Despertei de um sono pesado e gemi baixinho ao senti um incômodo em meu estômago! Ainda não me acostumei com esse incômodo, mas já o conheço e sei o seu significado. Fome! Não era uma simples fome. Era o tipo de fome descomunal que, se eu não me alimentasse, eu sentiria uma dor no estômago e um mau-humor dos “infernos”. Inalei o ar profundamente e voltei a gemer, sentindo vários chutes no lado direito e esquerdo de minha barriga que fazia doer minhas costas também. Esses chutes eram novidades para mim e admito que não estou gostando. Doe demais! — Agora não, meninas! — Sussurrei ainda de olhos fechados acariciando minha barriga para acalmar elas. — A mamãe está com sono e cansada. — Novamente sussurrei, mas as gêmeas não paravam de se mexer, chutar e minha barriga roncar. Eu não sabia dizer qual sensação era pior. — Tudo bem com você, Elisa? — Te acordei Nanda? Meu Deus! Espero que não! — Não, na verdade, ainda nem dormir. — Suspirei aliviada. — Nem eu! — Ania declarou me su
Chegamos ao Grande palácio e tudo parecia um caos. Pessoas correndo para todos os lados, gritando, dando ordens, ou chorando. Algo que não é comum quando se tratava do Grande Palácio, que teve sempre sua impecável fama de organizado. Eu, Andrei e Serguei fomos direto a sala de comando, onde Belikov nos esperava enfrente a porta. Todas as pessoas necessárias já estavam nos aguardado e pelo tom enfurecido e revoltado que se ouvia, às coisas pareciam está tensas lá dentro. — Até que enfim os senhores nos agraciaram com a sua presença. — O diretor de política, Frans Fedorov, alfinetou ao adentrarmos a sala de comando. Por alguns segundos a sala ficou em silêncio e os presentes passaram a nos fitar não disfarçando as suas insatisfações e curiosidades. Eu ainda usava minhas vestes do casamento, assim como Serguei, Andrei e Iuri. Eles nos avaliaram dos pés a cabeça. Provavelmente se perguntando onde estávamos, ou porque nos vestíamos assim. Os senhores a nossa frente eram ótimos profi
— Não… Não senhor! — Fedorov respondeu engolindo em seco. — Posso ser o que meu povo precisar que eu seja. — Mas calmo, ele sentou novamente, mas sem desviar os olhos de Frans. — Posso ser o herói para eles, ou o monstro, mas isso não cabe a você decidir. — Finalizou recostando a sua cadeira e assumindo uma expressão sombria em sua face. — Sim, senhor! Estava claro que foi difícil para Fedorov concordar com Iuri, mas era de se entender, Belikov é bem intimidador quando quer. Belikov é o tipo de homem que, quando está em uma “batalha”, a paz é uma opção... Mas, ele não é só paz. O pacificador! É assim que a mídia o intitula. Por mais que eu não o considere tão pacifico assim. Penso olhando em sua direção e vendo a sua fisionomia séria e sua postura defensiva. Em um conflito a primeira coisa que Belikov busca é uma possibilidade de paz. Ele sempre foi um bom mediador entre nós, ou entre o inimigo. Para ele nunca é a primeira impressão que conta, ele aguarda, pondera, investiga, d
O caminho até o local da explosão foi feito no mais absoluto silêncio. Serguei no banco de passageiro, só abria a boca para instruir Ivan, o segurança que estava no banco do motorista. Ajeitei minha blusa cacharrel de gola alta na cor preta, por baixo de meu, sobretudo, preto e respirei profundamente sentindo o vento suave, porém frio, que entrava por uma fresta da janela do carro. Com o céu parcialmente nublado, a temperatura não passava dos 15ºc, mas o que dificultava o caminho até o nosso destino era o excesso de neve que acumulou em pouco tempo. — Já estamos chegando, senhor! — Serguei informou estendendo um par de luvas de couro na cor preta e um cachecol de lã em minha direção, semelhante ao que ele e Ivan usavam. — Obrigado, Serguei! — Agradeci aceitando o par de luvas e o cachecol, ele acenou com a cabeça em minha direção e voltou a virar seu tronco para frente com a sua fisionomia sombria. Eu não o julgo por transparecer tanta apreensão, eu mesmo já tentei por várias vezes
Acredito que um simples olhar diz muito sobre uma pessoa. A senhorita Elina parece o tipo de mulher que não se deixa levar por um homem machista que não considera a opinião de uma mulher. Infelizmente, Rodion é esse tipo de homem, como a maioria dos homens aqui. Ser repórter mulher não é fácil, na Rússia... Na verdade, ser mulher não é nada fácil aqui. Eu ainda me recordo a história da repórter Irina Slavina que tirou a própria vida. A mesma postou em suas redes sociais poucas horas antes de se suicidar, uma mensagem breve, mas transparente, para explicar seu ato. — “Peço que vocês responsabilizem a Federação Russa por minha morte”. — Escreveu a jornalista. Como esquecer algo assim? A jornalista tirou a sua vida devido às pressões que sofreu ao longo de sua carreira. Eu não estou justificando, a gente nunca sabe o que exatamente se passa na mente da alguém que comete um ato assim. Talvez toda humilhação e as perseguições que ela sofreu foi a “gota que fez transbordar o vaso.” Co
— Onde está o Yegor. — Ele pediu para avisar que estará no centro de operações, senhor Presidente. — Por que se eu o mandei vim para cá? — Os bombeiros acharam uma bomba que não detonou, ligamos para central e Medvedv pediu para levar, pois o mesmo quer dar uma olhada com o especialista que desarma bomba. — OK! Você descobriu o que pedir? — Sim, Senhor! Até agora foram encontrados duzentos e noventa mortos, trinta ainda está sem identificação. — Rodion entregou uma lista a Iuri, que prontamente retirou de suas mãos. — O que sabe sobre a explosão? — Se iniciou no Centro Histórico. Encontramos uma bomba na praça e na Catedral também. A bomba que não explodiu estava na Catedral, talvez por isso ela não caiu por completo, os bombeiros acreditam que foi o impacto da bomba que explodiu na praça e no Centro Histórico que destruiu a Catedral. — DESGRAÇADOS! — Vociferei não escondendo a raiva. — Volkova, também odeio ficar as sem saber todas as informações. — Algo passa em minha mente
— Aline, diga-me que eles não estão mais nos seguindo, por favor… — Pedi não disfarçando a súplica em minha voz. A comida já tinha acabado a um tempo e as meninas ficaram mais calma e pararam de dançar Ballet em minha barriga. — É para dizer, ou para não dizer? — Ela brincou e eu suspirei, deixando claro a minha frustração. — Calma, já os despistei alguns minutos atrás. — Ela rir e eu volto a suspirar, mas dessa vez de alívio. — Logo chegaremos ao Grande Palácio. — Obrigada, Aline! — Declaro, em seguida, Ania e Nanda fazem o mesmo. Mesmo sabendo que no momento estávamos seguras, nenhuma das meninas pareciam acreditar, nem mesmo Aline, que sorria para nós, no entanto, a preocupação não saia de seus olhos. Eu também me sentia amedrontada, mas sei que não posso surtar, não em um momento como esse. — Tudo bem, Nanda? — Perguntei, ao vê-la limpar ligeiramente os olhos. Ela balançou a cabeça em positivo, mas estava claro que não. — Que pergunta idiota essa a minha! — Exclamei rindo sem
— O mundo é do jeito que é porque é o mundo que nós, de certa forma, pedimos. — Eu não pedi um mundo assim, não. — Ania exclamou horrorizada. — Isso vem desde Adão e Eva, Ania, quando eles comeram o fruto proibido. — Não sei quem são eles, não… Eles são culpados por tanto mau no mundo? — Na verdade, as ações deles, nos deram o livre arbítrio, infelizmente, nem sempre a gente, digo os seres humanos, fazemos boas escolhas. — Ainda não entendi Aline. — Depois te conto sobre eles, pequena. — Nanda diz ao ver a confusão na fisionomia de Ania. — Certo, Nanda, me conte mesmo, quero entender. — Eu não pedi para meu pai me machucar, Aline. — Falei depois de um tempo pensativa. Não consigo reprimir a dor em minha voz. Mesmo o perdoando, ainda doe… Como doe! — Claro que não! — Ela afirmou. — Ninguém pedi ao próprio pai para machucá-la, Elisa, pelo menos, não alguém em sã consciência. Às vezes experimentamos as consequências dolorosas das escolhas de outros ou nossas próprias escolhas. “