Cap.4

    Sem nenhuma coragem levantei e fui em busca de comida, a casa estava

completamente escura, tomei o máximo de cuidado para não bater em nada. Achei

a geladeira, me servi de suco, fiz dois sanduiches e fiz meu caminho de volta ao

quarto, estava quase chegando a minha porta quando um gemido alto chamou

minha atenção, senti meu rosto queimar e praticamente me joguei pra dentro do quarto,   soltei um sorriso nervoso e tentei esquecer, a cada momento parecia

errado estar aqui.

     Abri o notebook e dei uma olha nas pastas que tinha separado para quando

começasse a faculdade, seriam de grande ajuda. Não estava com sono, na verdade

estava pensando no Sebastian, ele era lindo não tinha como negar isso, mas um

cara que vai a uma festa daquela, devia estar querendo a mesma coisa que o Nando

com a Luana. Olhei o relógio, já se passavam da 00:00, será que ele está acordado?

Encarei o celular por alguns minutos até finalmente criar coragem.

LÍVIA:OI, SOBRE DOMINGO, PODEMOS IR EM UM PARQUE AQUÁTICO?

00:15

     Joguei o celular na cama e fui tomar um banho, deixei meus pensamentos

vagarem durante a noite anterior, nele para ser mais exata, sabia que não devia

julgar alguém que nem conhecia direito, mas as circunstancias não estavam a favor

dele, será que ele era só mais um cara que quer todas, talvez o meu problema de

confiar nas pessoas seja mais sério do que imaginei. Vesti um pijama lilás, com rendas na parte dos seios e me deitei, peguei o celular e vi que tinha uma resposta.

SEBASTIAN:SEM PROBLEMA, ESTAVA PENSANDO EM TE LEVAR A PRAIA,

MAS A SUA IDEIA É BOA. 00:40

LÍVIA: LEGAL. 00:57

SEBASTIAN: SEM SONO? 01:00

LÍVIA: MAIS OU MENOS ISSO 01:02

       Seu nome apareceu novamente na tela, mas agora como uma ligação, acabei

atendendo rápido pois o toque era muito alto, o que acabou me dando um susto, e não valia apenas chamar a atenção dos outros moradores da casa.

   _alou, Lívia, alou... - a voz dele era mais grosa doque me lembrava, ou ele tinha

acabado de acordar.

   _oi, sabia que está muito tarde para ligar para as pessoas? – o repreendi.

   _eu sei, mas já que não consegue dormi resolvi te fazer companhia, se não se

importar é claro.

   _por agora não me importo, mas por que está acordado?

   _pensando - tive vontade de perguntar se era em mim que estava pensando, mas

não o fiz.  

      Ficamos conversando algumas besteiras, mas foi o suficiente para as horas

passarem de uma forma que os raios de sol começaram a invadir meu quarto, era a

primeira vez que virava a noite conversando com alguém, quando ele desligou

finalmente fechei os olhos e me permitir dormi.

     O domingo finalmente chegou, não podia negar que estava nervosa afinal, era

meu primeiro encontro, mesmo achando que seria um pouco estranho ter o Nando por perto, mas preferi não tocar no assunto, por ser seu pedido de desculpas pelo meu aniversário.

   Antes de sairmos de casa mandei uma mensagem para o Sebastian com o endereço, adiantei que o meu irmão iria, não entrei em detalhes, a situação por si só já era estranha o bastante, disse para que quando chegasse me mandasse uma mensagem que iria busca-lo. Quando chegamos o lugar estava lotado, a fila parecia não ter um fim, mas como o Nando era socio não precisamos enfrentar a fila, a Ana acabou vindo também, assim pareceria um encontro de

casais, ao menos espera que sim, já dentro do parque fomos para uma mesa, os

brinquedos eram incríveis, e mesmo que a maioria fosse alto demais para me

arriscar, gostava de lugares assim, tirei a blusa, mas permaneci de short, não me

sentia muito confortável de biquini, não me achava uma garota feia, talvez um

pouco branca demais, não era muita amiga do sol.

   Desviava de algumas pessoas para poder chegar ate a entrada onde ele me

esperava, uma parte em mim achava que ele não viria, mas quando recebi a

mensagem dizendo que já estava na fila me esperando, não me contive, pela

primeira vez me sentia como alguém da minha idade.

Assim que o vi acenei, entreguei uma pulseira vip, e logo sua entrada foi

liberada, sua mão foi para minha cintura e recebi um beijo no rosto.

   _que bom que veio – falei dando um sorriso.

    Havíamos conversado todos os dias desde a festa, e me sentia bem conversando

com ele, não sabia bem onde tudo isso ia parar, mas por agora não via problema

nenhum. O olhei rapidamente, o mesmo usava uma bermuda, chinelos, uma

camiseta e um boné.

    _não poderia faltar ao nosso primeiro encontro, e você tá linda – acabei sorrindo

e senti meu rosto queimar.

    _acho melhor a gente ir. – disse tentando esconder minha vergonha.

    Sai caminhando na frente, nem ao menos olhei para trás, para ter a certeza de

que ele estava conseguindo me acompanhar, quando cheguei na mesa respirei

aliviada, logo ele estava ao meu lado, não sabia se o Nando ia reconhecer ele da

festa, esperava que não.

    _Nando esse é o Sebastian, e esses são Fernando meu irmão, e Ana, uma amiga –

apresentei rapidamente.

     Sentamos, e logo ficou um clima estranho, não conseguia entender o porquê,

acho que de todos na mesa a mas retraída era eu, e ainda assim parecia ser a única

a se incomodar com o silêncio. Como ninguém parecia disposto a conversar me

levantei para pegar alguma coisa para comer, só queria sair daquela mesa, o clima

parecia tão pesado que estava começando a me arrepender de ter vindo. Voltei a

mesa com um prato de camarão e um copo com água de coco, ambos quase foram ao chão

quando me deparei com o Sebastian sem camisa, sentei como se não me

importasse com a vista, mas para que ser discreta quando se tem um irmão.

    _Lívia é feio encarar – apenas o fuzilei com o olhar.

    Senti meu rosto ficar vermelho, como queria matar meu irmão, tomei a água de

coco, enquanto olhava em volta, a cada segundo o lugar parecia mas cheio, fiquei

encarando a piscina um bom tempo, até que o Sebastian me chamou para nadar,

agradeci mentalmente por poder sair daquela mesa. Tirei o short, e o vi tirar a

bermuda, caminhamos lado a lado, como ainda não queria entrar na piscina sentei

na borda deixando os pês dentro da água, só isso já era refrescante, amarrei o

cabelo em um coque e me inclinei para frente para molhar as mãos e passar no

pescoço, inclinei a cabeça para o lado e encarei o tobogã, era alto demais, mas

parecia ser tão bom.

    _ você tá bem? – perguntou o Sebastian.

    _too sim, só quero pegar um pouco de sol, mas pode entrar se quiser – respondi

sem desviar o olhar do brinquedo.

    _quer ir? – finalmente o olhei, estávamos sentados ombro a ombro, talvez fosse

perto demais.

    _tenho medo, nunca fui muito fã de altura. – um sorriso surgiu em seu rosto.

    _vamos juntos, eu seguro sua mão – declarou ele com toda a convicção que

poderia ter no momento.

    _quem sabe mas tarde, agora pensei que fosse nadar – falei lhe empurrando

para dentro da piscina.

    Quando ele emergiu estava tossindo, não consegui controlar o riso, o vi se

aproximar como um predador e me agarrar pela cintura me puxando para a água,

acabei dando um grito, mas nem cheguei a afundar, seus braços estavam em torno

da minha cintura e não deixaram isso acontecer, por reflexo, coloquei os meus

braços em torno do seu pescoço, ficamos nos encarando por algum tempo até que

senti seus lábios pressionarem os meus. Não sabia o que estava sentindo, nem o

que deveria sentir, minha barriga não parecia ter borboletas voando, não me sentia

excitada, como talvez devesse me sentir, ainda assim após alguns segundos, fechei

os olhos, e me deixei ser beijada, sua língua se infiltrou em minha boca, tentei

corresponder, mas a situação estava me deixando desconfortável, por fim ele se

afastou, permaneci de olhos fechados, tentando entender o que acabou de

acontecer, quando creio coragem de abrir os olhos vejo que ele me encara, dou um

pequeno sorriso, é tudo que consigo fazer no momento. Ficamos um bom tempo

dentro da água o dia estava perfeito para isso, acabei tempo mas alguns beijos

roubados, e mesmo não me sentindo tão à vontade, não me incomodou como o

primeiro. Ao voltar para a mesa o Fernando e a Ana tinham sumido, nem me dei ao

trabalho de ligar para saber onde ele estava, só queria comer alguma coisa e

aproveitar o resto do meu dia, acho que merecia isso, com ou sem o Fernando.

Pedimos dois sanduiches naturais, e suco, como o lugar continuava cheio, nosso

pedido demoraria um pouco, mas sem o Fernando e a Ana por perto, o clima era

bem tranquilo.

     _então Sebastian, quantos anos tem?

     _achei que nunca fosse perguntar, tenho 25 – falou sorrindo.

     Realmente não havia perguntado, só achei que não era necessário, as vezes me

sentia uma menina com ele, outras vezes parecíamos dois velhos conversando, mas

em geral nossas conversas eram fúteis, onde nunca éramos o assunto principal.

     _a gente tá se conhecendo, tem um monte de perguntas ainda, tipo, eu sei que se

formou em medicina, mas não sei se vai fazer alguma pós...

     _vou me especializar em neurologia, mas e você, por que engenharia? – o encarei por

um momento.

     _ sempre quis isso, eu acho, não é como se eu tivesse uma explicação, é o que eu

quero fazer e seria a melhor – disse convicta.

    _linda e inteligente, algo mais que eu deva saber? – me perguntou, mas algo em seu

tom de voz me fez corar.

    _que ela tem um irmão mais velho muito ciumento e se ficar agarrando a...

    Olhei para trás para encarar o Fernando, ele nem ao menos conseguiu terminar o que

estava dizendo, sem ter uma crise de riso, a Ana não estava com ele, e se ela fosse uma

mulher esperta ficaria longe de cachorro a quem chamava amorosamente de irmão mais

velho.

     _onde estava? -perguntei sem de fato querer saber.

     _Li, Li, Li, estava fazendo coisas de adulto, mas só vim perguntar se meu cunhado

pode te levar para casa, tenho que resolver um assunto – quando ia abrir a boca para

dizer que pegaria um taxi responderam por mim.

     _claro – disse o Sebastian prontamente.

     E mais uma vez era deixada de lado, mesmo que hoje isso não importasse tanto, mas

palavras quando são dadas, devem ser cumpridas, qual a dificuldade disso. Acabei

bufando, olhei para o lado fitando o Sebastian com raiva quando notei que ele estava

rindo de mim, o que aparentemente só o fez rir ainda mais, ele se aproximou o bastante

e sussurrou em meu ouvido.

     _vem, vamos acabar com seu medo de altura.

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