Não consegui ir embora. As horas passaram e continuei a observar dormir. Zelando para que Olívia, não tivesse nenhum pesadelo.
Sim, Olívia era o nome dela. Olívia Vause. Meu peito ruflava toda vez que eu pensava em seu nome. A felicidade tomava conta de meu coração. Eu não sei quantas horas fique ali, observando sua respiração ir e vir. Mas, eu me sentia conectado com aquela garota de poucos anos de vida, se comparado com toda minha existência de dois mil anos. O que eu, havia visto nela, que pudesse ser tão atrativo? Se quer havia visto ela alguma vez, e já estava completamente atormentado por coisas que nunca havia sentido. E isso era insano. E mesmo sabendo que era loucura, não consegui ir. Quando eram seis horas, ela acordou com o cabelo todo bagunçado, e mesmo sendo assim, diante de meus olhos, ela parecia a criatura mais linda que eu já havia visto. Com a luz da manhã, ela parecia uma pintura. O sol se infiltrava pela janela, levemente quente pelo verão. Sua pele clara, era cremosa e parecia muito macia. Os cabelos brilhantes da cor mais clara de trigo. E ah, os olhos... Seria ela uma prima perdida de um Deus? Não seria possível que aquela garota fosse humana. Ainda invisível em meu canto por horas, mas que pareciam até segundos, me movi com ela, mais perto, porém decidi dar a ela seu espaço. Sei que eu parecia mais um fantasma do que um anjo, mas eu queria avaliar o dia a dia dela, para saber como me aproximar. Como tentar ajudá-la. Ela saiu das cobertas apenas com um short preto curto e uma camiseta, tentei não olhar para ela e as partes de seu corpo descoberta. Meus olhos acompanharam os movimentos dela. Primeiro no quarto, depois ela foi ao banheiro fazer sua higiene pessoal, onde permaneci onde estava, mas ouvi suas atividades e para a cozinha logo depois, para comer. Quando retornou ao quarto, estava vestida com um uniforme, ao que parecia escolar, e jeans. Olivia pegou sua bolsa, parecendo que iria sair. Ainda invisível, segui-a. Me movi como um ladrão fantasma e deixei a película de meu escudo muito baixa, se eu estivesse certo, ela saberia que eu estava ali. Algo me dizia que os dons dela iriam muito além do que se imaginava, e agora como protetor dela, era meu dever estar ao seu lado, para enfim conseguir auxilia-la de alguma forma.Durante todo o período da manhã, como qualquer adolescente, Olivia frequentava o último ano do colégio. Ela ficou calada em seu canto, sem falar e apenas prestando atenção na aula. Mas, seus olhos eram tão profundos, que eu reconhecia cada sentimento que passavam por entre eles. Dor. Medo. Angústia. Alguma pouca alegria, e por fim dor. Será que ninguém de seus amigos percebia o quanto ela estava mal? O quanto ela precisava de apoio?E como se meus pensamento tivessem sidos ouvidos, uma menina pequena e com um corpo desenvolvido, cabelos loiros e olhos marrons do lado dela, cochichou. - Você está melhor? – ela perguntou.- Bem, mais ou menos. Mas, pelo menos essa noite eu consegui dormir melhor. Parecia como se alguém tivesse me zelando em meus sonhos. Foi tão bom. – ela sorriu pela primeira vez, e meu coração bateu mais forte. Finalmente em via um sorriso em seu rosto de anjo.A amiga dela riu.- Talvez tenham mandado um anjo da guarda para te proteger. As palavras dela me chocaram. Como os humanos poderiam brincar com a verdade, não? Eu anjo, estava ali do lado delas, ouvindo sua conversa de brincadeira, mas que era verdade. - Quem sabe... – Olívia sorriu mais uma vez. Percebi que sua amiga a fazia pelo menos algum bem. – Eu tive outro daqueles sonhos reais. – ela disse e um tremor passou por sua voz.- As visões? – a amiga dela falou mais baixo. - Sim. E eu não sei mais o que fazer! – ela exclamou frustrada. – Eu queria saber por que posso ver as coisas, por que eu sou assim. Foi então que uma ideia passou por mim. Eu poderia aparecer nos sonhos dela e contar sobre mim. Falar por que ela era especial. Realmente estudar ela valia a pena. - Você vai ter as repostas que precisa. Só ter paciência. – a amiga dela tocou no braço de Olívia.Minha protegida pareceu se acalmar por alguns momentos. E de repente um sinal tocou. Olívia arrumou seu material e ela e amiga saíram juntas da sala de aula. Caminhei entre os adolescentes e de olho nela. Ela parou perto de uma parede e percebi que um garoto se aproximou. Com minha audição escutei o coração dela, dar um solavanco e seus olhos fingirem bem estar, quando estavam praticamente mortos por dentro. - Oi. – ele a cumprimentou.- Oi. – ela fingiu um falso sorriso. E foi assim durante toda a conversa deles, ela fingia estar interessada no que ele falava sobre outra garota, enquanto eu sentia seu peito se afundar cada vez mais. Notei que aquele deveria ser o cara por quem ela estava apaixonada. Um sentimento que nunca havia passado por mim, tomou conta de meu peito. E reconheci a raiva. Eu tinha raiva por aquele menino não se dar conta do quanto ela era linda, do quando ela se importava com ele. Senti raiva por que se eu tivesse sido ele eu teria dado todo valor e atenção que ela precisava como eu estava fazendo agora. Mas de um jeito mais íntimo, como um humano faria por sua mulher amada.O último pensando meu me chocou. Tanto que precisei me afastar de Olívia e seu colega, para que eu pudesse pensar com clareza.Correndo por todo o gramado fora da escola, alcancei voo e disparei para o céu. O Sol fez minhas asas brancas brilharem como diamantes. Voando a toda e ainda invisível por ser de dia, me direcionei para um pequeno parque que avistei terra abaixo. Pousei e sentei em banco. Meu peito subia e descia sem ar. O que estava acontecendo comigo? Por que a raiva e esses pensamentos tão intensos passavam por minha mente? Por que Olívia parecia tão importante e vital para mim, mesmo que eu a tivesse visto apena algumas horas atrás?Angústia tomou conta de mim e abaixei a cabeça entre as mãos. O pequeno lago a minha frente refletiu minha imagem de desespero. Meu cabelo preto e liso estavam amassados entre minhas mãos, meus olhos azuis cor de oceano estavam vidrados e apenas minhas roupas brancas, camiseta e calça jeans, não mostravam alteração nenhuma.A presença veio antes que a voz, e me virei abruptamente para encarar meu irmão Castiel. - Olá, irmão. – ele disse. Castiel vestia roupas iguais as minhas, porém ele tinha cabelos loiros e olhos verdes, só que a mesma pele branca e pálida.- Oi, Castiel. – respondi automaticamente. Meu cérebro ainda estava a mil.- Soube que você estava com uma nova protegida... – ele murmurou. – E como estão as coisas? Que dom ela tem?- As coisas estão mais ou menos. Ela é vidente. - Nossa. Dom diferente. – ele disse. – Sabe, senti suas emoções lá de cima. – ele apontou o Reino de Deus. – E posso te dizer que você está em uma bela encrenca.Suspirei. Era inútil não revelar a ele, que eu estava sentindo coisas intensas por Olívia. Anjos são capazes de sentir emoções. E é ainda mais forte quando são nossos irmãos.- Eu sei. Mas, não entendo por que estou sentindo tudo isso. Por que ela é tão linda para mim ou por que sinto que devo protegê-la mais do que devo. – fui sincero. – E tudo tão rápido!Castiel ficou por alguns segundos quieto, parecendo ponderar o que ia dizer. E então olhou fixamente para mim. - Isso é amor.- Não! Não pode ser! – exclamei levantando abruptamente. - Tem uma ideia do absurdo que está me dizendo? Como alguém se apaixona assim? - dei risada, mas era uma risada nervosa.A ideia de que eu poderia estar apaixonado por aquela menina, era ridículo. Nunca houve um caso de um anjo que amou mais do que devia uma protegida. Nunca!E eu seria duramente castigado se isso acontecesse. Eu sou um anjo. Isso é completamente bizarro gostar de uma pequena humana que era simples e tão frágil perto de mim.Mas, ao pensar na minha protegida, eu sabia que ela não era frágil e nem muito menos simples. Ela era divina. Linda e tão singular, como um cristal da mais cara coleção. Ela era minha protegida há apenas oito horas, como eu poderia me apaixonar tão rápido?- Nós somos anjos. – Castiel disse lendo meus pensamentos. Odiava quando um irmão fazia isso. - Sentimos as coisas de modo diferente que os humanos. Nossa percepção ao nosso redor pode ser tão sensível a ponto de contro
- Olá, Olívia. – murmurei calmamente.Ela corou e sorriu. Isso, eu estava indo bem.- Oi. – Senti meu coração querer pular pela minha blusa branca bufante.Eu nunca tinha sentido essa sensação de nervosismo e ansiedade. Nunca. E agora eu não sabia como agir, o que falar e como tratá-la.Respirei fundo e tomei coragem. Caramba, eu era um anjo. Poderoso e protetor com dois mil anos de idade e isso tinha servir para alguma coisa.Olívia ainda me encarava confusa e sua expressão era uma doçura.ela disse, tímida.- Você deve estar um pouco confusa, não é? – sorri.Por um pequeno segundo vi seu olhar estudar meu rosto, meu corpo e por fim meus olhos. Ela parecia intrigada com minha escolha pela máscara e mesmo assim ela sorriu mais uma vez e acenou com a cabeça.- Vou esclarecer as coisas para você. – falei, pois eu não aguentava mais não me apresentar a ela. – Sou um anjo. Um anjo do Céu, que foi enviado para pro
Retornei para o quarto de Olívia, e ela dormia suavemente. Eu estava tão feliz que não poderia descrever em palavras. Ela havia me abraçado duas vezes e ainda pude ver em seus olhos a adoração e o jeito alegre com que ela se sentiu perto de mim.Caminhando suavemente sentei-me ao seu lado na cama. E inesperadamente ela sorriu. Achei que estivesse acordada, mas não. Ela ainda estava dormindo.Sorri junto a ela. Passei a mão em seu rosto e acariciei seu cabelo. Tornei minha película de proteção mais fina, deixando quase real minha aparência. Assim ela poderia sentir-me mesmo dormindo.Ainda eram duas da manhã e assim passei toda madrugada até ela acordar. Porém, pouco antes das seis ouvi um ruído do lado de fora da sua janela. Silenciosamente e me tornando mais invisível atravessei a janela e praticamente dei de cara com Ariel.Ariel era um anjo petulante e um dos meus irmãos do qual eu menos gostava. A raiva surgiu em meu semblante.- O qu
Aproveitei o tempo que Olívia não estava em casa para vasculhar suas coisas. Eu sei que poderia ser meio que invadir a privacidade dela, mas eu nunca deixaria a desconfortável.Em sua gaveta da cômoda vi uma pequena caixa rosa. Abri e lá dentro tinha infinitas fotos de seus amigos e família assim como no mural, mas em algumas fotos estavam alguém que não gostei.Reconheci o menino que ela gostava. Ele era branco, com cabelos negros e lisos bem arrepiados. Seus olhos eram chocolate. Uma pequena pontada de ciúme abateu-se sobre mim.Eu sei que era errado cobiçar algo que não era meu, como minha protegida. Porém, ela fazia com que dentro de mim despertasse sentimentos que eu jamais senti. Isso é novo e difícil de controlar.Coloquei suas fotos de volta no lugar de novo, e vi um pequeno caderno roxo. Curioso, abri, e em quase todas as folhas estavam escritas, na letra pequena e delicada de Olívia. Abri a primeira folha e estava escrito “Diário Pessoal”.
Ela acabou adormecendo em meus braços. Chorando magoada com alguém que nem sequer ligar para se ela estava bem ou não, e de certa forma, isso me intrigava. Como amar alguém que não nos dá sinais de que pode corresponder o mesmo sentimento? E mais do que isso, estar todo o tempo perto e fingir que estava tudo bem.E era isso que me doía. Como um ser humano poderia ser assim? Tão cruel e vil a ponto de deixar uma menina naquele estado em que minha protegida estava? Como os seres incríveis que meu pai falava poderiam ter se transformado nisso?O pior que eu sabia que esse tipo de crueldade não é nada comparado aos crimes de que nós anjos às vezes não conseguimos evitar. É lamentável que alguém possa chegar a esse ponto.Por isso quando foi à noite, esperei minha amada adormecer novamente em meus braços, as horas da madrugada eram denunciadas pela luz da lua que entrava pela janela e deixei-a dormindo para que eu pudesse fazer algo que era necessário.
Eu não poderia acreditar.Aquele era meu futuro e Olívia estava tendo essa visão comigo quando ela ainda nem me conhecia direito. Mas, eu sabia por que ela estava tendo aquela visão.Isso era claro para todos os anjos. Aqueles que alterassem a vida humana sem uma ordem expressa do Céu, apenas para privilégio próprio seria castigado e terminantemente proibido de voltar espiritualmente para o Reino de Deus.E o que eu havia acabado de fazer era isso. Eu tinha alterado a vida de Tyler, por que além de eu o ter ameaçado eu havia mandado ficar longe de minha protegida, o que claramente era uma regra quebrada. Além de eu estar envolvido por ela, o que já me colocaria em uma bela encrenca.Eu tinha prometido a mim mesmo que agiria com cautela, mas ao invés disso, agi no impulso e acabei fazendo um erro pior que o outro com apenas dois dias que eu conhecia minha pequena.Se eu não tomasse cuidado de verdade qualquer acusação contra mim, de Ariel
Cheguei à escola de minha amada e ela estava tento aula. Tornei-me completamente invisível não deixando que ela me sentisse. Queria apenas obervar ela.Olívia estava concentrada no que o professor explicava sobre uma conta de matemática. Ela anotava tudo que o professor dizia e ela não perdia nada. Após o professor parar de explicar ela se virou para amiga e sorriu.- Planos para o fim de semana? – ela falou.A amiga fez uma expressão de desanimada e deu de ombros.- Que nada. Meus pais parecem que querem me trancar dentro de casa para sempre. – ela comentou.- Ah, não faça drama, Angélica. – Olívia riu.Bem, finalmente eu descobria o nome de sua, ao que parecia melhor amiga.- Você não vai acreditar no que vou te contar. – Olívia puxou sua cadeira para mais perto de Angélica e baixou o tom de voz. – O anjo falou comigo. E ele é tão fofo...- Sério? Mas você o viu? – ela perguntou.- Que nada. É o que eu mais quero, porém
Agora sim eu tinha me metido numa bela confusão. Enquanto subia para o Céu junto com Castiel, eu praticamente tinha certeza de quem havia me colocado naquilo era Aiel, mas mesmo assim tive que perguntar.- Quem me denunciou? – perguntei batendo minhas asas brancas e pesadas rapidamente.Ele hesitou alguns segundos.- Ariel. – respondeu.- Você foi acusado junto? – indaguei.- Sim, como você sabia? – ele murmurou confuso.- Olívia esta noite teve uma visão sobre nós dois sendo castigados com carrasco e tudo. Provavelmente seremos expulsos do Céu. – falei pesaroso.- Não se bolarmos um plano para colocarmos Ariel como mentiroso. – Castiel disse.- Como assim? Não tem como enganar o Céu. Eles vão descobrir. – falei indo cada vez mais alto entre as nuvens.- Eu sei, mas não precisamos mentir, apenas omitir algumas partes menos importantes. Por exemplo o sonho que você castigou o menino. – ele olhou para mim, e levantei as sobrancelhas.