Após entrar no quarto e olhar tudo, Heili decidiu tomar um banho. Separou outra muda de roupa na mochila e foi para o banheiro. Sempre preferiu pensar nas decisões a tomar, com a água caindo sobre sua cabeça.
Resolveu partir assim que escurecesse e sairia pela janela. O acesso às árvores era próximo e poderia pular. Seguiria para outro lugar, contrário a sua Alcatéia antiga, mas na cidade próxima, seu apartamento continuava lá, esperando-a.Saiu do quarto, voltando à sala, onde o beta a esperava.— Venha, você deve estar com fome e Elise fez um bom café da manhã para nós.Encaminhou-a até a sala de jantar e a mesa estava posta com louça e talheres, mas a comida estava em um buffet lindo. Tinha variedade de frutas, frios, pães, bolos e alimentos quentes como ovos, salsichas, linguiças e churrasquinho na chapa.— Nossa, quanta comida! — ela exclamou admirada.— Sirva-se à vontade — disse o beta.Ela não se fez de rogada, pegou um prato e serviu algumas frutas que cobriu com mel e semente de linhaça.Sentou-se e comeu. Depois serviu-se dos alimentos quentes e pegou um pãozinho integral para acompanhar e voltou à mesa.Elisa veio e serviu-lhe café conforme o seu gosto. Estava tudo uma delícia até ouvirem passos se aproximando.— O alfa chegou, Cassandra, agora você irá conhecê-lo.Quando ele adentrou a sala, eles ficaram de pé. Ela olhou para ele e procurou disfarçar o espanto. O alfa era o seu concorrente derrotado e pessoalmente era muito maior do que aparecia nas fotos. Másculo e lindo. Sua dominância prevalecia e deixava a loba alfa inquieta.Ele por sua vez, olhou para ela com um sorriso, não a reconhecendo, pois a foto que está na carteira de motorista dela, é muito diferente de sua imagem de agora.— Bom dia! Soube que encontraram uma intrusa, só não me disseram que era tão linda — puxou o ar, mas não conseguiu sentir o cheiro dela.— Obrigada — ela achou melhor falar pouco.— Sente-se, continue seu café, vou me servir e já lhe acompanho — pegou um prato e se serviu, sem prestar atenção ao que pegava.Ele fez o que disse, mas seu lobo estava agitado dentro dele, algo naquela mulher o inquietava. Seus sentidos estavam despertos e voltados para ela. Quem seria e o que fazia ali? Voltou com seu prato para a mesa e sentou-se à cabeceira, sendo logo servido de café pela Elisa.— Que bom que chegou alfa, fez boa viagem? — Perguntou Elisa se insinuando.— Ótima, Elisa, obrigada, pode se retirar. — dispensou a garota inoportuna.Ela fechou a cara, colocou o bule sobre a mesa e saiu aborrecida. Aos olhos de Heili, a mulher sentiu-se no direito de ser íntima. Isso significava que ela já esteve na cama do patrão.— Então, Cassandra, não é? — Perguntou o alfa.— Sim.— Segundo me informaram, você está indo para a Alcatéia Luz Lunar, tem hora marcada para resolver alguma coisa? — Queria que ela ficasse mais tempo.— Não tenho hora marcada, mas quero conhecê-la, dizem que é muito boa. — Ela foi precisa no falar sem dizer nada.— Pretende fazer parte de lá? És uma andarilha sem Alcatéia? — A curiosidade dele estava aguçada.Depois de dar uma gargalhada, ela olhou nos olhos dele e respondeu:— Quais são suas intenções com todas essas perguntas? — Sorriu para ele querendo dizer que estava entendendo onde ele queria chegar com aquela conversa.— Curiosidade! Muita curiosidade confesso. Zelão, você fez muito bem em convidá-la para ficar, obrigada. — Foi um sinal de: retire-se, deixe-nos a sós.— Os homens estão esperando no salão, alfa, com licença. O beta sentiu que estava incomodando e obedeceu, levantou-se, acenou com a cabeça em despedida e saiu.— Seus liderados te conhecem bem. — Falou Heili.— Sim. Mas vamos retornar a nossa conversa. Você não me respondeu, és uma andarilha sem Alcateia? — Insistiu ele.— E você não me respondeu o que pretende com tantas perguntas? — rebateu ela.— Mas eu perguntei primeiro, linda dama, mas como sou um cavalheiro, lhe responderei. — Ele falou franzindo a testa e espremendo os olhos.— Hummm, obrigada cavalheiro.— Estou muito intrigado com você. Não sinto seu cheiro, não sei de que Alcatéia é e meus homens continuam brigando para cortejá-la. Então, pode me responder agora? — ele mudou o tom da conversa, ficando sério.— Eu já tenho uma Alcatéia, mas gosto de conhecer outras para fazer alianças. — Ela respondeu sem dizer nada. — E porque não sinto seu cheiro? — ele estava cada vez mais atraído pela fêmea.— Deve ser pelo mesmo motivo que não sinto o seu. — Respondeu ela com ar divertido.Foi a vez dele rir. Olhou para ela demonstrando o quanto estava interessado e admirando ela.— Você tem toda razão — tirou um colar do pescoço e colocou sobre a mesa.Ela encarou aqueles olhos cor de mel, procurou pelo máximo de controle possível, pois sua loba uivava dentro dela, gritando , meu, meu, meu. Mas ela não queria um companheiro, principalmente ele.— Não vai tirar o seu? — Pediu ele, decepcionado por ela não ter reagido ao seu cheiro.— Não uso objetos enfeitiçados — respondeu.— Como assim, o que você usa? Não sentiu nada com meu cheiro. — Ele começou a se exaltar.— Senti sim, um delicioso perfume de eucalipto com peroba do campo, adoro, mas não sou sua companheira, sinto muito, ou melhor, não sinto nada.Ele ficou furioso, ela sentiu seu cheiro, seu lobo estava louco para marcá-la e ela diz que não? Esperou tanto por sua companheira, que não seria rejeitado dessa maneira. Iria conquistá-la.— Senhor Ramón Toltes, o senhor já possui muitas companheiras, elas estão espalhadas pelo vento, nas folhas e capas de revistas. — Seu deboche era evidente, e ainda acenou com a mão representando o vento.— Então me conheces e por isso me rejeitas com tal facilidade? — Questionou ele controlando sua raiva.— Não, não te rejeitaria por causa do que fizeste no passado, mas não sou sua companheira — desta vez, falou sem entonação de zombaria, tentando atrair sua credibilidade.Ele levantou-se com muito impulso e força do corpo e derrubou a cadeira em que estava sentado à cabeceira da mesa.Seu tamanho enorme era bem visível, usava calça de moletom e camiseta, que marcavam seu corpo. Seus cabelos castanhos claros, com mechas loiras, estavam soltos cobrindo os ombros.Estava visivelmente excitado e a fúria expressa em seus rosto, também mudaram a cor de seus olhos, do caramelo para um vermelho intenso. Foi até ela, puxou a cadeira para trás e colocou-a de pé junto ao seu corpo, segurando-a pela cintura.Seus olhos se encontraram, os dela cinzentos, os dele vermelhos, com seu lobo à flor da pele. Ficaram se encarando, medindo forças, até que ele, segurando sua nuca, a suspendeu pela cintura, com o braço a sua volta e esmagou seus lábios com sua boca dura.Inclinou sua cabeça para encaixar melhor seus lábios e a forçou com a língua até que ela abrisse a boca e deixasse ele entrar. Foi um beijo profundo, que ela experimentou com surpresa, pois nunca havia sido beijada, nunca deixou nenhum homem se aproximar a esse ponto.Ela saboreou o gosto de café que impregna sua boca e começou a amolecer em seus braços. Ele percebeu e abaixando seu braço até suas nádegas, suspendeu-a, para que suas pernas rodeassem sua cintura e continuou saboreando aquela boca carnuda, com suavidade agora.Quando ele se afastou e olhou para ela, viu a surpresa em seu olhar. Ela nunca havia sido beijada, nunca sentira a emoção de uma entrega mútua entre dois seres. Ele sorriu e colocou o rosto em seu pescoço, aspirando fundo, mas não sentiu o aroma de sua companheira.— Não consigo sentir seu cheiro natural, mas sinto o cheiro de sua excitação. Senti o sabor da pureza de seus lábios e quero continuar saboreando você todinha. — Ramón não conseguiu se conter diante de uma fêmea tão intrigante.Enquanto Heili fugia pela floresta, o alfa urrava de dor, atraindo a atenção de todos e seu beta foi ver o que tinha acontecido.Chegou correndo preocupado e perguntando:— O que aconteceu alfa? O senhor se machucou? — Olhava para a fera com olhos arregalados.O alfa estava em sua forma crinos, metade homem, metade lobo, o verdadeiro lobisomem, temido por todas as criaturas. Ele só fez urrar por um bom tempo, até que a dor diminuiu e ele começou a se acalmar e voltar a forma humana.Zelão que estava quietinho num canto, se aproximou para ajudar seu alfa.— Alfa, o que precisa? — Perguntou ainda mantendo a distância.— Aquela fêmea me enganou e eu estava todo na dela. Tenho quase certeza que ela é minha companheira.— Uau!!! Isso que é uma revelação! — Exclamou o beta.— Mas embora não tenha certeza pois não sinto seu cheiro, ela me rejeitou na maior simplicidade, como se o laço de companheiros não fosse nada para ela. Se ela for realmente minha destinada, aaaahhh ela vai aprender como
Ela abaixou para ele descer e foi pegar sua roupa, aproveitou o esconderijo e voltou a sua forma humana, vestindo-se e retirando a bicicleta da mata.— Nossa alfa, como a senhora é bonita! — Eles nunca a tinham visto na forma humana.— Pare com isso, precisamos chegar ao meu apartamento e ligar para o seu pai. — Falou séria, para o menino não esquecer do perigo que corriam.Montou a bicicleta e ele subiu atrás, pedalou rápido e num instante chegaram.— Venha, vamos subir! — Ela chamou depois de guardar a bicicleta.— A senhora mora aqui, alfa? — Perguntou o curioso.— Não. Deixe para perguntar só depois de entrarmos no apartamento — repreendeu-o e andaram calados até pararem frente a uma porta do corredor do prédio.— Pronto, entre — abriu a porta e empurrou ele, devagar, para dentro. — Sente um instante ali no sofá. — Ordenou, ela.Ele sentou-se e ela foi à geladeira, pegou uma garrafa d'água e um pacote de biscoito recheado. Voltou e deu a ele. Esperou ele beber e abrir o pacote e c
Em um movimento de corpo, ela virou de lado e mordeu sua perna com tal força que sentiu o osso estalar, depois, com tremenda força, empurrou o corpo para fora dele. Ele, furioso e com dor, tentou morder ela, mas ela já tinha entrado na casa.Ele uivou, alertando seus homens e mancando, entrou na casa. Voltando a forma humana, sentou no sofá e pediu que trouxessem uma tala. A fratura em seu braço era feia, mas o osso não saiu do lugar. Os homens já tinham subido atrás da loba.Heili voltou à forma humana mais uma vez e girou a chave, abrindo a porta do quarto indicado por Yan e entrou, trancando por dentro. Examinou o quarto e encontrou os meninos agarrados e encolhidos num canto.Foi até eles, que olharam para ela assustados, pois estavam dormindo quando ouviram o barulho da porta e viram ela entrar. Não sabiam quem era, pois só conheciam sua forma lupina. Tinham sete anos e eram gêmeos.Heili se aproximou devagarinho e se agachou falando:— Eu sou a alfa e vou levar vocês daqui — inf
Quando os homens voltaram uma hora depois, não trouxeram nenhuma novidade.— Verificaram os motoristas de táxi?— Sim senhor, nenhum deles dos pontos próximos pegou uma mulher com duas crianças.— Está bem, já deu tempo dela escapar, preparem os carros, depois do café da manhã, sairemos para a cidade. Zelão volta com seus homens para a Lua e Sol e fiquem alerta caso ela volte para lá e te darei instruções pelo caminho.— Ok, alfa!Assim, saíram no meio da manhã em direção a cidade e a empresa, teria que explicar aquela confusão para o Camargo e pedir desculpas. Aproveitaria a viagem para verificar se, uma mulher com três crianças, passou pelos mesmos locais que eles e deixar um cartão para os avisarem se o trio passar por ali depois deles.Ele não conseguia se conformar de tê-la presa por seu lobo e depois vê-la escapar e deixá-lo ferido novamente. Quem será essa loba tão arredia e forte? Perfeita para ser Luna de sua Alcateia.Porém, agora que estava voltando, tornou a se preocupar
Esperou um tempo e como ninguém respondeu, levantou-se e foi em direção à porta menor do quarto, que julgou ser o banheiro. Depois de esvaziar seu corpo e higienizar-se, secou-se e enrolou-se na toalha.Quem a prendeu ali, confiava que ela não conseguiria sair, mas não a privou de coisas primárias para seu bem estar. Pelo menos isso. Mas estava preocupada com as crianças, esperava que estivessem bem e chegassem logo a sua família. Não queria pensar naquelas crianças, presas como ela, por causa dela. Olhou a sua volta, vendo que não tinha nenhuma condição de escapar dali.Pelo menos tinha o necessário para sua higiene e para não morrer seca. Foi até a jarra na mesa e bebeu água, depois se dirigiu a porta e bateu com o punho fechado, para chamar a atenção de alguém do lado de fora.Depois de um tempo batendo e chamando, a voz conhecida respondeu:— Oi, Alfa Cassandra, desculpe, mas nossas ordens são para deixá-la trancada até o Alfa voltar.— Porque ele me trancou aqui, Zelão? Que lugar
O laço de companheiros é profundo e se instala a partir do reconhecimento das duas partes, caso um deles ou os dois não queiram, podem rejeitar o laço, que se quebrará causando grande dor a ambas as partes.Quando isso acontece, ambos ficam eternamente sentindo um vazio e uma tristeza no peito, por estarem sem sua outra metade. Mas quando há o reconhecimento, mas não se acasalam e reivindicam, sofrem a dor do afastamento. Essa dor é para lembrá-los de que o outro existe e está à sua espera. Também sentem uma tristeza profunda e necessidade de estar com sua outra metade.Por isso a dúvida de Heili/Cassandra.— Eu não posso falar por ele, mas eu sinto — Zelão confirmou — vez ou outra nos encontramos por causa das reuniões do alfa com os betas de todas as Alcateias, para revisão dos acontecimentos. Mas não acasalamos ainda.— Deve ser difícil pra você. O Ramón sabe? — Heili não concebia o fato de o Alfa não interferir para ajudar os dois.— A única que sabe é você. - A voz dele expressav
Bateram na porta e entraram mãe e filho com o café. Colocaram as bandejas sobre a mesa e saíram.Ernesto pegou a jarra de café e perguntou:— Café, alfa?— Sim, puro por favor — estava em choque e sentia que não conseguia juntar as peças, pois seu lobo despertou ansioso e querendo sair.Pensava que se Cassandra fosse mesmo sua Luna, tudo estaria resolvido, pois ele seria o Alfa de tudo. Quem diria, que no final de tudo, seu pai conseguiria tudo que almejara, só não estaria ali para ver.Alfa Ramón saiu do prédio desnorteado. Tomara o restante de seu café, pediu desculpas, agradeceu e ofereceu qualquer ajuda qie necessitassem. Saiu, subiu em sua motocicleta, colocou os óculos escuros e sem comunicar nada a ninguém, pegou a estrada.Sempre gostou de fazer isso quando a cabeça estava muito cheia e precisava pensar sem interrupções alheias. Sobre o assento da moto, pilotando em uma estrada sem muito movimento, rodando na velocidade permitida por lei, conseguia por as ideias em ordem. Entã
Os dois conseguiram se acalmar um pouco e se olharam. Uma coisa incrível acontecia entre eles, o aroma de um acalmava o outro e assim a emoção que ficava, era de cumplicidade. Se olharam, Ramón passou a mão em seu rosto, num carinho, colocando seu cabelo atrás da orelha e finalmente falou.— Perdão… perdoe-me por toda essa caçada desenfreada que provoquei, perdoe-me por trancá-la aqui e por não tratá-la com o devido respeito a uma fêmea de sua estirpe, corajosa, pura e inteligente. Quero que me aceite como seu companheiro destinado, aquele que vai cuidar de você, mas também te amar e respeitar, você me aceita? — Ele nem sabia de onde tinha tirado tudo aquilo, só sabia que era sincero e que queria que ela o aceitasse.Ela olhou para ele pensando: vou recebê-lo sim, mas você nem sabe o que o espera.— Sim, eu te aceito como meu companheiro destinado.Ele a abraçou pela cintura e girou com ela pelo quarto, comemorando. Quando parou, foi até a porta e a socou. Foi preciso fazer muito baru