A dor que sinto com seu relato é indescritível e mais uma vez o fantasma do medo volta a me assombrar.—Eu não posso, Antony. Não consigo. Eu a amo demais. Você fala assim pois não deixou o amor de sua vida para trás.Outro silêncio.—Quem disse que eu não deixei? —Antony diz com o semblante sério. —Nessa cidade tinha uma mulher que eu amava muito. E eu deixei tudo para trás. Acho que ela até está casada agora. E eu, estou aqui, tenho tudo que sempre quis, como bem, durmo bem e me sinto útil. Estou forte, firme e bem.Eu respiro fundo.—E você? Não se arrepende por isso? Por ter deixado a mulher da sua vida para trás?Antony nega com a cabeça.—Não. Essa hora eu estaria lá, sentado na varanda de uma casa caindo aos pedaços, envelhecido, embrutecido, ignorante.O encaro com o semblante bem sério.—Eu respeito sua atitude, mas desculpe-me Antony, eu não sou assim. Muito mais que ambição me motivou a entrar para a família. Quando assumi isso, foi pensando em Kate. Para sair da minha cond
—Vem, vamos nos sentar ali. —Eu digo apontado o banco de uma praça em frente a faculdade.Ela assente. Eu a envolvo com os meus braços e a conduzo até lá. Quando nos sentamos, eu não consigo falar nada. Eu apenas a abraço, sinto seu cheiro, seu calor, a suavidade de seus cabelos...Deus! Que ela me entenda um dia. Eu fiz isso por ela. Somente por ela...Kate me abraça forte, eu fecho os olhos então ela me afasta:—Daniel, vamos sair daqui. Vamos a algum lugar. Tenho tantas coisas para te contar.Deus!Num segundo ela me deixou sem falas. E sem ação, mesmo assim não consigo quebrar o contato visual, não consigo afastar o meu olhar dessas íris cor de mel, mesmo que eu tente. Ela aguarda a minha resposta, me bebendo com o seu olhar cativante. A minha mente fica tão lenta, é tão difícil racionar com ela me olhando desse jeito. Atraído pela paixão do momento eu tomo seus lábios com um beijo possessivo. Deus! Como eu senti saudades desses lábios macios nos meus.Ela corresponde o meu beijo,
KateA minha cabeça gira. O homem diante de mim não é o Daniel que eu conhecia, aquele que era bom e íntegro. Não, esse homem é alguém que fez um pacto com o diabo.— Volte para eles, Daniel. — Minha voz sai cortante, mas dentro de mim estou em pedaços. — Volte para o inferno que você escolheu. Porque eu? Eu vou te esquecer.Ele dá um passo à frente, mas não tento fugir. Apenas o encaro, tentando segurar as lágrimas que ameaçam cair.Então, a porta do Range Rover se abre. Um homem alto, de cabelos negros e olhar cortante, sai do carro. Ele usa um sobretudo preto que o faz parecer uma sombra, um predador. Seu olhar pousa em mim, frio e calculista, e sinto um arrepio correr pela minha espinha.— Daniel — ele diz com um tom firme, quase paternal. — Vamos para casa.Não sei o que me assusta mais: o controle que esse homem tem ou o fato de Daniel, sem hesitar, obedecer.DanielNo carro, o silêncio é insuportável. Antony, sentado ao meu lado, coloca a mão no meu ombro.— Não se preocupe, gar
AntonyAssim que chegamos em casa, Daniel abre a porta do carro com um movimento brusco. Ele caminha apressado, as passadas largas ecoando na calçada, até desaparecer dentro da casa.Merda! Ele não deveria estar passando por isso. Amar é uma droga!Os meus lábios tremem, e sinto a visão turvar. Memórias antigas emergem, trazendo de volta um peso que pensei ter enterrado. Pego minha melhor garrafa de uísque e despejo uma dose generosa no copo. Sento no sofá, o silêncio da sala me envolvendo como um manto pesado.Eu sei exatamente como Daniel se sente. Já vivi essa dor na pele. A lembrança da minha mãe, que nunca mais quis olhar na minha cara, me corrói. O dia em que precisei deixar a mulher que amava ainda é uma ferida aberta.Tiro a carteira do bolso, e ali está ela: a foto de Moira. O tempo amarelou os cantos do papel, mas não apagou as lembranças. Passo os olhos pela imagem, uma cena que conheço de cor. Ela está sentada num balanço de parque decadente, os cabelos negros reluzindo so
Um sorriso puxa meus lábios.— A ocasião faz o ladrão, Lucas. A isca será lançada. Se o pai dela for um homem íntegro, ele não cairá. Mas, se for como penso, ele nos roubará... e cairá direto nas nossas mãos.Lucas passa a mão no cabelo, tentando processar.— Tudo bem, que ele nos roube. E depois? O que vai fazer? Kate vai pagar pelos erros do pai?Meu tom endurece, mas mantenho a calma.— Não. Mas ela ficará em nossas mãos, ou melhor, nas de Daniel. Você sabe, logo ele estará dirigindo o cassino de Miami.— Antony, Daniel nunca vai aceitar isso!— Ele não saberá, Lucas. Para ele, o pai dela apenas nos roubou. E, confie em mim, ele não hesitará em usar essa situação ao seu favor. Quando ele voltar de Las Vegas, o cenário já estará armado.Lucas me encara, imóvel. O silêncio cresce entre nós, pesado, enquanto ele digere as implicações.— Isso é diabólico, Antony — murmura, finalmente.Dou de ombros, respirando fundo.— Estou usando as armas que temos. Se o pai dela for alguém decente,
Assinto com firmeza, encarando-o nos olhos.— Sim, Daniel. Você terá sua garota de volta. Eu garanto. E você contará comigo para isso.Por um instante, vejo um brilho nos olhos dele, mas é substituído pela sombra da desconfiança.— Como? Posso saber? O que vocês vão fazer? Raptá-la, como Lucas fez com a esposa? Ou obrigá-la a se casar comigo com uma arma apontada na cabeça, como Vincent fez com Renata?Sinto o sangue subir ao rosto. Maldito Lucas e sua boca grande! Respiro fundo, controlando a irritação.— Não. Nada disso. — Minha voz sai mais firme do que eu esperava. — Vamos te dar algo muito mais poderoso: tempo. Um tempo para você reconquistá-la, do seu jeito.— Por que não agora? — ele me corta, a angústia transbordando na voz.Se ao menos ele soubesse o quanto é crucial dar esse intervalo para que meu plano se desenrole. Respondo com calma, mas com firmeza:— Daniel, precisamos de você agora. Não é o momento certo.Ele ofega, a frustração evidente. Volta a encarar a janela, os o
KateDifícil acreditar que tanto tempo se passou, eu penso tristemente olhando meu filho no meu colo. Meu bebezinho de dois meses abre a boquinha com um bocejo. Eu dou um sorriso entre lágrimas.Nesse tempo, tantas lutas enfrentei... A maior delas foi a decepção com Daniel, depois a ira de meu pai com a notícia que eu estava grávida. Então seu mal humor e seus olhos de ranço quando via minha barriga, cada vez mais, crescer.Dou um beijo em sua cabecinha e o coloco no berço com um sorriso entre lágrimas. Ele é muito pequeno para dizer com quem ele se parece. Mas eu consigo ver Daniel no rostinho dele.Olhei a confusão que está meu quarto. Muita coisa ainda para guardar. E não é só meu quarto que está assim. As nossas coisas ainda estão espalhadas pela nova casa. Segundo papai, os negócios com as vendas dos carros estão indo muito bem.Comecei a arrumar minhas coisas, sem ter forças para afastar meus pensamentos de Daniel.Deus! Como eu pensava nele. E agora que Michael nasceu, muito ma
Eu que guardava os papéis numa pasta, paro e olho para ela:—Não entendi.—Essa regra não existe. Lucas, por exemplo, quando ele era solteiro.....— Olha, eu gosto de uma garota. Então, toda a minha energia agora é trabalhar para encontrá-la quando eu for para Miami.Ela ri.—Deus! Você fica se guardando para uma mulher que nessa altura do campeonato está com outro homem.Ela corta a energia calma do escritório. Num movimento rápido eu chego até ela e a pego pelo braço, enfurecido a lanço contra a parede. Minha mão aperta em torno de seu braço. Meu rosto está contorcido de raiva. Ergo minha mão que chega até seu pescoço. A respiração se apressa a sair dos meus pulmões.— Você perdeu o juízo? Aqui eu sou um cara fazendo o que deve ser feito. Cala a sua boca! Daqui por diante você falará comigo apenas o estritamente necessário.Eu a solto, ofegante. De repente, me torno consciente de quão perto eu cheguei em estrangular seu pescoço. Saio do escritório.—Pai! Quanto é esse valor que o se