Parte 6
Alessandro
Eu fiquei tão nervoso que a única coisa que passou em minha mente foi ir direto para casa e contar tudo para minha família. Eles sempre me dão força quando estou assim e agora preciso de uma luz, porque minha mente está travada.
Eu saí dirigindo em alta velocidade, o vento soprando pelos vidros semiabertos do carro. Estou tenso e minhas mãos agarram com força o volante do carro. Passei tão rápido pelo sinal vermelho que os carros buzinaram freneticamente e tive que desviar no susto, para não bater em outro carro. Estou focado em chegar logo em casa.
Quando passei pelos portões, dei um freio brusco, fazendo os pneus chiarem e o carro deslizou um pouco na brita. Saltei e corri em direção da porta. Desci apressado e quase corri pela casa, indo para a área de lazer. Uma empregada me disse que estão todos reunidos perto da piscina. Até bati a porta de acesso ao abrir. Desci para o gramado e eles se viraram para me olhar.
Enzo logo levantou.
— O que houve, Alessandro? Por que está agitado assim?
— Isabella! Enzo! - eu olhei ao redor, perturbado e ofegante — Vocês sabem onde está a Emma?
— Não... – Isabela levantou também, preocupada.
— E você, Lívia? – eu me abaixei ao lado da cadeira dela — Sabe me dizer onde está Emma?
Lívia estava surpresa e só negou com a cabeça.
— Meu filho, calma – minha mãe me aponta uma cadeira — Sente-se aqui com a gente. Diga o que aconteceu.
— É a Emma – passei a mão no cabelo e respirei fundo — Ela... Ela desapareceu. Eu... Eu não sei o que fazer.
Um silêncio tenso paira sobre nós e eu sei que acabei preocupando minha família, mas me sinto fora de mi e angustiado.
— O que você quer dizer, ela desapareceu? – Victor j**a o guardanapo na mesa e se levanta.
— Eu... Eu cheguei ao apartamento e ela não estava lá. Chamei e nada – eu gesticulava sem parar, nervoso — Liguei várias vezes e em nenhuma vez ela me atendeu ou respondeu às minhas mensagens... Todos os seus pertences... Sumiram. Não há sinal dela em lugar algum... – esfreguei a testa.
— Meu Deus!... Emma... – Isabela colocou a mão no peito.
Eu abaixei a cabeça entre as mãos e foi a primeira vez que eu me senti desse jeito. Frágil e derrotado.
— Fique aqui, irmão – Vitor diz, levantando — Nós vamos cuidar disso.
Os dois se afastam em direção da casa e com certeza vão começar a procurar a Emma, que é o que eu deveria fazer também, mas me sinto abatido.
— Vocês duas não sabem de nada? – ergui a cabeça — Qualquer coisa que possa me ajudar a entender o que houve com ela.
Achei por um instante que elas sabiam de algo, pelo modo como se olharam.
— Não... Eu não sei de nada, cunhado – Isabela respondeu.
— Eu também não sei... – Lívia disse, se ajeitando na cadeira — Bem, o que sei é que ela desmarcou um encontro com nosso grupo de leitura. Eu até liguei para ela e demorou a atender, mas disse que não poderia participar dessa vez.
— E quando foi isso? – eu questionei angustiado.
— Tem... – ela pensa — Três dias, não é isso, Isabela?
— Sim, nosso último encontro foi anteontem e ela não apareceu – ela inclina a cabeça — Você não a viu ontem?
— Não, eu tive que ficar organizando um despacho e resolver um problema interno – me joguei para trás na cadeira — Ahhh... Merda! – esfreguei o rosto.
— Calma, meu filho... – minha mãe segura meu braço — Tudo vai se resolver, você vai ver... – ela me olha, preocupada — Com certeza seus irmãos vão saber o que houve e logo Emma estará de volta.
Eu levantei e sai andando apressado atrás dos meus irmãos.
** ** **
Emma
Eu não deveria ter parado aqui, mas estava tão nervosa ao me afastar do apartamento que precisei parar. E também não sou muito confiável para dirigir. Eu sei o básico, é claro, mas nunca fiz aulas de direção e esse carro é muito forte, muito rápido.
Eu me sinto tão mal por sair dessa forma que tenho um bolo na garganta. Eu sei que ele vai ficar com muita raiva de mim por não ter esperado que voltasse para casa e tivesse uma conversa, mas eu não sei como seria essa conversa e no fundo, tenho um pouco de medo que ele me acuse de ter engravidado de propósito.
Deixei o carro parar por duas vezes. Não tenho experiência. Quando eu vi essa pracinha aqui, sem ninguém, eu achei melhor parar e meu corpo cheio de estresse me fez ficar travada, pensando em tudo.
Chorei. Não tinha ninguém para me ver chorando e se tivesse, eu não ligo para isso também. Não os conheço e meu coração está apertado, eu preciso desabafar e colocar para fora. Então eu chorei.
Depois de chorar muito, me senti cansada. Conferi se a porta estava trancada mesmo, soltei o sinto de segurança e tentei relaxar, fechando os olhos. Minha cabeça está pesada, como se uma mão invisível apertasse meu crânio.
Não sei quanto tempo depois eu senti o sono chegar.
** ** **
O som de batidas suaves no vidro do carro interrompeu meu sono, e me fez despertar sobressaltada. Eu pisquei várias vezes, tentando me orientar enquanto olhava para o guarda parado ao lado do carro.
— Senhorita, está tudo bem? — perguntou o guarda com preocupação, inclinando-se para olhar para dentro.
Eu esfreguei os olhos e pisquei algumas vezes para clarear minha visão turva antes de responder.
— Ah, sim, estou bem. Só peguei no sono por um instante. — eu tentou disfarçar meu constrangimento com um sorriso cansado.
O guarda assentiu compreensivo, mas seu tom de voz era firme quando ele continuou:
— Sinto muito, mas não é seguro ficar parada aqui. Você precisa seguir em frente, senhorita.
Eu assenti, percebendo que ele estava certo. Liguei o carro e comecei a me preparar para partir, lutando para manter os olhos abertos enquanto ajustava o cinto de segurança e verificava os retrovisores.
Antes de sair, virei-me para o guarda e agradeci por sua preocupação.
— Obrigada pela gentileza, senhor. Desculpe pelo incômodo.
O guarda apenas acenou com a cabeça em resposta, observando enquanto eu dirigia, tentando não dar na cara que não sei fazer isso muito bem. A luz da manhã que começa a inundar a cidade adormecida me diz que ainda tenho muito chão pela frente.
Autora Ninha Cardoso.
Parte 7 Emma O sol mal começou a iluminar as ruas estreitas de Palermo quando eu parei o carro naquela praça. Eu não podia ficar e esperar que o dia nascesse, tinha que sair antes que ele voltasse para casa. A essa hora Alessandro já acordou e já se deu conta de que eu não estou no apartamento. Talvez tenha encontrado meu bilhete. Suspirei. Meu estômago está começando a roncar, pedindo por comida. Eu não trouxe nada comigo, nem mesmo uma barra de chocolate para me dar mais um gás no percurso. Eu olho para os retrovisores, um pouco nervosa. Até sinto meus dedos das mãos começarem a doer de tanto que agarro esse volante. Estou muito ansiosa. A cada curva que o carro faz, percebo que não deveria ter vindo dirigindo. Saber a teoria não tem nada a ver com a prática. Se meto o pé no acelerador o carro faz curvas bruscas e se alivio, ele para ou engasga. É péssimo! Isso só revela aos outros por perto, que sou inexperiente ao dirigir. E não vai ser nada legal se outro policial me abordar
Parte 8 Isabela Eu olho na direção da casa. Sinto pena de meu cunhado, mas eu tinha uma ideia de que talvez isso viesse a acontecer. Ele nunca foi honesto com Emma sobre ter uma vida diferente, sobre ser um mafioso e sobre tudo o que fazia. Ou pelos menos fazer um resumo, assim como Victor fez com a Lívia. Torço a boca, apertando os lábios. É uma pena mesmo. Eu senti que ela estava estranha, mas achei que estava só aborrecida e não pensando em sair de casa e largar o Alessandro. Coitado! — Eu falei sobre isso com o Enzo... – deixei meu copo em cima do guardanapo — Eu disse a ele que mandasse Alessandro chamar a Emma para uma conversa – dei de ombro, meio aborrecida — Me sinto mal por isso. Eu deveria ter insistido para que Enzo o aconselhasse. — Mas o que ela tinha, minha querida? – Yelena perguntou, se inclinando para mim — Você sabe de algo? É grave? — Ai, minha sogra... – suspirei e fiz uma careta de sentida — A Emma estava com uma ideia fixa de que Alessandro tem uma outra m
Parte 9Alessandro— Vocês acham que ela descobriu que eu faço parte da máfia? – perguntei enfiando os dedos pelo cabelo.— É bem provável, mas pode ser que você tenha feito algo que a deixou magoada – Victor disse.Eu apertei os dedos das mãos, estalando um por um. Realmente, ele pode ter razão. De repente Emma acabou descobrindo antes que eu revelasse, que sou um mafioso de família antiga nesse meio e ela não quis mais ficar comigo. Pode ser isso.Olhei para Enzo, sentado em sua poltrona de couro, o ambiente estava envolto em uma sensação que condizia com meu estado de espírito. O brilho do sol que entrava pela janela aberta, projetava sombras sinistras em seu rosto, acentuando os vincos de preocupação em sua testa. Eu sei que meus irmãos se preocupam por mim.— Acho que vou precisar de ajuda pra saber para onde ela foi – eu disse me recostando na cadeira.— Vamos colocar Manollo e Bartolo em busca de sua garota, irmão – Enzo abre a gaveta da mesa e puxa um envelope amarelo — Aqui t
Parte 10LíviaEu me sinto mal por não ter insistido mais com a Emma, para que ela viesse ao encontro com a gente naquele dia. Eu senti que ela estava diferente, mas não cheguei a pensar que estivesse assim, pensando em deixar Alessandro. Eles se gostam tanto e o namoro deles foi tão rápido, logo foram morar juntos.— O que foi, Lívia?Olhei para a Isabela e dei um sorriso meio xoxo, sem graça, desanimado.— Eu deveria ter procurado por ela... Eu senti que estava diferente, mais lenta, desanimada – mexi o ombro e enrolei o cabelo na mão, segurando, olhando para o gramado verdinho — Ela sempre gostou de nossos encontros com as colegas do clube do livro...— Não fique se culpando, querida – Yelena bateu de leve em minha mão.— Também acho... – Isabela continuou — Eu também senti que ela estava um pouco estranha, mas ofereci minha ajuda por mais de uma vez e ela não quis – ela cruzou as pernas, segurando o joelho — Não acho que temos culpa realmente, embora me sinta um pouco triste por v
Parte 11Lívia— Estão prontas? – Yolanda me pergunta quando entro na cozinha.— Eu estou – olhei para Isabela.— Eu também – ela disse ajeitando a alça da bolsa no ombro — Mas eu não disse ao Enzo que nós vamos até a faculdade onde Emma estuda. Ele pensa que nós vamos sair para fazer compras.— Mas ele vai saber, Isabela – eu disse erguendo as sobrancelhas — E os seguranças que vão com a gente?— Ah... – eu dei de ombro — Quando ele souber, nós já fomos e aí já era.Yelena sorriu de canto. Eu sei que ela gosta desse modo da Isabela ser, mas eu ainda não peguei esse modo. Victor é diferente do irmão, apesar de ser mais velho. Enzo é bruto, eu já vi, mas ele explode logo e depois se acalma. Já o Victor é o contrário. Ele é calmo e quando explode, é bem pior.— Não se preocupe com isso, Lívia. Eu assumo se algo der errado – Yelena disse para me deixar tranquila — Eu sei que você ainda está começando a pegar o jeito da coisa aqui entre nós – ela sorriu — Mas logo vai se habituar e domina
Parte 12IsabelaMe virei de olhos bem abertos. A cara de meu marido não estava muito boa. Lívia deixou o copo em cima do balcão da pia e se retirou, nos deixando sozinhos.— Realmente, marido... Está muito abafado hoje – terminei de beber a água — E por isso mesmo que eu vou aproveitar e tomar um bom banho para me refrescar.Me aproximei dele e ergui o rosto para lhe dar um beijo. Minha intenção era sair e evitar um confronto, mas não deu muito certo. Enzo segurou meu pulso.— Finalmente voltou, esposa. Onde estavam?Eu poderia continuar com a desculpa que dei antes de sair, mas seria uma bobagem, já que ele deve saber para onde fomos ou vai saber em instantes, quando falar com algum dos seguranças que estavam conosco.— Nós fomos até a faculdade de artes para tentar saber de algo sobre a Emma – preferi soltar logo tudo.— Mas por que vocês precisam se meter em tudo? – ele fez uma cara descontente — Por acaso acham pouco tudo o que aconteceu com a família nos últimos tempos, é isso?
Parte 13AlessandroDe alguma forma, eu me sinto ligado a Emma. Mesmo ela tendo fugido de mim, sem nem eu mesmo saber o motivo, eu sei que ela deve estar sofrendo em algum lugar onde está escondida, porque eu estou sofrendo também.Isso nunca me ocorreu antes. Eu nunca me preocupei com nenhuma outra e nem me liguei dessa forma, ao ponto de não conseguir ficar em paz. Eu preciso encontrar Emma. Preciso!Soltei o ar em uma lufada triste, me sentindo confuso. Até agora nada de alguém me ligar para dizer que sabe onde ela está.A primeira coisa que fiz foi entrar em contato com dois funcionários do aeroporto que estão em nossa ficha de subordinados. Eles vão procurar por algum voo onde Emma possa ter embarcado. Se ela deixou o país eu vou saber.Enzo também mandou que Manollo buscasse por informações nos portos. Depois o mesmo por terra. Por onde Emma saiu, se saiu do país, eu vou saber. Mas no fundo, tem algo que me diz que ela não fez isso. Ela ainda está por aqui.O relógio ao lado de
Parte 14Isabela— Eu sei porque nós não conseguimos nenhuma informação que servisse para encontrar a Emma – eu disse me sentando ao lado de Yelena — Fomos ao lugar errado.— Errado? – ela baixou a xícara no pratinho — Mas a faculdade era aquela e...— Sim, mas fomos no local errado, minha sogra – me inclinei e peguei o prato que a empregada me passou — Emma não estuda artes como profissão... Ela estava tentando se formar em arqueologia marinha.— E que diabos isso faz? – ela se espantou e se reclinou na cadeira — Pensei que seria algo de artes.— Eu também, Isabela. Ela me falou sobre aulas de artes – Lívia estava do outro lado da mesa.— Sim, eu sei que ela também fazia artes e mais puxado para curadoria e museus – abanei a mão — Essas coisas aí... Eu não sei bem como se chama, mas na área de artes, poucos a conhecem realmente e por isso ninguém nos informou nada de interessante.— Então você quer voltar à faculdade? – Lívia cortou uma fatia do bolo.— Quero, mas acho que hoje é mel