Parte 1...
Emma
Eu me sinto nervosa, preocupada e com uma leve dor de cabeça. Não sei se deveria mesmo fazer isso, mas eu não vou esperar demais e depois ser passada para trás. Isso já me aconteceu uma vez, não quero repetir.
Não é fácil me afastar, eu realmente tinha um plano para mim e Alessandro, mas se ele não quer participar disso, eu não posso força-lo a nada.
Meu celular toca em cima da mesa. Eu não queria atender, mas tenho que fazer isso. Não posso ser ingrata com as pessoas que me receberam de braços abertos e me aceitaram sem me questionar.
Solto um suspiro e aperto o nariz, para evitar fungar ao atender e ficar com voz de choro. Não quero criar um drama maior do que já é. Pego o celular e vejo o nome na tela. Lívia!
Eu gosto muito da Lívia. Eu a conheci primeiro, logo que comecei minha relação com Alessandro. Depois veio a Isabela. Eu estava nervosa quando fui conhecer a família dele e Lívia me tratou muito bem. São duas pessoas maravilhosas que tive a oportunidade de conhecer e de chamar de amigas, mas não posso colocar meu problema em suas mãos.
— Alô! – tento manter a voz firme — Oi, Lívia.
— Oi, Emma. Onde você está?
— No apartamento.
— Engraçado... Eu passei aí mais cedo e toquei tanto o interfone. Ninguém atendeu, pensei que tivesse saído.
— Ah, sim... Foi isso mesmo – eu menti. Isso é muito feio, eu sei, mas não podia dizer que tinha ficado toda a manhã chorando — Eu tive que pegar uma encomenda aqui perto.
— Certo. Bem, estou ligando para saber se você vai vir para nossa reunião aqui em casa – ela me questiona animada.
— Hoje? – olhei para a sala, onde as malas estavam em cima do sofá.
— É sim, você esqueceu? A Isabela vai dar um chá para as amigas do clube do livro e aproveitar para fazer a arrecadação de fundos para o abrigo de animais.
Eu não me esqueci, apenas desisti de ir. Não estou mais suportando viver na mentira de que Alessandro e eu estamos bem, como um casal normal. Já faz semanas que não somos mais um casal. Pelo menos para mim, não somos.
— Poxa, eu realmente acabei me esquecendo, sinto muito – joguei essa — É que estive tão ocupada essa semana que me perdi na data.
— Não tem problema, eu já te recordei – ela riu do outro lado — Pode chegar um pouco antes, para nos ajudar a organizar as mesas?
— Nossa, Lívia... – eu respirei fundo — Eu não sei se vai dar para ir hoje.
— Por que não? O Alessandro inventou outra saída surpresa como das outras vezes, não é?
Antes fosse mesmo isso. Eu iria adorar. Mas na verdade, Alessandro estava dias chegando tarde em casa e saindo cedo. Algumas vezes eu até acordei, mas ele quase não me deu atenção. Chegava e corria para o banheiro. Comecei a ficar desconfiada de que havia algo de errado.
O Alessandro que eu conheço, jamais me deixaria dias sem sexo. Ele tem um fogo que parece nunca se apagar, mas nos últimos dias, ele quase nem mesmo me beijava. Isso só pode ser uma coisa. Ele tem outra!
— Hã... Não, não foi o Alessandro – apertei as unhas na palma da mão — É só que eu esqueci e já me comprometi com outra coisa.
— Que coisa? – ela me questionou curiosa — Não pode ser amanhã? Não vai dar para Isabela trocar o chá para outro dia, está muito em cima da hora.
— Não precisa trocar... Podem fazer sem mim.
Esperei a resposta dela, que demorou um instante para vir, ainda mais curiosa.
— Emma, tem algo de errado com você? Me parece estar um tanto dispersa, travada... Precisa de minha ajuda?
Seria muito bom poder me abrir para ela, mas Lívia é casada com Victor, o irmão mais velho de Alessandro e Isabela é a esposa de Enzo, outro irmão dele. Não quero envolver as duas e trazer algum tipo de problema para elas e os maridos. Eu sempre resolvi meus problemas sozinha, desde pequena.
— Não tem nada, Lívia... É impressão sua.
— Seria muito bom se você fosse, nós contamos com você, Emma. Sabe que gostamos muito quando participa de algo que a gente inventa.
— Sim, eu sei – respondi quase engasgando para evitar chorar — Eu também gosto muito de vocês, de todos vocês... É que às vezes fica difícil... Participar de todos os eventos...
Ouvi o suspiro dela.
— Está bem, me desculpe... Não vou insistir... Mas seria bom ter você com a gente, Emma – sua voz ficou mais baixa, preocupada — Não fique sozinha, está bem? Eu estou aqui para você... Nós, estamos aqui para você.
— Obrigada... Eu sei – meu queixo tremeu — Tchau, Lívia. Muito obrigada por tudo – desliguei antes que ela me perguntasse algo mais.
Sentei no chão e abracei os joelhos, deitando a cabeça e chorando novamente. Esses dias o que eu mais faço é chorar e em nenhum momento, Alessandro percebeu que eu mudei. Ele não presta mais atenção em mim, não conversa comigo como antes.
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— Eu não posso ficar aqui chorando – disse em voz alta, para mim mesma, olhando para o teto branco, esticada no chão frio — Ele não me ama mais e eu tenho que aceitar isso – eu disse alto, como para me convencer — E quando ele souber que eu estou grávida, não vai me querer de forma alguma, de qualquer jeito – funguei e esfreguei o nariz.
É muito estranho. Eu não sei o que aconteceu. Minha relação com Alessandro sempre foi muito maluca, agitada, rápida demais. As coisas foram acontecendo sem que eu percebesse. Aliás, acho que nem ele percebeu muita coisa.
A gente só se jogou nisso de cabeça. As coisas foram chegando e acontecendo para nós e continuamos seguindo, sem parar para analisar muito e isso foi um erro. Hoje eu percebo isso.
— Como isso pôde ter acontecido comigo, meu Deus? – solucei e comecei a chorar de novo.
Eu odeio isso. Odeio ficar sensível demais e chorar sem parar, sem motivo nenhum, como uma idiota. Mas meu corpo está sensível, cheio de hormônios devido a gravidez que descobri há poucos dias. E que é um dos motivos pelos quais eu estou deixando Alessandro, antes que ele me deixe.
Eu sei que vou sofrer por um tempo, até me acostumar a não ter mais sua presença ao meu lado, mas não posso arriscar.
Autora Ninha Cardoso.
*Obs: É interessante que leia antes o livro A Virgem do Mafioso, para entender melhor o que se passa aqui.
Parte 2 Emma Andei pelo apartamento, olhando tudo com atenção, para guardar na memória e poder recordar que eu tive momentos felizes aqui, ao lado de Alessandro. O apartamento é antigo e por isso mesmo, é enorme. Tem uma decoração linda, chique e que eu sempre gostei desde o começo, mesmo quando Alessandro me deu carta branca para mudar o que eu quisesse. Eu até tento não chorar, mas é difícil. Minha vida mudou tanto depois que eu saí do Brasil e vim morar na Itália. Quando eu cheguei, era apenas uma turista, mas minha vontade de mudar de vida, me fez tentar continuar aqui mais tempo e por isso que eu pedi o visto de estudante. Eu sempre adorei artes, sempre fui ótima em desenho e quando me veio essa ideia, eu sabia que era uma dica do universo para continuar. Foi mais fácil do que eu pensei, conseguir o visto de estudante. Isso só podia ser um sinal. E estava um pouco complicado no começo, eu sei que estava, mas então Alessandro surgiu na minha vida. E foi de uma forma totalment
Parte 3 Emma Eu me sinto perdida e com muito medo do que vai vir para mim no futuro. Meu coração está pesado. Eu não queria deixar Alessandro, mas tenho que fazer isso antes que nossa relação chegue a um ponto em que ficaremos com raiva e mágoa um do outro. Não estamos brigando, mas não estamos conversando também. Nem mesmo a parte íntima de nosso namoro está da mesma forma. E isso me deixa confusa. Será que eu fiz errado em transar com ele logo no início? Eu não sou de fazer esse tipo de coisa. Só tive dois namorados antes de Alessandro e não fui para a cama com eles logo no começo, levou um tempo. Com Alessandro eu nem parei para pensar nisso direito. Me senti muito atraída por ele e talvez pelo modo como eu o conheci, ficou em minha mente que ele era um homem diferente de todos o que eu já tinha conhecido. Só que agora, eu não tenho como saber se errei em ir para a cama com ele logo de primeira, porque não vou comentar com Isabella e Lívia sobre isso. Eu não vou estar aqui pa
Parte 4 Emma Meu celular toca de novo. Dessa vez é Isabela. Com certeza a Lívia deve ter avisado que eu não vou comparecer ao encontro. Respiro fundo e atendo, tentando manter a voz a mais calma possível, para que ela não suspeite de nada. — Oi, Isabela! — Oi... Pode me dizer o real motivo de você não vir até o nosso encontro de hoje? – ela me pergunta com voz séria — E por favor, nem me venha com essa desculpa de que você tem outro compromisso ou então esqueceu. Como eu sabia. Lívia tinha dado o recado a ela. Claro que iria contar. As duas são bem amigas. — Sinto muito, Isabela... Não estou criando nenhuma desculpa. Eu realmente acabei esquecendo porque a semana foi corrida. Isso é uma grande mentira. As aulas na faculdade ainda não recomeçaram e eu não tenho um emprego. Tenho tempo para fazer o que eu quiser. Como ir embora, por exemplo. — Você ainda está pensando que o meu cunhado tem outra mulher? Sim, eu estou, mas não vou dizer isso a ela de novo. Fica parecendo que est
Parte 5... Alessandro Andei por todo apartamento e nada de a encontrar. Peguei o celular e liguei, cinco vezes. Me sinto irritado. É muito tarde para que ela esteja na rua com as amigas. Respirei fundo ao perceber que eu quase não sei nada sobre suas amigas. Nem mesmo tenho o número de alguma delas para ligar. — Merda! – esfrego o cabelo e decido tomar um banho — Porra, Emma... Atende essa porcaria de telefone – eu reclamo como se fosse um adolescente. Solto um suspiro longo e cansado e vou até o banheiro. Um banho vai me ajudar a relaxar os músculos e quando sair do banheiro, talvez ela já esteja de volta. Não vou brigar com ela por estar na rua assim tão tarde, mas ela poderia ao menos ter me avisado que iria curtir a noite com as amigas. Enquanto a água enche a banheira, deixo que minhas preocupações se dissipassem gradualmente, substituídas pelo calor suave que envolve meu corpo tenso. O vapor perfumado das velas queimando ao redor da banheira preenche o ar, criando uma atmos
Parte 6AlessandroEu fiquei tão nervoso que a única coisa que passou em minha mente foi ir direto para casa e contar tudo para minha família. Eles sempre me dão força quando estou assim e agora preciso de uma luz, porque minha mente está travada.Eu saí dirigindo em alta velocidade, o vento soprando pelos vidros semiabertos do carro. Estou tenso e minhas mãos agarram com força o volante do carro. Passei tão rápido pelo sinal vermelho que os carros buzinaram freneticamente e tive que desviar no susto, para não bater em outro carro. Estou focado em chegar logo em casa.Quando passei pelos portões, dei um freio brusco, fazendo os pneus chiarem e o carro deslizou um pouco na brita. Saltei e corri em direção da porta. Desci apressado e quase corri pela casa, indo para a área de lazer. Uma empregada me disse que estão todos reunidos perto da piscina. Até bati a porta de acesso ao abrir. Desci para o gramado e eles se viraram para me olhar.Enzo logo levantou.— O que houve, Alessandro? Por
Parte 7 Emma O sol mal começou a iluminar as ruas estreitas de Palermo quando eu parei o carro naquela praça. Eu não podia ficar e esperar que o dia nascesse, tinha que sair antes que ele voltasse para casa. A essa hora Alessandro já acordou e já se deu conta de que eu não estou no apartamento. Talvez tenha encontrado meu bilhete. Suspirei. Meu estômago está começando a roncar, pedindo por comida. Eu não trouxe nada comigo, nem mesmo uma barra de chocolate para me dar mais um gás no percurso. Eu olho para os retrovisores, um pouco nervosa. Até sinto meus dedos das mãos começarem a doer de tanto que agarro esse volante. Estou muito ansiosa. A cada curva que o carro faz, percebo que não deveria ter vindo dirigindo. Saber a teoria não tem nada a ver com a prática. Se meto o pé no acelerador o carro faz curvas bruscas e se alivio, ele para ou engasga. É péssimo! Isso só revela aos outros por perto, que sou inexperiente ao dirigir. E não vai ser nada legal se outro policial me abordar
Parte 8 Isabela Eu olho na direção da casa. Sinto pena de meu cunhado, mas eu tinha uma ideia de que talvez isso viesse a acontecer. Ele nunca foi honesto com Emma sobre ter uma vida diferente, sobre ser um mafioso e sobre tudo o que fazia. Ou pelos menos fazer um resumo, assim como Victor fez com a Lívia. Torço a boca, apertando os lábios. É uma pena mesmo. Eu senti que ela estava estranha, mas achei que estava só aborrecida e não pensando em sair de casa e largar o Alessandro. Coitado! — Eu falei sobre isso com o Enzo... – deixei meu copo em cima do guardanapo — Eu disse a ele que mandasse Alessandro chamar a Emma para uma conversa – dei de ombro, meio aborrecida — Me sinto mal por isso. Eu deveria ter insistido para que Enzo o aconselhasse. — Mas o que ela tinha, minha querida? – Yelena perguntou, se inclinando para mim — Você sabe de algo? É grave? — Ai, minha sogra... – suspirei e fiz uma careta de sentida — A Emma estava com uma ideia fixa de que Alessandro tem uma outra m
Parte 9Alessandro— Vocês acham que ela descobriu que eu faço parte da máfia? – perguntei enfiando os dedos pelo cabelo.— É bem provável, mas pode ser que você tenha feito algo que a deixou magoada – Victor disse.Eu apertei os dedos das mãos, estalando um por um. Realmente, ele pode ter razão. De repente Emma acabou descobrindo antes que eu revelasse, que sou um mafioso de família antiga nesse meio e ela não quis mais ficar comigo. Pode ser isso.Olhei para Enzo, sentado em sua poltrona de couro, o ambiente estava envolto em uma sensação que condizia com meu estado de espírito. O brilho do sol que entrava pela janela aberta, projetava sombras sinistras em seu rosto, acentuando os vincos de preocupação em sua testa. Eu sei que meus irmãos se preocupam por mim.— Acho que vou precisar de ajuda pra saber para onde ela foi – eu disse me recostando na cadeira.— Vamos colocar Manollo e Bartolo em busca de sua garota, irmão – Enzo abre a gaveta da mesa e puxa um envelope amarelo — Aqui t