- Não! Não pode ser! – exclamei levantando abruptamente. - Tem uma ideia do absurdo que está me dizendo? Como alguém se apaixona assim? - dei risada, mas era uma risada nervosa.
A ideia de que eu poderia estar apaixonado por aquela menina, era ridículo. Nunca houve um caso de um anjo que amou mais do que devia uma protegida. Nunca!E eu seria duramente castigado se isso acontecesse. Eu sou um anjo. Isso é completamente bizarro gostar de uma pequena humana que era simples e tão frágil perto de mim. Mas, ao pensar na minha protegida, eu sabia que ela não era frágil e nem muito menos simples. Ela era divina. Linda e tão singular, como um cristal da mais cara coleção. Ela era minha protegida há apenas oito horas, como eu poderia me apaixonar tão rápido?- Nós somos anjos. – Castiel disse lendo meus pensamentos. Odiava quando um irmão fazia isso. - Sentimos as coisas de modo diferente que os humanos. Nossa percepção ao nosso redor pode ser tão sensível a ponto de controlarmos emoções alheias, acredita mesmo que é tão difícil em poucas horas? Por que não tira a prova por si mesmo?- Como assim tirar a prova? – perguntei, prolongando aquele assunto insano. - Fique mais próximo a ela. Primeiro apareça por sonho como a maioria de nós fazemos, e depois espiritualmente, assim vai se aproximando dela, por fim aparecendo pessoalmente. – Castiel deu de ombros.- P-pessoalmente? – minha voz tremeu. - Sim, por que não?- Você sabe que somos proibidos de aparecer para os humanos. Só em raros casos, que devem ser aprovados por Ele. E humanos não podem saber o que somos. Nunca. – falei. - Uma regra ou outra quebrada ninguém nota, irmão. Eu mesmo já apareci para algumas humanas. E foi supernormal. – ele disse.Será que realmente eu poderia aparecer para minha protegida? A ideia me fazia arrepiar, porém ainda sim era uma regra importante do Céu. Não sei se eu poderia quebrá-la. Eu pensaria mais a respeito. Eu queria devagar conhecer mais sobre Olívia. Queria conquistá-la. Ser seu amigo. Seu guardião.- Sim, você realmente deve estar apaixonado. – Cas riu. - Pare de ler meus pensamentos! – gritei e dei um tapa em seu ombro, voltando a me sentar. Cas era o mais próximo dos meus irmãos a mim. Ele era o que os humanos chamavam de melhor amigo. - Então, irmão, o que vai fazer? – ele perguntou. - E o que eu poderei fazer? – meus ombros caíram pesados. Castiel suspirou. - Eu não sei, Melahel. Nunca houve um anjo apaixonado por uma humana. Ou pelo menos não que eu saiba... E eu nem sei as consequências disso. – ele olhou para mim com compaixão. – Deve ir com calma, irmão. Alguma atitude fora do lugar e pode ter sérias consequências. E você sabe do que quero dizer. Sim, eu sabia. Era sobre ser banido do Céu para sempre e andar pela Terra eternamente como um caído. Vários irmãos nossos no passado haviam caído, por desobedecer nosso Pai e assim sendo, vagaram pela Terra até hoje, sendo monstros sem asas e sem sentimentos. Eu não queria virar um Caído. Então eu realmente teria que tomar cuidado. Atitudes precipitadas poderiam ter graves consequências, como Cas tinha falado.- Vou seguir seu conselho. Eu não sei se estou apaixonado, mas Olívia é tudo para mim desde que o Sol de hoje nasceu e nunca eu deixaria algo acontecer para ela. – falei com uma convicção. ***Mais tarde depois de conversar com Castiel sobre alguns acontecimentos do Céu voltei para a casa de minha pequena e a encontrei deitada em sua cama lendo. Ela estava silenciosa e parecia concentrada em sua tarefa.
Pela minha noção de tempo deviam ser seis horas da tarde. O Sol estava se pondo. Observei pela janela e vi que estava quase escuro típico para um dia de setembro. Voltei minha atenção para Olívia. Ela não desviava os olhos do livro roxo que as letras na cama diziam E não restou nenhum. Sentei na ponta da cama, claro que ainda invisível e inaudível. Observei o jeito com que seus olhos iam e viam lendo, como eram profundos e sem emoção agora que ela estava em mundo da imaginação onde suas emoções não poderiam atingi-la. Sua pupila estava dilatada e o dourado inflamava ao absorver cada palavra. Seu cabelo estava preso e deixava seu rosto pálido e de fada mais a vista, e sua franja emoldurava os olhos. A boca rosada e delineada estava entreaberta respirando. Me senti atraído por aquela parte. Os lábios. Como seria beijá-los? Como seria tocar na sua pele e saber que ela sentia? Suspirei. Eu queria tantas coisas, mas ela nem tinha noção que eu existia. E tomei uma decisão. Eu iria entrar em seu sonho essa noite mesmo e dizer quem ela era e o que eu era. ***Ainda naquele dia continuei observar ela. Mas, nada demais aconteceu nas poucas horas que se seguiram. Olívia jantou com sua mãe, o padrasto e o irmão ainda silenciosa, tomou banho, e claro que nessa hora me mantive em seu quarto, e quando foram nove e meia ela se recolheu para se preparar para dormir. Ainda com o mesmo pijama curto, que também tentei não olhar.
Eu era anjo, mas antes de tudo eu era do sexo masculino. Sentia as coisas muito bem. Anjos costumam namorar uns com os outros, mas eu nunca senti atração por nenhuma. Eu nem sequer sabia o que era um beijo, quando muitos de meus irmãos já foram tremendamente além disso. Eu tinha dois mil anos, só que era aparência de um garoto de dezenove. Muitos anjos diziam que eu era bonito. Mas, eu não me importava. Só ficava em meu canto resolvendo minhas missões, por que nenhuma delas havia me provocado o que Olívia me fazia sentir. E por isso assim que ela adormeceu profundamente sem chorar pelo menos essa noite, me concentrei em sua mente e deslizei minha alma para dentro de seu corpo fazendo com que eu controlasse seus sonhos. E então fiquei na dúvida... Como eu faria a sonhar? Em que lugar seria bom para nos conhecermos? Eu me mostraria para ela como eu era de verdade?As ideias foram chegando e decidi criar a cena de um filme que ela gostava. Como eu estava em sua mente eu sabia tudo que ela gostava, sentia e já pensou e toda sua vida. Imaginei um barco flutuante, mas não que navegava em mares, e sim no Céu. Ok, isso tinha ficado ótimo, por que instantaneamente fui levado para o barco e meus pés pousaram na madeira escura e antiga. Decidi criar algumas pessoas lutando como se fossem piratas de antigamente. As pessoas apareceram, todos os homens e lutavam entre si com espadas, como num treino, com blusas bufantes, calças coladas e botas de cano alto. Claro que eu também deveria me transformar. Olhei para mim no reflexo do vidro de uma janela do barco e mudei minhas roupas instantaneamente. Mentalmente alonguei meu cabelo de forma que ele caísse em meus ombros e por fim imaginei uma máscara sobre meu rosto. Na verdade a mistura era de dois filmes que ela gostava. O fantasma da ópera e Stardust. Ela iria adorar. Até eu estava gostando do cenário. Como anjo eu era terrivelmente poderoso e poderia fazer o que eu quisesse e imaginasse. O mais incrível era pensar que os arcanjos eram ainda mais poderosos que eu. Foi então que distraído com meu reflexo, que reparei na bela dama ao meu lado, vestida com um longo vestido branco. Seus cabelos castanhos quase loiros caiam encaracolados, mesmo na vida real fossem lisos, e seu olhar dourado confuso estava sobre mim. Me virei e encarei Olívia.- Olá, Olívia. – murmurei calmamente.Ela corou e sorriu. Isso, eu estava indo bem.- Oi. – Senti meu coração querer pular pela minha blusa branca bufante.Eu nunca tinha sentido essa sensação de nervosismo e ansiedade. Nunca. E agora eu não sabia como agir, o que falar e como tratá-la.Respirei fundo e tomei coragem. Caramba, eu era um anjo. Poderoso e protetor com dois mil anos de idade e isso tinha servir para alguma coisa.Olívia ainda me encarava confusa e sua expressão era uma doçura.ela disse, tímida.- Você deve estar um pouco confusa, não é? – sorri.Por um pequeno segundo vi seu olhar estudar meu rosto, meu corpo e por fim meus olhos. Ela parecia intrigada com minha escolha pela máscara e mesmo assim ela sorriu mais uma vez e acenou com a cabeça.- Vou esclarecer as coisas para você. – falei, pois eu não aguentava mais não me apresentar a ela. – Sou um anjo. Um anjo do Céu, que foi enviado para pro
Retornei para o quarto de Olívia, e ela dormia suavemente. Eu estava tão feliz que não poderia descrever em palavras. Ela havia me abraçado duas vezes e ainda pude ver em seus olhos a adoração e o jeito alegre com que ela se sentiu perto de mim.Caminhando suavemente sentei-me ao seu lado na cama. E inesperadamente ela sorriu. Achei que estivesse acordada, mas não. Ela ainda estava dormindo.Sorri junto a ela. Passei a mão em seu rosto e acariciei seu cabelo. Tornei minha película de proteção mais fina, deixando quase real minha aparência. Assim ela poderia sentir-me mesmo dormindo.Ainda eram duas da manhã e assim passei toda madrugada até ela acordar. Porém, pouco antes das seis ouvi um ruído do lado de fora da sua janela. Silenciosamente e me tornando mais invisível atravessei a janela e praticamente dei de cara com Ariel.Ariel era um anjo petulante e um dos meus irmãos do qual eu menos gostava. A raiva surgiu em meu semblante.- O qu
Aproveitei o tempo que Olívia não estava em casa para vasculhar suas coisas. Eu sei que poderia ser meio que invadir a privacidade dela, mas eu nunca deixaria a desconfortável.Em sua gaveta da cômoda vi uma pequena caixa rosa. Abri e lá dentro tinha infinitas fotos de seus amigos e família assim como no mural, mas em algumas fotos estavam alguém que não gostei.Reconheci o menino que ela gostava. Ele era branco, com cabelos negros e lisos bem arrepiados. Seus olhos eram chocolate. Uma pequena pontada de ciúme abateu-se sobre mim.Eu sei que era errado cobiçar algo que não era meu, como minha protegida. Porém, ela fazia com que dentro de mim despertasse sentimentos que eu jamais senti. Isso é novo e difícil de controlar.Coloquei suas fotos de volta no lugar de novo, e vi um pequeno caderno roxo. Curioso, abri, e em quase todas as folhas estavam escritas, na letra pequena e delicada de Olívia. Abri a primeira folha e estava escrito “Diário Pessoal”.
Ela acabou adormecendo em meus braços. Chorando magoada com alguém que nem sequer ligar para se ela estava bem ou não, e de certa forma, isso me intrigava. Como amar alguém que não nos dá sinais de que pode corresponder o mesmo sentimento? E mais do que isso, estar todo o tempo perto e fingir que estava tudo bem.E era isso que me doía. Como um ser humano poderia ser assim? Tão cruel e vil a ponto de deixar uma menina naquele estado em que minha protegida estava? Como os seres incríveis que meu pai falava poderiam ter se transformado nisso?O pior que eu sabia que esse tipo de crueldade não é nada comparado aos crimes de que nós anjos às vezes não conseguimos evitar. É lamentável que alguém possa chegar a esse ponto.Por isso quando foi à noite, esperei minha amada adormecer novamente em meus braços, as horas da madrugada eram denunciadas pela luz da lua que entrava pela janela e deixei-a dormindo para que eu pudesse fazer algo que era necessário.
Eu não poderia acreditar.Aquele era meu futuro e Olívia estava tendo essa visão comigo quando ela ainda nem me conhecia direito. Mas, eu sabia por que ela estava tendo aquela visão.Isso era claro para todos os anjos. Aqueles que alterassem a vida humana sem uma ordem expressa do Céu, apenas para privilégio próprio seria castigado e terminantemente proibido de voltar espiritualmente para o Reino de Deus.E o que eu havia acabado de fazer era isso. Eu tinha alterado a vida de Tyler, por que além de eu o ter ameaçado eu havia mandado ficar longe de minha protegida, o que claramente era uma regra quebrada. Além de eu estar envolvido por ela, o que já me colocaria em uma bela encrenca.Eu tinha prometido a mim mesmo que agiria com cautela, mas ao invés disso, agi no impulso e acabei fazendo um erro pior que o outro com apenas dois dias que eu conhecia minha pequena.Se eu não tomasse cuidado de verdade qualquer acusação contra mim, de Ariel
Cheguei à escola de minha amada e ela estava tento aula. Tornei-me completamente invisível não deixando que ela me sentisse. Queria apenas obervar ela.Olívia estava concentrada no que o professor explicava sobre uma conta de matemática. Ela anotava tudo que o professor dizia e ela não perdia nada. Após o professor parar de explicar ela se virou para amiga e sorriu.- Planos para o fim de semana? – ela falou.A amiga fez uma expressão de desanimada e deu de ombros.- Que nada. Meus pais parecem que querem me trancar dentro de casa para sempre. – ela comentou.- Ah, não faça drama, Angélica. – Olívia riu.Bem, finalmente eu descobria o nome de sua, ao que parecia melhor amiga.- Você não vai acreditar no que vou te contar. – Olívia puxou sua cadeira para mais perto de Angélica e baixou o tom de voz. – O anjo falou comigo. E ele é tão fofo...- Sério? Mas você o viu? – ela perguntou.- Que nada. É o que eu mais quero, porém
Agora sim eu tinha me metido numa bela confusão. Enquanto subia para o Céu junto com Castiel, eu praticamente tinha certeza de quem havia me colocado naquilo era Aiel, mas mesmo assim tive que perguntar.- Quem me denunciou? – perguntei batendo minhas asas brancas e pesadas rapidamente.Ele hesitou alguns segundos.- Ariel. – respondeu.- Você foi acusado junto? – indaguei.- Sim, como você sabia? – ele murmurou confuso.- Olívia esta noite teve uma visão sobre nós dois sendo castigados com carrasco e tudo. Provavelmente seremos expulsos do Céu. – falei pesaroso.- Não se bolarmos um plano para colocarmos Ariel como mentiroso. – Castiel disse.- Como assim? Não tem como enganar o Céu. Eles vão descobrir. – falei indo cada vez mais alto entre as nuvens.- Eu sei, mas não precisamos mentir, apenas omitir algumas partes menos importantes. Por exemplo o sonho que você castigou o menino. – ele olhou para mim, e levantei as sobrancelhas.
Ainda arrasado sai do Salão de Justiça e caminhei por todo o campo branco. Eu estava desolado. Como eu poderia ver apenas duas vezes minha amada por semana?E pior eu ainda seria obrigado a ficar aqui como um prisioneiro sem direito o direito de sair para nada. Como alguém poderia ser Deus desse jeito? Como alguém poderia julgar assim?Eu sabia que eu estava blasfemando. Mas, eu não me importava. Eu tinha ódio de todo esse maldito paraíso e esses anjos escravos. Eu estava odiando tudo, por que eu não poderia ficar com quem mais queria.Andei e andei e achei uma árvore de copa alta e fresca. Me sentei aos seus pés e encostei minhas costas em seu tronco. O choro subiu por meu peito de modo desesperado e silencioso. Eu estava sozinho e não liguei se alguém me escutasse.Eu nunca tinha demonstrado nenhum tipo de sentimento desde de meu nascimento, e após dois mil anos e ter conhecido Olívia, todo tipo de sentimento passava por mim e isso me deixava cada vez mais