Foi no Bar Sagres que encontraram Luz, a namorada de Garfield.
Ela estava em uma das mesas com umas meninas, todas novinhas, vestidas de ripongas. Ao ver o namorado ela se levantou, despediu-se e se jogou nos braços fortes do velho hippie, pendurando-se em seu pescoço. Visivelmente maconhada, o cheiro da erva ainda exalava do seu corpo, roupas e cabelos. Laura teve essa certeza quando o amigo a apresentou e a moça a abraçou afetuosamente. Afetuosamente demais! Ela era uma fofa! Linda! Olhos grandes de um azul profundo, que vermelhos, sorriam alegremente. Um sorriso um tanto infantil, mas era uma bela moça! Deram-se muito bem de cara! Era muito amigável e festiva. Encarregaram-se de colocar Laura por dentro de tudo.
A Cocaína ele trazia da Rocinha, e embora a moça não tenha perguntado nada sobre isso, ele sabia que ela gostava muito. Era um h
Laura conheceu a líder daquela turma: Dani, voz de trovão. Um mulherão de quase dois metros de altura, peso pesado, lésbica e que tinha um vozeirão de tenor. Se ela não aprovasse, a pessoa nem se criava por ali! Tinha fama de encrenqueira e era muito respeitada na quebrada. Não demonstrou nenhuma oposição e apertou a mão de Laura com força, perguntando:- Prazer! Telma me falou de você! Amiga de Telma é minha também. Tamo juntas professora! - E riu! Riu com aquele vozeirão de abalar quarteirão. Todos riram com ela.- Rarararara! – Laura riu sem jeito! – Lésbica é! -Pensou – Espero que não se engrace comigo! Meu negócio é pau dentro e de preferência duro! – Pensava rápido, mas era da onda do pó e isso a fez rir! Agora, de verdade. O que soou meio louco já que
Laura transitava por vários grupos e tribos diferentes, bebendo, cheirando e namorando muito. Colocou o atraso em dia nos motéis da Barra, nos bancos traseiros dos namorados com carro, nas esquinas do Baixo e nos cantos mais escuros da praça. Nada sério! Nada que pudesse levar para casa, e nem queria isso. Só queria se divertir com os caras e manter seus desejos em dia. Adorava beijar as bocas e quando chegava cheirosa e muito bem arrumada era beijo na boca para todo lado. Selinhos, em homens, mulheres, gays, meninos e meninas. Todas as galeras queriam sua companhia. Sempre tinha dinheiro e pó, era linda, simpática, inteligente, educada e muito, muito discreta em seu uso. Ninguém a via cheirando no meio da rua e nem dava para perceber. Mantinha a pose e isso atraia os mais endinheirados que fugiam dos abas e dos doidões que eram muitos.Estava feliz em ser paparicada assim!Em casa tudo em paz.<
Foi bem nessa época que Cão voltou a aparecer.Ele estacionava na pista bem em frente ao banco em que ela estava sentada. Ficava ali vigiando. Ela o olhava, se levantava e saía caminhando rumo ao Minhocão.Ele a acompanhava dirigindo devagarinho na contra mão e na calçada, um louco, e isso a ajudava a enfrentar aquela merda de pânico e chegar em casa são e salva. Nem se despedia! Só entrava e ia. Essa atitude de Cão mostrava o quanto ele a amava e salvava sua vida!E isso se deu por muitas e muitas manhãs de sexta!E o mundo a sua volta mudava a cada noite.E ela precisava se preparar para os novos tempos.Disso sabia.Mas como mudar o seu rumo?Disso não sabia.Não tinha como pedir ajuda a ninguém sem se detonar! A presença de Cão, mesmo
Era a terceira mais poderosa na hierarquia de Madame Marta e na sua presença eram só amigas discretas. Madame nunca aprovou a amizade das duas na rua. Nunca proibiu, mas deixou bem claro para Telma, quando Laura ainda era uma adolescente, que qualquer problema que ela estivesse junto era a sua cabeça de puta que rolaria. Ambas respeitavam e tomavam todo o cuidado. E agora com Telma morando em outro bairro é que os encontros ficaram cada vez mais escassos.A garrafa de Jack Daniel’s veio bonita, enquanto Telma, dependurada no pescoço de Laura cochichava que essa noite era tudo por sua conta. Tati ria da gaiatice da amiga. Serviram-se de doses generosas e a conversa correu animada. As coleguinhas Solange e Gracinha chegaram, vindas do puteiro do Minhocão e aumentaram a mesa em gritos e gargalhadas espalhafatosas. Foi quando aquela velha pergunta surgiu dos lábios de Telma direto no ouvido de Laura:
E o tal João mantinha-se mudo que nem uma porta. Ou melhor: uma porta fazia mais barulho que aquele cara. Era um homem alto e magro. Tinha uns vinte e poucos anos, e negro, de olhos grandes e brilhantes, cabelo black bem alto. Desses nem bonitos nem feios. Tinha um pescoço comprido com um ‘gogó’ bem protuberante que ficava subindo e descendo conforme ele engolia seco à medida que a conversa ia se aprofundando. Laura tinha vontade de rir olhando-o. Por isso, também, foi dar um tempo no banheiro. Deu um teco, fumou um cigarro e acabou sua bebida. Tudo ali no reservado. E se preparou para saber que assunto era aquele.De volta reparou que a garrafa do seu wiske preferido e um balde de gelo estavam sobre a mesa. Todos já tinham se servido. Ao sentar-se João perguntou se poderia servi-la:- Sim. Por favor. Com dois cubos de gelo. Obrigada João. – Agradeceu.A voz dele e
- É Laurinha! Aqui muitos artistas se vestiram e montaram seus números e personagens maravilhosas! Não lembra dos shows das drags na boate? – perguntou ela com brilho nos olhos.Laura lembrava sim. E acenou com a cabeça emocionada! Adorava os espetáculos. Depois que voltou, não perdia um! E agora, cinco anos depois, nem sabia o que se passava na boate. Sentiu um arrepio que vinha de dentro da alma! Sentou na banqueta e em frente ao espelho se horrorizou com sua canalhice e falta total de consideração. Percebeu o quanto estava alheia a tudo. A cocaína a aprisionou de tal maneira que estava pedida no tempo e no espaço. E nem se deu conta disso. Precisava corrigir seus erros. Voltar e colocar as coisas do lugar! Agradecer as pessoas! Pensava que ficaria só um tempo nessa de traficar e depois iria arrumar um rumo para a sua vid
Sou Kathy Marrone, a Dama de Couro e sou a narradora dessa história. Tomo posse aqui da minha narrativa porque Laura morreu dentro do disfarce. O que em verdade seu lado mais sombrio, mais egoísta, mais egocêntrico e irresponsável. Estava precisando encontrar um pouco de paz no caos! Vestir um disfarce fez toda a diferença e a transformação veio de dentro para fora. Laura precisava descansar sua imagem e se afastar para rever suas prioridades. Descansar a alma! Muita anestesia! Perdeu-se do amor e precisava encontrar o caminho do coração. E isso só acharia dentro dela mesma. Então eu assumo daqui para frente o rumo dessa história.Era impressionante como meu visual impressionava as pessoas que transitavam a minha volta nas noites do Baixo Gávea. A aparência era uma mistura gótica com punk. Já duran
O ano correu e para mim tudo continuava na mesma velocidade.Algumas figuras novas vieram se juntar a turma! João conheceu Carlos que era marido do Giovani, um coroa italiano que morava lá no Caju. Duda votou a aparecer nas madrugadas para o deleite de Luciana e Carla. Ele estava em São Paulo e voltou ao Rio para um espetáculo novo que estrearia em Copacabana. Voltei as boas com Pacheco que arrumou umas meninas para passar os papelotes de dez que ele tanto queria. Não disse nada, mas aquilo seria uma puta exposição. Finalmente ele entendeu que eu era sua freguesa e ele era o meu matuto e parou de querer me tratar como se eu fosse sua empregada. Exigi que continuasse o pacto de silêncio e era João quem me entregava a mercadoria. Não me misturei com as pessoas que ele trouxe e não deixei que ele as misturasse a nós. Eu tinha poder sobre ele j&aacu