Laura transitava por vários grupos e tribos diferentes, bebendo, cheirando e namorando muito. Colocou o atraso em dia nos motéis da Barra, nos bancos traseiros dos namorados com carro, nas esquinas do Baixo e nos cantos mais escuros da praça. Nada sério! Nada que pudesse levar para casa, e nem queria isso. Só queria se divertir com os caras e manter seus desejos em dia. Adorava beijar as bocas e quando chegava cheirosa e muito bem arrumada era beijo na boca para todo lado. Selinhos, em homens, mulheres, gays, meninos e meninas. Todas as galeras queriam sua companhia. Sempre tinha dinheiro e pó, era linda, simpática, inteligente, educada e muito, muito discreta em seu uso. Ninguém a via cheirando no meio da rua e nem dava para perceber. Mantinha a pose e isso atraia os mais endinheirados que fugiam dos abas e dos doidões que eram muitos.
Estava feliz em ser paparicada assim!
Em casa tudo em paz. <
Foi bem nessa época que Cão voltou a aparecer.Ele estacionava na pista bem em frente ao banco em que ela estava sentada. Ficava ali vigiando. Ela o olhava, se levantava e saía caminhando rumo ao Minhocão.Ele a acompanhava dirigindo devagarinho na contra mão e na calçada, um louco, e isso a ajudava a enfrentar aquela merda de pânico e chegar em casa são e salva. Nem se despedia! Só entrava e ia. Essa atitude de Cão mostrava o quanto ele a amava e salvava sua vida!E isso se deu por muitas e muitas manhãs de sexta!E o mundo a sua volta mudava a cada noite.E ela precisava se preparar para os novos tempos.Disso sabia.Mas como mudar o seu rumo?Disso não sabia.Não tinha como pedir ajuda a ninguém sem se detonar! A presença de Cão, mesmo
Era a terceira mais poderosa na hierarquia de Madame Marta e na sua presença eram só amigas discretas. Madame nunca aprovou a amizade das duas na rua. Nunca proibiu, mas deixou bem claro para Telma, quando Laura ainda era uma adolescente, que qualquer problema que ela estivesse junto era a sua cabeça de puta que rolaria. Ambas respeitavam e tomavam todo o cuidado. E agora com Telma morando em outro bairro é que os encontros ficaram cada vez mais escassos.A garrafa de Jack Daniel’s veio bonita, enquanto Telma, dependurada no pescoço de Laura cochichava que essa noite era tudo por sua conta. Tati ria da gaiatice da amiga. Serviram-se de doses generosas e a conversa correu animada. As coleguinhas Solange e Gracinha chegaram, vindas do puteiro do Minhocão e aumentaram a mesa em gritos e gargalhadas espalhafatosas. Foi quando aquela velha pergunta surgiu dos lábios de Telma direto no ouvido de Laura:
E o tal João mantinha-se mudo que nem uma porta. Ou melhor: uma porta fazia mais barulho que aquele cara. Era um homem alto e magro. Tinha uns vinte e poucos anos, e negro, de olhos grandes e brilhantes, cabelo black bem alto. Desses nem bonitos nem feios. Tinha um pescoço comprido com um ‘gogó’ bem protuberante que ficava subindo e descendo conforme ele engolia seco à medida que a conversa ia se aprofundando. Laura tinha vontade de rir olhando-o. Por isso, também, foi dar um tempo no banheiro. Deu um teco, fumou um cigarro e acabou sua bebida. Tudo ali no reservado. E se preparou para saber que assunto era aquele.De volta reparou que a garrafa do seu wiske preferido e um balde de gelo estavam sobre a mesa. Todos já tinham se servido. Ao sentar-se João perguntou se poderia servi-la:- Sim. Por favor. Com dois cubos de gelo. Obrigada João. – Agradeceu.A voz dele e
- É Laurinha! Aqui muitos artistas se vestiram e montaram seus números e personagens maravilhosas! Não lembra dos shows das drags na boate? – perguntou ela com brilho nos olhos.Laura lembrava sim. E acenou com a cabeça emocionada! Adorava os espetáculos. Depois que voltou, não perdia um! E agora, cinco anos depois, nem sabia o que se passava na boate. Sentiu um arrepio que vinha de dentro da alma! Sentou na banqueta e em frente ao espelho se horrorizou com sua canalhice e falta total de consideração. Percebeu o quanto estava alheia a tudo. A cocaína a aprisionou de tal maneira que estava pedida no tempo e no espaço. E nem se deu conta disso. Precisava corrigir seus erros. Voltar e colocar as coisas do lugar! Agradecer as pessoas! Pensava que ficaria só um tempo nessa de traficar e depois iria arrumar um rumo para a sua vid
Sou Kathy Marrone, a Dama de Couro e sou a narradora dessa história. Tomo posse aqui da minha narrativa porque Laura morreu dentro do disfarce. O que em verdade seu lado mais sombrio, mais egoísta, mais egocêntrico e irresponsável. Estava precisando encontrar um pouco de paz no caos! Vestir um disfarce fez toda a diferença e a transformação veio de dentro para fora. Laura precisava descansar sua imagem e se afastar para rever suas prioridades. Descansar a alma! Muita anestesia! Perdeu-se do amor e precisava encontrar o caminho do coração. E isso só acharia dentro dela mesma. Então eu assumo daqui para frente o rumo dessa história.Era impressionante como meu visual impressionava as pessoas que transitavam a minha volta nas noites do Baixo Gávea. A aparência era uma mistura gótica com punk. Já duran
O ano correu e para mim tudo continuava na mesma velocidade.Algumas figuras novas vieram se juntar a turma! João conheceu Carlos que era marido do Giovani, um coroa italiano que morava lá no Caju. Duda votou a aparecer nas madrugadas para o deleite de Luciana e Carla. Ele estava em São Paulo e voltou ao Rio para um espetáculo novo que estrearia em Copacabana. Voltei as boas com Pacheco que arrumou umas meninas para passar os papelotes de dez que ele tanto queria. Não disse nada, mas aquilo seria uma puta exposição. Finalmente ele entendeu que eu era sua freguesa e ele era o meu matuto e parou de querer me tratar como se eu fosse sua empregada. Exigi que continuasse o pacto de silêncio e era João quem me entregava a mercadoria. Não me misturei com as pessoas que ele trouxe e não deixei que ele as misturasse a nós. Eu tinha poder sobre ele j&aacu
No banheiro me entregou o pó e contou que o Pacheco rodou assim do nada. A sorte foi que ele cansou de te esperar, deixou a parada comigo e foi para o carro distribuir os papelotes de dez para o seu pessoal.- Rodou todo mundo Keithy! Bagulho dado com certeza! Você deu sorte! – dizia ela nervosa.- Porra! Foi sorte mesmo! Cão apareceu na portaria bem na hora que eu estava saindo.Ele estava arrasado e bem machucado por causa da pancadaria e decidiu não fazer mais parte da gang de motoqueiros. Ia pedir uma carona e convida-lo a ficar comigo no Baixo, mas minha irmã chamou e nós subimos. Ela queria vê-lo. São amigos. Aí bebemos um vinho e ele ficou na boate me esperando voltar!- Puta que pariu! Vamos sair daqui. Vai que eles voltam! Vamos pra outro lugar! Vamos nessa! – disse nervosa com a situação.<
O balcão estava cheio e as mesas ainda vazias. Enquanto Telma e João pegavam as bebidas me sentei com Dani, cansadas e pancadas. O pó que estava vendendo e usando era um tipo de Cocaína que quanto mais a gente se agitava mais ela mostrava seu efeito e quem tinha as neuroses ficava de cara torta. Precisava beber alguma coisa, e avaliar o lugar melhor e com calma. A visão dali era privilegiada. Dava para ver o mar de gente bem na nossa frente! E em frente ao Coluna era o local dos gays, só gays se reuniam ali. Não que eles não estivessem em outras partes do point Galeria Alaska que era um reduto gay famoso na noite carioca e as tribos se espalhavam por toda a quebrada, mas aquele espaço era único e exclusivo deles.E tinha gay de tudo que era jeito. Fantasiados com perucas coloridas, de terno e gravata, camisetas e jeans, unhas e bocas pintadas, divas em vestidos de b