Parte 11Lívia— Estão prontas? – Yolanda me pergunta quando entro na cozinha.— Eu estou – olhei para Isabela.— Eu também – ela disse ajeitando a alça da bolsa no ombro — Mas eu não disse ao Enzo que nós vamos até a faculdade onde Emma estuda. Ele pensa que nós vamos sair para fazer compras.— Mas ele vai saber, Isabela – eu disse erguendo as sobrancelhas — E os seguranças que vão com a gente?— Ah... – eu dei de ombro — Quando ele souber, nós já fomos e aí já era.Yelena sorriu de canto. Eu sei que ela gosta desse modo da Isabela ser, mas eu ainda não peguei esse modo. Victor é diferente do irmão, apesar de ser mais velho. Enzo é bruto, eu já vi, mas ele explode logo e depois se acalma. Já o Victor é o contrário. Ele é calmo e quando explode, é bem pior.— Não se preocupe com isso, Lívia. Eu assumo se algo der errado – Yelena disse para me deixar tranquila — Eu sei que você ainda está começando a pegar o jeito da coisa aqui entre nós – ela sorriu — Mas logo vai se habituar e domina
Parte 12IsabelaMe virei de olhos bem abertos. A cara de meu marido não estava muito boa. Lívia deixou o copo em cima do balcão da pia e se retirou, nos deixando sozinhos.— Realmente, marido... Está muito abafado hoje – terminei de beber a água — E por isso mesmo que eu vou aproveitar e tomar um bom banho para me refrescar.Me aproximei dele e ergui o rosto para lhe dar um beijo. Minha intenção era sair e evitar um confronto, mas não deu muito certo. Enzo segurou meu pulso.— Finalmente voltou, esposa. Onde estavam?Eu poderia continuar com a desculpa que dei antes de sair, mas seria uma bobagem, já que ele deve saber para onde fomos ou vai saber em instantes, quando falar com algum dos seguranças que estavam conosco.— Nós fomos até a faculdade de artes para tentar saber de algo sobre a Emma – preferi soltar logo tudo.— Mas por que vocês precisam se meter em tudo? – ele fez uma cara descontente — Por acaso acham pouco tudo o que aconteceu com a família nos últimos tempos, é isso?
Parte 13AlessandroDe alguma forma, eu me sinto ligado a Emma. Mesmo ela tendo fugido de mim, sem nem eu mesmo saber o motivo, eu sei que ela deve estar sofrendo em algum lugar onde está escondida, porque eu estou sofrendo também.Isso nunca me ocorreu antes. Eu nunca me preocupei com nenhuma outra e nem me liguei dessa forma, ao ponto de não conseguir ficar em paz. Eu preciso encontrar Emma. Preciso!Soltei o ar em uma lufada triste, me sentindo confuso. Até agora nada de alguém me ligar para dizer que sabe onde ela está.A primeira coisa que fiz foi entrar em contato com dois funcionários do aeroporto que estão em nossa ficha de subordinados. Eles vão procurar por algum voo onde Emma possa ter embarcado. Se ela deixou o país eu vou saber.Enzo também mandou que Manollo buscasse por informações nos portos. Depois o mesmo por terra. Por onde Emma saiu, se saiu do país, eu vou saber. Mas no fundo, tem algo que me diz que ela não fez isso. Ela ainda está por aqui.O relógio ao lado de
Parte 14Isabela— Eu sei porque nós não conseguimos nenhuma informação que servisse para encontrar a Emma – eu disse me sentando ao lado de Yelena — Fomos ao lugar errado.— Errado? – ela baixou a xícara no pratinho — Mas a faculdade era aquela e...— Sim, mas fomos no local errado, minha sogra – me inclinei e peguei o prato que a empregada me passou — Emma não estuda artes como profissão... Ela estava tentando se formar em arqueologia marinha.— E que diabos isso faz? – ela se espantou e se reclinou na cadeira — Pensei que seria algo de artes.— Eu também, Isabela. Ela me falou sobre aulas de artes – Lívia estava do outro lado da mesa.— Sim, eu sei que ela também fazia artes e mais puxado para curadoria e museus – abanei a mão — Essas coisas aí... Eu não sei bem como se chama, mas na área de artes, poucos a conhecem realmente e por isso ninguém nos informou nada de interessante.— Então você quer voltar à faculdade? – Lívia cortou uma fatia do bolo.— Quero, mas acho que hoje é mel
Parte 15AlessandroEu caminho em silêncio pelas lápides, tentando ser respeitoso e não pisar em nenhuma delas. A terra começa a ficar mais molhada e a sinto afundar sob meus sapatos caros, com partes da grama se prendendo ao solado.É um lugar onde todos nós estaremos algum dia.Olho para as árvores em volta e o vento que balança suas folhas parece que está sussurrando para elas. Enquanto me aproximo do túmulo de meu pai, meus pensamentos que já estão confusos por causa de Emma, me puxam para outro lugar, onde questiono sobre a vida e suas dificuldades, particulares a cada um.Algumas lápides são simples, marcadas apenas com os nomes e as datas, enquanto outras são decoradas. Eu as vejo como sentinelas silenciosas.Eu continuei andando a passos firmes, as mãos enfiadas nos bolsos do sobretudo que agora está mais pesado devido a chuva que ficou mais constante.— Alessandro... – eu me viro — Use isto.Stênio, como um bom e fiel guardião que ele é, me entrega um guarda-chuva preto, gran
Parte 16Emma— Olha, eu não quero tirar seu ânimo de continuar com seus planos – Thaís me disse, enquanto preparo o café fresco — Eu só acho que você ter saído dessa forma... – ela ergue as sobrancelhas e inclina a cabeça — Não sei, amiga... Pra mim isso bem prematuro. Você deveria ter insistido mais.— Insistir em quê, Thaís? – bati a espátula na frigideira — Estava mais do que claro que o Alessandro já não estava mais tão interessado assim em mim.— Eu não acho – ela fez um gesto com a boca, mexendo a cabeça — Pra mim você se deixou levar por coisas do seu passado e trouxe para agora.Realmente, pode até ser um pouco disso mesmo. Eu já tive uma experiência péssima no passado, mas foi só mais um ponto no que aconteceu. Eu ainda não contei a Thaís que minha fuga também foi por outro motivo e não apenas a desconfiança de estar sendo traída por Alessandro.Como eu iria dizer a um homem que estou grávida, se estamos juntos a tão pouco tempo e ele deixou claro que não tem intenção de ter
Parte 17Victor— O que está fazendo, Alessandro?Entrei na garagem para pegar o carro. Preciso sair. Me espantei ao ver meu irmão mais novo, deitado em cima do capô do carro, olhando para a chuva lá fora. Me aproximei e parei ao lado, cruzando os braços.— Curtindo uma fossa... – ele dá de ombros — O que você quer, Victor?— Sair... Se você deixar – abri os braços — Por que diabos está deitado em cima do capô do meu carro, seu idiota?— Eu também te amo, irmão – ele me responde de forma irônica.— Alessandro, eu tenho que sair para cuidar de algumas coisas – bati em sua perna — Ainda tem pouco tempo que começamos as buscas. Nós vamos achar sua namorada.Ele dá uma risadinha e puxa uma tragada.— Que porra é essa, seu babaca? – fiz uma cara de nojo — Você está fumando?— Não tem perigo... É só maconha – ele ri de forma cínica — Para relaxar.— E desde quando você usa isso? – eu pego o pequeno cigarro enrolado e jogo no chão, pisando e amassando com a sola do sapato.— Desde que Emma m
Parte 18AlessandroEu tive que sair do escritório para comer algo. Falei com Stênio e ele me disse que pegou imagens das câmeras de segurança de algumas ruas, o que vai ajudar muito, já que Emma levou o carro com ela. Isso me deixa um pouco em dúvida. Se ela mesma me disse que não sabia dirigir, que não tinha carteira, então como saiu com o carro?Eu sei que Isabela me disse que ela estava com a ideia fixa de que eu tinha uma amante, mas será que foi isso mesmo ou ela só quis se proteger, caso eu viesse a descobrir que ela sim, tem um amante? E quem me garante que não foi ele quem saiu dirigindo por aí?Ainda tenho dúvidas. Muitas dúvidas mesmo.Parei o carro na vaga em frente ao restaurante. Vou matar o tempo aqui até que Stênio me ligue de novo. Tenho que me cuidar para não deixar a ansiedade tomar conta de mim agora.Olhei o movimento dos carros passando, antes de atravessar a avenida e foi aí que eu a vi. No meio da avenida, descalça e desamparada, chorando e olhando em volta, um