O sol de Miami estava a todo vapor. O céu azul, sem nuvens. Entramos na mansão e novamente fico impressionado com a beleza do lugar. Acho que sempre me surpreenderá os seus vários ambientes e as muitas salas que se sucedem. Um enorme salão de baile magnífico, Antony me disse que seu estilo é normando; em seguida, um jardim de inverno, em estilo completamente diferente... A mansão, de fato, parece ter sido decorada por várias pessoas, numa fartura de estilos diferentes. Mas há algo que notei mais que a decoração do lugar, é o quanto essa família gosta da luta, das batalhas, das guerras. Eles têm como decoração um arcabuz de algum tempo muito anterior à guerra civil. – Será que algum parente dos Bertizzollos estivera, de fato, nessa guerra? Acho pouco provável... em outra parede, alabardas e espadas medievais. Ao lado da estante, na biblioteca, armaduras de cota de malha. E outro detalhe que chama atenção: fotos, espalhadas pelas paredes, muitas e muitas fotos de família. Sempre a fi
—Antony me contou sua história. Deve ter sido difícil enfrentar a vida sozinho.—Não tem sido fácil. —Eu digo pensativo.—Passado meu amigo. —Antony diz apertando meus ombros. —Você pertence a nossa família.Eu dei meu escasso sorriso.—Eu estou realmente feliz de ser parte da família. E pensar que imaginei vocês pessoas diferentes.As sobrancelhas de Antony se unem em pensamento.Lucas diz pensativo também:—Sim, não temos uma boa reputação. Mas Antony está resolvendo isso, com trabalhos filantrópicos. Estamos tentando melhorar nossa imagem. Isso é muito bom para os futuros negócios. A máfia na nossa família um dia será lenda, será esquecida. Don está fazendo de tudo para isso.—Sim, eu sei. Antony me disse.—Temos grandes planos para você.Sombras de um sorriso vão se formando no meu rosto. Meu coração se agita em ambição. Não conquistarei respeito sendo tímido, isto é fato. Os meus neurônios trabalham e correlaciono os fatos: quando eu entrei para a família eu sabia que eu teria qu
AntonyQuando Daniel sai da sala, Vincent diz para mim:—Parece que acertamos com esse rapaz. Mas fique de olho. Precisamos ter cautela, por isso ainda não quero que ele tenha contato com o mundo externo. Inclusive acho que ele deveria já viajar para Las Vegas. E Lucas! Quero que enquanto isso, estreite relações com o rapaz. Daniel é muito jovem e teve um passado pesado, e pelo que sei foi muito negligenciado. Sem família. Pessoas assim que precisamos abraçar, pois, com certeza, teremos o melhor delas. —Sem dúvida, pode deixar. Eu gostei do rapaz. Acho que nos daremos muito bem. —Lucas diz com convicção.—Aos poucos ensine tudo para ele. Assim poderei confiar a ele o Cassino de Miami. —Pode deixar. —Ele acena um sim com a cabeça.—Lucas, pode ir. Tenho algumas pendências para resolver com Antony. DanielEstou aguardando na sala ao lado, mas me sinto agitado, então caminho sentido a porta, mas a loira veio distraída e tromba comigo.—Ah, perdão. —Digo quando quase a garota vai para
A dor que sinto com seu relato é indescritível e mais uma vez o fantasma do medo volta a me assombrar.—Eu não posso, Antony. Não consigo. Eu a amo demais. Você fala assim pois não deixou o amor de sua vida para trás.Outro silêncio.—Quem disse que eu não deixei? —Antony diz com o semblante sério. —Nessa cidade tinha uma mulher que eu amava muito. E eu deixei tudo para trás. Acho que ela até está casada agora. E eu, estou aqui, tenho tudo que sempre quis, como bem, durmo bem e me sinto útil. Estou forte, firme e bem.Eu respiro fundo.—E você? Não se arrepende por isso? Por ter deixado a mulher da sua vida para trás?Antony nega com a cabeça.—Não. Essa hora eu estaria lá, sentado na varanda de uma casa caindo aos pedaços, envelhecido, embrutecido, ignorante.O encaro com o semblante bem sério.—Eu respeito sua atitude, mas desculpe-me Antony, eu não sou assim. Muito mais que ambição me motivou a entrar para a família. Quando assumi isso, foi pensando em Kate. Para sair da minha cond
—Vem, vamos nos sentar ali. —Eu digo apontado o banco de uma praça em frente a faculdade.Ela assente. Eu a envolvo com os meus braços e a conduzo até lá. Quando nos sentamos, eu não consigo falar nada. Eu apenas a abraço, sinto seu cheiro, seu calor, a suavidade de seus cabelos...Deus! Que ela me entenda um dia. Eu fiz isso por ela. Somente por ela...Kate me abraça forte, eu fecho os olhos então ela me afasta:—Daniel, vamos sair daqui. Vamos a algum lugar. Tenho tantas coisas para te contar.Deus!Num segundo ela me deixou sem falas. E sem ação, mesmo assim não consigo quebrar o contato visual, não consigo afastar o meu olhar dessas íris cor de mel, mesmo que eu tente. Ela aguarda a minha resposta, me bebendo com o seu olhar cativante. A minha mente fica tão lenta, é tão difícil racionar com ela me olhando desse jeito. Atraído pela paixão do momento eu tomo seus lábios com um beijo possessivo. Deus! Como eu senti saudades desses lábios macios nos meus.Ela corresponde o meu beijo,
KateA minha cabeça gira. O homem diante de mim não é o Daniel que eu conhecia, aquele que era bom e íntegro. Não, esse homem é alguém que fez um pacto com o diabo.— Volte para eles, Daniel. — Minha voz sai cortante, mas dentro de mim estou em pedaços. — Volte para o inferno que você escolheu. Porque eu? Eu vou te esquecer.Ele dá um passo à frente, mas não tento fugir. Apenas o encaro, tentando segurar as lágrimas que ameaçam cair.Então, a porta do Range Rover se abre. Um homem alto, de cabelos negros e olhar cortante, sai do carro. Ele usa um sobretudo preto que o faz parecer uma sombra, um predador. Seu olhar pousa em mim, frio e calculista, e sinto um arrepio correr pela minha espinha.— Daniel — ele diz com um tom firme, quase paternal. — Vamos para casa.Não sei o que me assusta mais: o controle que esse homem tem ou o fato de Daniel, sem hesitar, obedecer.DanielNo carro, o silêncio é insuportável. Antony, sentado ao meu lado, coloca a mão no meu ombro.— Não se preocupe, gar
AntonyAssim que chegamos em casa, Daniel abre a porta do carro com um movimento brusco. Ele caminha apressado, as passadas largas ecoando na calçada, até desaparecer dentro da casa.Merda! Ele não deveria estar passando por isso. Amar é uma droga!Os meus lábios tremem, e sinto a visão turvar. Memórias antigas emergem, trazendo de volta um peso que pensei ter enterrado. Pego minha melhor garrafa de uísque e despejo uma dose generosa no copo. Sento no sofá, o silêncio da sala me envolvendo como um manto pesado.Eu sei exatamente como Daniel se sente. Já vivi essa dor na pele. A lembrança da minha mãe, que nunca mais quis olhar na minha cara, me corrói. O dia em que precisei deixar a mulher que amava ainda é uma ferida aberta.Tiro a carteira do bolso, e ali está ela: a foto de Moira. O tempo amarelou os cantos do papel, mas não apagou as lembranças. Passo os olhos pela imagem, uma cena que conheço de cor. Ela está sentada num balanço de parque decadente, os cabelos negros reluzindo so
Um sorriso puxa meus lábios.— A ocasião faz o ladrão, Lucas. A isca será lançada. Se o pai dela for um homem íntegro, ele não cairá. Mas, se for como penso, ele nos roubará... e cairá direto nas nossas mãos.Lucas passa a mão no cabelo, tentando processar.— Tudo bem, que ele nos roube. E depois? O que vai fazer? Kate vai pagar pelos erros do pai?Meu tom endurece, mas mantenho a calma.— Não. Mas ela ficará em nossas mãos, ou melhor, nas de Daniel. Você sabe, logo ele estará dirigindo o cassino de Miami.— Antony, Daniel nunca vai aceitar isso!— Ele não saberá, Lucas. Para ele, o pai dela apenas nos roubou. E, confie em mim, ele não hesitará em usar essa situação ao seu favor. Quando ele voltar de Las Vegas, o cenário já estará armado.Lucas me encara, imóvel. O silêncio cresce entre nós, pesado, enquanto ele digere as implicações.— Isso é diabólico, Antony — murmura, finalmente.Dou de ombros, respirando fundo.— Estou usando as armas que temos. Se o pai dela for alguém decente,