As palavras de Daniel cortam como uma faca. Ele sempre é sincero, doa a quem doer, e é exatamente isso que me machuca agora. Deus... Claro que ele não faria isso se pudesse escolher, mas o que estou encarando agora é a realidade de ter Daniel longe de mim. Uma lágrima quente escorre pela minha bochecha, e meu coração parece se partir em duas metades desiguais e doloridas. Nunca me senti tão vulnerável.Eu o encaro, tentando segurar as lágrimas, e ele passa a mão pelo meu rosto de forma terna, quase como se estivesse se despedindo.— Kate, entenda — ele começa, a voz suave, mas firme. — Estou fazendo isso por nós. Hoje, eu não tenho nada a te oferecer.A raiva me consome. Por que ele sempre insiste nesse discurso? Sinto meu peito inflamar, mas tento manter a calma.— Não começa com isso de novo, Daniel! — minha voz sai embargada, a frustração evidente.Ele franze o cenho, claramente incomodado. — Não começar? Você mesma reclamou do estado do meu rosto.Eu sei disso. Fico despedaçada ao
Deixar o quarto dela é como arrancar um pedaço de mim. Kate está em meus braços, e posso sentir seu coração batendo contra o meu. Respiro fundo, como se tentasse capturar o cheiro dela, a sensação da pele dela, para carregar comigo. Estou tentando reunir forças para sair, mas cada segundo que passa torna isso mais difícil. Não faço ideia de quanto tempo vou ficar fora, mas sei que preciso ganhar a confiança deles. Sei que esse é o único caminho, mas quanto tempo vai demorar? Não tenho resposta para isso.Afasto-a suavemente, passando a mão pelos cabelos dela.— Sinto muito, mas preciso ir. — Minha voz sai fraca, quase como um sussurro.Ela apenas assente, tentando sorrir, mas vejo a dor em seus olhos.— Eu sei...Sem coragem de olhar para ela mais uma vez, me viro e caminho até a janela. Coloco as pernas para fora, sentindo a brisa fria da noite contra o meu rosto. Viro o corpo devagar e estico o pé, alcançando a treliça de madeira. Graças a Deus, ela é reforçada o suficiente para agu
Dois meses depois...KateEstou na Universidade. No intervalo da aula Karen e eu vamos até a lanchonete.— E então, como tem sido viver num bairro inferior e numa casa inferior? — Karen me pergunta.Eu bebo um pequeno gole do chocolate quente que ela fez questão de comprar para mim. Ultimamente eu não rejeitava nada.—Tudo bem. Meu pai que anda arrasado. Não sei o que fazer para reergue-lo. Ele não se conforma de termos perdido tudo.—Deve ser barra mesmo.—Sim, mas a casa não é tão ruim assim e precisamos nos conformar, era inevitável que nos mudássemos.—Está gostando de trabalhar aqui?Fiquei pensativa. Estou fazendo um estágio na secretaria da universidade, não posso reclamar.—Não é o emprego dos meus sonhos, mas estou pegando experiência. Finalizando esse estágio, tenho esperança de conseguir um emprego melhor.Karen mastiga seu lanche vagarosamente e começa a me falar de seu trabalho. Ela trabalha na empresa de seu tio, uma grande indústria têxtil. Ao contrário de mim, as coisa
O sol de Miami estava a todo vapor. O céu azul, sem nuvens. Entramos na mansão e novamente fico impressionado com a beleza do lugar. Acho que sempre me surpreenderá os seus vários ambientes e as muitas salas que se sucedem. Um enorme salão de baile magnífico, Antony me disse que seu estilo é normando; em seguida, um jardim de inverno, em estilo completamente diferente... A mansão, de fato, parece ter sido decorada por várias pessoas, numa fartura de estilos diferentes. Mas há algo que notei mais que a decoração do lugar, é o quanto essa família gosta da luta, das batalhas, das guerras. Eles têm como decoração um arcabuz de algum tempo muito anterior à guerra civil. – Será que algum parente dos Bertizzollos estivera, de fato, nessa guerra? Acho pouco provável... em outra parede, alabardas e espadas medievais. Ao lado da estante, na biblioteca, armaduras de cota de malha. E outro detalhe que chama atenção: fotos, espalhadas pelas paredes, muitas e muitas fotos de família. Sempre a fi
—Antony me contou sua história. Deve ter sido difícil enfrentar a vida sozinho.—Não tem sido fácil. —Eu digo pensativo.—Passado meu amigo. —Antony diz apertando meus ombros. —Você pertence a nossa família.Eu dei meu escasso sorriso.—Eu estou realmente feliz de ser parte da família. E pensar que imaginei vocês pessoas diferentes.As sobrancelhas de Antony se unem em pensamento.Lucas diz pensativo também:—Sim, não temos uma boa reputação. Mas Antony está resolvendo isso, com trabalhos filantrópicos. Estamos tentando melhorar nossa imagem. Isso é muito bom para os futuros negócios. A máfia na nossa família um dia será lenda, será esquecida. Don está fazendo de tudo para isso.—Sim, eu sei. Antony me disse.—Temos grandes planos para você.Sombras de um sorriso vão se formando no meu rosto. Meu coração se agita em ambição. Não conquistarei respeito sendo tímido, isto é fato. Os meus neurônios trabalham e correlaciono os fatos: quando eu entrei para a família eu sabia que eu teria qu
AntonyQuando Daniel sai da sala, Vincent diz para mim:—Parece que acertamos com esse rapaz. Mas fique de olho. Precisamos ter cautela, por isso ainda não quero que ele tenha contato com o mundo externo. Inclusive acho que ele deveria já viajar para Las Vegas. E Lucas! Quero que enquanto isso, estreite relações com o rapaz. Daniel é muito jovem e teve um passado pesado, e pelo que sei foi muito negligenciado. Sem família. Pessoas assim que precisamos abraçar, pois, com certeza, teremos o melhor delas. —Sem dúvida, pode deixar. Eu gostei do rapaz. Acho que nos daremos muito bem. —Lucas diz com convicção.—Aos poucos ensine tudo para ele. Assim poderei confiar a ele o Cassino de Miami. —Pode deixar. —Ele acena um sim com a cabeça.—Lucas, pode ir. Tenho algumas pendências para resolver com Antony. DanielEstou aguardando na sala ao lado, mas me sinto agitado, então caminho sentido a porta, mas a loira veio distraída e tromba comigo.—Ah, perdão. —Digo quando quase a garota vai para
A dor que sinto com seu relato é indescritível e mais uma vez o fantasma do medo volta a me assombrar.—Eu não posso, Antony. Não consigo. Eu a amo demais. Você fala assim pois não deixou o amor de sua vida para trás.Outro silêncio.—Quem disse que eu não deixei? —Antony diz com o semblante sério. —Nessa cidade tinha uma mulher que eu amava muito. E eu deixei tudo para trás. Acho que ela até está casada agora. E eu, estou aqui, tenho tudo que sempre quis, como bem, durmo bem e me sinto útil. Estou forte, firme e bem.Eu respiro fundo.—E você? Não se arrepende por isso? Por ter deixado a mulher da sua vida para trás?Antony nega com a cabeça.—Não. Essa hora eu estaria lá, sentado na varanda de uma casa caindo aos pedaços, envelhecido, embrutecido, ignorante.O encaro com o semblante bem sério.—Eu respeito sua atitude, mas desculpe-me Antony, eu não sou assim. Muito mais que ambição me motivou a entrar para a família. Quando assumi isso, foi pensando em Kate. Para sair da minha cond
—Vem, vamos nos sentar ali. —Eu digo apontado o banco de uma praça em frente a faculdade.Ela assente. Eu a envolvo com os meus braços e a conduzo até lá. Quando nos sentamos, eu não consigo falar nada. Eu apenas a abraço, sinto seu cheiro, seu calor, a suavidade de seus cabelos...Deus! Que ela me entenda um dia. Eu fiz isso por ela. Somente por ela...Kate me abraça forte, eu fecho os olhos então ela me afasta:—Daniel, vamos sair daqui. Vamos a algum lugar. Tenho tantas coisas para te contar.Deus!Num segundo ela me deixou sem falas. E sem ação, mesmo assim não consigo quebrar o contato visual, não consigo afastar o meu olhar dessas íris cor de mel, mesmo que eu tente. Ela aguarda a minha resposta, me bebendo com o seu olhar cativante. A minha mente fica tão lenta, é tão difícil racionar com ela me olhando desse jeito. Atraído pela paixão do momento eu tomo seus lábios com um beijo possessivo. Deus! Como eu senti saudades desses lábios macios nos meus.Ela corresponde o meu beijo,