Victoria
A chuva cai forte no teto do meu carro velho fazendo barulho como se tivesse perfurando o ferro. Está quase escurecendo e eu começo a me arrepender de ter passado no supermercado logo hoje para fazer a compra da semana porque simplesmente não consigo ver quase nada da estrada a minha frente.
O vidro todo embaçado me faz ficar com medo de não conseguir ver direito e acabar sofrendo um acidente ou atropelando alguém.
— Se eu tivesse ido direito para casa desde o momento que sai do trabalho, não estaria nessa situação agora. — me culpo, falando sozinha — Mas como eu iria saber que a chuva seria tão forte assim? — emendo defendendo a mim mesma, enfim, a bipolaridade.
Mantenho a calma e dirijo bem devagar, demorando quase o dobro do tempo que normalmente eu levo para chegar em casa. Assim que estaciono a caminhonete em frente a cabana, desço rápido pegando as compras no banco carona e correndo para debaixo da varanda, procuro a chave no bolso da calça e abro a porta, aperto o interruptor para acender a luz e para minha surpresa está sem energia.
Com certeza a chuva forte deve ter causado algum dano em um poste de energia nas proximidades.
Xingo chateada, mas não há o que fazer, sendo assim, começo a procurar as velas que sempre tenho guardadas, afinal não é a primeira vez que passo por perrengues morando nessa cabana velha. Acendo algumas pela cabana e volto para a varanda para pegar as sacolas. Apenas quando retorno, me lembro de que quando chove, pinga em quase todos os cômodos.
Lá vou eu procurar baldes para espalhar nas goteiras. Quando termino, tiro a roupa molhada, pronta para tomar um banho e vestir um pijama quente, no entanto quando abro o chuveiro, não cai um pingo de água. Corro para a pia da cozinha e nada, estou sem energia e sem água também.
— Que droga! O cano deve ter soltado lá embaixo perto do poço. — exclamo irritada.
Começo a procurar um guarda-chuva debaixo da cama onde tem algumas bagunças que não tenho lugar para colocar, parece que quando fizeram essa cabana, fizeram também uma cama com os pés de ferro grudados ao chão de cimento que não tem como arrastar nem ferrando. Quando o encontro pego uma lanterna e saio da cabana sentindo o vento frio no meu rosto.
Caminho em direção ao poço de água que abastece minha cabana e quando estou quase chegando ao meu destino, um gemido baixo me faz congelar no lugar.
Mordo o lábio enquanto me movo lentamente na direção do gemido que ouvi, apenas porque parece um cachorro machucado e eu jamais poderia ignorar isso. Eu só espero de coração que realmente seja um animalzinho ferido e que eu tenha condições de cuidar dele, espero também que já não seja tarde demais.
Meu coração acelera em desespero quando meus olhos capturam a imagem que não é de um animal e sim de uma pessoa, especificamente um homem, um homem muito grande, caído de bruços na grama úmida.
Movendo-me hesitantemente, me abaixo perto dele, ele tem cabelos longos castanhos e está vestindo apenas uma calça velha, nada mais. Seu cabelo cobre todo o rosto e eu não consigo ver seus traços.
Coloco a lanterna entre minhas coxas para deixar uma mão livre para tocar no homem, balanço seu ombro para tentar acordá-lo mas não se mexe, apenas geme de dor como um cachorrinho, meu coração aperta.
— Vamos pensar pelo lado positivo, se está fazendo sons, mesmo que de dor, não está morto. Graças a Deus.
Suavemente coloco um pouco do seu cabelo para longe do pescoço para tentar sentir a pulsação e sinto uma pulsação fraca.
— Deus, sua pele está queimando! — murmuro com a preocupação aumentando dentro de mim.
O que eu faço? Como vou arrastar esse homem daqui? Não posso simplesmente deixá-lo na chuva quase morto e ardendo em febre!
Coloco meu guarda-chuva sobre ele e me sento ao seu lado pouco me importando se estou molhando e sujando toda minha roupa.
Preciso pensar em alguma coisa.
Vários minutos se passam e eu chego a conclusão de que não há o que fazer a não ser tentar arrastá-lo. Me sentindo péssima em fazer isso, percorro minhas mãos pelo seu corpo enorme para verificar se há contusões severas que me impeça de arrastá-lo e que possa acabar machucado-o mais.
— Mas o que eu estou fazendo? Eu nunca vou saber se tem algo grave porque não sou uma maldita médica. — grito comigo mesma — Desculpa desconhecido, mas será pior se eu deixá-lo aqui na chuva. Terei que arrastá-lo da maneira que posso.
Rolo seu corpo de costas com um pouco de dificuldade, jogo o guarda-chuva e a lanterna para longe pois não irei conseguir fazer duas coisas ao mesmo tempo, depois volto para buscar. Agora com seu corpo virado, eu retiro todo seu cabelo do rosto para não arrastar no chão e faço um nó nele.
Arregalo meus olhos um pouco chocada, porque agora consigo ver todos os traços do seu rosto e ele é sem exageros o homem mais bonito e exótico que já vi na vida. E nem as severas marcas de espancamento em seu rosto consegue deixá-lo menos bonito.
Meus olhos se enchem de lágrimas ao ver tantos machucados.
— Como alguém pode ser tão ruim a ponto de fazer isso com outra pessoa? — sussurro sentindo meu coração partido com a imagem.
Há um pedaço de pano velho amarrado em seu tórax e nele também há muitas marcas de sangue. Seus traços faciais não são muito estranhos para mim, parece que já o vi em algum lugar, o observo enquanto faço toda força que consigo para movê-lo. Minhas costas doem, ele é extremamente pesado e eu não sei se vou conseguir.
Na medida que a água da chuva cai sobre seu rosto, vai levando as marcas de sangue, deixando suas características mais visíveis para mim. Choque percorre todo meu sistema nervoso quando me dou conta do que ele é.
Ele tem características fortes e marcantes. Lábios carnudos. Seu nariz é um pouco mais achatado do que o normal e ele tem maçãs do rosto proeminentes. Sua pele é de um bronzeado mais claro.
— É claro! — exclamo exasperada — Eu já ouvi muito falar de vocês antes de me mudar para a cabana. Você é um daqueles Nova Espécie de Homeland e Reserva!
Tiro forças de onde eu não tenho e começo a puxá-lo com tudo que sou. Ele não é um homem qualquer que poderia estar ferido porque feriu alguém ou fez algum mal. Ele é um Nova Espécie, ele nunca deveria ser machucado independente de qualquer coisa. Eu conheço a história deles e esse aqui parece ter fugido de algum cativeiro.
— Eu irei protegê-lo em tudo que eu puder! — juro determinada.
VictoriaA chuva parece cessar um pouco na medida que minha viagem de volta para a cabana se torna mais lenta e difícil. O homem Nova Espécie geme de dor algumas vezes mas não acorda por nada. A parte mais difícil vem agora, os três degraus para a varanda, temo machucá-lo mas pior do que estar, com certeza não fica.Paro para respirar e retomar um pouco de força, depois de alguns minutos, com um impulso forte eu o puxo degraus acima. A madeira molhada faz deslizar com mais facilidade, até mesmo eu já escorreguei algumas vezes e caí nelas quando choveu.— Consegui! — expresso feliz quando estamos na porta da cabana.Minha respiração está tão ofegante meu peito dói ao inspirar e expirar o ar, me recomponho e abro a porta, vou até o quarto e coloco o colchão no chão, nunca iria conseguir lev
1001Tento abrir meus olhos mas não consigo fazê-lo, espero sentir meu corpo dilacerado doer, mas não sinto tanto quanto me lembro antes de apagar. Um pensamento insano me apavora um pouco, eu estou morto? Não consigo abrir os olhos e nem mexer muito do meu corpo, porém não sinto mais tanta dor. É estranho.Puxo o ar para meus pulmões na tentativa de sentir o cheiro de alguém ou de algo e o que sinto me deixa ainda mais confuso.Sinto o cheiro de uma fêmea humana, é doce e leve, inclusive sinto esse cheiro por todo meu corpo, exclusivamente acima da minha cabeça, como se meus cabelos estivessem com esse aroma impregnado.Franzo
VictoriaBem, a idéia de soltar o Nova Espécie não está se quer em cogitação na minha cabeça, pelo menos não até ele entender que não lhe farei mal. Entendo que está traumatizado e fragilizado, entretanto preciso me preocupar com minha segurança. Ele me ameaçou e não parece amigável. Se ele já parece enorme deitado, de pé e vindo com raiva para mim deve parecer aterrorizante.— Existem dois lugares, Homeland e Reserva, é onde vivem todos os Novas Espécies que foram libertados há muitos anos. O mundo agora está em dívida com o seu povo, por isso eles tem seu espaço soberano, ou seja, as leis fora dos portões não se aplicam a eles, l&a
Victoria— Agora você vai se alimentar. — informo após guardar todo material que usei em seus ferimentos.Caminho até a mesinha na qual deixei em cima a tigela com a sopa e o prato com as torradas.— Como vou me alimentar assim? Solte-me para que eu possa comer. — pede mais uma vez.O ignoro, não querendo começar a mesma discussão novamente. Sento-me na beirada da cama e ergo uma colher com a sopa em direção ao seus lábios, ele balança o rosto em direção a colher batendo nela fazendo derramar tudo em sua barriga.— Poxa, olha o que você fez!
Victoria— Te falei quase tudo sobre mim. Você quer me dizer seu nome verdadeiro agora? Ou eu posso continuar te chamando de Gross?— pergunto.— Eu me chamo 1001. — responde sem hesitar e eu o encaro surpresa.— Sério? — exclamo e ele franze o cenho.— O que está errado com o meu nome?— Seu nome não pode ser esse, isso aparentemente é um nome de cobaia. Agora você é livre e deve escolher um nome de verdade, algo que goste, se indentifique. É assim que os outros Novas Espécies escolhem seus nomes.
Victoria— Oi, Victoria. Como você está? — o homem com alguns anos de diferença de mim, se aproxima com pouca cautela.Instintivamente me afasto. Ele tem essa mania de querer tocar enquanto fala e eu odeio que me toquem.— Oi. Estou bem. — respondo limitando as palavras.A maioria dos homens pensam que se você é simpática, está dando em cima ou abertura para eles se achegarem mais e Maik é um exemplo típico do tipo.— Você quer almoçar comigo hoje? Semana passada não deu porque você estava doente. — ele pergunta e eu me lembro de t
VictoriaSou pega pela cintura e levantada do chão sem nenhuma dificuldade aparente. Gross caminha comigo até chegar no quarto e para quando chega perto da cama, que ele já arrumou e colocou o colchão de volta,e então me solta sobre ela. Ainda estou atordoada e confusa para lutar mas quando ele se afasta, eu faço menção de levantar para correr.— Nem pense nisso, será perda de tempo. Eu irei alcançá-la em qualquer lugar que vá. — adverte percebendo minha intenção. Congelo no lugar.Olho para o Nova Espécie que parece ainda mais enorme e aterrorizante, ele é como eu suspeitava que seria de pé e ele está... totalme
Victoria— Eu gostaria muito que me permitisse mostrar a você que o prazer existe. Não só através de um toque como este, mas ir além. — fala de repente.Suas palavras me fazem abrir os olhos e sinto imediatamente a falta da carícia quando ele para de tocar meus cabelos e meu braço. De uma coisa eu tenho certeza, o toque dele não me machucou ou me trouxe asco como acontecia com Robert.— Isso é estranho, acabamos de nos conhecer. Não, acho melhor não. — balanço a cabeça sentindo incerteza nas minhas próprias palavras quando na verdade queria que ele continuasse a me tocar.Ele abre um