Voltar para o Minhocão foi muito difícil para Laura!
Encontrar com seu passado, seus velhos medos e dores foi uma grande façanha. Mas estava acostumada a grandes mudanças e isso sempre salvava a sua vida, por mais que ela mesma não quisesse.
Foi o carinho e a generosidade de sua Mainha que a fez voltar e salvou sua vida e de seu filho também. Tinha certeza que acabaria assassinada por Alberto. E nem conseguia pensar no que poderia ter acontecido com seu bebê.
O verbo agora era recomeçar e deixar o passado no passado.
Graças a essa volta, pode respirar e construir para si e seu filhote uma nova chance de viver. Não sem antes destruir-se completamente, até quase desaparecer e partir do zero, fazendo nascer uma nova mulher convicta de sua posição diante do seu único objetivo: ser feliz!
Tudo parecia não
As aulas para as putas do quinto andar foi uma grande ideia!Estava dando muito certo. Madame Marta não a impediu de seguir alfabetizando suas funcionárias. Descobriu assim um jeito de se sentir menos impotente diante daquela situação que sempre a incomodou profundamente. Finalmente estava fazendo a diferença. O filho crescia tranquilo e calmo sem nenhum problema de saúde e aos dois anos era um milagre. Inteligente e alegre e nenhum sintoma de toda a droga que ingeriu na gravidez. Esse milagre mudou Laura profundamente! A maternidade e toda a ameaça de ver seu bebe morto por um louco drogado e pai a fez reavaliar suas opiniões. Percebeu que não há amor maior do que amor de mãe. Percebeu que amar é tudo na vida e como era difícil amar. Seu olhar sobre Mainha e todos ali no Praia do Pinto mudou. Não tinha o direito
O Baixo Gávea parecia o mesmo. As noites de quinta ainda bombavam! Tudo muito cheio. Uma galera bonita jovem e animada! Constatou Laura, olhando em volta. Sentou-se no Bar Sagres para a pizza com chopp e as recordações! O movimento a sua volta aguçava sua curiosidade. Queria conhecer novas pessoas, participar de novos acontecimentos, queria andar por ali e se sentir em liberdade. Bebeu mais do que comeu e rapidamente estava pisando alto. Movida a álcool Laura gostava de se aventurar e conhecer pessoas, grupos e lugares novos. Queria voltar a ser como era antes, queria sua alegria de volta. Seu coração estava vazio e sua alma cheia de mágoa. Tudo o que viveu com Alberto a machucou demais! Sua crueldade transformou todo o seu amor em ódio e precisava esquecer e superar.- Me apaixonar nunca mais! Ainda mais aqui, nesse lugar! – pensava nis
Foi no Bar Sagres que encontraram Luz, a namorada de Garfield. Ela estava em uma das mesas com umas meninas, todas novinhas, vestidas de ripongas. Ao ver o namorado ela se levantou, despediu-se e se jogou nos braços fortes do velho hippie, pendurando-se em seu pescoço. Visivelmente maconhada, o cheiro da erva ainda exalava do seu corpo, roupas e cabelos. Laura teve essa certeza quando o amigo a apresentou e a moça a abraçou afetuosamente. Afetuosamente demais! Ela era uma fofa! Linda! Olhos grandes de um azul profundo, que vermelhos, sorriam alegremente. Um sorriso um tanto infantil, mas era uma bela moça! Deram-se muito bem de cara! Era muito amigável e festiva. Encarregaram-se de colocar Laura por dentro de tudo.A Cocaína ele trazia da Rocinha, e embora a moça não tenha perguntado nada sobre isso, ele sabia que ela gostava muito. Era um h
Laura conheceu a líder daquela turma: Dani, voz de trovão. Um mulherão de quase dois metros de altura, peso pesado, lésbica e que tinha um vozeirão de tenor. Se ela não aprovasse, a pessoa nem se criava por ali! Tinha fama de encrenqueira e era muito respeitada na quebrada. Não demonstrou nenhuma oposição e apertou a mão de Laura com força, perguntando:- Prazer! Telma me falou de você! Amiga de Telma é minha também. Tamo juntas professora! - E riu! Riu com aquele vozeirão de abalar quarteirão. Todos riram com ela.- Rarararara! – Laura riu sem jeito! – Lésbica é! -Pensou – Espero que não se engrace comigo! Meu negócio é pau dentro e de preferência duro! – Pensava rápido, mas era da onda do pó e isso a fez rir! Agora, de verdade. O que soou meio louco já que
Laura transitava por vários grupos e tribos diferentes, bebendo, cheirando e namorando muito. Colocou o atraso em dia nos motéis da Barra, nos bancos traseiros dos namorados com carro, nas esquinas do Baixo e nos cantos mais escuros da praça. Nada sério! Nada que pudesse levar para casa, e nem queria isso. Só queria se divertir com os caras e manter seus desejos em dia. Adorava beijar as bocas e quando chegava cheirosa e muito bem arrumada era beijo na boca para todo lado. Selinhos, em homens, mulheres, gays, meninos e meninas. Todas as galeras queriam sua companhia. Sempre tinha dinheiro e pó, era linda, simpática, inteligente, educada e muito, muito discreta em seu uso. Ninguém a via cheirando no meio da rua e nem dava para perceber. Mantinha a pose e isso atraia os mais endinheirados que fugiam dos abas e dos doidões que eram muitos.Estava feliz em ser paparicada assim!Em casa tudo em paz.<
Foi bem nessa época que Cão voltou a aparecer.Ele estacionava na pista bem em frente ao banco em que ela estava sentada. Ficava ali vigiando. Ela o olhava, se levantava e saía caminhando rumo ao Minhocão.Ele a acompanhava dirigindo devagarinho na contra mão e na calçada, um louco, e isso a ajudava a enfrentar aquela merda de pânico e chegar em casa são e salva. Nem se despedia! Só entrava e ia. Essa atitude de Cão mostrava o quanto ele a amava e salvava sua vida!E isso se deu por muitas e muitas manhãs de sexta!E o mundo a sua volta mudava a cada noite.E ela precisava se preparar para os novos tempos.Disso sabia.Mas como mudar o seu rumo?Disso não sabia.Não tinha como pedir ajuda a ninguém sem se detonar! A presença de Cão, mesmo
Era a terceira mais poderosa na hierarquia de Madame Marta e na sua presença eram só amigas discretas. Madame nunca aprovou a amizade das duas na rua. Nunca proibiu, mas deixou bem claro para Telma, quando Laura ainda era uma adolescente, que qualquer problema que ela estivesse junto era a sua cabeça de puta que rolaria. Ambas respeitavam e tomavam todo o cuidado. E agora com Telma morando em outro bairro é que os encontros ficaram cada vez mais escassos.A garrafa de Jack Daniel’s veio bonita, enquanto Telma, dependurada no pescoço de Laura cochichava que essa noite era tudo por sua conta. Tati ria da gaiatice da amiga. Serviram-se de doses generosas e a conversa correu animada. As coleguinhas Solange e Gracinha chegaram, vindas do puteiro do Minhocão e aumentaram a mesa em gritos e gargalhadas espalhafatosas. Foi quando aquela velha pergunta surgiu dos lábios de Telma direto no ouvido de Laura:
E o tal João mantinha-se mudo que nem uma porta. Ou melhor: uma porta fazia mais barulho que aquele cara. Era um homem alto e magro. Tinha uns vinte e poucos anos, e negro, de olhos grandes e brilhantes, cabelo black bem alto. Desses nem bonitos nem feios. Tinha um pescoço comprido com um ‘gogó’ bem protuberante que ficava subindo e descendo conforme ele engolia seco à medida que a conversa ia se aprofundando. Laura tinha vontade de rir olhando-o. Por isso, também, foi dar um tempo no banheiro. Deu um teco, fumou um cigarro e acabou sua bebida. Tudo ali no reservado. E se preparou para saber que assunto era aquele.De volta reparou que a garrafa do seu wiske preferido e um balde de gelo estavam sobre a mesa. Todos já tinham se servido. Ao sentar-se João perguntou se poderia servi-la:- Sim. Por favor. Com dois cubos de gelo. Obrigada João. – Agradeceu.A voz dele e