O diário de Rose - Parte 1.
Já é de noite quando entro no meu quarto, vou até uma janela e fico olhando a lua redonda no céu. Penso que Rose amava olhá-la. Ela ficava horas admirando-a, encantada. Faço menção de ir para a mesinha e trabalhar no meu MacBook, mas dou de cara com a caixa de papelão que Ana me trouxe mais cedo. Curioso, eu vou até a caixa, a abro e olho dentro dela. Há uma infinidade de coisas dentro dela. Sapatinhos cor de rosa de tricô, alguns cadernos de receita. Sorrio, quandp penso que ela sonhava em fazer gastronomia. Quantos sonhos destruídos. Há algumas joias, dois álbuns de fotografias e um diário de capa preta, com uma orquídea artesanal colada nele. Isso é bem a sua cara. Penso. Pego os dois álbuns de fotografias e vou para a cama, me sento encostado nos travesseiros e abro o primeiro álbum. São fotos de minha filha em várias fases do seu crescimento. Olho cada imagem com muita emoção. Queria ter vivido tud
"19 de janeiro de 1991" Esse foi o dia que nos conhecemos. Penso e ansioso, deslizo as pontas dos dedos pela escrita de tinta azul, sobre a letra caprichosa, perfeitamente organizada. Curiosamente começo a ler sua escrita... Querido diário, hoje foi um dia especialmente diferente para mim. Eu fiz novos amigos. Confesso que não sou uma menina de fazer amizades por conta da minha timidez, mas aqui em Goiás, as pessoas são bem amistosas. Morgana foi a pessoa que eu mais me identifiquei aqui. Ela é mais velha do que eu e também é muito esperta, e através da sua esperteza, ela conquistou a confiança do meu pai. É meu segundo no dia aqui na fazenda Fassini, onde os meus pais começaram a trabalhar recentemente e Morgana resolveu me levar para tomar um banho de rio. Bem, banho no rio eu não garanto, mas resolvi acompanhá-la mesmo assim e quando chegamos ao lugar, que ela não parava de fala
O diário de Rose - Parte 2 Depois de deixar minha filha mais tranquila e de fazê-la entender os meus motivos, retomamos ao nosso momento família, entre amigos. A noite Ana e Luís resolvem sair um pouco para curtir a noitada carioca, as crianças ficaram com uma babá, e eu? Bom, estava ancioso demais para voltar para o meu quarto e voltar a ler o diário de Rose. Aquela data era mesmo intrigante. Me lembro bem da nossa última conversa e em minha mente tudo estava bem planejado. Eu iria apresentá-la como minha namorada, e se eles não aceitassem, nós fugiríamos e iríamos viver as nossas vidas a nossa maneira. O único problema seria seus pais, pois Rose ainda era menor de idade, e eu já havia feito meus 20 anos. Entro no quarto de hóspedes e pego o diário largado no criado mudo, me sento no colchão e retomo a leitura. 10 de março de 1991 Querido diário, Hoje tivemos mais um momento m
O carro passa pelo imenso portão de ferro. Por incrível que pareça, não há guarda nas guaritas e quando o imponente carro negro para em frente a casa, eu desço, ajeito o terno e olho ao meu redor. Meus olhos param na casa pequena ao longe e noto suas luzes acesas. Dois homens usando ternos escuros se aproximam e ficam de prontidão. Não há perguntas aqui, todos sabem exatamente o que fazer. Faço um sinal de cabeça, e um deles abre a porta, sem fazer o menor esforço. Adentro na mansão silenciosa e alcanço a sala, iluminada apenas por abajures e noto tudo quieto demais. Ainda é cedo e tenho um palpite que não falha. Determinado, caminho direto para o escritório da casa, abro a porta e finalmente o encontro. Enrico Fassini está em sua mesa. Uma mão, segura um copo de uísque e na outra, uma garrafa vazia. Sozinho... como eu sempre imaginei que terminaria a sua vida. Ele ergue sua cabeça e os olhos verdes, iguais aos meus me encaram com frieza. _ Sabia que volt
Irmão mais velho.A minha vida está virando um filme de ação. Como ele, de um pai de família, tornou-se um estuprador? De um mega e renomado empresário, virou traficante de crianças? Isso sempre existiu e eu nunca percebi? Cacete, o que está acontecendo? Como eu nunca percebi e nunca ouvi falar de um irmão mais velho,que porra é tudo isso? Penso, enquanto ando de um lado para o outro na delegacia federal. Lá dentro da sala estão Igor, Morgana e Maria Flor. É tudo muito confuso. Agora eu tenho um irmão mais velho, uma cunhada, uma sobrinha, filha e netos. As crianças que resgatamos foram levadas para um hospital, para exames de rotina e eu estou aqui, e faz horas que eles que estou esperando para saber o que vai acontecer de agora em diante. Loucura? Não, com certeza isso é insano demais. Mais alguns minutos de espera e Igor e sua família saem da sala do delegado. Ele beija rapidamente sua esposa e depois a filha, diz algo pra elas e depois ca
No jatinho, ajudo Ariel a se acomodar em uma poltrona, próxima à janela. Ela agora veste roupas mais femininas, o contrário daquele macacão de tecido da delegacia que usava horas antes. A garota ainda está muito desconfiada comigo e quase não me olha nos olhos. Durante toda a viagem eu não consigo tirar os meus olhos dela. Parece um bichinho assustado. Resolvo trabalhar no meu MacBook, e desviar a minha atenção da garota. Penso em minha filha, não sei o que Ana vai pensar, quando eu chegar com agarota em sua casa. Talvez ela não se importe, porém, se si sentir incomodada, terei que ir para um hotel. A viagem é silenciosa, apesar de ter quatro pessoas a bordo e Josué parece perdido em seus pensamentos. Mariana está dormindo e Ariel observa o lado de fora o tempo todo. Meia hora depois, Vivian surge com nossas refeições e eu noto que Ariel se recusa a comer qualquer coisa. Imediatamente, largo o MacBook de lado e me sento perto dela. _ Viv
20 de agosto de 1991.Querido diário,Hoje estou fazendo quatro meses de gestação. Estou radiante por dois bons motivos: primeiro, consegui arrumar meu primeiro emprego e não vou ter que depender da ajuda de amigos, e segundo: hoje fui a obstetra e descobri que estou esperando uma menina.A minha princesinha! Estou muito emocionada.Já faz alguns meses que saí da casa de meus pais e da fazenda Fassini e que o Ed se foi também.Me pergunto se ele já sabe do nosso bebê e como ele está. A noite passada a Ana se mexeu em meu ventre e eu chorei. Foram alguns segundos, mas foi a melhor coisa que me aconteceu nesses quatro meses.Fico imaginando se ela será parecida com o pai, ou comigo, ou com os dois. O emprego que eu arrumei é em uma lanchonete pequena e tem pessoas muito boas lá. Pess
Quando já estou descendo as escadas, encontro Delia com uma bandeja farta nas mãos._ É para Ariel? _ pergunto.A mulher assente com um meio sorriso. _ Deixe que eu mesmo levo _ peço já pegando a bandeja.Ela protesta._ Desculpe, senhor, mas a dona Ana me pediu..._ Diga para dona Ana, que eu mesmo farei isso todos os dias._ A corto ajeitando a bandeja e subo as escadas, voltando para o corredor e indo em direção a última porta. Como havia previsto, a porta está trancada outra vez. Bato levemente na madeira e me anuncio._ Ariel, sou eu, Edgar. _ Nada acontece. Suspiro quase impaciente. _ Trouxe comida pra você _ insisto._ Pai, o que pensa que está fazendo?! _ Ana esbravejar, vindo atrás de mim._ Levando comida para... _ Ela toma a bandeja de minhas mãos e a entrega para Delia._ Pai, pense um pouco comigo, Ariel sofreu algum trauma horríve
A FulgaO som insistente do meu celular me desperta. Atendo o telefone, sem sequer olhar a tela._ Alô?_Ed? _ A voz feminina ecoa do outro lado da linha. Sento-me rapidamente na cama e puxo a respiração. Droga, havia me esquecido dela!_ Andréa?_ Preciso te ver. _ Ela diz baixinho, parece receosa._ Onde você está?_ Aqui no aeroporto do Rio. _ Puta merda!_ O que disse?_ Ed, eu não conheço nada aqui, não sei pra onde ir. Você pode vir me buscar? _ Saio da cama exasperado e corro direto para o closet, pego a primeira roupa que vejo na minha frente e visto em seguida._ Posso saber o que veio fazer aqui, Andréa? _ pergunto rígido.Ela faz silêncio por alguns segundos._ Você sumiu, não me ligou mais, não me procurou. Ent&atild