A festaOs dias se arrastaram sem novidades. Sem nenhuma novidade, na verdade. A única coisa que mudou foi o meu comportamento: paranoica.Passei a semana inteira indo até a janela da sala, olhando para o outro lado da rua, esperando ver Daniel. Fui em horários diferentes, mas em todas as vezes que olhei, ele não estava lá.Agora, estou pronta na sala, esperando Jason. Meu pai chegou do trabalho, mas já saiu. Ele anda tão estranho ultimamente, com aquela expressão cansada, preocupada. Posso ver que ele não tem dormido à noite pelas olheiras profundas embaixo dos olhos. E, como sei que ele tem um vício perigoso em um jogo de cartas, sempre imagino o pior.Afasto esses pensamentos, tentando me distrair. Pego uma revista, mas não consigo me concentrar. Cinco minutos depois, ouço a buzina de um carro. Vou até a janela e vejo a Mercedes preta de Jason. Aliso o meu vestido preto, com detalhes prateados nas bordas. Ele é um pouco acima dos joelhos.Depois de trancar a porta, cruzo o jardim a
—O que foi? —Jason pergunta e eu nem olho para ele, ainda estou encarando Daniel, imóvel. Meu corpo inteiro parece ter entrado em colapso.O ambiente ao meu redor desaparece, e eu só consigo focar nele. O coração começa a bater mais rápido, uma mistura de emoções que não consigo controlar. Daniel está ali, em meio à festa, com a bandeja nas mãos, servindo um casal com uma postura calma e controlada. Nada me preparou para vê-lo dessa forma — tão distante, tão diferente, mas ainda assim, com aquele magnetismo inconfundível que sempre me pegou de surpresa.Eu me forço a retomar a consciência, a voltar para o presente, mas é impossível não sentir aquele turbilhão de sentimentos que me envolvem. Como ele pode estar aqui? Justo aqui! Ele, com sua aura selvagem, agora ali, servindo e se misturando entre pessoas que parecem tão diferentes dele. Uma parte de mim se sente desconcertada, outra se sente atraída, e outra, uma terceira, simplesmente não consegue entender por que ele faz meu mund
Jason é grande, assim como Daniel. Mas não é assim, másculo, intensamente viril e incrivelmente charmoso. Daniel tem uma postura corporal imponente, até mesmo na função simples de serviçal. Ele exala uma força animal, selvagem, algo que desperta em mim uma vontade incontrolável de tocá-lo, de sentir seus cabelos densos entre meus dedos, de beijar sua boca carnuda.Ele tira a bandeja dos ombros com um movimento ágil e a abaixa até mim. Seus olhos permanecem fixos nos meus, mas a distância entre nós parece carregar uma tensão crescente.— Oi. Aceita uma bebida? — Ele pergunta, sua voz seca e direta, quase desprovida de qualquer emoção.Sinto um arrepio, e o ar parece pesando, tornando a conversa mais difícil do que já é.Respiro fundo, tentando manter a calma, ao perceber o jeito hostil com que ele me trata.— Não vim por causa de bebida. Vim para falar com você. — Minha voz sai um pouco mais baixa, carregada com o peso do que ainda está por ser dito.Ele me observa por um momento, um o
Volto a trabalhar, servindo as pessoas, tentando manter um sorriso no rosto, mas minha mente está longe, cheia de imagens dela. Kate. Ela está linda, inebriante. O desejo de tomá-la em meus braços e beijá-la foi tão forte que chegou a doer fisicamente. Eu queria jogar tudo para o alto, esquecer de tudo o que está em jogo e me entregar ao que ela, só ela, desperta em mim.O alívio de ouvir da própria boca dela que o cara não era seu namorado foi quase palpável. Mas, ainda assim, um fogo ardente de ciúmes queima dentro de mim. Não consigo acreditar em amizades entre homens e mulheres. O cara pode até não ser nada, mas o que isso significa para mim? O que ele quer de Kate? A ideia de alguém, qualquer alguém, que não seja eu, próximo dela, mexe comigo de um jeito que eu não consigo ignorar.O mais difícil foi perceber que Kate ainda se afeta quando me vê. Eu vi no brilho de seus olhos, no jeito como sua respiração acelerou, como ela parecia perder o controle por um segundo. Seus lábios en
KateJason está olhando para mim, a expressão triste e resignada no rosto. Eu tento afastar a sensação de culpa, mas é impossível ignorá-la.Então, um grito corta o ar:— Mas que droga! — Uma garota grita. — Não vê onde anda? Você arruinou o meu vestido!Eu me viro rapidamente, tentando entender o que está acontecendo. E então, vejo a cena: Daniel, com a bandeja, de frente para uma garota com um vestido branco, agora manchado de vinho.Deus! Aquilo é vinho? O que está acontecendo?Daniel parece completamente calmo, mas há uma tensão no ar. Ele encara a garota, sua expressão imperturbável, mas as palavras que ele diz são mais tranquilas do que o ambiente exige.— Foi sem querer. Não precisa fazer esse escarcéu todo. Eu pego seu telefone e te ligo. Você me fala a conta do tintureiro e eu pago seu vestido.Eu sinto uma dor no coração ao vê-lo naquela posição. Só eu sei o quanto ele já sofreu, o quanto sua vida é difícil, e ele não merece estar sendo tratado assim. Essa garota não entende
DanielEla me estende a mão, com o sorriso mais genuíno que já vi. Não preciso de mais nada, e, no entanto, a atração é mais forte que qualquer outra coisa. Eu a puxo para mim, sentindo sua pele macia sob meus dedos. Sua boca encontra a minha com uma urgência que me consome. Os beijos são quase selvagens, como se cada um de nós estivesse tentando saciar uma necessidade que há muito tempo estava guardada. Eu sinto o calor do corpo dela, e isso me faz querer mais, fazer com que ela se aproxime ainda mais.Mas logo a urgência diminui, e os beijos se tornam mais lentos, mais suaves. De repente, tudo fica cheio de ternura. Eu a abraço, a sinto mais perto, mais íntima, como se nada mais importasse agora. E talvez nada realmente importe. Eu só quero que ela fique aqui, nos meus braços, sem pressa de ir embora.— Acho melhor eu ir embora. — Eu a afasto um pouco, mas a vontade de continuar a segurá-la me queima.Ela parece decepcionada, mas a resposta dela me faz sorrir, mesmo ofegante.— Por
Ele segura meu rosto com as duas mãos, e volto a sentir seus lábios. Sinto o tremor nas minhas mãos, o nervosismo tomando conta de mim. Ele percebe e, com uma doçura que me desarma, beija minha boca, sua língua lambendo meus lábios com lentidão, descendo pela minha garganta e voltando até minha orelha. Cada movimento é preciso, sensual, e quando sua língua passa novamente pela minha garganta, sinto meu corpo inteiro se aquecer de desejo. Ele sabe o que provoca em mim e sorri, me beijando com mais intensidade, como se estivesse me consumindo.É como se novas emoções surgissem em mim, inesperadas e intensas. Aos poucos, vou me entregando, me acalmando, me deixando levar por essa paixão avassaladora que sinto por ele. Daniel, então, cuida de mim com uma ternura que me faz derreter. Ele me olha com uma intensidade que me deixa sem fôlego, antes de me beijar de novo, mais forte, mais urgente.Eu ouço o zíper do meu vestido deslizando, e logo ele está me descobrindo. Seus lábios encontram m
Sexta-feira...Felicidade é a palavra que define meu constante estado de humor. Passei os dias sorrindo sozinha. Ativa. Ajudando Rose na cozinha, ajudando na limpeza da casa, ouvindo música e, algumas vezes, deixando minha mente divagar. E em todos esses momentos, Daniel está na minha cabeça.Hoje, eu estou me sentindo radiante. Vou vê-lo logo mais à noite. Tenho tantas coisas para dizer e perguntar para ele. Quero conhecer mais o homem a quem entreguei meu coração e meu corpo. Sei que a ordem das coisas não foi a mais acertada. Eu deveria tê-lo conhecido melhor antes de me entregar, mas, pensando bem, nada que ele me contasse seria surpresa para mim.Fito meu livro aberto entre as mãos. Desde que tudo aconteceu, eu não consigo me concentrar, não consigo ler uma palavra sequer.Às vezes, um arrepio percorre meu corpo quando penso nas condições financeiras de Daniel. Não vou mentir, gostaria que ele tivesse tido a oportunidade de estudar, que ele vivesse em um lugar melhor, que tivesse