Capítulo Três

- Não! Não pode ser! – exclamei levantando abruptamente. - Tem uma ideia do absurdo que está me dizendo? Como alguém se apaixona assim? - dei risada, mas era uma risada nervosa.

A ideia de que eu poderia estar apaixonado por aquela menina, era ridículo. Nunca houve um caso de um anjo que amou mais do que devia uma protegida. Nunca!

E eu seria duramente castigado se isso acontecesse. Eu sou um anjo. Isso é completamente bizarro gostar de uma pequena humana que era simples e tão frágil perto de mim. 

Mas, ao pensar na minha protegida, eu sabia que ela não era frágil e nem muito menos simples. Ela era divina. Linda e tão singular, como um cristal da mais cara coleção. Ela era minha protegida há apenas oito horas, como eu poderia me apaixonar tão rápido?

- Nós somos anjos. – Castiel disse lendo meus pensamentos. Odiava quando um irmão fazia isso. - Sentimos as coisas de modo diferente que os humanos. Nossa percepção ao nosso redor pode ser tão sensível a ponto de controlarmos emoções alheias, acredita mesmo que é tão difícil em poucas horas? Por que não tira a prova por si mesmo?

- Como assim tirar a prova? – perguntei, prolongando aquele assunto insano. 

- Fique mais próximo a ela. Primeiro apareça por sonho como a maioria de nós fazemos, e depois espiritualmente, assim vai se aproximando dela, por fim aparecendo pessoalmente. – Castiel deu de ombros.

- P-pessoalmente? – minha voz tremeu. 

- Sim, por que não?

- Você sabe que somos proibidos de aparecer para os humanos. Só em raros casos, que devem ser aprovados por Ele. E humanos não podem saber o que somos. Nunca. – falei. 

- Uma regra ou outra quebrada ninguém nota, irmão. Eu mesmo já apareci para algumas humanas. E foi supernormal. – ele disse.

Será que realmente eu poderia aparecer para minha protegida? 

A ideia me fazia arrepiar, porém ainda sim era uma regra importante do Céu. Não sei se eu poderia quebrá-la. Eu pensaria mais a respeito. 

Eu queria devagar conhecer mais sobre Olívia. Queria conquistá-la. Ser seu amigo. Seu guardião.

- Sim, você realmente deve estar apaixonado. – Cas riu. 

- Pare de ler meus pensamentos! – gritei e dei um tapa em seu ombro, voltando a me sentar. Cas era o mais próximo dos meus irmãos a mim. Ele era o que os humanos chamavam de melhor amigo. 

- Então, irmão, o que vai fazer? – ele perguntou. 

- E o que eu poderei fazer? – meus ombros caíram pesados. 

Castiel suspirou. 

- Eu não sei, Melahel. Nunca houve um anjo apaixonado por uma humana. Ou pelo menos não que eu saiba... E eu nem sei as consequências disso. – ele olhou para mim com compaixão. – Deve ir com calma, irmão. Alguma atitude fora do lugar e pode ter sérias consequências. E você sabe do que quero dizer. 

Sim, eu sabia. Era sobre ser banido do Céu para sempre e andar pela Terra eternamente como um caído. 

Vários irmãos nossos no passado haviam caído, por desobedecer nosso Pai e assim sendo, vagaram pela Terra até hoje, sendo monstros sem asas e sem sentimentos. 

Eu não queria virar um Caído. Então eu realmente teria que tomar cuidado. Atitudes precipitadas poderiam ter graves consequências, como Cas tinha falado.

- Vou seguir seu conselho. Eu não sei se estou apaixonado, mas Olívia é tudo para mim desde que o Sol de hoje nasceu e nunca eu deixaria algo acontecer para ela. – falei com uma convicção.

                               ***

Mais tarde depois de conversar com Castiel sobre alguns acontecimentos do Céu voltei para a casa de minha pequena e a encontrei deitada em sua cama lendo. Ela estava silenciosa e parecia concentrada em sua tarefa. 

Pela minha noção de tempo deviam ser seis horas da tarde. O Sol estava se pondo. Observei pela janela e vi que estava quase escuro típico para um dia de setembro. 

Voltei minha atenção para Olívia. Ela não desviava os olhos do livro roxo que as letras na cama diziam E não restou nenhum. Sentei na ponta da cama, claro que ainda invisível e inaudível. 

Observei o jeito com que seus olhos iam e viam lendo, como eram profundos e sem emoção agora que ela estava em mundo da imaginação onde suas emoções não poderiam atingi-la. Sua pupila estava dilatada e o dourado inflamava ao absorver cada palavra. 

Seu cabelo estava preso e deixava seu rosto pálido e de fada mais a vista, e sua franja emoldurava os olhos. A boca  rosada e delineada estava entreaberta respirando. Me senti atraído por aquela parte. Os lábios. Como seria beijá-los? Como seria tocar na sua pele e saber que ela sentia? 

Suspirei. Eu queria tantas coisas, mas ela nem tinha noção que eu existia. E tomei uma decisão. 

Eu iria entrar em seu sonho essa noite mesmo e dizer quem ela era e o que eu era. 

                                          ***

Ainda naquele dia continuei observar ela. Mas, nada demais aconteceu nas poucas horas que se seguiram. Olívia jantou com sua mãe, o padrasto e o irmão ainda silenciosa, tomou banho, e claro que nessa hora me mantive em seu quarto, e quando foram nove e meia ela se recolheu para se preparar para dormir. Ainda com o mesmo pijama curto, que também tentei não olhar. 

Eu era anjo, mas antes de tudo eu era do sexo masculino. Sentia as coisas muito bem. Anjos costumam namorar uns com os outros, mas eu nunca senti atração por nenhuma. 

Eu nem sequer sabia o que era um beijo, quando muitos de meus irmãos já foram tremendamente além disso. Eu tinha dois mil anos, só que era aparência de um garoto de dezenove. Muitos anjos diziam que eu era bonito. Mas, eu não me importava. Só ficava em meu canto resolvendo minhas missões, por que nenhuma delas havia me provocado o que Olívia me fazia sentir. 

E por isso assim que ela adormeceu profundamente sem chorar pelo menos essa noite, me concentrei em sua mente e deslizei minha alma para dentro de seu corpo fazendo com que eu controlasse seus sonhos. 

E então fiquei na dúvida... Como eu faria a sonhar? Em que lugar seria bom para nos conhecermos? Eu me mostraria para ela como eu era de verdade?

As ideias foram chegando e decidi criar a cena de um filme que ela gostava. Como eu estava em sua mente eu sabia tudo que ela gostava, sentia e já pensou e toda sua vida. 

Imaginei um barco flutuante, mas não que navegava em mares, e sim no Céu. Ok, isso tinha ficado ótimo, por que instantaneamente fui levado para o barco e meus pés pousaram na madeira escura e antiga. 

Decidi criar algumas pessoas lutando como se fossem piratas de antigamente. As pessoas apareceram, todos os homens e lutavam entre si com espadas, como num treino, com blusas bufantes, calças coladas e botas de cano alto. 

Claro que eu também deveria me transformar. Olhei para mim no reflexo do vidro de uma janela do barco e mudei minhas roupas instantaneamente. Mentalmente alonguei meu cabelo de forma que ele caísse em meus ombros e por fim imaginei uma máscara sobre meu rosto. 

Na verdade a mistura era de dois filmes que ela gostava. O fantasma da ópera e Stardust.  Ela iria adorar. Até eu estava gostando do cenário. 

Como anjo eu era terrivelmente poderoso e poderia fazer o que eu quisesse e imaginasse. O mais incrível era pensar que os arcanjos eram ainda mais poderosos que eu. 

Foi então que distraído com meu reflexo, que reparei na bela dama ao meu lado, vestida com um longo vestido branco. Seus cabelos castanhos quase loiros caiam encaracolados, mesmo na vida real fossem lisos, e seu olhar dourado confuso estava sobre mim. 

Me virei e encarei Olívia.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo