Ainda arrasado sai do Salão de Justiça e caminhei por todo o campo branco. Eu estava desolado. Como eu poderia ver apenas duas vezes minha amada por semana?
E pior eu ainda seria obrigado a ficar aqui como um prisioneiro sem direito o direito de sair para nada. Como alguém poderia ser Deus desse jeito? Como alguém poderia julgar assim?Eu sabia que eu estava blasfemando. Mas, eu não me importava. Eu tinha ódio de todo esse maldito paraíso e esses anjos escravos. Eu estava odiando tudo, por que eu não poderia ficar com quem mais queria.Andei e andei e achei uma árvore de copa alta e fresca. Me sentei aos seus pés e encostei minhas costas em seu tronco. O choro subiu por meu peito de modo desesperado e silencioso. Eu estava sozinho e não liguei se alguém me escutasse. Eu nunca tinha demonstrado nenhum tipo de sentimento desde de meu nascimento, e após dois mil anos e ter conhecido Olívia, todo tipo de sentimento passava por mim e isso me deixava cada vez mais confuso. Eu não sabia lidar com isso, por que eu não fora feito para isso. Porém, eu já tinha sentido raiva, inveja, medo, tristeza e agora dor. Eu queria poder estar agora ao lado dela, passando a mão por seu cabelo e sussurrando coisas para ela dormir. Como em apenas dois dias eu poderia desenvolver algo tão forte?Eu não sabia e não entendia. Mas eu praticamente estava sozinho nessa. Castiel era meu irmão, só que ele também nunca tinha sentido isso. Durante o resto do dia passei sentado ali me remoendo e triste. Quando escureceu, levantei-me e rapidamente fui até o portal, como mandado Gabriel estava ali. Parecendo um soldado.- Você tem quinze minutos para ir e para voltar, tirando sua uma hora com ela. Tirando isso é considerado crime. – ele disse. Dei as costas para ele e disparei pelo portal. Abri minhas asas e voei, fazendo piruetas e caindo em espirais. A sensação que me tomou foi de liberdade. Como eu queria poder ficar assim o tempo todo. Aproveitando bem o voo, pousei no quintal de Olívia. As luzes estavam acesas e todos ainda estavam acordados. Deixei minha película de invisibilidade razoável e entrei em seu quarto. Mais uma vez ela estava lendo aquele livro de capa roxa. Quando cheguei ela sentiu minha presença, fechou o livro e se endireitou na cama. - Finalmente, Melahel. Eu chamei por você, mas você não veio. O que está acontecendo? – ela perguntou de braços cruzados. Contudo tive que sorrir. Parece que de uma hora para outra, ela havia se tornado meu lar. Onde eu sempre iria querer retornar. - Tive um problema. É sobre isso que quero falar. – me sentei próximo a ela. Respirei fundo, mas antes algo que o Senhor disse me passou pela cabeça, poderá usar sua aparência de anjo e não somente a voz...Eu poderia me transformar em um corpo normal, como meus irmãos veem. E isso me alegrou apesar de tudo. Eu poderia me mostrar a ela durante esse tempo de nossas aulas.- Mas, antes disso tenho uma boa e uma má noticia. Qual prefere? – falei.- A boa. – ela respondeu sem hesitar. - Então, eu posso aparecer pessoalmente para você. Você gostaria de me ter pessoalmente? – falei sorrindo.Ela arregalou os olhos e achei que ia soltar um grito de felicidade, porém as palavras não saíram de sua boca. Ela ficou mais pálida do que normalmente, porém seus olhos ficaram iluminados de tanta felicidade. E por fim ela conseguiu falar.- S-sim. – ela disse.- Bem, então vamos lá. Feche os olhos. – falei me divertindo. Ela fechou ainda sentada, mas vi seu corpo oscilar tremendo. Tirei minha invisibilidade por completo. Senti meu corpo se tornar solido e o ar rodopiar ao redor de mim. Olhei no espelho e eu realmente estava ali. De roupas brancas, calça jeans tênis e camiseta em V. Meus cabelos bagunçados para cima negros, minha pele pálida e meus olhos azuis mar estavam brilhando.Caminhei até ela e toquei em suas mãos que estavam geladas. - Olhe para mim. – sussurrei. Ela lentamente abriu os olhos e então os arregalou. Lágrimas se acumularam nos cantos e então ela chorou emocionada. Os soluços subiram por sua garganta. Não sabia por que ela estava chorando, mas puxei-a para meus braços e meu colo. - Por que está chorando, amada? – murmurei enquanto acariciava seu cabelo.A sensação de tê-la em meus braços era totalmente única e singular. Era algo que eu nunca poderia colocar em palavras por ser tão especial e completo. Parecia que nossos corpos se moldavam quando eu a abraçava.- P-porque você é real. – ela disse trêmula. – Eu agora sei que é de verdade. Que você não é uma invenção minha para que eu não me sentisse tão sozinha. E eu não mereço um anjo em minha vida, por que sou inútil. Não tenho valor. Ouvir aquelas palavras dela me machucaram. Meus Deus como ela poderia se enxergar daquele jeito? Como? Ela era linda, meiga e especial. - Você nunca mais repita algo assim, minha protegida. Nunca. – puxei seu rosto molhado para me olhar e seus olhos dourados encontram com os meus.Não sei dizer, mas algo naquele momento se encaixou e não pude me controlar. Me aproximei de seus lábios e selei um pequeno beijo neles. Era algo doce e divino beijar aqueles lábios. E realmente algo se completou mesmo eu não sabendo o por que. Mas, me dei conta de que agora não seria o melhor momento para ficar de romance. Estávamos sendo obrigados a ser separados e beijá-la só faria esse sofrimento aumentar.Me afastei dela fazendo com que ela voltasse a sentar na cama e me levantei. Não! Eu não deveria ter feito isso. Ela estava confusa e amava outro, havia acabado de me conhecer e agora eu fazia isso. - Me desculpe. É que você estava tão frágil que... Desculpe. – murmurei.Ela pareceu meia zonza e fora do ar, no entanto ela me respondeu.- T-tudo bem... – ela disse.- Não, não ta tudo bem! – gritei. – Eu sou um anjo e não devemos ficar próximos. E é sobre isso que vim falar. – não sabia o que estava fazendo, mas sabia que isso era necessário. – Vim para falar que vou ficar um pouco distante por algumas coisas que preciso resolver. Venho duas vezes por semana dar aula a você. Toda terça e sexta, das oito as nove. Do contrario vou ficar no céu. E se precisar de mim é só rezar. Mas isso é em casos de extrema urgência. Ela parecia ter acabado de receber um tapa na cara. Eu entendia. Eu havia acabado de beijá-la e depois praticamente a rejeitado. Eu me contorci por dentro com dor. Isso tudo estava me matando, mas o culpado era apenas eu. Ela não merecia criar esperanças comigo, mesmo que eu... O que? Gostava dela? Queria ela? Nem eu sabia. Isso tudo ainda era recente demais. - Ok. – ela disse baixinho. - Preciso ir. Boa noite e venho terça, não se esqueça. – falei. Vi que algumas lágrimas se acumularam nos cantos de seus olhos, e meu coração apertou. Caminhei até a cama e beijei sua testa. - Me desculpe, amada. Então sem esperar mais nada, voltei a minha forma invisível e sai de seu quarto.Escutei ela chorando e lágrimas também rolaram por meu rosto. Aquilo era para o bem dela. Porém a sensação de seus lábios nos meus não sairiam tão fácil na minha mente.As semanas foram se passando e as coisas viraram rotina.Duas vezes por semana eu a visitava para lhe dar aulas sobre seus dons e seu comportamento.Durante as primeiras aulas ainda estávamos de certa forma constrangidos um com os outro e eu me mantinha com a postura de um professor humano, gentil atencioso, porém frio e distante.Eu não queria isso, mas até que esse meu castigo fosse suspenso, se é que seria suspenso, não poderíamos ficar muito próximos. Isso me machucaria me machucava mais do que qualquer coisa, e sentia que ela tinha o mesmo sentimento. E isso é tudo que eu menos queria.Ela aos poucos foi se distanciando de mim e apenas perguntando o conteúdo da aula. Olívia tinha muito dúvidas sobre como surgiu e por que ela era vidente. E isso pelo menos fazia com que há uma hora juntos passasse rápido, mesmo que eu quisesse que parasse o tempo e ficar com ela.- Não se há uma razão exata de por que vocês surgiram. Deus apenas queria que o mund
Os dias passaram e eu contava os minutos para estar com ela. Meus pensamentos ficaram vinte e quatro horas refletindo que medidas poderia tomar diante de nossa situação, e eu esperava ansiosamente pelo que eu ia fazer.Eu nunca tinha bancado o romântico de tentar conquistar as mulheres. Muitos anjos partilhavam de um companheiro. Porém, eu jamais sequer prestei atenção nisso. E agora havia chegado a hora de se apaixonar, e minha escolha tinha sido feita por uma humana. Mesmo que eu não quisesse, ela era agora a mulher que eu amaria pelo resto de minha existência, e se eu não a tivesse eu me destruiria pouco a pouco.Eu sei que eu viveria eternamente e ela não, mas estar, que seja alguns anos ao seu lado poderia ser tudo para mim. Isso eu poderia levar para o resto de minha vida.Quando por fim a sexta chegou, sai do Céu contente e feliz. Eu sabia que ela agora deveria estar com outro. Só que isso seria por bem pouco tempo. Menos do que ela se quer imaginar
Olívia olhou para mim por longos minutos. Muda e surpresa com minha resposta. Eu já estava me sentindo incomodado com isso. Será que ela não poderia falar algo?Peguei suas mãos nas minhas e ela sorriu, finalmente esboçando uma reação. Sorri também e ela corou delicadamente.- Pode me dizer alguma coisa? – indaguei suave.Ela balançou a cabeça, porém mesmo assim falou.- É que não consigo acreditar ainda. Me deixa cair a ficha, que eu te respondo. – ela riu.Ri junto. Finalmente tudo estava às claras, e isso era um alívio.- Quer que eu prove? Mais um beijo? Uma declaração? Eu não sei bem como funciona essas coisas... Nunca estive apaixonado em dois mil anos... – expliquei.Ela riu novamente, mas então algo passou por seus olhos, fazendo com que ela os arregalasse.- Você tem dois mil anos? – Olívia ergueu as sobrancelhas.- Sim. – respondi.- Nossa... Acho que você é meio velho para mim... Mas, não importa. É com você que quero construir um
Cheguei ao Céu alegre e morrendo de vontade de encontrar Castiel, pois ele era o único no qual eu gostaria de dividir o momento em que eu vivia. Tentei disfarçar um pouco minha alegria, afinal suspeitariam se eu chegasse corado e tão feliz.Ao caminhar no bosque a procura de Castiel, apenas quem eu encontrei foi Ariel. A raiva cintilou em meu peito, mas preferi deixá-lo para trás e continuei caminhando, porém ele agarrou meu braço.- Vivendo momentos felizes? – ele disse.Puxei meu braço com força e encarei Ariel.- Isso não é da sua conta. E saia do meu caminho. – dei as costas e ia caminhar quando as palavras dele me prenderam.- Você acha que Olívia sendo uma vidente estaria protegida sem você? – ele perguntou cheio de ironia.As palavras dele me atravessaram sem que eu tivesse ideia do que ele estava falando, mas sabendo que aquelas provocações tinham um fundo verdadeiro.Peguei Ariel pelo pescoço e o tirei do chão.- O que você es
Voei entre as nuvens os mais rápido que poderia. Olívia estava sozinha e isso podia ser mais perigoso ainda. Foi quando senti outra presença atrás de mim. Olhei entre as nuvens escuras e notei Castiel descendo até onde eu estava.Continuei em direção ao chão e logo Castiel me alcançou.- Problemas, irmão? – ele perguntou.- Sim. Demônios descobriram sobre Olívia. Isso pode ser terrível. – expliquei.Ele assentiu e voou comigo até a casa dela. Antes de entrarmos, lembrei-me de fazer escudo de proteção. Parei no quintal e me concentrei mentalmente, buscando forças dentro de mim.Isso era fácil. Senti o ar tremular ao meu redor e Castiel entendeu o que eu estava fazendo. Ele também se concentrou ao meu lado e juntos, pronunciamos as palavras em latim para formar o escudo.Automaticamente uma pequena película se formou ao redor da casa de Olívia, e apenas quem era um ser sobrenatural a veria. Sorrindo e com o trabalho feito, me tornei espírito para atravess
- Pronto? – esperei Olívia na sala enquanto ela trocava de roupa, e arrumava uma pequena mala.- Sim. – ela apareceu na sala vestida de calça jeans, camiseta e um tênis. Os cabelos soltos e lindos. Seus olhos estavam em dor e eu sabia que era por que ela estava indo.- Eu sinto muito, você voltará... É só uma questão de tempo. – falei, embora eu soubesse que era mentira. Eu nem sabia se ela realmente poderia voltar depois que os demônios descobriram onde ela morava.Abracei-a por um momento, e segurei seu rosto para o meu para beijá-la. O beijo foi apenas para demonstrar que eu estava ali, porém, não consegui deixar de puxá-la para mais perto e aprofundar ainda mais nossa paixão. Ela me abraçou deixando cair à mochila.Eu não queria que nada estivesse acontecendo. Não queria esse perigo para ela, não queria que ela se afastasse das pessoas que ela ama, e muito menos que ela tivesse que passar por mais dor, mas isso era resultado de ela ter dons. A maioria dos espec
Um frio sentimento de terror se apoderou de mim. A única pessoa que eu havia se esquecido de proteger, havia sido pega por eles. E era a melhor amiga de Olívia. Eu sabia que eu devia tê-la protegido. Ela era também de certa forma especial.Tentando pensar claramente, voltei minha atenção para o telefone.- O que vamos fazer? – falei.- Precisamos pegá-la de volta. Vou voltar ao Céu para garantir mais soldados e assim fazer com que cerquemos o lugar onde estão com amiga dela, e a resgatamos. – Castiel disse.- Ok. Quando estiver pronto me ligue e vou com você. – Olívia se assustou e pegou minhas mãos nas dela.- Precisa ficar ai, irmão. Alguém forte tem que protegê-la. A situação não está muito boa para nosso lado. – ele calculou e ouvi o ar entre as nuvens enquanto ele voava a toda.- Ok. Mas, qualquer coisa me ligue. Farei o que for preciso para protegê-la e as pessoas ao redor dela. – desliguei o telefone e o joguei na cama. As coisas real
A manhã de domingo chegou preguiçosa e serena. Apesar de eu estar acordado e ter visto o Sol nascer, eu não me sentia nenhum pouco cansado.Ao contrário. Eu me sentia bem disposto e mais equilibrado do que em dois mil anos de meu nascimento. Eu sabia que a situação lá fora não poderia estar muito boa, mas eu estava calmo e tranquilo, com uma sensação tão diferente que nunca tinha me passado pela mente que poderia existir. Eu sabia o motivo disso, tinha nome e era de carne e osso.Olívia dormia tranquilamente enrolada nos lençóis e estranhamente sorria enquanto sonhava com um jardim secreto e rosas brancas. Ela estava bem, mesmo com sua amiga sequestrada e eu sabia que pelo menos quando ela acordasse estaria melhor do que ontem.Castiel ainda não tinha ligado, mas eu esperava que a situação tivesse chegado a um ponto melhor. Eu não saberia o que fazer agora com Olívia e com a perseguição dos Demônios. Por que isso não teria um fim. A família dela e seus ami