Parte 2
Emma
Andei pelo apartamento, olhando tudo com atenção, para guardar na memória e poder recordar que eu tive momentos felizes aqui, ao lado de Alessandro. O apartamento é antigo e por isso mesmo, é enorme.
Tem uma decoração linda, chique e que eu sempre gostei desde o começo, mesmo quando Alessandro me deu carta branca para mudar o que eu quisesse. Eu até tento não chorar, mas é difícil. Minha vida mudou tanto depois que eu saí do Brasil e vim morar na Itália.
Quando eu cheguei, era apenas uma turista, mas minha vontade de mudar de vida, me fez tentar continuar aqui mais tempo e por isso que eu pedi o visto de estudante. Eu sempre adorei artes, sempre fui ótima em desenho e quando me veio essa ideia, eu sabia que era uma dica do universo para continuar. Foi mais fácil do que eu pensei, conseguir o visto de estudante. Isso só podia ser um sinal.
E estava um pouco complicado no começo, eu sei que estava, mas então Alessandro surgiu na minha vida. E foi de uma forma totalmente absurda. Eu não esperava que um louco fosse invadir a lanchonete onde eu estava e tentasse matar as pessoas lá dentro.
Alessandro foi um herói. Ele conseguiu resolver o problema, junto com o segurança dele e depois ainda conseguiu me deixar boba, ao me tirar lá de dentro e me mandou voltar para a pousada. Nesse instante eu senti algo.
Suspirei e sequei os olhos, marejados. Eu não quero ir embora, não quero deixar o homem que eu aprendi a amar. Mas é o que preciso fazer. Ele não vai me perdoar. Alessandro tem um temperamento muito forte. Meu celular toca de novo. Agora é ele. Meu coração dispara.
— Eu vou chegar tarde hoje – ele diz logo que eu atendo. Nem mesmo me diz um oi — Não espere acordada por mim. Tenho muito trabalho a fazer.
Claro. Sempre ele tem muito trabalho agora. Há dias que chega tarde. Eu sei.
— Claro, eu entendo – respondo com voz desanimada.
— O que você tem, Emma? – ele pergunta parecendo aborrecido — Por favor, eu não estou com tempo agora para resolver coisas comuns.
Ouvir isso me deixou triste. Ele não falava assim comigo antes. Agora as coisas mudaram e só pode ser outra mulher. Eu deveria saber, afinal, quando o conheci ele sempre estava preparado para um encontro. Não faltavam camisinhas em seus bolsos e no carro. Parecia que brotavam do nada.
— Não tenho nada, Alessandro. Estou bem, é o calor.
— Então tome um banho, use a piscina, vá à praia... Sei lá! – ele suspira de modo cansado — Eu tenho que ir. Te vejo depois.
E ele desliga assim, sem mesmo me mandar um beijo. Muito diferente do homem de antes. Eu tinha que fugir dos ataques de Alessandro porque ele sempre tinha um fogo grande e qualquer lugar servia para uma rapidinha, como ele dizia brincando, quando começava com suas carícias. E eu aceitava. Esse foi meu erro.
Eu até achei que ele iria voltar a ser o mesmo de quando o conheci. Alessandro tem um jeito forte, possessivo, mandão e quer tudo do jeito dele. E eu fui cedendo. Talvez esse tenha sido o meu erro. Eu não coloquei minhas vontades no mesmo nível que ele fez e deixei que ele dominasse nossa relação.
Eu até pensei que tudo ficaria bem, na última reunião do grupo de amigas, onde nos reunimos na casa de Yelena para falar sobre nossas leituras e também um pouco de fofoca, porque ninguém é de ferro. E é divertido também, confesso.
Eu até comentei com Isabela nessa tarde, não em detalhes, sobre o que tinha acontecido entre nós quando ele chegou em casa e sei que ela se preocupou comigo, mas essa não era minha intenção.
Naquela tarde, ele chegou fora do horário e eu até me espantei. Tivemos um começo de discussão. Eu estava quase saindo para o encontro com o grupo, quando ele veio com seu charme e safadeza para cima de mim.
Eu ainda tentei resistir um pouco, mas como sempre, foi impossível. Alessandro sabe que eu adoro o toque dele e ainda mais depois de alguns dias longe um do outro. Ele sorriu de uma forma cínica e segurou meu rosto, me beijando demorado. Senti seus braços me agarrando e no momento seguinte, estava deitada na cama, de barriga para baixo e tivemos um momento só nosso, que eu até achei que fosse mudar algo, mas não mudou.
Parecia que ele estava carregado por algum sentimento que o forçava a ser uma pessoa severa, rígida. Não sei bem definir o que aconteceu naquela tarde. Depois que tudo acabou, eu saí do quarto sem comentar nada sobre o comportamento dele e fui encontrar Isabela e as outras.
Eu já tinha sido traída antes. Não por ele, mas tive um relacionamento antes que foi exatamente assim. Do nada ele mudou e depois eu descobri que ele me traía com uma colega.
E para piorar, descobri que estou grávida e não sei como isso pode ter acontecido, já que a gente se protege desde o começo. Mas, de qualquer forma, eu não vou esperar até ele me mandar sair daqui. Eu mesma vou embora.
Parte 3 Emma Eu me sinto perdida e com muito medo do que vai vir para mim no futuro. Meu coração está pesado. Eu não queria deixar Alessandro, mas tenho que fazer isso antes que nossa relação chegue a um ponto em que ficaremos com raiva e mágoa um do outro. Não estamos brigando, mas não estamos conversando também. Nem mesmo a parte íntima de nosso namoro está da mesma forma. E isso me deixa confusa. Será que eu fiz errado em transar com ele logo no início? Eu não sou de fazer esse tipo de coisa. Só tive dois namorados antes de Alessandro e não fui para a cama com eles logo no começo, levou um tempo. Com Alessandro eu nem parei para pensar nisso direito. Me senti muito atraída por ele e talvez pelo modo como eu o conheci, ficou em minha mente que ele era um homem diferente de todos o que eu já tinha conhecido. Só que agora, eu não tenho como saber se errei em ir para a cama com ele logo de primeira, porque não vou comentar com Isabella e Lívia sobre isso. Eu não vou estar aqui pa
Parte 4 Emma Meu celular toca de novo. Dessa vez é Isabela. Com certeza a Lívia deve ter avisado que eu não vou comparecer ao encontro. Respiro fundo e atendo, tentando manter a voz a mais calma possível, para que ela não suspeite de nada. — Oi, Isabela! — Oi... Pode me dizer o real motivo de você não vir até o nosso encontro de hoje? – ela me pergunta com voz séria — E por favor, nem me venha com essa desculpa de que você tem outro compromisso ou então esqueceu. Como eu sabia. Lívia tinha dado o recado a ela. Claro que iria contar. As duas são bem amigas. — Sinto muito, Isabela... Não estou criando nenhuma desculpa. Eu realmente acabei esquecendo porque a semana foi corrida. Isso é uma grande mentira. As aulas na faculdade ainda não recomeçaram e eu não tenho um emprego. Tenho tempo para fazer o que eu quiser. Como ir embora, por exemplo. — Você ainda está pensando que o meu cunhado tem outra mulher? Sim, eu estou, mas não vou dizer isso a ela de novo. Fica parecendo que est
Parte 5... Alessandro Andei por todo apartamento e nada de a encontrar. Peguei o celular e liguei, cinco vezes. Me sinto irritado. É muito tarde para que ela esteja na rua com as amigas. Respirei fundo ao perceber que eu quase não sei nada sobre suas amigas. Nem mesmo tenho o número de alguma delas para ligar. — Merda! – esfrego o cabelo e decido tomar um banho — Porra, Emma... Atende essa porcaria de telefone – eu reclamo como se fosse um adolescente. Solto um suspiro longo e cansado e vou até o banheiro. Um banho vai me ajudar a relaxar os músculos e quando sair do banheiro, talvez ela já esteja de volta. Não vou brigar com ela por estar na rua assim tão tarde, mas ela poderia ao menos ter me avisado que iria curtir a noite com as amigas. Enquanto a água enche a banheira, deixo que minhas preocupações se dissipassem gradualmente, substituídas pelo calor suave que envolve meu corpo tenso. O vapor perfumado das velas queimando ao redor da banheira preenche o ar, criando uma atmos
Parte 6AlessandroEu fiquei tão nervoso que a única coisa que passou em minha mente foi ir direto para casa e contar tudo para minha família. Eles sempre me dão força quando estou assim e agora preciso de uma luz, porque minha mente está travada.Eu saí dirigindo em alta velocidade, o vento soprando pelos vidros semiabertos do carro. Estou tenso e minhas mãos agarram com força o volante do carro. Passei tão rápido pelo sinal vermelho que os carros buzinaram freneticamente e tive que desviar no susto, para não bater em outro carro. Estou focado em chegar logo em casa.Quando passei pelos portões, dei um freio brusco, fazendo os pneus chiarem e o carro deslizou um pouco na brita. Saltei e corri em direção da porta. Desci apressado e quase corri pela casa, indo para a área de lazer. Uma empregada me disse que estão todos reunidos perto da piscina. Até bati a porta de acesso ao abrir. Desci para o gramado e eles se viraram para me olhar.Enzo logo levantou.— O que houve, Alessandro? Por
Parte 7 Emma O sol mal começou a iluminar as ruas estreitas de Palermo quando eu parei o carro naquela praça. Eu não podia ficar e esperar que o dia nascesse, tinha que sair antes que ele voltasse para casa. A essa hora Alessandro já acordou e já se deu conta de que eu não estou no apartamento. Talvez tenha encontrado meu bilhete. Suspirei. Meu estômago está começando a roncar, pedindo por comida. Eu não trouxe nada comigo, nem mesmo uma barra de chocolate para me dar mais um gás no percurso. Eu olho para os retrovisores, um pouco nervosa. Até sinto meus dedos das mãos começarem a doer de tanto que agarro esse volante. Estou muito ansiosa. A cada curva que o carro faz, percebo que não deveria ter vindo dirigindo. Saber a teoria não tem nada a ver com a prática. Se meto o pé no acelerador o carro faz curvas bruscas e se alivio, ele para ou engasga. É péssimo! Isso só revela aos outros por perto, que sou inexperiente ao dirigir. E não vai ser nada legal se outro policial me abordar
Parte 8 Isabela Eu olho na direção da casa. Sinto pena de meu cunhado, mas eu tinha uma ideia de que talvez isso viesse a acontecer. Ele nunca foi honesto com Emma sobre ter uma vida diferente, sobre ser um mafioso e sobre tudo o que fazia. Ou pelos menos fazer um resumo, assim como Victor fez com a Lívia. Torço a boca, apertando os lábios. É uma pena mesmo. Eu senti que ela estava estranha, mas achei que estava só aborrecida e não pensando em sair de casa e largar o Alessandro. Coitado! — Eu falei sobre isso com o Enzo... – deixei meu copo em cima do guardanapo — Eu disse a ele que mandasse Alessandro chamar a Emma para uma conversa – dei de ombro, meio aborrecida — Me sinto mal por isso. Eu deveria ter insistido para que Enzo o aconselhasse. — Mas o que ela tinha, minha querida? – Yelena perguntou, se inclinando para mim — Você sabe de algo? É grave? — Ai, minha sogra... – suspirei e fiz uma careta de sentida — A Emma estava com uma ideia fixa de que Alessandro tem uma outra m
Parte 9Alessandro— Vocês acham que ela descobriu que eu faço parte da máfia? – perguntei enfiando os dedos pelo cabelo.— É bem provável, mas pode ser que você tenha feito algo que a deixou magoada – Victor disse.Eu apertei os dedos das mãos, estalando um por um. Realmente, ele pode ter razão. De repente Emma acabou descobrindo antes que eu revelasse, que sou um mafioso de família antiga nesse meio e ela não quis mais ficar comigo. Pode ser isso.Olhei para Enzo, sentado em sua poltrona de couro, o ambiente estava envolto em uma sensação que condizia com meu estado de espírito. O brilho do sol que entrava pela janela aberta, projetava sombras sinistras em seu rosto, acentuando os vincos de preocupação em sua testa. Eu sei que meus irmãos se preocupam por mim.— Acho que vou precisar de ajuda pra saber para onde ela foi – eu disse me recostando na cadeira.— Vamos colocar Manollo e Bartolo em busca de sua garota, irmão – Enzo abre a gaveta da mesa e puxa um envelope amarelo — Aqui t
Parte 10LíviaEu me sinto mal por não ter insistido mais com a Emma, para que ela viesse ao encontro com a gente naquele dia. Eu senti que ela estava diferente, mas não cheguei a pensar que estivesse assim, pensando em deixar Alessandro. Eles se gostam tanto e o namoro deles foi tão rápido, logo foram morar juntos.— O que foi, Lívia?Olhei para a Isabela e dei um sorriso meio xoxo, sem graça, desanimado.— Eu deveria ter procurado por ela... Eu senti que estava diferente, mais lenta, desanimada – mexi o ombro e enrolei o cabelo na mão, segurando, olhando para o gramado verdinho — Ela sempre gostou de nossos encontros com as colegas do clube do livro...— Não fique se culpando, querida – Yelena bateu de leve em minha mão.— Também acho... – Isabela continuou — Eu também senti que ela estava um pouco estranha, mas ofereci minha ajuda por mais de uma vez e ela não quis – ela cruzou as pernas, segurando o joelho — Não acho que temos culpa realmente, embora me sinta um pouco triste por v