AlexandreDecidi visitar Jessica antes que ela visse meu irmão. Fui no dia seguinte ao jantar.Não foi preciso nem questionar sua identidade, ela começou a esconder, mas tinha tantos furos que desistiu e começou a ameaçar.― Já sabemos que é a defunta certa, então cale a boca e vai aguardando a decisão do meu irmão.― Esperando a decisão de outro? Achei que você fosse o Grande Pai. Merda de título cafona. Tantos nomes e escolheram esse? ― o deboche não combinava com essa mulher. Quem a olhasse nunca diria que por trás desse rosto angelical existe alguém capaz de surpreender o próprio diabo.― Não me importa o que acha de nada relacionado a minha família. E sim, é um caso especial que Antônio vai julgar com a ajuda de sua irmã. Pelo jeito família não tem o mesmo significa para você.― Duvido que ele machuque esse rostinho de boneca.― Isso é com ele. Acho que ele não confunde mais as irmãs.― Aposto que está comendo a vadia dia e noite. Aquela sonsa não deve ter esperado nem meia hora
AntônioVoltei para casa perdido. Na minha mente repetia as imagens de Cora sendo estuprada. Assisti aquela porcaria até o fim. Pelo que ouvi e vi, aquilo foi sua primeira vez. Minha pequena Cora tão quebrada, tentando se agarrar ao presente, esquecendo do passado.Desse ser esse o motivo dos pesadelos que mencionou, não uma simples menstruação. Preciso descobrir se ela esqueceu mesmo ou se simplesmente se recusa a aceitar.― O que foi? Está com cara de quem fez merda. ― Quando entrei, ela estava sentada no tapete com Caos. Seu olhar para mim era desconfiado.― Achamos sua irmã ― revelei.Ela se levantou e veio em minha direção.― Vocês mataram ela?― Não. Entregamos a André. Ela será julgada. Em breve verá notícias de sua prisão. ― Segurei seus braços de forma que ela ficasse na minha frente, me encarando. Eu sempre achava que doeria seu pescoço olhar para cima para falar comigo.― Obrigada!― Sente aqui. ― Fui para o sofá e mostrei meu colo. E ela se sentou. ― O que você se lembra d
CoraSinto que Antônio está estranho comigo, como se estivesse pisando em ovos desde que Jessica foi presa. Eu vi notícias por toda parte. Minha irmã, ao se ver encurralada resolveu entregar um monte de gente. O que era para ser um escândalo se tornou um bomba. Várias pessoas famosas sendo investigadas, pessoas sendo presas. E eu só podia sentir alívio por essas pessoas finalmente estarem pagando. Sei que não são os únicos no mundo a agirem como monstros, mas já ajuda. Muitos inocentes agradecem.Hoje, alguns dias depois da prisão de Jessica, Willow me convidou para ver um filme com ela em sua casa. Segundo ela, quer se acostumar com meu rosto. Soube que ela quase foi vítima da minha irmã quando estava grávida. Horrível sequer de se pensar.Vejo a forma como Willow me olha. Toda vez que a vejo tenho vontade de me desculpar pela minha cara.― Veremos algum filme específico? ― perguntei depois de nos sentarmos com taças de vinho que ela serviu.― Se quiser, por mim pode ser o que estive
CoraForam os piores e mais longos minutos da minha vida. Aqueles dois me violaram de todas as formas. Chegou a certo momento que eu nem lutava mais, só rezava para acabar logo. Se não fosse pedir demais, rezava para que fosse apenas um pesadelo.Meu corpo e minha mente entrou em colapso e desmaiei.Acordei com Jessica dizendo que me deixaria na sala e fingiria que nada aconteceu.Eles haviam colocado a roupa em meu corpo e devem ter me limpado. Malditos! Só podem estar loucos se acham que vão me fazer acreditar que não fui estuprada quando meu corpo está dolorido e não consigo apagar as imagens terríveis.Enquanto eles estavam falando, aproveitei e corri de volta para a escola. Tentei me esconder no banheiro ao ver que não surgia uma alma para me salvar.Cadê os seguranças desse lugar? E os professores que ficam após a aula? Não é possível que justo hoje resolveram sumir.Entrei no banheiro correndo. Porém alguém havia derramado algo. Escorreguei e fui com tudo no chão.― O que acont
CoraMe sinto tão suja, impotente, tão irada.Vejo nos olhos de Antônio que ele está preocupado, mas não consigo fazer nada para resolver isso. Faz uma semana desde que recordei aquele maldito episódio e não consigo me reencontrar. Meu demônio loiro passa mais tempo em casa que fora. Acho que ele tem medo que eu cometa alguma loucura. Caos também não sai de perto de mim. Ele sente o quanto estou triste.Nesses dias Antônio dormiu comigo, mas não tentou nada. Tenho certeza que ele teme me trazer lembranças. Ele passou por isso mais que eu e ainda mais jovem e agora está aqui me confortando. Quando finalmente entendi isso, tomei uma decisão.Era manhã, e ele estava na cozinha com seu físico invejável desnudo, só um moletom o cobria da cintura para baixo.― Bom dia! ― o cumprimentei.― Bom dia! Parece mais disposta hoje ― comentou reparando que troquei o pijama por um vestido preto na altura dos joelhos.― Eu vou a um lugar.― Onde?― Vou onde ela está presa. Preciso colocar um ponto fi
CoraMeses depois.Quando eu poderia imaginar que me casaria com o homem que me torturou?Nós dois passamos por coisas que nos marcaram, fisicamente e em nossas almas. Somos pedaços que se unem de dois corações e se torna um só, pedaços de duas almas se tornando uma inteira. Nos completamos ao ponto de transbordar.Graças aos céus, meus pais estão felizes ― na medida do possível ― com a nova vida. Renovamos o contrato de aluguel do meu apartamento e eles se instalaram, com minhas coisas mesmo. Faz tanto tempo que vivem viajando e estavam morando com Jessica quando paravam um pouco, então não tinham nada. Como decidi ficar em São Paulo. Eles estão trabalhando no meu antigo consultório, como assistente da minha antiga assistente.Bruna já estava caminhando para nos tronarmos sócias, agora tem a clínica só para si. Já meus pais, além de trabalhar com ela, estão fazendo voluntariado em orfanatos de Belo Horizonte, tentando assim recuperar a confiança de amigos e parentes que abandonaram d
AntônioUma das noivas caiu no chão. Causando distração o suficiente para que os dois fossem pegos por Raul e seu namorado, que avançaram no tempo certo.Foram desarmados e retirados do local.Pelo menos um precisava estar vivo, já que isso era um claro sinal de guerra. Os Pereira foram longe demais há tempos. Essa foi só a gota d’água que fizeram questão de despejar.Cora ainda olhava para mim. As lágrimas não desmanchavam sua maquiagem. A mágica da indústria da beleza.Os amigos dela deviam estar apavorados com a situação. Por um pequeno instante olhei para os lados e vi que o lugar ainda estava cheio de convidados, todos sentados.Isso é ser um Rodrigues até um fim. Todos ali estavam dispostos a morrer por nossas família, exceto os amigos e parentes de Cora, claro. Os meus protegiam a família e sabiam avaliar um perigo. Eu não precisava analisar o cenário para perceber que as crianças foram protegidas nesses poucos instantes e os adultos estavam prontos para a batalha.Tudo isso eu
Antônio― Querem saber o sexo? ― a médica perguntou, passando o aparelho na barriga de Cora.― Queremos ― respondi.Eu estava presente em todas as consultas de Cora. Queria saber de cada detalhe da sua gravidez, até os mais perturbadores. Meu pai, parto é uma coisa assustadora demais em alguns momentos!― Preferem menino ou menina?― O que vier ― Cora respondeu olhando a imagem na tela. E eu olhava para ela. Estava cada dia mais apaixonado por essa mulher. Nosso passado turbulento estava finalmente enterrado, junto com Jessica.A médica sorriu.― E que tal um menino e uma menina?― Gêmeos? ― não faço ideia da expressão na minha cara, mas a médica achou engraçado.― Sim, papai. Prepara o coração para os dois anjinhos que estão chegando.Apertei a mão de Cora.― Obrigada por isso meu amor. Te agradeço por quase me matar de felicidade todos os dias. ― Dane-se a minha reputação, eu estava chorando e não segurei.― Faço com prazer ― ela brincou, rindo também.Depois que saímos do hospital,