente com uma aura misteriosa, talvez eu sentisse medo se estivesse só, mas a presença e as palavras de Hades me mantinham tranquila, pensando nisso eu me levantei, meus pés descalços sentiram a diferença de temperatura assim que pisaram no chão, o lugar todo era de um frio diferente, não era algo realmente físico, se sentia no corpo mas também na alma, rapidamente eu fui me ver no espelho para arrumar algumas mechas fora de lugar, lavei meu rosto em uma bacia com água fresca e assim que me senti pronta saí do quarto. Caminhei por corredores compridos a meia luz, olhava para cada detalhe tentando lembrar sem sucesso do caminho que percorri ontem, começando a temer estar completamente perdida eu vi uma som
Ficamos no tribunal por algum tempo, não sei dizer se pouco ou muito, infindáveis almas apareciam, os juízes julgavam e eu via Hades assentir com as decisões, nenhuma palavra dita, nenhuma expressão, se mantinha impassível com todos, homens, mulheres, idosos e até mesmo crianças, não lhe causavam nenhuma reação, mas eu não deveria me surpreender, ele deve fazer isso a tanto tempo que já nada o comove, além de ser esse o seu dever, mas mesmo assim eu me preocupava com como ele se sentia. Saímos de lá e ele permanecia neutro, quando entramos na carruagem vi que não seguíamos o mesmo caminho, mas permaneci quieta esperando que ele me dissesse ou que chegássemos ao local. Logo paramos as margens de um rio, descemos e então em um momento vi uma barca se aproximando e uma figura a conduzia em meio as águas até que chegou a nossa frente.-Cuidado ao subir, permita-me. Hades estendeu a mão par
Na volta Hades escolheu ir por um caminho mais longo, queria me mostrar os outros rios, assim que saímos do Lete, desembocamos no rio Estige.-Aqui é o maior rio do submundo, corta todo o domínio e sai no oceano, suas águas são conhecidas também por rio da Invulnerabilidade afortunados são aqueles que tem a sorte de se banharem nele.-Muitos mortais fazem isso ?-Não, poucos tem acesso ao submundo e aqueles que entram sem permissão costumam ficar por aqui. Eu observava as águas do rio de repente mudarem, sua cor fica vermelha como sangue e borbulhando como um caldeirão liberando um calor terrível.-Onde estamos ?-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo.-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo-Por que é tão diferente dos outros ?-Aqui é onde se pune os crimes cruéis, o fogo purifica, por isso o calo
Um cão enorme estava no salão e seu focinho me cheirava freneticamente, mas logo Hades interferiu ficando entre nós, ele esticou a mão e o cão se deitou no chão para que sua cabeça pudesse ser acariciada, ele parecia até dócil quando estava sendo tratado pelo deus, mas eu não me arriscava a tentar sozinha.-Venha minha adorada, ele não lhe fara mal. Ele estende a mão e eu a pego receosa, vou me aproximando e então minha mão é colocada no focinho do animal, não há resistência e eu percebo como seu curto pelo é macio, aproveito para explorar além e acaricio mais acima da sua cabeça, ele deita e parece gostar.-Ele gosta de você, só estranhou pois não são muitas as pessoas vivas que entram aqui, o Cérbero está acostumado a pegar invasores e não receber, mas agora que já se familiarizaram ficará tudo bem. Hades então se afasta e pega um bolo muito comum de farinha e mel de cima d
Como com toda aquela comoção meu coração acelerou, tive dificuldades em dormir e Hades chamou para mim Hypnos, deitada na cama com ele sentado ao meu lado nós conversamos um pouco.-Que confusão minha flor, mas tudo vai dar certo, não digo para Zeus e os dele mas para alguém.-Eu desejo permanecer aqui.-E porquê ? Duvido que seja pelo nosso lindo clima e vastas florestas verdejantes. -disse ele ironicamente com um sorriso.-Eu... me sinto bem aqui, me sinto livre.-Nada mais ? -ele levanta uma sobrancelha me olhando mais perto.-É só isso...-Se você diz minha querida, mas te dou uma dica, pode ser tarde demais quando resolver ver verdadeiramente o motivo. Ele se levanta e beija minha testa, de repente um sono começa a me tomar e logo adormeço profundamente. Meus sonhos são um turbilhão de vozes, sussurrando, falan
Assim que eu toquei o chão fora do submundo e o sol tocou minha face eu soube que não o veria por muito tempo e lágrimas caíram, quando tocaram o solo o chão tremeu e mesmo não tendo certeza senti que Hades havia sentido e o tremor era seu sofrimento e raiva, o submundo sentiria pelo acontecido e eu tinha certeza que as almas sofreriam ainda mais do que antes nesses meses que se seguiriam. Talvez tenham se passado quatro ou cinco meses, eu já não sabia, os dias corriam devagar para mim, as colheitas, safras e o clima tinham voltado ao normal, apesar de que quanto mais se aproximava o tempo de eu voltar, mais o clima mudava para uma brisa fria ou uma geada, nada seria como antes, eu com certeza não era a mesma, um buraco ainda maior havia se formado no meu peito desde que eu voltara, mesmo sentindo o sol eu sentia frio, mesmo estando cheia de alimento e seres em volta eu me sentia faminta e sozinha, algo faltava
O dia havia chegado, eu voltaria ao submundo e o veria, dessa vez eu tinha certeza do que sentia e não esconderia dele, seria sincera comigo e com ele, um nó se formava na minha barriga e a ansiedade só aumentava, eu tinha resolvido as coisas com a minha mãe, ela não aprovava, mas agora tudo estava claro e como eu passava a maior parte do ano com ela tudo parecia ficar mais tranquilo. Eu estava na entrada do submundo, fazia um ano desde que eu tinha colocado meus pés aqui, as almas não pareciam tão sombrias agora pois eu sabia que não me fariam mal, então quando Caronte chegou eu subi com coragem, o rio seguia tranquilo seu curso e a cada curva eu me sentia ainda mais ansiosa, perdida em meus pensamentos sinto uma mão em meu ombro, quando vejo é a alma de uma mulher, uma mortal de talvez 40 anos, parecia cansada e se aproximou devagar.-Que estranho, você é carne, o que uma jovem veio fazer ao submundo ?-Vim ver meu amado.