Capítulo Cinco

Retornei para o quarto de Olívia, e ela dormia suavemente. Eu estava tão feliz que não poderia descrever em palavras. Ela havia me abraçado duas vezes e ainda pude ver em seus olhos a adoração e o jeito alegre com que ela se sentiu perto de mim. 

Caminhando suavemente sentei-me ao seu lado na cama. E inesperadamente ela sorriu. Achei que estivesse acordada, mas não. Ela ainda estava dormindo. 

Sorri junto a ela. Passei a mão em seu rosto e acariciei seu cabelo. Tornei minha película de proteção mais fina, deixando quase real minha aparência. Assim ela poderia sentir-me mesmo dormindo. 

Ainda eram duas da manhã e assim passei toda madrugada até ela acordar. Porém, pouco antes das seis ouvi um ruído do lado de fora da sua janela. Silenciosamente e me tornando mais invisível atravessei a janela e praticamente dei de cara com Ariel. 

Ariel era um anjo petulante e um dos meus irmãos do qual eu menos gostava. A raiva surgiu em meu semblante. 

- O que você quer? – falei em tom auto, já que ninguém poderia me escutar. 

Ele sorriu por um instante. Ariel era muito cobiçado entre as anjas por ele ser loiro de olhos castanhos e como todos os anjos incrivelmente belo, mas ele não passava de um nojento. 

- Então é verdade que você está cuidando da garota poderosa? – ele perguntou quase em tom de afirmação.

- Sim, é verdade. Ela é minha protegida. – destaquei a palavra com dureza. 

- Calma, irmãozinho! – Ariel levantou as mãos como se tivesse se rendendo. – Só queria confirmar mesmo. Você ganhou uma missão importante. Essa garota está marcada como uma das mais poderosas entre os especiais. 

- Eu sei. – falei sem expressar nada. 

- Engraçado que escutei rumores de que você estava mais do que protegendo essa garota. – ele comentou maldoso.

Claro, eu era um anjo, apesar de um dia cuidando apenas dessa menina minha, era obvio que meus sentimentos ficavam mais fortes. Tanto que os anjos sentiram. 

Todos os meus irmãos compartilhamos o dom da sensitividade e do poder de ler pensamentos. Era útil quando havia batalhas, mas nunca quando queríamos ter privacidade, só que privacidade não era um privilégio dado para os anjos, por que somos apenas servos. Para obedecer e fazer o que nos ordenava.

Isso me irritou mais do que eu poderia imaginar. 

Eu queria poder ser livre para fazer minhas próprias escolhas, poder ter privacidade e poder ter a opção de escolher querer gostar ou não da garota que agora eu protegia. 

Era tão injusto.

Retornei minha atenção para Ariel, a raiva ainda corria por minhas veias. Eu sabia que o comentário dele era apenas uma ameaça.

- Se você se meter no meu caminho eu corto suas asas foras. – murmurei baixo e sibilando. 

- Seria uma tragédia se os arcanjos soubessem que você está apaixonado por essa garota. – ele disse. 

A raiva se transformou em fúria. Peguei Ariel pelo colarinho de sua blusa social branca e soltei minhas asas iridescentes extremamente pálidas. Em segundos elas brilharam a luz do Luar ao meu redor. 

Segurando Ariel ainda pelo pescoço levantei voo e ele se agitou em minhas mãos. 

- Me solta! – ele gritou.

Continuei firme e frio. Levei-o até um campo aberto onde se destruíssemos algo ninguém perceberia. Antes de pousar, joguei com força Ariel no chão. Ele quicou feito uma bola na grama e fez buracos no chão. 

- Eu já disse que se você se meter no meu caminho eu mesmo vou arrancar suas asas, seu maldito! – gritei. 

Voei para cima dele e desferi socos mais fortes em seu rosto. Pena que se curava rápido. Quando eu socava seu rosto, o último hematoma desaparecia. 

Só que eu não conseguia controlar minha raiva. Eu odiava não ter escolha e aquele maldito estar tentando me ameaçar. 

Continuei socando e vi que não adiantava, peguei seu cabelo cacheado a força e esmaguei sua cabeça uma, duas e infinitas vezes no chão. 

Eu era mais forte que Ariel por ser o chefe dos anjos guardiões e por ser mil anos mais velho que ele. Meu corpo vibrava a cada golpe. Eu nunca me vira tão raivoso.

- Prometa que vai ficar longe de mim e de minha protegida! – gritei.

Parei com os golpes para esperar sua resposta e então ele sagrando violentamente conseguiu ainda responder.

- P-prometo. – sua voz falhou. 

- Sou seu chefe, garoto. Sabe que se eu revidar você de algo os anjos vão preferir acreditar em mim a você. Falso testemunho é considerado crime no Céu. – sai de cima dele.

Seu estado era péssimo suas roupas estavam rasgadas e sua cabeça meio torta de tantos golpes que dei. Meu estado estava apenas um pouco melhor, pois eu estava sujo de sangue e de barro. Estalei meus dedos e minha pele ficou limpa novamente e minhas roupas mudaram para camiseta longa branca e jeans branco.

- Não se ache superior. Anjos são apenas escravos. Não importa sua hierarquia. – ele sussurrou, o rosto devastado. 

Anjos se curavam rapidamente, porém os machucados dele eram profundos e levariam horas para cicatrizar. 

- Pode até ser, mas não me importa sua raiva do Céu. Cuide de suas missões e não das minhas. Por que se entrar no meu caminho você nem tem ideia do que posso fazer com você. – falei e em seguida levantei voo novamente. 

Deixando Ariel para trás, eu finalmente estava mais calmo. A raiva havia se dissipado e eu poderia pensar claramente. E percebi que eu não devia ter correspondido às ameaças e provocações de Ariel. Afinal era isso que ele queria. Mas, pelo menos ele havia levado uma lição.

Eu realmente era o chefe dos guardiões. Eu denominava quem ficava com os especiais e quem cuidava de humanos. Porém, quando a especial Olívia apareceu, simplesmente os arcanjos me disseram que eu deveria assumir essa missão por que ela era demasiadamente importante.

Eu assumi e então agora olha a situação em que eu havia me metido. Se Ariel dissesse para os arcanjos que eu estava apaixonado era claro que eles viriam me confrontar e talvez acreditassem no que eu respondesse. Porém isso criaria desconfiança entre os anjos, e eles colocariam arcanjos para me observar, o que não seria nada bom. 

Eu teria que ficar muito esperto com Ariel e com suas especulações. E sem dúvida teria que ser mais cuidadoso. Eu queria minha protegida, mas se eu arriscasse demais minha vida e a dela estariam em perigo. 

Chamar alguém para ficar de olho em Ariel seria bom, e só havia uma pessoa em quem eu confiava para fazer isso. 

Eu ainda estava voando enquanto pensava tudo isso, e então decidi pousar na casa de Olívia novamente para chamar Castiel. Silenciosamente pousei em seu quintal. Recolhi minhas asas e me concentrei. 

Expandindo meus pensamentos para que ele escutasse sussurrei mentalmente:

Castiel venha até mim. Preciso que você me ajude. 

Fechei os olhos jogando meus pensamentos ao vento para que ele levasse até Castiel. E após apenas alguns segundos meu irmão mais chegado a mim, apareceu. Escutei suas asas, e abrindo os olhos, o vi em minha frente.

Castiel sorriu a me ver. 

- O que houve, irmão? – ele perguntou.

- Ariel. Ele esteve me espreitando e conseguiu descobrir sobre Olívia e... – não consegui terminar.

- E que você está apaixonado por ela, não é? – ele disse.

- Sim. – eu não deveria deixar de contar a verdade a quem eu pediria um favor. – E eu preciso que você fique de olho nele. Hoje eu dei um susto em Ariel, mas eu o conheço. Sei que ele é implacável quando quer. 

- Eu ficarei, irmão. Mas, você precisa ser cuidadoso. Ariel é pior que uma cobra peçonhenta. Nem sei como ainda continua anjo. – Castiel sacudiu a cabeça, desacreditado.

- Eu também não. – falei. – E obrigado por tudo. Qualquer coisa me chame. 

- Sem dúvida, Melahel. Até. – Castiel levantou voo rapidamente. 

Mais aliviado suspirei. O céu já estava clareando o que deveria ser uma seis e meia, infelizmente eu havia perdido o despertar dela. Atravessei a parede e a encontrei vestindo o casaco de frio. 

Sorrindo deixei minha invisibilidade menor para que ela me sentisse. E então ela olhou ao redor. Procurando é claro por mim. 

Deixando o ar mais quente, soltei um leve aroma de rosas brancas que ela gostava, por que eu havia visto em sua mente. Olívia ainda parada sorriu, foi quando seus olhos pararam onde eu estava posicionado. Dei risada e ela ainda sorria, olhando para mim sem me ver por alguns segundos.

Caminhei até perto de sua cama onde ela estava parada. Encarei seus lindos olhos dourados. Olhos que viam tudo e não julgavam nada. Olhos que demonstravam tanto sem ninguém perceber. 

Ela ainda estava parada quando deslizei minha mão por seu rosto deixando meu toque quente por sua pele. Ela fechou os olhos me sentindo e com os lábios curvados em um lindo sorriso. 

Uma lágrima escapou de seus olhos. Ela estava emocionada por eu estar ali. 

- Obrigada. – ela disse quando abriu os olhos. 

Sim ela me sentia tão bem como se eu fosse visível. Olívia só podia ter alguma sensibilidade paranormal para me sentir daquele jeito. Ri, ela tinha ganhado mais um dom. 

Ela sorriu mais uma vez e pegou sua mochila. Ela saiu do quarto e caminhei junto com ela até a porta da sala. Ela acenou praticamente pra mim antes de sair e fechou a porta. 

Eu não a seguiria. Mas ficaria alerta caso ela precisasse de mim.  


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