AntônioAnos atrás.Dois meses após chegar na minha nova casa, eu ainda não confiava em ninguém, exceto meus irmãos. Nem mesmo na mulher que dizia querer ser minha mãe.Ela parecia ser boa, sempre conversava comigo, contava histórias para eu dormir. Mas eu não dormia, esperava ela sair para trancar a porta e escorar uma cômoda nela, e sempre carregava uma faca comigo.Ela ia comigo a um terapeuta. Eu não falava nem com ela perto nem quando ela saia. Foi o terapeuta que indicou que eu aprendesse a falar usando sinais. Não vi problemas. Rapidamente estava falando usando gestos.Mais de um ano depois, eu estava menos arredio e mais confiante que essas pessoas eram mais como meus falecidos pais que como os miseráveis do orfanato.Minha mãe me chamou para conversar na cozinha, só nós dois. Era um teste, claro que era. Eu tenho pavor de cozinhas.Apertei a faca que me acompanhava. Não queria machucar essa mulher tão gentil, mas se ela tentasse algo teria que me defender.Quando entrei ela e
AntônioAcabei passando o dia inteiro fora de casa por causa do meu aniversário. Quis visitar pessoas que significam muito para mim e estavam velhos demais para festas em minha casa.Já era quase dez da noite quando cheguei. Abri a porta do quarto de Cora e vi que ela já estava dormindo.Decidi tomar um banho e me deitar em meu sofá, onde tenho passado muitas noites desde que ela veio para minha casa.Meu sono é leve, o bastante para o fato de alguém acendendo a luz ser motivo para me acordar.Abri os olhos e vi Cora parada perto do sofá.― Aconteceu alguma coisa? Que horas são? ― perguntei me levantando e sentando no sofá.Ela ignorou minhas perguntas e fez outra:― Quando você ia me contar que alguém como ela fez isso com você?― Isso o que? ― a desafiei.― Você sabe o que quero dizer.― Quer dizer que alguém como ela me transformou em um monstro.― Exatamente.Ri. Cora realmente não sabia ser boazinha comigo, nem quando sentia pena da criança que fui.Sinceramente não quero falar s
Cora“Eu quero olhar para o seu rosto todos os dias e que essa pequena cicatriz me lembre que tipo de monstro sou. E que seu sorriso me mostre que até monstros como eu tem direito a ser amado.”Amado?Fiquei pensando nas palavras de Antônio enquanto seus dedos iam e vinham nas minhas costas nuas, deitados no sofá.― Você não gosta de falar do seu passado, não é? ― comentei.― Falar me faz lembrar de algo que só quero esquecer. Meu pai me fez ir muito a terapeutas e psiquiatras. Apesar do que você acha, não sou louco, tenho um diploma de mente sã. Ri.― Existe isso?― Sei lá. Inventei agora. Mas tenho sim um laudo do médico atestando que apesar do trauma minha mente está firme e forte.― A sua irmã disse que você não falava antes de me conhecer.― É verdade. Quando aquilo aconteceu, eu pedi ajuda e a pessoa não só negou ajuda como mandou eu me calar, então eu me calei totalmente. Só que depois meu pai me adotou, e minha mãe me ensinou a nunca esquecer minha voz. Eu sempre lia em voz a
CoraEu vi todos os irmãos de Antônio no aniversário dele então não faço ideia do motivo pelo qual estou tão nervosa por ele querer que eu vá em um jantar de família. Acho que estou com medo do pai dele. E também em seu aniversário todos me trataram bem por culpa pelo que aconteceu comigo, mas sei bem o que veem quando olham meu rosto, eles enxergam minha irmã.Conversamos muito esses dias que se passaram e Antônio me contou tudo sobre sua vida desde antes de ir parar no orfanato até o momento em que nos conhecemos. Ele se abriu me mostrando tudo dele para que eu pudesse aceitar ou fugir. Ainda estou aqui. Então não será um jantar em família que vai me assombrar. Vou passar por isso.Falta um dia para o jantar. E acho que alguma coisa está acontecendo. Antônio me buscou no orfanato e me deixou em casa com mais seguranças que o habitual. Perguntei o motivo de ter segurança até dentro de casa e ele disse que era por causa de um trabalho. Afirmou que não era nada, mas precisava garantir
AntônioCora está atrasada. Ela costuma chegar em casa às 17hs, no máximo 18hs. Já são 19:30h e nada dela. Mandei mensagem para os seguranças que estavam com ela e eles disseram que ela estava com uma criança febril, que eles estavam esperando por ela fora do orfanato. Faz alguns dias que ela me pediu para não buscá-la. Estava incomodada com Miriam, mas não queria que eu a demitisse.Decidi ir buscá-la. Dane-se Miriam. Depois que descobrimos que Jessica está mais perto do que pensamos, todo cuidado é pouco. Essa mulher é louca.Enquanto pilotava minha moto até o orfanato, pensava em formas de agradar minha namorada.O que uma mulher que trabalhou o dia inteiro gostaria? Pensei em uma massagem e registrei isso em minha mente. Um banho demorado de banheira e uma massagem bem relaxante, mas antes disso levarei um capuccino, ela odora essas coisas. Comprei no caminho e coloquei na moto de forma que chegasse inteiro para ela.Cora estava conversando com Vera quando cheguei, nenhuma delas m
AntônioEstou indo bem com Cora. Ela não faz aquele menino sumir, faz com que eu aceite suas fraquezas e forças. Afinal estou vivo hoje graças a força daquele menino que suportou tudo até surgir um bote salva vidas.Como tentei explicar para Cora, a facada foi superficial, então o jantar não foi adiado.Estávamos no carro indo em direção a mansão de onde ela fugiu. Parece que foi há séculos, e ainda dói lembrar o que fiz. Sei que ela também não gosta.Ela estava em silêncio. Aproveitei um sinal fechado e segurei sua mão, que ela torcia.― É só um jantar, anjo. O que acha que pode acontecer?― Seu pai achar que por ser irmã dela eu tenha que ser silenciada ― ela brincou nervosa. ― Na verdade, não sei porque estou nervosa. Nem ligo se sua família não gostar de mim. Meu namorado é você, não eles.― Amor, é mais fácil eles te alertarem para fugir de mim.― Por que? Eles fazem o mesmo que você. Nenhum deles é CEO de verdade.― Simplesmente porque eu não sou acostumado a ser amado. Tirando
JessicaEstou prestes a explodir de ódio. Não quero sair do país, muito menos ser pega pelos desgraçados dos Rodrigues, menos ainda me entregar a polícia que ainda me procura.O que quero é a vida da minha maldita irmã. Ela me deve isso por tudo que já fiz por nossa família. Banquei sua brincadeira de médica de pobres. Agora a filha da puta se esconde com os malditos que estão me perseguindo, mesmo depois de ser torturada por eles.Não posso andar com muitos seguranças, é um ou outro disfarçado. Ando disfarçada também e com medo de a qualquer momento um atirador me acertar. Por isso tratei de ficar igualzinha minha querida maldita irmã.Ficar presa em hotéis dos Pereira está fora de cogitação. Não é tão seguro quanto pensam. Se fosse Sampaio não estaria comendo capim pela raiz.Coloquei meu disfarce e passei pela sala chamando um segurança.― Onde pensa que vai, corpo morto? ― olhei para o sofá e vi que Fábio ainda estava na suíte.Fábio Pereira é um desgraçado. O que tem de beleza ne
AlexandreDia anterior ao jantar.Ao contrário do que imaginávamos, Jessica não fugiu do país, ela pintou o cabelo, tirou as lentes e ficou com a aparência que a irmã tinha nos documentos e atualmente. A pegamos em um bar, por acaso. Acho que ela achou que estava segura na saída da cidade, em um bar de fama duvidosa, ledo engano.Foram dois dos nossos assassinos que a acharam e a levaram para a mansão. Para o azar dela, eles faziam parte de um grupo de motoqueiros que vez ou outra aparece por lá. Para o azar da vadia, escolheram o mesmo dia que ela. Pelo que eles me informaram, ela estava negociando com outro filho da puta uma parceria em seus crimes já que ela pretende ficar mais escondida depois que mudasse de identidade. Eles pegaram os dois.Vou conversar com André sobre o cara com ela, pois temos poucas informações. Vamos ver se conseguimos colocar atrás das grades.Quanto a Jessica, a ordem era ter certeza que realmente era ela dessa vez. Se preciso faríamos até exame de DNA.Qu