— Ele… É… É… — Ela tentou falar, mas não conseguiu, porque ela começou a tossir sem parar e sangue saiu de sua boca como se fosse água, não a deixando respirar e a sua boca já estava ficando roxa. — NÁDIA? NÁDIA? — Gritei assustada, voltando a chorar ao ver que Luanda havia desmaiado. — Ela está morrendo? — O ministro se levantou e colocou Luanda de lado. — É para ela não se sufocar com seu próprio sangue. — Ele explicou sendo substituído pelos paramédicos que rapidamente fez os primeiros socorros, enquanto Nádia os instruía. — Mulher, vinte e cinco anos, perdeu a consciência a pouco, vários hematomas pelo corpo, indícios de violência sexual e múltiplas cicatrizes mal curadas espalhadas pelo corpo. — Nádia falava tão rápido que estava sendo difícil acompanhar o que ela dizia. — É possível que a costela dela esteja fraturada, há indícios de hemorragia interna. — Ela finalizou encarando os paramédicos, que afirmaram balançando a cabeça. — O que aconteceu? — Questionei a Nádia que se
O tempo parecia passar lentamente, como se me torturasse lentamente. É espantoso como ele passa rápido para algumas coisas e lento para outras. É o que costumo sentir quando estou longe de alguém que amo. Kátia costuma falar que o tempo só passa “devagar”, quando nos sentimos solitários e convenhamos que a solidão é um porre. Pelo menos a solidão forçada. Já fazia algumas horas que o ministro havia saído. As pessoas presentes na sala de estar pareciam não querer falar nada a respeito do atentado. O silêncio era inquietante, não saber de nada, aterrorizante. Era possível ver o medo estampado no olhar da maioria das pessoas, exceto os seguranças que aparentavam ter dois icebergs no lugar dos olhos, de tão frios que estavam. Por mais que eu sempre imaginei que a frieza em alguém tem sempre uma razão. Provavelmente estão acostumados com situações assim. Pensei tentando justificar a total falta de interação deles conosco. Talvez por isso eu me dê super bem com Alek, ele nunca me ign
As imagens eram realmente fortes, eu não consegui ver a criança sendo arremessada para longe de sua mãe. Ela estava tão sorridente, feliz por andar de patins no gelo, e pelo sorriso da mãe, ela também estava. O vídeo mostrava várias pessoas que transitava na praça na hora e que um segundo estava e no outro sumiam. A mulher que filmava deve ter sido jogada para longe também, porque a câmera havia caído e focava em sua filhinha morta, com seu corpinho todo ensanguentado. Coloquei a mão em minha boca horrorizada, impedindo que a ânsia de vômito me tomasse mais uma vez. Chorei de soluça sentindo meu corpo tremer. A vida dessa mãe nunca mais será a mesma! — Calma, deusa, por favor. — Kátia implorou me abraçando pelos ombros. — Nanda, o que é isso? — Ouço Ania questionar amedrontada. — Por que Elisa está chorando? Por que tudo está destruído? Por que não posso ver o vídeo? — Calma, meu amor, depois te explico. — Nanda respondeu a soltando depois que o vídeo havia acabado. Ania olhou p
Despertei de um sono pesado e gemi baixinho ao senti um incômodo em meu estômago! Ainda não me acostumei com esse incômodo, mas já o conheço e sei o seu significado. Fome! Não era uma simples fome. Era o tipo de fome descomunal que, se eu não me alimentasse, eu sentiria uma dor no estômago e um mau-humor dos “infernos”. Inalei o ar profundamente e voltei a gemer, sentindo vários chutes no lado direito e esquerdo de minha barriga que fazia doer minhas costas também. Esses chutes eram novidades para mim e admito que não estou gostando. Doe demais! — Agora não, meninas! — Sussurrei ainda de olhos fechados acariciando minha barriga para acalmar elas. — A mamãe está com sono e cansada. — Novamente sussurrei, mas as gêmeas não paravam de se mexer, chutar e minha barriga roncar. Eu não sabia dizer qual sensação era pior. — Tudo bem com você, Elisa? — Te acordei Nanda? Meu Deus! Espero que não! — Não, na verdade, ainda nem dormir. — Suspirei aliviada. — Nem eu! — Ania declarou me su
Chegamos ao Grande palácio e tudo parecia um caos. Pessoas correndo para todos os lados, gritando, dando ordens, ou chorando. Algo que não é comum quando se tratava do Grande Palácio, que teve sempre sua impecável fama de organizado. Eu, Andrei e Serguei fomos direto a sala de comando, onde Belikov nos esperava enfrente a porta. Todas as pessoas necessárias já estavam nos aguardado e pelo tom enfurecido e revoltado que se ouvia, às coisas pareciam está tensas lá dentro. — Até que enfim os senhores nos agraciaram com a sua presença. — O diretor de política, Frans Fedorov, alfinetou ao adentrarmos a sala de comando. Por alguns segundos a sala ficou em silêncio e os presentes passaram a nos fitar não disfarçando as suas insatisfações e curiosidades. Eu ainda usava minhas vestes do casamento, assim como Serguei, Andrei e Iuri. Eles nos avaliaram dos pés a cabeça. Provavelmente se perguntando onde estávamos, ou porque nos vestíamos assim. Os senhores a nossa frente eram ótimos profi
— Não… Não senhor! — Fedorov respondeu engolindo em seco. — Posso ser o que meu povo precisar que eu seja. — Mas calmo, ele sentou novamente, mas sem desviar os olhos de Frans. — Posso ser o herói para eles, ou o monstro, mas isso não cabe a você decidir. — Finalizou recostando a sua cadeira e assumindo uma expressão sombria em sua face. — Sim, senhor! Estava claro que foi difícil para Fedorov concordar com Iuri, mas era de se entender, Belikov é bem intimidador quando quer. Belikov é o tipo de homem que, quando está em uma “batalha”, a paz é uma opção... Mas, ele não é só paz. O pacificador! É assim que a mídia o intitula. Por mais que eu não o considere tão pacifico assim. Penso olhando em sua direção e vendo a sua fisionomia séria e sua postura defensiva. Em um conflito a primeira coisa que Belikov busca é uma possibilidade de paz. Ele sempre foi um bom mediador entre nós, ou entre o inimigo. Para ele nunca é a primeira impressão que conta, ele aguarda, pondera, investiga, d
O caminho até o local da explosão foi feito no mais absoluto silêncio. Serguei no banco de passageiro, só abria a boca para instruir Ivan, o segurança que estava no banco do motorista. Ajeitei minha blusa cacharrel de gola alta na cor preta, por baixo de meu, sobretudo, preto e respirei profundamente sentindo o vento suave, porém frio, que entrava por uma fresta da janela do carro. Com o céu parcialmente nublado, a temperatura não passava dos 15ºc, mas o que dificultava o caminho até o nosso destino era o excesso de neve que acumulou em pouco tempo. — Já estamos chegando, senhor! — Serguei informou estendendo um par de luvas de couro na cor preta e um cachecol de lã em minha direção, semelhante ao que ele e Ivan usavam. — Obrigado, Serguei! — Agradeci aceitando o par de luvas e o cachecol, ele acenou com a cabeça em minha direção e voltou a virar seu tronco para frente com a sua fisionomia sombria. Eu não o julgo por transparecer tanta apreensão, eu mesmo já tentei por várias vezes
Acredito que um simples olhar diz muito sobre uma pessoa. A senhorita Elina parece o tipo de mulher que não se deixa levar por um homem machista que não considera a opinião de uma mulher. Infelizmente, Rodion é esse tipo de homem, como a maioria dos homens aqui. Ser repórter mulher não é fácil, na Rússia... Na verdade, ser mulher não é nada fácil aqui. Eu ainda me recordo a história da repórter Irina Slavina que tirou a própria vida. A mesma postou em suas redes sociais poucas horas antes de se suicidar, uma mensagem breve, mas transparente, para explicar seu ato. — “Peço que vocês responsabilizem a Federação Russa por minha morte”. — Escreveu a jornalista. Como esquecer algo assim? A jornalista tirou a sua vida devido às pressões que sofreu ao longo de sua carreira. Eu não estou justificando, a gente nunca sabe o que exatamente se passa na mente da alguém que comete um ato assim. Talvez toda humilhação e as perseguições que ela sofreu foi a “gota que fez transbordar o vaso.” Co