Cap.6

      Adorava as histórias da dona Filomena, era incrível como ela respondia minhas

perguntas sem eu ter que fazê-las, as vezes ainda me sentia sozinha, mas na

maioria das vezes me sentia feliz. Nossa tarde estava tranquila, mas podia ver a

cara de tédio do Sebastian, não podia dizer que não o entendia, afinal ‘queríamos’,

passar algum tempo juntos, fazendo coisas de namorados. Só que a noite anterior

estava me deixando desconfortavél, e estava com medo dele tentar algo, sabia que não era

justo, mas ainda não estava pronta para dar o que ele queria.

    Já era fim de tarde quando os pais do Sebastian chegaram, adorava os pais deles,

sempre me trataram muito bem, e sempre estavam com um sorriso no rosto, com aquele olhar amavel, de quem está sempre disposto a ouvir seus problemas, a ajudar a resolve-los.

     _ quando pretendem vim passar mais tempo? – perguntou o pai dele.

     _ eu saio de férias no próximo mês, se a Lívia estiver disposta, podemos passar o mês aqui, como uma lua de mel – a voz do Sebastian não escondia a empolgação.

     Mas as palavras dele, estavam erradas de tantas maneiras, que minha vontade era de manda-lo calar a boca, e deixar de falar tanta besteira.

     _ acabei de começar a faculdade, não posso e já falamos sobre isso. - lhe dei meu melhor sorriso.

     _amor você é rica, não precisa fazer faculdade – dessa vez não escondi meu olhar de raiva.

     Não acredito que ele tinha acabado de dizer isso, fingir não ter sido comigo, ter

dinheiro não é desculpa, e nem razão, para viver como uma esnobe, se fizesse isso, não seria melhor do que a Sheila, além do que o dinheiro que tinha foi algo deixado por pessoas que

nem se quer me lembro, nunca achei que o dinheiro fosse meu, o plano era fazer a

faculdade, ter minha vida e me livrar de tudo que me remete-se ao passado,

passado esse do qual não fazia parte.

     _mas vocês podiam ir nos visitar, ia adorar apresentar meu irmão a vocês – falei

empolgada com a ideia.

     _ parece ótimo mas – a mãe dele começou.

     _ não sei eles, mas eu irei sim, e pode arrumar um quarto pra mim – disse a dona

Filomena;

     A encarei com um sorriso de orelha a orelha, a via como minha própria

avó, ela era sábia, carinhosa, tudo que eu imaginei ter em uma avó, nunca soube

sobre os meus avos, então achei que se eu tivesse uma avó, queria que fosse igual a

ela.

_vai ser ótimo, assim que chegar vou arrumar um quarto para senhora. - falei empolgada.

_ amor, estava pensando se não queria ver um filme? - queria poder dizer não.

     Olhei para ele e concordei, ele estava carente, os pais dele ainda iam ficar um

pouco mais. A cidade era pequena, mas muito acolhedora, mesmo sendo a primeira

vez que vinha me senti bem, em um futuro, talvez desejasse morar no interior, ter

uma vida calma. Andávamos de mãos dadas, as casas eram próximas, então não

demorou para chegarmos, sua mão envolveu minha cintura e me puxou para seu

corpo, podia sentir sua excitação contra mim, mas ele sempre me respeitou, e não

era a primeira vez que ele ficava desse jeito, mas admito que é a primeira vez que

me sintia incomodada com o contato, ao ponto de querer empurra-lo. Seus lábios

tocaram os meus de forma urgente, correspondi, ou tentei corresponder da mesma

forma, sua mão se infiltrou dentro da minha camiseta apertando meu seio com

força, soltei um gemido, mas era de dor, foi com um alívio que percebi o barulho da

porta sendo aberta, ele se afastou se jogando contra o sofá. Não sabia o que estava

acontecendo comigo, quando os pais dele entraram tentei parecer normal, mas

acho que não consegui. Disse que precisa ir ao banheiro e saí da sala quase

correndo, precisava ficar alguns minutos sozinha com meus pensamentos, não

amava o Sebastian, e nem acho que ele me ame, nunca falamos isso um pro outro,

mas gostava de estar com ele, e acho que ele de estar comigo, mas ainda, gostava

do seu toque, da sua boca em mim, me encarei no espelho tentando entender o que

estava acontecendo comigo. Nunca acreditei no amor, ou nessa baboseira, sabia

que o Rodrigo amava minha tia, mas era óbvio que ela só o tinha como um objeto,

então achei que um namoro sem amor seria a melhor saída, mas agora isso parece

não bastar. Não voltei a sala, não queria encarar ninguém, a verdade é que depois

do aniversário queria ir embora, mas a ideia de ficar sozinha com ele estava me

deixando inquieta, e a culpa era minha, eu o tinha provocado, bela situação eu me

coloquei.

     Tentei pensar em outra coisa, peguei o laptop e tentei trabalhar no meu projeto,

ele estava praticamente acabado, tinha que colocar os cálculos, e acrescentar a área

de construção, a ideia era projetar algo que desejássemos ter no futuro, resolvi

optar por uma casa térrea, elevada meio metro do chão, com uma varanda,

garagem para um carro, dois quartos, cada qual com um banheiro, cozinha com

porta para o quintal dos fundos, sala de jantar e estar integradas, quintal dos

fundos com mudas de árvores, e com uma cerca de ferro. 

     _ amor? 

     Olhei pra cima e o encarei, não sabia o que dizer, e nem se queria dizer alguma

coisa, ele era lindo, mas em alguns momentos teria que falar o que estou pensando,

mas não hoje, não agora. Dei um sorriso e o chamei para o meu lado, não ia falar do

que estava sentindo, mas de algo que me incomodou.

    _ eu não gostei nenhum pouco de você ter falado que por eu ser rica não devia

estudar. - falei seria.

    _ desculpa, brincadeira infeliz, mas amor, olha onde você mora, olha a vida que

você tem, tenho certeza de que se nunca trabalhar vai continuar tendo essa vida.

Eu só achei...

     _ achou errado, o fato de ter dinheiro não me torna alguém fútil, não sou assim.

     _ desculpa, - ele me deu um beijo e deixei.

     Descemos para comer, os pais dele me olharam desconfiados, sou educada, mas

não falsa o bastante para esconder meu incômodo, ainda assim comemos em um

clima agradável, percebi os olhos do Sebastian me avaliando, me desejando,

amanhã estaríamos voltando, e estava com medo dessa volta, não acredito que

estava com medo dele. Depois de comermos fomos ver um filme, deitei em seu

ombro e tentei me concentrar no que passava na TV, coisa que não estava

conseguindo, o Sebastian não parava de me tocar, acabava por retribuir alguns

beijos, queria sair, ficar longe. Me sentia uma louca, só podia, até poucas horas

atrás me sentia confortável com ele ao ponto de deixá-lo me tocar, agora estou

abominando o seu mais simples toque.

      Quando terminamos de ver o filme ele foi tomar banho para dormir, sem pensar

duas vezes, calcei a sandália, peguei o laptop, e saí do quarto sem fazer barulho,

queria ficar longe dele, só isso. Achei refúgio no quintal dos fundos, eles tinham

uma árvore alta que me daria abrigo por algumas horas. Sentei no chão com as

costas apoiada na árvore, estava de costas para a casa, e protegido pela noite, abri

o laptop e resolvi procurar algumas referências que o professor tinha me dado, e

pelo que via sua paixão se encontrava em Veneza, não achava o lugar tentador, mas

ele falava com tanta paixão que me deu vontade de conhecer o lugar, um dia talvez.

Vaguei em pensamentos sobre o futuro, principalmente sobre meu namoro, sabia

que eu tinha feito essa escolha, só não a queria mais para mim, do ponto de vista

dele eu poderia está errada, e talvez estivesse.

      Olhei o céu e acabei encarando a lua, era incrível como ela ficava ainda mais

linda, sem a grande quantidade de luzes da cidade grande, era como se fosse um

mundo totalmente diferente, ainda assim não era o meu mundo. Continuei

procurando construções que me despertasse algo em mim, mas não, sabia que

engenharia era parte de mim, talvez a parte da qual mas gostasse, e tinha que ter

algo no mundo que me despertasse essa paixão, fazer os trabalhos de escola eram

divertidos, mas muitas coisas eram. Amor... Essa era a palavra que o Daniel usava,

que o amor estava em cada construção de Veneza, mas no final, apenas amor não

bastava. Fechei o laptop com raiva, afinal o que eu amava? Quem? Meu irmão? Na

maioria das vezes desejava matá-lo, não tinha pais, é nem amigos para amar, o

Rodrigo era mais uma admiração do que amor, e me amar? Isso sem dúvidas era

um problema, mas depois de tantos anos indo e vindo de psicólogos dizendo que o

problema é na sua cabeça, apenas chega uma hora que você acredita.

     Deixei meu trabalho um pouco mais complexo, acrescentei as referências, nada

de Veneza, do jeito que ele é, não duvido que ache que seja só para agradar. O frio

ainda me envolvia, ao conferir a hora, 01:59, havia passado bastante tempo, espero

que ele já esteja dormindo, levantei com cuidado, minhas pernas doíam um pouco,

ao entrar fui para a cozinha, não queria ficar no mesmo ambiente que ele, sentia

que o problema era em mim, talvez o sonho estranho da noite anterior tenha me

deixado perturbada, sempre tive sonhos com pessoas que provavelmente só vi

uma vez,  mas não era acostumada a sonhar com pessoas sem rosto, não sabia

como isso me mudou com o Sebastian, mas mudou, além das palavras do seu irmão.

Como realmente não estava disposta a voltar ao quarto resolvi m****r meu

projeto para o Daniel.

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DE: Lívia Souza de Albuquerque

PARA: Daniel da Silva Castro

ASSUNTO: Edificações

(*****) ANEXO

(*****) ANEXO

  Acho que errei em alguns pontos de referência, mas não achei nada que se

encaixasse no que eu queria, o cálculo do segundo andar segue a mesma linha do

primeiro. Minha ideia inicial seria apenas um térreo, mas não consegui.

O segundo anexo é referente a meios ecológicos e as matérias usadas, mas não

consegui achar distribuidoras brasileiras, fiz o cálculo do custo de cada material,

incluindo a importação.

Lívia Souza

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     Fui até a geladeira e me servi um copo com água, apesar de não estar em casa, os

pais do Sebastian sempre me deixaram bem à vontade, quando voltei a olhar o

laptop já havia uma resposta dele.

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DE: Daniel da Silva Castro

PARA: Lívia Souza de Albuquerque

ASSUNTO: Edificações  

Não se exija demais, está no primeiro mês de faculdade, sei que é dedicada, mas

errar faz parte de aprender. As matérias primas realmente não são encontradas no

brasil, uma pena.  Mas agora como seu professor a estou mandando para a cama

mocinha.

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      Dei um sorriso e resolvi seguir seu conselho, embora a vontade de voltar para

o mesmo quarto que o Sebastian fosse nenhuma, conferir a hora, não que isso

importasse, subi até o quarto, abri a porta com cuidado, vi que o mesmo dormia

tranquilamente, olhei minha mochila, e sem me dar escolha a peguei e saí de fininho, já na sala, me sentia aliviada, quando voltasse ao Rio o procuraria depois e esplicaria as coisa, mas

quando estava abrindo a porta as luzes foram acessas, olhei para trás e me deparei

com ele, me encarando, me questionando, mas não ia agir como um cão assustado.

    Seus olhos mostravam a raiva que estava sentindo, o que poderia fazer? me

desculpar estava fora de questão, não me sentia mal por estar indo embora, não lhe devia nada, não era sua propriedade.

      _ esperava bem mais de você, como pode me deixar assim? Sem nem ao

menos uma explicação? - acabei dando um meio sorriso.

    _ não tenho que te dar nenhuma explicação, ao menos não agora - me virei para sair.

     Sentir meu corpo ser puxado com força, e algo umido contra minha boca, depois

disso tudo sumiu, uma névoa havia se formado em minha mente, talvez soubesse

o que estava acontecendo, apenas não queria acreditar. Meu mundo estava ruindo

mais uma vez? A diferença é que desta vez eu sabia que me lembraria de tudo quando finalmente abrisse os olhos.

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