Quando eu acordei estava tudo absolutamente quieto, Hades deu sua palavra que ninguém me perturbaria e isso havia se cumprido. Eu olhei em volta, o quarto não possuía janelas, era espaçoso e iluminado por tochas que mantinham o ambiente com uma aura misteriosa, talvez eu sentisse medo se estivesse só, mas a presença e as palavras de Hades me mantinham tranquila, pensando nisso eu me levantei, meus pés descalços sentiram a diferença de temperatura assim que pisaram no chão, o lugar todo era de um frio diferente, não era algo realmente físico, se sentia no corpo mas também na alma, rapidamente eu fui me ver no espelho para arrumar algumas mechas fora de lugar, lavei meu rosto em uma bacia com água fresca e assim que me senti pronta saí do quarto.
Caminhei por corredores compridos a meia luz, olhava para cada detalhe tentando lembrar sem sucesso do caminho que percorri ontem, começando a temer estar completamente perdida eu vi uma sombra passar e parar na minha frente, dei alguns passos na direção dela e em resposta ela se moveu devagar para trás, repeti o movimento e ela também, julgando que ela não me faria mal eu arrisquei.
-Acho que estou perdida, poderia me levar até o salão onde está Hades ?
Não houve resposta, só um movimento lento e então ela começou a seguir um caminho e eu a segui, passamos por alguns corredores e então eu vejo o salão, assim que entro vejo a sombra ficar para trás, agradeço em tom ameno e adentro mais.
Só ouço o crepitar do fogo ecoar, um silêncio sombrio domina o lugar e nem mesmo meus passos perturbam isso, ando devagar e percebo sombras passando pelo teto e pelos cantos, circulando colunas, se arrastando pelo chão e não somente elas, espí...
Só ouço o crepitar do fogo ecoar, um silêncio sombrio domina o lugar e nem mesmo meus passos perturbam isso, ando devagar e percebo sombras passando pelo teto e pelos cantos, circulando colunas, se arrastando pelo chão e não somente elas, espíritos com formas humanas também perambulam pelo salão em menor quantidade, todos em silêncio, sem gemidos, sem lamentações, nada, ando até o centro e fico vendo os detalhes e os seres vagando, distraída eu não reparo que tem mais alguém no ambiente até que sinto uma mão tocar suavemente a minha, dou um pequeno salto e me viro, quando vejo é Hades, ele segura um elmo em um dos braços e põe a mão livre sobre o peito.
-Perdoe-me, não pretendia assustá-la.
-Não foi nada, é só que eu não ouvi você chegando, tudo aqui é tão silencioso.
-Sim, vai se acostumar com o tempo eu posso garantir, isso e o frio em alguns lugares, resultado do propósito desse lugar, é assim que a morte é e ela reside em cada parte deste lugar.
Olhei em volta analisando as almas e sombras e me senti um pouco triste sobre tudo aquilo, todo o silêncio não era a falta de barulho, era a falta de vida.
-Não fique triste sobre isso, esse é o destino de todos os mortais, assim o equilíbrio é mantido e a vida pode ser seguida em paz aos que ainda a tem.
Balanço a cabeça afirmativamente e ele me dá um pequeno sorriso estendendo a mão.
-Venha, vou te levar para conhecer alguns lugares.
Pego sua mão e então saímos, entramos em uma carruagem e então seguimos pelo submundo. Paramos em frente a uma imensa construção com muitas almas enfileiradas na entrada.
-Onde estamos ?
-Aqui é o Tribunal do julgamento, onde as almas são julgadas.
Entramos e no fundo de um grande salão três homens estavam em frente as almas e de costas para a mesma quantidade de tronos, mais a trás havia um trono ainda maior
Entramos e no fundo de um grande salão três homens estavam em frente as almas e de costas para a mesma quantidade de tronos, mais a trás havia um trono ainda maior. Fomos em frente e assim que chegamos no início da fila de almas os três saudaram a Hades com muito respeito.
-Meu senhor.- disseram juntos.
Passamos por eles e Hades se sentou no trono maior.
-Quem são ?
-Os três juízes do submundo, Éaco, Minos e Radamanto, eles julgam as almas e dizem seu destino.
-Por que estamos aqui ?
-Eles podem julgar as almas e decidirem para onde vão, mas sou eu que tenho a palavra final.
Ficamos no tribunal por algum tempo, não sei dizer se pouco ou muito, infindáveis almas apareciam, os juízes julgavam e eu via Hades assentir com as decisões, nenhuma palavra dita, nenhuma expressão, se mantinha impassível com todos, homens, mulheres, idosos e até mesmo crianças, não lhe causavam nenhuma reação, mas eu não deveria me surpreender, ele deve fazer isso a tanto tempo que já nada o comove, além de ser esse o seu dever, mas mesmo assim eu me preocupava com como ele se sentia. Saímos de lá e ele permanecia neutro, quando entramos na carruagem vi que não seguíamos o mesmo caminho, mas permaneci quieta esperando que ele me dissesse ou que chegássemos ao local. Logo paramos as margens de um rio, descemos e então em um momento vi uma barca se aproximando e uma figura a conduzia em meio as águas até que chegou a nossa frente.-Cuidado ao subir, permita-me. Hades estendeu a mão par
Na volta Hades escolheu ir por um caminho mais longo, queria me mostrar os outros rios, assim que saímos do Lete, desembocamos no rio Estige.-Aqui é o maior rio do submundo, corta todo o domínio e sai no oceano, suas águas são conhecidas também por rio da Invulnerabilidade afortunados são aqueles que tem a sorte de se banharem nele.-Muitos mortais fazem isso ?-Não, poucos tem acesso ao submundo e aqueles que entram sem permissão costumam ficar por aqui. Eu observava as águas do rio de repente mudarem, sua cor fica vermelha como sangue e borbulhando como um caldeirão liberando um calor terrível.-Onde estamos ?-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo.-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo-Por que é tão diferente dos outros ?-Aqui é onde se pune os crimes cruéis, o fogo purifica, por isso o calo
Um cão enorme estava no salão e seu focinho me cheirava freneticamente, mas logo Hades interferiu ficando entre nós, ele esticou a mão e o cão se deitou no chão para que sua cabeça pudesse ser acariciada, ele parecia até dócil quando estava sendo tratado pelo deus, mas eu não me arriscava a tentar sozinha.-Venha minha adorada, ele não lhe fara mal. Ele estende a mão e eu a pego receosa, vou me aproximando e então minha mão é colocada no focinho do animal, não há resistência e eu percebo como seu curto pelo é macio, aproveito para explorar além e acaricio mais acima da sua cabeça, ele deita e parece gostar.-Ele gosta de você, só estranhou pois não são muitas as pessoas vivas que entram aqui, o Cérbero está acostumado a pegar invasores e não receber, mas agora que já se familiarizaram ficará tudo bem. Hades então se afasta e pega um bolo muito comum de farinha e mel de cima d
Como com toda aquela comoção meu coração acelerou, tive dificuldades em dormir e Hades chamou para mim Hypnos, deitada na cama com ele sentado ao meu lado nós conversamos um pouco.-Que confusão minha flor, mas tudo vai dar certo, não digo para Zeus e os dele mas para alguém.-Eu desejo permanecer aqui.-E porquê ? Duvido que seja pelo nosso lindo clima e vastas florestas verdejantes. -disse ele ironicamente com um sorriso.-Eu... me sinto bem aqui, me sinto livre.-Nada mais ? -ele levanta uma sobrancelha me olhando mais perto.-É só isso...-Se você diz minha querida, mas te dou uma dica, pode ser tarde demais quando resolver ver verdadeiramente o motivo. Ele se levanta e beija minha testa, de repente um sono começa a me tomar e logo adormeço profundamente. Meus sonhos são um turbilhão de vozes, sussurrando, falan
Assim que eu toquei o chão fora do submundo e o sol tocou minha face eu soube que não o veria por muito tempo e lágrimas caíram, quando tocaram o solo o chão tremeu e mesmo não tendo certeza senti que Hades havia sentido e o tremor era seu sofrimento e raiva, o submundo sentiria pelo acontecido e eu tinha certeza que as almas sofreriam ainda mais do que antes nesses meses que se seguiriam. Talvez tenham se passado quatro ou cinco meses, eu já não sabia, os dias corriam devagar para mim, as colheitas, safras e o clima tinham voltado ao normal, apesar de que quanto mais se aproximava o tempo de eu voltar, mais o clima mudava para uma brisa fria ou uma geada, nada seria como antes, eu com certeza não era a mesma, um buraco ainda maior havia se formado no meu peito desde que eu voltara, mesmo sentindo o sol eu sentia frio, mesmo estando cheia de alimento e seres em volta eu me sentia faminta e sozinha, algo faltava
O dia havia chegado, eu voltaria ao submundo e o veria, dessa vez eu tinha certeza do que sentia e não esconderia dele, seria sincera comigo e com ele, um nó se formava na minha barriga e a ansiedade só aumentava, eu tinha resolvido as coisas com a minha mãe, ela não aprovava, mas agora tudo estava claro e como eu passava a maior parte do ano com ela tudo parecia ficar mais tranquilo. Eu estava na entrada do submundo, fazia um ano desde que eu tinha colocado meus pés aqui, as almas não pareciam tão sombrias agora pois eu sabia que não me fariam mal, então quando Caronte chegou eu subi com coragem, o rio seguia tranquilo seu curso e a cada curva eu me sentia ainda mais ansiosa, perdida em meus pensamentos sinto uma mão em meu ombro, quando vejo é a alma de uma mulher, uma mortal de talvez 40 anos, parecia cansada e se aproximou devagar.-Que estranho, você é carne, o que uma jovem veio fazer ao submundo ?-Vim ver meu amado.
Meu coração acelerou e tudo que eu queria era estar em seus braços, mas por algum motivo estava travada.-Eu voltei, estou feliz de estar aqui. -mentalmente eu corrigia "feliz de estar com você". Ele então atravessou o espaço entre nós com passos largos e parou com um pequeno espaço entre nossos corpos, levou as mãos a minha face mas assim como no início na chegou a encostar, seus olhos estavam ainda mais escuros do que da última vez e sua voz soou mais grossa, como se estivesse se contendo.-Eu esperei tanto por você, cada minuto era um suplício maior do que esse inferno a que fui posto por tanto tempo, minha adorada, minha luz. Devagar tomando coragem eu fui me aproximando e então envolvi seu corpo em um abraço deixando o que segurava cair mas sem ouvir realmente o som e em uma voz baixa eu disse.-Senti sua falta. Ele retribu
Assim que suspiro eu ouço um rosnado e então saio do transe, quando olho na direção do som eu vejo Hades parado na porta, sua toga presa um pouco abaixo da linha da cintura deixava exposto seu tronco torneado, seus cabelos estavam com algumas gotas de água o que dizia que ele havia acabado de sair do banho, percebendo a situação em que eu estava e o modo como eu estava logo soltei o travesseiro colocando ele desajeitadamente no lugar e saindo rápido da cama até ficar de pé aos pés da cabeceira sem saber o que fazer e envergonhada pelo que acabara de acontecer.-Perdoe-me, não quis invadir seu aposento. -disse de cabeça baixa.-Por que veio aqui ? -sua voz era contida e eu temia a possibilidade de sua ira.-Eu não conseguia dormir, então vim aqui procurá-lo.-E por que procurar a mim ?-Eu... não conseguia deixar de pensar em você....desejava vê-lo. -declarei isso baixo envergonhada por