‘’ Os anjos recolhem sempre um pouquinho do brilho de quem ama, para durante a noite enfeitiçarem as estrelas. ’’
Sirlei L. PassolongoMinhas asas batiam com o fluxo do vento. O ar suspirava e rodopiava ao redor de mim, fazendo cócegas em minha pele de marfim.
Eu me sentia livre. Um pássaro que parecia que havia acabado de sair de sua gaiola e agora poderia ir para onde quisesse. Esse era o meu engano. Eu não estava livre. Não estava indo para onde eu queria. Algo dentro de mim ressoou, como uma dor. Algo que estava em peito há muito tempo guardada. Diferente de meus irmãos, eu tinha um pensamento um tanto peculiar sobre nossa criação. Criado apenas para serviço do Céu. Tudo soava extremamente pesado para alguém que ouvisse de fora.Eu estava indo para mais uma missão. Para cuidar de mais alguma pessoa especial que necessitava de meus cuidados. Mesmo, tendo opinião diferente dos meus irmãos, eu adorava meu trabalho. Anjo guardião, bem não só isso, como o líder de todos eles. Só que o problema começava ai... Na pequena palavra opinião.
Mas, não era hora para aquilo. Não naquele momento. Sorri. Os arcanjos haviam falado dessa menina. Ela era o que diríamos, nós celestiais, de uma pessoa especial. O nome dela era Olívia, ela acabava de receber dons especiais. A vidência era algo difícil de lidar. Ainda por que muitas poucas pessoas conseguiam ganhar esse dom divino.Muitas pessoas ganhavam dons e os desenvolviam. Raras eram às vezes, mas sim, elas adquiriam isso para poder ajudar as outras pessoas. Bem, era isso o que Nosso Pai queria, mas nem sempre as pessoas usavam isso para bem. E era ai onde eu teria que entrar.Por não ser um dom fácil e muito poderoso, eu teria que ajudar essa pequena a seguir pelo caminho da Luz, do que das trevas.Eu era um anjo guardião, não do mais baixo patamar entre as divisões dos anjos, mas, também não a mais alta. Eu apenas recebia ordens a cada vez que minha missão acabava. Com dois mil anos de idade, isso para mim já é rotina. Durante vários períodos de minha vida, houve guerras, lutas e sempre uma nova geração de humanos. Há apenas mil anos, os especiais foram surgindo cada vez mais, um a cada dois séculos, três a cada um, e assim mais. E eu e mais alguns de meus irmãos, era ordenado para proteger essas pessoas que não eram mais que humanos, porém que recebiam um dom especial se não mais. Essa menina da qual, fui designado para protegê-la e orientá-la, era uma simples menina como qualquer outra. Porém ela sofria muito por coisas que haviam acontecido recentemente. E ela era muito fechada, mas compreensiva e atenta ao seu redor, com um olhar sensitivo que raras pessoas têm. Perdidamente apaixonada por um garoto de seu colégio, um que a fazia sofrer mais do que ela já sofria. Isso tudo com apena quinze anos.Quando os arcanjos passaram todas as informações, vi que ela era diferente. Que ela merecia se tornar ainda mais especial. Ela já se destacava entre os humanos por ser inteligente, bonita e muito meiga. Mas, ela sofria. Silenciosamente e sozinha, mas sofria. Pelo amor intenso não correspondido e pelos pais que nunca estavam de acordo. Bem, mas eu queria conhecê-la. Cuidar dela e transformar a vida dela, como eu havia feito inúmeras vezes com outras pessoas. Por ser anjo, eu tinha vários poderes. E assim eu poderia ajudá-la a encarar tudo isso, e pelo que eu sabia durante sua vida ela havia tido algumas premonições por sonhos, e ela não imagina que isso só está começando...Usando meu escudo, que era uma película que se formava ao redor de meu corpo, para que ninguém me visse, pousei suavemente ao lado da janela dela, no quintal, e suspirei. Vamos lá. Pensei. Ainda com a camada de invisibilidade atravessei espiritualmente a janela, que estava fechada, e entrei no quarto dela. Claro, que eu tinha a informações, como endereço, nome, idade e até qual era tipo de sangue dela. Nunca se sabe o que vai precisar. Olhei ao redor. O quarto era simples. Decorado nas cores rosa e roxo que toda adolescente gosta. Os móveis também eram simples na cor mogno. Sorrindo olhei seu mural de fotos, com várias dela de seus amigos e familiares... E então meus olhos pousaram nela deitada sob a cama. Os cabelos dourados espalhados pelos travesseiros eram compridos e lisos. Parecia da cor do sol ao crepúsculo. Ela tinha pele alva, tão branca que reluzia levemente com a luz de seu abajur ligado ao seu lado. O corpo pequeno, provavelmente pela baixa estatura, enrolado em um edredom rosa, macio. Os lábios cheios estavam entreabertos, ressonando de leve. Ela parecia normal aos olhos comuns. Mas, se olhasse de perto, notava-se as marcas de noites mal-dormidas pelas olheiras, as palpebras levemente avermelhadas, denunciava que ela havia ido dormir chorando, e apenas uma ou duas horas, mesmo sendo quase amanhecer, as mãos fechadas em punhos, obviamente ela estava tendo algum pesadelo.Algo em meu peito me tocou. Tão profundo que cheguei a dar dois passos para trás e esbarrar na cômoda, o que causou um pequeno ruído. Olhei para Olívia, e seus olhos ainda estavam fechados, e ela ressonava de leve. O que havia me feito sentir essa queimação tão agradável no peito? Essa sensação intensa que me deixava completamente... Vivaz ou seria sensível a sentimentos estranhos? Ou de nunca mais querer sair do lado de minha protegida?Foi então, que ela abriu os olhos, que ainda estavam inchados e vermelhos. Um aperto me deu, imaginando o quanto ela devia ter chorado. Mesmo estando completamente neutro ao ambiente, meus lábios se moveram em um sussurro mudo e me coloquei próximo a sua cortina, e ela levemente começou a tremular, mas não era ela que tremia, e sim eu. Os olhos dela eram do mais vivído dourado. Como ouro derretido. Quente. Trêmulo. E marcante. Rara as vezes que vi algo tão lindo. E tão terrível, pela dor que emanava deles. Imóvel, senti-a procurar ao redor do quarto com os lindos olhos dourados, e então voltar e colocar a cabeça no travesseiro. Ela fechou-os mais uma vez e tentou voltar a dormir. Mas, com minha sensibilidade vi que ela não conseguiria. Seu corpo estava agitado. Ouvia seu coração bater tão rápido como um passarinho. Sua respiração levemente sobressaltada. Travei uma luta interna entre ir ou não. Entre me aproximar e colocar ela sobre seu acalento, fazer com que ela dormisse melhor. Mas, no fundo eu sabia que queria. Não só por ela, como por mim. Queria ver Olívia de perto. Queria sentir seu cheiro, como ela soaria, uma humana para alguém como eu.Sem qualquer ruído fui até ela, e coloquei minha mão sobre sua testa. Ela suspirou mais tranquila, e voltou a dormir em apenas segundos. Fechei meus olhos e calmamente, sem nenhum movimento brusco, fixei meus pensamentos aos seus e suavemente busquei seus sonhos pela minha mente. Imagens do mar alcançaram meus olhos e fiquei mais aliviado. Ela sonhava em estar caminhando pela praia com um vestido azul.Sem me conter passei a mão por sua bochecha, e recolhi uma pequena lágrima que ela deixará cair antes de voltar a adormecer.
Não consegui ir embora. As horas passaram e continuei a observar dormir. Zelando para que Olívia, não tivesse nenhum pesadelo.Sim, Olívia era o nome dela. Olívia Vause.Meu peito ruflava toda vez que eu pensava em seu nome. A felicidade tomava conta de meu coração.Eu não sei quantas horas fique ali, observando sua respiração ir e vir. Mas, eu me sentia conectado com aquela garota de poucos anos de vida, se comparado com toda minha existência de dois mil anos. O que eu, havia visto nela, que pudesse ser tão atrativo? Se quer havia visto ela alguma vez, e já estava completamente atormentado por coisas que nunca havia sentido. E isso era insano.E mesmo sabendo que era loucura, não consegui ir.Quando eram seis horas, ela acordou com o cabelo todo bagunçado, e mesmo sendo assim, diante de meus olhos, ela parecia a criatura mais linda
- Não! Não pode ser! – exclamei levantando abruptamente. - Tem uma ideia do absurdo que está me dizendo? Como alguém se apaixona assim? - dei risada, mas era uma risada nervosa.A ideia de que eu poderia estar apaixonado por aquela menina, era ridículo. Nunca houve um caso de um anjo que amou mais do que devia uma protegida. Nunca!E eu seria duramente castigado se isso acontecesse. Eu sou um anjo. Isso é completamente bizarro gostar de uma pequena humana que era simples e tão frágil perto de mim.Mas, ao pensar na minha protegida, eu sabia que ela não era frágil e nem muito menos simples. Ela era divina. Linda e tão singular, como um cristal da mais cara coleção. Ela era minha protegida há apenas oito horas, como eu poderia me apaixonar tão rápido?- Nós somos anjos. – Castiel disse lendo meus pensamentos. Odiava quando um irmão fazia isso. - Sentimos as coisas de modo diferente que os humanos. Nossa percepção ao nosso redor pode ser tão sensível a ponto de contro
- Olá, Olívia. – murmurei calmamente.Ela corou e sorriu. Isso, eu estava indo bem.- Oi. – Senti meu coração querer pular pela minha blusa branca bufante.Eu nunca tinha sentido essa sensação de nervosismo e ansiedade. Nunca. E agora eu não sabia como agir, o que falar e como tratá-la.Respirei fundo e tomei coragem. Caramba, eu era um anjo. Poderoso e protetor com dois mil anos de idade e isso tinha servir para alguma coisa.Olívia ainda me encarava confusa e sua expressão era uma doçura.ela disse, tímida.- Você deve estar um pouco confusa, não é? – sorri.Por um pequeno segundo vi seu olhar estudar meu rosto, meu corpo e por fim meus olhos. Ela parecia intrigada com minha escolha pela máscara e mesmo assim ela sorriu mais uma vez e acenou com a cabeça.- Vou esclarecer as coisas para você. – falei, pois eu não aguentava mais não me apresentar a ela. – Sou um anjo. Um anjo do Céu, que foi enviado para pro
Retornei para o quarto de Olívia, e ela dormia suavemente. Eu estava tão feliz que não poderia descrever em palavras. Ela havia me abraçado duas vezes e ainda pude ver em seus olhos a adoração e o jeito alegre com que ela se sentiu perto de mim.Caminhando suavemente sentei-me ao seu lado na cama. E inesperadamente ela sorriu. Achei que estivesse acordada, mas não. Ela ainda estava dormindo.Sorri junto a ela. Passei a mão em seu rosto e acariciei seu cabelo. Tornei minha película de proteção mais fina, deixando quase real minha aparência. Assim ela poderia sentir-me mesmo dormindo.Ainda eram duas da manhã e assim passei toda madrugada até ela acordar. Porém, pouco antes das seis ouvi um ruído do lado de fora da sua janela. Silenciosamente e me tornando mais invisível atravessei a janela e praticamente dei de cara com Ariel.Ariel era um anjo petulante e um dos meus irmãos do qual eu menos gostava. A raiva surgiu em meu semblante.- O qu
Aproveitei o tempo que Olívia não estava em casa para vasculhar suas coisas. Eu sei que poderia ser meio que invadir a privacidade dela, mas eu nunca deixaria a desconfortável.Em sua gaveta da cômoda vi uma pequena caixa rosa. Abri e lá dentro tinha infinitas fotos de seus amigos e família assim como no mural, mas em algumas fotos estavam alguém que não gostei.Reconheci o menino que ela gostava. Ele era branco, com cabelos negros e lisos bem arrepiados. Seus olhos eram chocolate. Uma pequena pontada de ciúme abateu-se sobre mim.Eu sei que era errado cobiçar algo que não era meu, como minha protegida. Porém, ela fazia com que dentro de mim despertasse sentimentos que eu jamais senti. Isso é novo e difícil de controlar.Coloquei suas fotos de volta no lugar de novo, e vi um pequeno caderno roxo. Curioso, abri, e em quase todas as folhas estavam escritas, na letra pequena e delicada de Olívia. Abri a primeira folha e estava escrito “Diário Pessoal”.
Ela acabou adormecendo em meus braços. Chorando magoada com alguém que nem sequer ligar para se ela estava bem ou não, e de certa forma, isso me intrigava. Como amar alguém que não nos dá sinais de que pode corresponder o mesmo sentimento? E mais do que isso, estar todo o tempo perto e fingir que estava tudo bem.E era isso que me doía. Como um ser humano poderia ser assim? Tão cruel e vil a ponto de deixar uma menina naquele estado em que minha protegida estava? Como os seres incríveis que meu pai falava poderiam ter se transformado nisso?O pior que eu sabia que esse tipo de crueldade não é nada comparado aos crimes de que nós anjos às vezes não conseguimos evitar. É lamentável que alguém possa chegar a esse ponto.Por isso quando foi à noite, esperei minha amada adormecer novamente em meus braços, as horas da madrugada eram denunciadas pela luz da lua que entrava pela janela e deixei-a dormindo para que eu pudesse fazer algo que era necessário.
Eu não poderia acreditar.Aquele era meu futuro e Olívia estava tendo essa visão comigo quando ela ainda nem me conhecia direito. Mas, eu sabia por que ela estava tendo aquela visão.Isso era claro para todos os anjos. Aqueles que alterassem a vida humana sem uma ordem expressa do Céu, apenas para privilégio próprio seria castigado e terminantemente proibido de voltar espiritualmente para o Reino de Deus.E o que eu havia acabado de fazer era isso. Eu tinha alterado a vida de Tyler, por que além de eu o ter ameaçado eu havia mandado ficar longe de minha protegida, o que claramente era uma regra quebrada. Além de eu estar envolvido por ela, o que já me colocaria em uma bela encrenca.Eu tinha prometido a mim mesmo que agiria com cautela, mas ao invés disso, agi no impulso e acabei fazendo um erro pior que o outro com apenas dois dias que eu conhecia minha pequena.Se eu não tomasse cuidado de verdade qualquer acusação contra mim, de Ariel
Cheguei à escola de minha amada e ela estava tento aula. Tornei-me completamente invisível não deixando que ela me sentisse. Queria apenas obervar ela.Olívia estava concentrada no que o professor explicava sobre uma conta de matemática. Ela anotava tudo que o professor dizia e ela não perdia nada. Após o professor parar de explicar ela se virou para amiga e sorriu.- Planos para o fim de semana? – ela falou.A amiga fez uma expressão de desanimada e deu de ombros.- Que nada. Meus pais parecem que querem me trancar dentro de casa para sempre. – ela comentou.- Ah, não faça drama, Angélica. – Olívia riu.Bem, finalmente eu descobria o nome de sua, ao que parecia melhor amiga.- Você não vai acreditar no que vou te contar. – Olívia puxou sua cadeira para mais perto de Angélica e baixou o tom de voz. – O anjo falou comigo. E ele é tão fofo...- Sério? Mas você o viu? – ela perguntou.- Que nada. É o que eu mais quero, porém