Ficamos no tribunal por algum tempo, não sei dizer se pouco ou muito, infindáveis almas apareciam, os juízes julgavam e eu via Hades assentir com as decisões, nenhuma palavra dita, nenhuma expressão, se mantinha impassível com todos, homens, mulheres, idosos e até mesmo crianças, não lhe causavam nenhuma reação, mas eu não deveria me surpreender, ele deve fazer isso a tanto tempo que já nada o comove, além de ser esse o seu dever, mas mesmo assim eu me preocupava com como ele se sentia.
Saímos de lá e ele permanecia neutro, quando entramos na carruagem vi que não seguíamos o mesmo caminho, mas permaneci quieta esperando que ele me dissesse ou que chegássemos ao local. Logo paramos as margens de um rio, descemos e então em um momento vi uma barca se aproximando e uma figura a conduzia em meio as águas até que chegou a nossa frente.
-Cuidado ao subir, permita-me.
Hades estendeu a mão para me ajudar a subir e logo em seguida fez o mesmo me mantendo junto a si sem me tocar verdadeiramente, o barqueiro nada disse e então seguiu caminho pelo rio.
-Esse é Caronte, o barqueiro que atravessa as almas para que possam chegar ao tribunal, ele está nos levando até onde um dos deuses gêmeos residem que é exatamente onde este rio nasce.
Eu olhei para a água e era calma parecia ter um brilho diferente, mágico, minha atenção foi tomada pela curiosidade e sem pensar fui me abaixando para que pudesse tocar, mas antes que conseguisse Hades segurou minha mão me puxando para onde estava.
-Não toque nas águas desse rio, aqui é o Lete, o rio do esquecimento, as memórias são levadas nele, por favor tenha cuidado.
Ele disse tudo com calma, mas pude perceber preocupação em sua voz.
-Obrigada.
-Não precisa me agradecer, você é minha protegida, lembra ?
Um sorriso se formou inconscientemente nos meus lábios, suas palavras me deixavam feliz e sua mão ainda na minha acordava as borboletas. Em algum momento chegamos ao nosso destino, ele me ajudou a descer e então demos de cara com um templo, suas colunas eram em puro mármore negro com veios de ouro, chamas roxas iluminavam o lugar e quase perdi o fôlego quando olhei para o teto, além de alto era como se todas as estrelas estivessem ali, era possível ver as constelações nitidamente e quando vi bem dois homens estavam deitados no teto como se fossem o próprio céu noturno.
Em algum momento chegamos ao nosso destino, ele me ajudou a descer e então demos de cara com um templo, suas colunas eram em puro mármore negro com veios de ouro, chamas roxas iluminavam o lugar e quase perdi o fôlego quando olhei para o teto, al...
-Desçam aqui.
Em um momento os dois estavam a nossa frente e faziam reverência.
-É muito bom vê-lo meu senhor Hades, a quê devemos sua visita ?- perguntou o homem com um manto vermelho acolchoado.
-Vim apresentar-lhes a Perséfone, quando eu não estiver quero que a protejam.
-Como quiser senhor, muito prazer senhora Perséfone, eu sou Hypnos, deus do sono e aquele quietão ali é meu irmão Thanatos, deus da morte, não ligue para ele, as vezes tenho certeza que ele brinca de estátua consigo mesmo. -disse com uma piscadela e um amplo sorriso.
Eu rio baixo e Hypnos parece gostar da reação, chega perto, me pega pela mão enlaçando nossos braços e sai andando para dentro do templo falando altivamente.
-Finalmente um pouco de vida e de humor, a tempos não temos isso aqui, tudo é tão mórbido e sem graça, agora temos você minha querida, tenho certeza que teremos uma ótima relação. -deu tapinhas suaves nas costas da minha mão e depois deu um bocejo longo, quando terminou chegou seu rosto perto do meu e eu pude ver seus brilhantes olhos com uma faísca de algo novo- Minha querida, me deixa curioso algo que chamou a atenção do nosso senhor, torço para que dê certo e eu vou observar bem de perto tudo isso. Venha me visitar sempre que quiser, prometo te entreter todas as vezes.
A última parte ele disse mais alto, deu um beijo na minha mão e me soltou indo para dentro do misterioso templo.
-Até logo meu senhor, foi um prazer Perséfone querida, mas agora está na hora da minha soneca, estou com um pouco de sono.
-E quando não está ?- Thanatos finalmente se pronunciou e então após uma reverência seguiu o irmão- Eu me retiro, meu senhor, minha senhora.
Volto para junto de Hades e ele me guia para fora enquanto fala.
-Pode confiar neles assim como confia em mim, eles a protegerão quando eu tiver que deixá-la.
Por algum motivo a possibilidade de ficar longe dele fez meu coração apertar e me deixou angustiada, mas bani tal sentimento, ele tinha deveres e eu devia aproveitar ao máximo sua companhia o quanto desse.
Muito acima do submundo, no Olimpo uma discussão era feita....
-Meu senhor Zeus, deve me ajudar, ele levou minha filha.- Deméter suplicava ao soberano.
-Tem provas de que foi Hades a raptar Perséfone ?
-Sim, Apollo estava passando no momento em que ele a levou, por favor.
-Confirma o que ela diz Apollo ?
-Sim meu pai, eu o vi com ela e vi quando a levou.
-Hermes, quero que vá ao submundo e diga a Hades que eu exijo que ele devolva Perséfone a sua mãe.
Hermes confirma e sai cortando os céus e mares em direção ao submundo.
Na volta Hades escolheu ir por um caminho mais longo, queria me mostrar os outros rios, assim que saímos do Lete, desembocamos no rio Estige.-Aqui é o maior rio do submundo, corta todo o domínio e sai no oceano, suas águas são conhecidas também por rio da Invulnerabilidade afortunados são aqueles que tem a sorte de se banharem nele.-Muitos mortais fazem isso ?-Não, poucos tem acesso ao submundo e aqueles que entram sem permissão costumam ficar por aqui. Eu observava as águas do rio de repente mudarem, sua cor fica vermelha como sangue e borbulhando como um caldeirão liberando um calor terrível.-Onde estamos ?-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo.-Aqui é o Flegetonte, o rio de fogo do submundo-Por que é tão diferente dos outros ?-Aqui é onde se pune os crimes cruéis, o fogo purifica, por isso o calo
Um cão enorme estava no salão e seu focinho me cheirava freneticamente, mas logo Hades interferiu ficando entre nós, ele esticou a mão e o cão se deitou no chão para que sua cabeça pudesse ser acariciada, ele parecia até dócil quando estava sendo tratado pelo deus, mas eu não me arriscava a tentar sozinha.-Venha minha adorada, ele não lhe fara mal. Ele estende a mão e eu a pego receosa, vou me aproximando e então minha mão é colocada no focinho do animal, não há resistência e eu percebo como seu curto pelo é macio, aproveito para explorar além e acaricio mais acima da sua cabeça, ele deita e parece gostar.-Ele gosta de você, só estranhou pois não são muitas as pessoas vivas que entram aqui, o Cérbero está acostumado a pegar invasores e não receber, mas agora que já se familiarizaram ficará tudo bem. Hades então se afasta e pega um bolo muito comum de farinha e mel de cima d
Como com toda aquela comoção meu coração acelerou, tive dificuldades em dormir e Hades chamou para mim Hypnos, deitada na cama com ele sentado ao meu lado nós conversamos um pouco.-Que confusão minha flor, mas tudo vai dar certo, não digo para Zeus e os dele mas para alguém.-Eu desejo permanecer aqui.-E porquê ? Duvido que seja pelo nosso lindo clima e vastas florestas verdejantes. -disse ele ironicamente com um sorriso.-Eu... me sinto bem aqui, me sinto livre.-Nada mais ? -ele levanta uma sobrancelha me olhando mais perto.-É só isso...-Se você diz minha querida, mas te dou uma dica, pode ser tarde demais quando resolver ver verdadeiramente o motivo. Ele se levanta e beija minha testa, de repente um sono começa a me tomar e logo adormeço profundamente. Meus sonhos são um turbilhão de vozes, sussurrando, falan
Assim que eu toquei o chão fora do submundo e o sol tocou minha face eu soube que não o veria por muito tempo e lágrimas caíram, quando tocaram o solo o chão tremeu e mesmo não tendo certeza senti que Hades havia sentido e o tremor era seu sofrimento e raiva, o submundo sentiria pelo acontecido e eu tinha certeza que as almas sofreriam ainda mais do que antes nesses meses que se seguiriam. Talvez tenham se passado quatro ou cinco meses, eu já não sabia, os dias corriam devagar para mim, as colheitas, safras e o clima tinham voltado ao normal, apesar de que quanto mais se aproximava o tempo de eu voltar, mais o clima mudava para uma brisa fria ou uma geada, nada seria como antes, eu com certeza não era a mesma, um buraco ainda maior havia se formado no meu peito desde que eu voltara, mesmo sentindo o sol eu sentia frio, mesmo estando cheia de alimento e seres em volta eu me sentia faminta e sozinha, algo faltava
O dia havia chegado, eu voltaria ao submundo e o veria, dessa vez eu tinha certeza do que sentia e não esconderia dele, seria sincera comigo e com ele, um nó se formava na minha barriga e a ansiedade só aumentava, eu tinha resolvido as coisas com a minha mãe, ela não aprovava, mas agora tudo estava claro e como eu passava a maior parte do ano com ela tudo parecia ficar mais tranquilo. Eu estava na entrada do submundo, fazia um ano desde que eu tinha colocado meus pés aqui, as almas não pareciam tão sombrias agora pois eu sabia que não me fariam mal, então quando Caronte chegou eu subi com coragem, o rio seguia tranquilo seu curso e a cada curva eu me sentia ainda mais ansiosa, perdida em meus pensamentos sinto uma mão em meu ombro, quando vejo é a alma de uma mulher, uma mortal de talvez 40 anos, parecia cansada e se aproximou devagar.-Que estranho, você é carne, o que uma jovem veio fazer ao submundo ?-Vim ver meu amado.
Meu coração acelerou e tudo que eu queria era estar em seus braços, mas por algum motivo estava travada.-Eu voltei, estou feliz de estar aqui. -mentalmente eu corrigia "feliz de estar com você". Ele então atravessou o espaço entre nós com passos largos e parou com um pequeno espaço entre nossos corpos, levou as mãos a minha face mas assim como no início na chegou a encostar, seus olhos estavam ainda mais escuros do que da última vez e sua voz soou mais grossa, como se estivesse se contendo.-Eu esperei tanto por você, cada minuto era um suplício maior do que esse inferno a que fui posto por tanto tempo, minha adorada, minha luz. Devagar tomando coragem eu fui me aproximando e então envolvi seu corpo em um abraço deixando o que segurava cair mas sem ouvir realmente o som e em uma voz baixa eu disse.-Senti sua falta. Ele retribu
Assim que suspiro eu ouço um rosnado e então saio do transe, quando olho na direção do som eu vejo Hades parado na porta, sua toga presa um pouco abaixo da linha da cintura deixava exposto seu tronco torneado, seus cabelos estavam com algumas gotas de água o que dizia que ele havia acabado de sair do banho, percebendo a situação em que eu estava e o modo como eu estava logo soltei o travesseiro colocando ele desajeitadamente no lugar e saindo rápido da cama até ficar de pé aos pés da cabeceira sem saber o que fazer e envergonhada pelo que acabara de acontecer.-Perdoe-me, não quis invadir seu aposento. -disse de cabeça baixa.-Por que veio aqui ? -sua voz era contida e eu temia a possibilidade de sua ira.-Eu não conseguia dormir, então vim aqui procurá-lo.-E por que procurar a mim ?-Eu... não conseguia deixar de pensar em você....desejava vê-lo. -declarei isso baixo envergonhada por
Acordo sentindo o cheiro dele e sorrio, em meio a escuridão eu procuro por seu corpo tateando pela cama, mas não o encontro e então me sento na cama, iluminado pela pouca luz do corredor eu vasculho o quarto com os olhos e vejo que estou sozinha, saio da cama devagar ainda sonolenta eu caminho em direção a porta, olhando para a parede me lembro do ocorrido na noite e instintivamente eu passo os dedos por meus lábios, recordo a trilha que fez pelo meu corpo, sinto seu cheiro ainda pela minha pele e fecho meus olhos aproveitando as sensações.-Uh minha flor você está aí ! Abro meus olhos rapidamente e Hypnos aparece pelo corredor, para a minha frente e me olha de cima a baixo por um momento, então sua expressão analítica muda para uma de grande surpresa quando coloca a mão na boca.-Não...ah danadinho, eu não a-cre-di-to, ele foi rápido mesmo, mas do jeito que estava eu não duvidei que fosse acabar ce