Valentina entra no quarto de Carmem visivelmente abalada.
– Você o expulsou daqui Valentina?
– Ele é meu marido agora vó, se eu fizer isso ele pode se queixar de mim com os mais velhos. – Ela estava de mãos atadas, pois a cultura cigana sempre privilegiava aos homens.
– Deus...havia me esquecido desse detalhe. O que você vai fazer agora?
– Tentar sobreviver a isso, ignorar o fato de ter que ver a cara dele e da família que destruiu minha vida! – A jovem trocava de roupa enquanto conversava com Carmem.
– Destruíram minha vida também Valentina. Minha filha, teve a vida ceifada diante de meus olhos e agora o filho dele está dormindo sob meu teto!
– Me perdoe, eu me sinto tão culpada e envergonhada por tudo isso!
– Você também é uma vítima, não se sinta assim. – Diz Carmem tocando o rosto da neta tentando lhe passar algum conforto.
– E se formos embora agora mesmo daqui?
Valentina
Talvez indo embora daqui as dores pudessem ficar para trás também, mas eu sei que a sombra de todas as culpas e dores nos seguiriam para onde quer que formos.
– Não pode abandonar seu povo a própria sorte, não se esqueça de que você é nossa líder filha.
– Eu era, agora é Benício!
– O que vou dizer agora pode parecer loucura, mas se quer vencer o domínio deste homem precisa acatar meu conselho.
– Fale então e eu farei, eu preciso saber como. – Diz ela tocando a mão de Carmem.
– Tente ser cordial com ele e um pouco mais tolerante Valentina.
– Cordial com o homem que me enganou e ainda por cima, é filho de um assassino? – Ela levantou a voz.
– Calma menina, eu disse que não seria fácil. Mas se ficar batendo de frente com ele, sempre vai sair perdendo por ser mulher!
– Como cordial? Posso até deixar de ofender ele e sua família, mas não farei mais do que isso por que não merecem e eu não conseguiria. Aquele olahr dele de altivez e deboche me mata todos os dias!
– Sim, isso já é um começo filha. Procure ficar longe de discussões com ele e te confesso que o que mais temo não é seu ódio por ele e sim o amor!
– Eu não o amo, amava aquele homem que me cortejava na cidade e dizia gostar de mim, mas ele não existe. Era apenas uma invenção dele para entrar na minha mente e conseguir voltar para cá passando por cima da decisão os baniu a anos.
– Isso é sua cabeça quem diz, mas seu coração não. – Carmem sabia o quanto seria difícil para Valentina ficar longe dele, mesmo que a razão gritasse que não, o coração dela pedia por ele.
– Não importa o que um dia eu senti, deixei de querer Benício assim que eu soube a verdade.
– Eu sei que ele vai querer você minha linda, mesmo tendo outra mulher a tentação é forte. Os homens são assim, mesmo que tenham alguém de quem possam até gostar...vocês estão casados perante as nossas leis e ele tem direito.
– Mas eu nunca vou permitir que ele me toque, com ou sem direito.
– Benício vai te querer justamente por causa desse ódio que você sente por ele e também por que é jovem e bela...vai se aproveitar do amor que despertou em ti com mentiras. – Diz Carmem.
– Quando estávamos no quarto, ele quis tocar em mim. Mas a senhora está certa deixarei de bater de frente com ele e talvez assim ele me deixe em pare de me atormentar tanto. Não posso mudar o passado, mas não permitirei que ele controle o meu futuro.
Valentina
Eu bloqueei para sempre as minhas ilusões de um dia me casar, ser amada e ter filhos. Agora que eu disse sim para ele, me condenei a nunca ter uma família ou ser feliz, o divórcio não existe para nós e eu nunca mais poderei constituir uma família e nem mesmo se um dia ele deixar de existir.
– Ele foi muito mais depressa do que eu pensei, mas Benício também pode cair na própria armadilha!
– Por favor vamos tentar esquecer isso pelo menos até amanhã vó. Vamos descansar por que essa guerra está apenas começando.
As duas se deitam, Valentina mal pregou os olhos naquela noite...Carmem temia que Benício e a neta repetissem a mesma tragédia de anos atrás. Que aquele desejo que ele sentia por ela se tornasse uma obsessão sangrenta e mortal onde o ciúme e o sentimento de posse levou para sempre uma vida inocente.
Amanhece e Benício sai bem cedo antes que o vissem, Valentina se levanta e vai até o quarto verificar aquele hóspede indesejado e felizmente se dá conta de que ele tinha ido. Ela vai até a cozinha e prepara um café.
– Bom dia, e Benício?
– Aquele maldi....aquele homem já foi embora! – Diz Valentina tentando controlar seus instintos.
– Esta noite teremos roda de dança como de costume, as você pode adiar isso, suponho que não queria receber a família dele com festa. – Avisa Carmem.
– Pelo contrário, não iremos mudar a tradição por causa deles. Hoje eu vou dançar mais linda e mais feliz do que nunca, não vou dar a eles o gosto de me ver fracassada ou triste.
– Isso mesmo, te quero sempre forte. Você é nossa princesa, tem sempre que mostrar-se uma verdadeira fortaleza.
Benício voltou no meio da manhã em uma caminhonete e com os materiais para erguer sua tenta, felizmente escolheu um local afastado de Valentina. No fim do dia estava tudo pronto e ele trás sua mãe Domênica, Karen sua irmã e Adriana que depois do casamento com Valentina havia se tornado amante dele.
Elas chegaram sob o olhar de todos a essa altura a fofoca havia se espalhado. Que graças ao casamento com Valentina a família exilada estava de volta ao grupo.
Benício
Mesmo que nos apontem e nos odeiem, eu sou o líder graças ao poder que ela me deu. Não permitirei que nos ofendam e nunca mais seremos amaldiçoados.
Era noite e a roda de dança estava pronta, todos ao redor até que Benício e sua família juntam-se a eles mesmo sob os olhares condenatórios de todos. Salazar o olhava com sede de acabar com aquela pose de líder dele, mas não faria uma loucura apenas por que Valentina lhe pediu calma, Karen se encanta pela beleza de Salazar assim que o viu, era apenas uma criança de 2 anos quando foram embora.
Carmem se junta a todos. Benício logo se dá conta, parecia estar procurando Valentina com o olhar. Alguns minutos depois, Valentina surge mais linda do que nunca, roubando os olhares de todos para ela. Entrou na roda dançando e sorrindo fazendo Benício, Salazar e muitos outros a desejarem com força.
Benício
A beleza dela me faz perder o foco, me sinto sufocado pelo desejo que tenho de possuí-la, fazendo valer o direito que me dá estar casado com ela segundo as leis Caló. Salazar é um pobre desgraçado, minha vontade é de arrancar os olhos dele de cima da minha mulher.
Ela dançou e depois se sentou ao lado de sua avó, para realizarem a oração em torno da fogueira. Após as preces, Valentina foi até sua tenda tomar um copo d'água e Benício a seguiu.
– Valentina?
– O que você faz aqui? – Ela se assusta com a presença dele.
– Calma princesa, não precisa se armar assim contra mim. Só vim para te dizer duas coisas: a primeira é que quero que me apresente a todos como seu marido essa noite!
– A essa altura todos já sabem, não vejo necessidade de me gabar por um casamento de mentira. – Responde ela alterada.
– Não importa, se não fizer isso eu mesmo farei, acho que tiraria a sua autoridade de magestade.
– E o que mais vossa auteza ordena? – Pergunta ela com ironia.
– Vim dizer também que não abro mão do que é meu por direito!!!
– Se fala do seu direito as decisões do clã eu sei e não vou me opor, eu infelizmente não posso fazer nada contra isso.
– Não me refiro só a isso, falo de nós dois. – Diz ele dando uma bela olhada no corpo dela.
– Não existe "nós dois". Eu assumo todas as consequências da minha ingenuidade por ter caído em suas garras, mas aceitar ser sua mulher de fato, isso nunca! – Diz ela passando por ele para sair.
Benício a puxa pela cintura e cola seu corpo ao dela.
– Eu sei que me ama. Se não, por teria se casado comigo, ainda mais assim tão depressa? Você me quer Valentina e não vai me resistir por muito tempo.
– Isso é o que nós veremos! – Ela diz e lhe dá uma joelhada nas partes íntimas. Deixando ele urrando de dor e raiva.
Benício
Ela pode fingir e se fazer de forte o quanto quiser, mas me jurava amor dias atrás e nada disso pode ter mudado do dia para a noite.
Valentina
Benício nunca vai entender que o que eu sentia morreu, assim que eu soube que ele me usou. Não vou ser objeto de prazer de um homem que tem o sangue do assassino da minha mãe.
Ela se junta aos outros, Adriana percebe que Benício tinha sido atrás dela e se enfurece de ciúmes. Benício volta com cara de poucos amigos, era notável o quanto um mexia com o outro e aqueles sentimentos estavam se misturando e formando algo ainda mais forte. Salazar trata de ficar mais próximo de Valentina e sempre encarando o rival.
– Antes de encerrarmos a roda desta noite há uma coisa que acredito que todos saibam, mas meu marido faz questão. – Valentina chama Benício até ela, ele vai todo envaidecido de agora ser apresentado a todos como líder.
Valentina
Se ele queria aumentar ainda mais o ódio de todos por ele e sua família, aqui está a resposta que ele espera!
– Todos sabem que me casei ontem. Benício filho de Kayon, ele me enganou e me fez casar com ele ocultando de fato quem era. Esse é meu marido, agora líder do nosso clã um mentiroso e filho de um assassino!
BenícioEu tremi de vergonha e ódio das palavras de Valentina, mas a puxei para junto de mim. Ela suspirava de raiva, eu pude sentir toda a energia que emanava do seu corpo para o meu. Ainda assim vale a pena tocá-la ainda que seja despertando o seu ódio, nos separamos de corpo e ela limpava a boca enquanto as lágrimas rolavam de seu olhar, tão lindo e penetrante.– Minha esposa está certa. Seja por uma mentira ou por justiça, estamos casados!Salazar quis dar uma lição nele, mas Carmem o impediu antes que uma briga terrível pudesse começar entre eles. Valentina corre para casa seguida por Carmem.Adriana e a família de Benício logo o puxam para casa antes que aquela noite terminasse em mais confusão.– O que pensa que está fazendo Benício? Prometeu essa vingança ao seu pai e conseguiu o que queria, mas fazia parte do seu plano se envolver com essa maldita, para isso me trouxe para cá? – Grita Adriana cheia de ciúmes.– Essa vingança é minha, não tem o direito de cobrar eu sempre dis
Benício estava preso a imagem de Valentina naquela dança, seu corpo e o tudo o que ele despertava em seus instintos.Tinha acabado de transar com Adriana pensando nela, jamais havia feito isso e temia estar entrando em um redemoinho de sentimentos. Passou a noite pensando em sua, agora esposa.Amanhece, Valentina estava pronta para ir até a cidade pois precisava fazer umas compras. Pediu ao seu Genésio que a levasse em seu velho carro para ajudar a trazer as coisas.BenícioEla vai até a cidade, talvez seja melhor sair um pouco desse lugar onde todos me olham como se eu fosse uma fera.Saiu bem cedo com sua caminhonete para também ir até a cidade, estava trabalhando como armador em uma construção por lá. Assim que estacionou viu Valentina sair daquele carro com aquele senhor, apesar de tudo ela mantinha aquele sorriso encantador e isso o deixava intrigado.– Se eu soubesse que queria vir até a cidade eu teria te dado uma carona. – Diz ele.– Você poderia até oferecer, mas eu jamais a
ValentinaEu sempre evitei chorar na frente dele, me mostrar fraca, pois é isso que ele espera que aconteça. Mas dessa vez eu fracassei no teatro de líder forte e inabalável.– Eu não posso Valentina!– Por que não? Já conseguiu seu propósito é só virar as costas e me deixar seguir. Entenda a minha dor, me deixa viver!– Está enganada, eu também não posso te deixar ir. Por que você entrou dentro de mim e fincou raízes no meu coração ainda que eu tenha lutado contra com toda a força que eu pude.BenícioEu não deveria ter dito o que eu disse a ela, acreditando ou não. Valentina chorava, mas me olhou secando as lágrimas...– Certo Benício, apenas me leve de volta.– Me dê ao menos um beijo, você não sabe como foi longa a noite em claro que tive pensando em você. – Ele disse ao passar o rosto delicadamente no rosto dela.– Foi a sua consciência que não te deixou dormir e não eu!Benício pega mão dela e a puxa até o carro, mas não tenta se aproximar de novo. Eles chegam juntos e muitos o
Valentina estava preocupada com a situação dela e de Carmem. O pai Donato era o principal provedor da casa delas e agora não estava mais ali para mantê-las e não queriam depender da ajuda dos outros homens e muito menos de Benício ou Salazar. Apesar de Carmem contribuir com a renda fazendo as leituras de tarô na cidade, apenas aquilo não seria capaz de suprir as suas necessidades integralmente.– Vó eu pensei e irei procurar um trabalho na cidade. Apesar de ser mais difícil encontrar um emprego de meio período, por causa da faculdade...– Nem pense em trancar seu curso Valentina. Você lutou muito por essa bolsa de estudos e não abro mão de te ver formada. Eu posso ficar mais tempo na cidade e tentar pegar algum serviço de faxina ou costura.– De jeito nenhum, a senhora já fez demais por mim a vida inteira. Chegou minha vez de retribuir. Eu vou conversar com Sofia ela conhece muita gente e talvez possa me ajudar a conseguir algo.Naquela semana Valentina se dedicou a tentar encontrar a
KarenO que ela tem de especial? Por que todos querem protegê-la e amar? Meu pai devia ter matado Eulália enquanto estava grávida dela! Valentina não devia existir, antes que eu saísse da frente de Salazar ele segurou meu punho e olhei para trás.– Vou até o centro e às 17:00 passo aqui de volta para te buscar. – Ele diz soltando-a e saindo em seguida.– Obrigada.Karen não tinha muito o que fazer na cidade, aquilo era apenas uma desculpa ficar a sós com ele e todos os seus planos fracassaram ao ouvir o quanto ele se importa com Valentina e que está disposto a tudo por ela. Ficou dando voltas pela feira até que o tempo passou, eram 17:00 e Valentina saia da faculdade e ia até o ponto de ônibus. Salazar e Karen já estavam na caminhonete e ele resolve dar uma carona.– Valentina vamos? – Ele diz sorrindo para ela.Valentina retribui o sorriso dele, Karen queria sumir daquele lugar e daquela situação constrangedora de estar no mesmo carro que a rival. Eles vão no mais profundo silêncio
No dia seguinte, Domênica levou o colar para que o trabalho fosse feito e todas as suas esperanças de acabar com o que Benício estava começando a sentir por Valentina poderia ser desfeitos.– Tenho uma foto de Valentina junto com minha filha Sara (suspiro), apenas terei o trabalho de corta-la. – Josélia diz segurando aquela peça perto dos seios.– Certo, eu quero muito que dê certo, minha família já passou por muitas coisas por causa dessas malditas mulheres!– É o dia perfeito Domênica, sexta-feira. Pode confiar em mim, meus feitiços nunca falham. Farei com que ele a odeie com todas as forças, quem faz meus trabalhos jamais descansa. – Ela sorria.Domênica sai satisfeita de lá, bastaria esperar que desse certo. Ela nunca teve medo de nada e não seria desta vez, invocaria o diabo ou quem fosse para separar seu filho dessa mulher e nada a iria impedir.Valentina havia falado a dias com Sofia sobre um trabalho na cidade, mas até agora nada havia surgido então ela teve a ideia de fazer
Benício saiu e foi dar uma volta nem que fosse para ouvir os pássaros cantando ou uma pedra caindo. Estava cansado daquela cobrança, aquele clima entre ele e a família...tudo parecia um castigo e um verdadeiro inferno. Se recostou em uma cerca, ali próximo haviam muitas fazendas e pasto, um tempo depois...Ouviu gargalhadas femininas e deu uma olhada para sondar de quem se tratava, era Valentina e algumas das meninas do acampamento, ela segurava um cachorro no colo e sorria. Estavam indo colocar ele de volta nas dependências da fazenda próxima de lá.– Você sempre volta, já te mandamos de volta mil vezes seu travesso. – Valentina diz fazendo um carinho antes de o soltar e ele sair em disparada de lá. Elas sorriem e enfim ela se dá conta da presença de Benício encostado naquela cerca, no mesmo instante seu sorriso se desfaz.– Espere Valentina. – Ele diz correndo e se aproximando dela.As outras meninas percebem que ali rolaria uma conversa de casal e partem em retirada.– Por favor B
BenícioEla estava flertando com aquele homem, deve fazer isso com todos. Por isso, Salazar a defende tanto, o enfeitiça e consegue tudo o que quer...qualquer se perde em seu olhar.Ele sentiu ódio dela, aquela maldição mostrava sinais de que seria poderosa e possivelmente mudaria os sentimentos dos dois.Valentina voltou para casa quase ao meio dia. Naquele sábado à noite haveria uma comemoração simples de aniversário no acampamento e ela estava com as outras mulheres preparando comida para mais tarde. Adriana chega com Domênica e se junta a elas, Valentina fica incomodada com a presença de ambas e prefere se recolher.– Viram? Que tipo de líder é essa que nem sequer pode coexistir de maneira cordial conosco?– Me desculpe a sinceridade Domênica, mas exigir dela que fique no mesmo recinto que sua família é pedir demais. – Samara responde e era uma das amigas de Valentina.– Certo a defenda eu não me importo!Era noite, e todos iam comer juntos para comemorar aquele aniversário. Tin