— Mas eu não consigo, Miguel, simplesmente não dá — Beatriz disse, se deitando em sua cama com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu te entendo, mana — Miguel disse, se deitando ao seu lado e pegando sua mão. — Sei que não foi fácil, mas...
— Não! — ela gritou. — Não me peça para pensar em você! Não tem ideia do que passei aqui com a mamãe e o papai, de como eu via a nossa família ser destruída porque sentíamos a sua falta, de como papai se afundou na bebida e a mamãe dias e dias em cima de uma cama, deprimida — Beatriz se levantou, apontando o dedo para Miguel.
Miguel respirou fundo. A irmã tinha razão, fazer com que ela o ajudasse era pedir muito. Bea odiava Lucas tão ou mais do que ele, mas vendo-a naquele estado de nervos só fez a vontade de se vingar que existia dentro dele aumentar. Deveria fazer tudo para que Lucas pagasse por ter tentado matá-lo, por fazer a sua família passar por tudo aquilo. Ele não estava aqui, mas poderia imaginar a dor que todos sentiram.
— Me desculpe, Bea, não quero te forçar a nada — disse, se sentando na cama. — Eu não estava aqui, mas tenho uma ideia do que passaram.
— Me desculpe, Miguel. Eu quis matar o Lucas quando vi vocês dois próximos..., pensei que conseguiria, mas não dá! Eu o odeio, odeio!
— Eu sei, eu também o odeio. Quando estava na ilha, sem memória, eu vivia pensando se tinha ou não uma família, chorava constantemente porque sentia falta de vocês — contou o rapaz. — Era tão difícil, porque eu sabia o que era o sentimento de saudade, mas eu não sabia de quem eu sentia falta. Todos nós sofremos porque Lucas queria tudo que eu tinha e não pensou duas vezes no mal que faria as pessoas que ele dizia amar — acrescentou Miguel. — E pelo nosso sofrimento, nossa dor, tudo que fez vocês passarem, cada lágrima derramada, pela separação de oito anos que causou, por tudo isso..., é que eu preciso juntar provas e condená-lo! Preciso fazê-lo pagar! — falou com o tom mais pesado, mostrando ressentimento.
— Você, de todos, foi o que sofreu mais.
— Não acho que fui eu que sofri mais, acho que todos têm as cicatrizes desse passado e temos que curá-las da forma que for melhor para nós — falou o rapaz. — No meu caso, é seguir o meu plano, fazer o Lucas enlouquecer e ter provas de que ele tentou me matar — acrescentou. — Compreendo que você não queira, mas eu preciso disso — disse, soltando um suspiro.
Beatriz foi até a cama, onde o irmão estava sentado de pernas cruzadas, deitou a cabeça ali e se pôs a pensar em tudo. Por mais que ela odiasse Lucas, deveria ao menos deixar o caminho livre para o irmão, para que ele se livrasse de toda a dor que causaram nele.
— Eu não sei se consigo conviver com o Lucas — ela disse sincera.
— Não te pediria isso — Miguel passava a mão na cabeça da irmã. — Ele não virá mais à nossa casa, não sem que tenhamos conhecimento.
— Mas e no hospital, como vou fazer? — Beatriz soluçava.
— Acharemos uma solução.
— Está bem.
— Confia em mim.
— Eu confio!
***
Durante o restante da noite e da madrugada, Beatriz ficou acordada com Miguel, fizeram uma sessão de cinema no quarto dela, onde contou mais coisas sobre a sua vida para o irmão e sobre Maicon e Malú.
Miguel ficava mais e mais apaixonado por Malú e mais encantado com o seu filho a cada história, mal via a hora dele se aproximar deles e finalmente viverem o que foi roubado.
— Bea, quero que me ajude com uma coisa — ele tinha um sorriso encantador nos lábios, o que fez Beatriz sorrir na hora.
— Ajuda com a Malú?
— Sim, como soube?
— E só olhar para sua cara de pateta que dá para perceber — ela gargalhou e Miguel jogou uma almofada nela.
— Me respeite, mocinha.
— Ui... que chato! Me diz o que quer, vamos ver se posso te ajudar.
— Quero vê-la e você tem que me ajudar nisso.
— Já me disse isso e já disse que ajudo — deu de ombros, afinal, ela já prometeu isso ao irmão.
— Sim, disse, mas quero fazer algo especial.
Beatriz olhou para o irmão, que sorria sem parar. Quando percebeu o que ele segurava, não se conteve e gritou de pura alegria, pulando na cama como uma criança feliz. Era isso que ela esperava dele, que se resolvesse com Malú e que fossem felizes. Sabia que o amor dos dois era algo destinado a acontecer, que seriam felizes juntos, e apoiava completamente o irmão.
— Quando vai ser? — perguntou, cheia de expectativas.
— Amanhã — Miguel respondeu. — Quero que você peça para levar meu filho na escola com alguma desculpa e que me deixe entrar na casa dela.
— Vai assustá-la assim — comentou a moça.
— Não, não vou, já tenho tudo planejado — retrucou ele, confiante.
— Queria ver o reencontro. — Bea fez bico.
— Eu sei, mas não dá, eu tenho medo de que as coisas não saiam como planejado.
— Bem, duvido que não sairá, Malú te ama demais.
— E eu a ela — Miguel sorriu e guardou o pequeno objeto no bolso.
— Será que um dia vou ter um amor assim? — perguntou com os olhos brilhando.
— Claro que vai, Bea, você é uma mulher incrível, bonita e inteligente. Às vezes é uma ogra, mas o que vale é que tem um bom coração — Miguel disse rindo, mesmo após Bea ter lhe dado um soco no braço. — Aí, doeu — disse passando a mão onde recebeu a agressão.
— Para aprender a não me chamar de ogra — ambos riram.
A noite estava agradável, Miguel assistiu vários filmes, Beatriz já viu todos, mas não se importou em vê-los novamente, afinal, estava com seu irmão e estava sendo uma experiencia diferente, única.
Beatriz acordou com Miguel a cutucando. Ela olhou para o irmão e depois para o relógio, virou o rosto e fechou os olhos para dormir novamente, mas o rapaz não se deu por vencido e começou a cutucá-la novamente.
— São cinco e meia da manhã! Me deixe dormir!
— Não, não se lembra do que vamos fazer hoje? — perguntou cheio de entusiasmo.
— Sim, me lembro muito bem, Miguel — Bea bufou. — Mas estou com sono, meu filho — acrescentou, resmungando.
— Por favor, Bea — insistiu seu irmão. — Se levante dessa cama, se arrume e desça para tomar café.
Beatriz tirou o travesseiro de cima da cabeça e se sentou na cama. Olhou Miguel de cima à baixo e assoviou.
— Você não dormiu?
— Não, estou ansioso — respondeu. — Vamos, ande logo! Tem meia hora para descer, comer algo e sair. Não demore!
— Ok — ela disse ao irmão, se levantando e indo ao banheiro.
Miguel saiu do quarto e foi para a cozinha. Dora já estava à beira do jogão, fazendo um café delicioso. Ele se sentou na bancada da cozinha, pegou um pão de queijo e comeu.
— Menino, por que acordou tão cedo? — ela perguntou, entregando uma xícara de café ao Miguel.
— Vou sair com a Bea. Diga a dona encrenca que não virei almoçar.
— Aonde vão? — perguntou, desconfiada.
— Vamos dar um passeio.
— Estão aprontando, eu sinto isso.
Miguel sorriu e pulou da bancada quando viu que Beatriz entrava na cozinha. Ela terminava de fazer uma trança em seus cabelos. Tomaram um café rápido e saíram. Miguel sentia seu estômago revirar a cada esquina que eles dobravam. Vinte minutos depois estavam parados em frente à casa de Malú. Beatriz olhou para o irmão, que não se aguentava de tanta ansiedade, pegou o telefone e ligou para Malú.
— Malú, bom dia, tudo bem?
— Beatriz?
— Sim, sou eu mesma.
— Tá tudo bem?
— Ah, sim, fique tranquila, só quero saber se posso levar meu sobrinho para a aula hoje.
— Claro, ele sai em quinze minutos.
— Já estou aqui na sua porta.
— Ok, estou descendo para abrir para você. Tchau!
— Está bem! Tchau!
Beatriz desligou o telefone e olhou para Miguel, que sorria.
— Sua arcada dentaria irá pular para fora — zombou ela. — Sorria menos, saia do carro e se esconda ali, atrás da árvore, vou dar um jeito de deixar a porta aberta para que possa entrar.
— Ok.
— Não deixe que Maicon te veja.
— Está bem. Vai logo, por favor.
Beatriz revirou os olhos e saiu do carro, Miguel fez o mesmo, ficando escondido atrás de uma árvore, esperando a irmã sair. Não demorou muito para que ele a visse junto com o filho. O menino estava pulando e feliz. Beatriz olhou para o irmão e sorriu, ela estava feliz em fazer parte daquilo.
Assim que ela saiu com o carro e virou a esquina, Miguel atravessou a rua e entrou na casa de Malú. Ele olhou tudo ao redor e todas as fotos nas paredes em cima do aparador o fizeram sorrir. O rapaz queria muito ter feito parte daquela fase da vida da amada. Então suspirou pesaroso com aquele pensamento.
Não podia voltar no tempo, mas poderia fazer com que a vida deles fosse feliz e se dependesse de Miguel, faria Malú e Maicon as pessoas mais felizes do mundo.
MALÚ acordou mais cedo naquela sexta-feira, tomou seu banho tranquilamente e havia saído do banheiro quando o telefone tocou. Era Bea do outro lado da linha, pedindo para levar o sobrinho à escola. Ela achou aquilo estranho, ainda mais porque a cunhada já estava em frente à sua casa. Não que Bea não tivesse aquele costume, pelo contrário. Ela sempre fazia aquilo, porém, combinavam durante o dia com antecedência. Escutou a campainha de casa, então desceu as escadas e foi abrir. Abraçou forte a cunhada. Ela a tinha como uma irmã.— Maicon está descendo.— Ok.— Como todos estão? — Malú disse, indo para a cozinha.— Todos bem, muito bem.— Que bom, fico feliz. Já tomou café?— Sim, comi algo antes de sair. — Ela se sentou na cadeira da cozinha.— Tia, tia, tia..
Sunlight comes creeping inIlluminates our skinWe watched the day go byStories of what we didBrids - Winks MALÚ estava sem fôlego. Os beijos de Miguel a deixavam sem ar. Ela ainda não acreditava que ele estava ali, sonhou tanto com esse momento, que não conseguia acreditar. Tê-lo em seus braços novamente era indescritível.— Miguel... — ela sussurrou o seu nome entre o beijo.— O que foi? — Miguel parou e a olhou.Malú tinha um sorriso doce nos lábios e isso fez com que o seu coração se aquecesse. Miguel não sabia como aguentou tantos anos sem a sua amada. Aquele sentimento que havia dentro dele era o mesmo de quando começaram a namorar, era algo puro, genuíno, que aquecia e fazia bem.— Vamos para o quarto — ela disse saindo dos braços
Breaking every chain that you put on meYou thought I wouldn’t change but I grew on yah'Cause I will never be what you wantedThis fire, (this fire), this fireJonathan Roy - Keeping Me AliveSe você pudesse deter um desastre, você deteria? Ou deixaria acontecer?— Doutor Lucas, Doutor Lucas! — Lucas voltou a si com Caroline chamando por ele. Ouviu o barulho do monitor cardíaco acusando a morte da paciente.Ele olhou ao redor. Sua cabeça parecia que explodiria. Olhou para as suas mãos cheias de sangue. A direita tremia. Ele soltou o bisturi e se afastou da mesa de cirurgia, não entendia como fora parar ali, estava na casa dos Alazar com... com Miguel, então depois tudo se apagou.— Doutor Lucas — ela o chamou mais uma vez. — Declare a morte da paciente. — Seus olhos foram para o r
Would you take the wheelIf I lose control?If I'm lying hereWill you take me home?Jess Glynne - Take Me HomeBEATRIZ estava parada na frente do espelho de sua casa, olhando-se dos pês a cabeça. Seu novo uniforme era um macacão azul, tinha listras cinza nos joelhos, cintura e nos braços, elas brilhavam no escuro e nas laterais eram de um tom de laranja vivo. As botas eram pesadas. Ela sorriu. Sabia que sua mãe não apoiava aquela ideia, mas era aquilo ou se mudar, pois ela não conseguia ficar perto de Lucas, não depois do que ele fez com seu irmão e sua família.Ela foi tirada de seus pensamentos com Maicon, que entrou correndo no quarto da moça e a olhou dos pés à cabeça.— Uau! — ele disse encarando a tia. Tinha a boca em forma de O e olhos brilhantes.— Que foi, moleque? Nunca
There is a house built out of stoneWooden floors, walls and window sillsTables and chairs worn by all of the dustThis is a place where I don't feel aloneThis is a place where I feel at homeThe Cinematic Orchestra - To Build A HomeMIGUEL acordou sentindo beijos pelas costas. Um sorriso foi crescendo em seu rosto. Era tão bom se sentir assim: Amado.Ele se virou, encarou Malú e sorriu. Ela subiu nele e o beijou com paixão, ainda não acreditava no que aconteceu. Tê-lo ali com ela era a realização de um sonho que há muito carregava dentro de si. Achou que nunca mais sentiria a felicidade que sentia naquele momento, era uma coisa crescente dentro do peito, parecia que seu coração ia explodir.— Bom dia, meu amor! — disse após soltar os lábios dele.— Bom dia, minha vida. Acordou cedo — ela s
FALCÃO andava de um lado para o outro, estava nervoso e cansado. Às últimas vinte e quatro horas foram difíceis e cansativas. Recordou o horror dentro daqueles túneis fétidos, as pessoas mutiladas, as crianças mortas com os corpos empilhados como sacos de batatas. Ainda tinha a história de Miguel, tudo o que ele passou desde que foi deixado para morrer naquele iate...Será que a maldade de Lucas não tinha fim?O que mais ele faria para que seus planos dessem certos?Olhou para Donna e se sentiu profundamente culpado por ela. Todos aqueles aparelhos e tubos saindo dela. Talvez, se ele tivesse prestado mais atenção em Lucas, poderia ter evitado tudo aquilo. Suspirou pesadamente e seus olhos se encheram de lágrimas.Os exames de Donna estavam ruins, ela tinha anemia, ossos quebrados que mal foram curados, uma gestação sem nenhum acompanhamento médi
All that I ever wasIs here in your perfect eyes,they're all I can seeSnow Patrol - Chasing Cars MIGUEL estava olhando o filho dormir. Depois de muita conversa e choro, o menino disse que estava cansado e com dor de cabeça, então ele o levou para o seu quarto. Assim que o colocou sobre a cama, foi puxado e abraçado pelo pequeno, que adormeceu tão rápido grudado ao pai. O rapaz se sentiu grato pelo menino compreender tudo tão fácil e concluiu que Maicon era realmente fantástico.Encarou o filho, que dormia em cima dele. A forma como respirava, o jeito como seus olhos se remexiam, inquietos por causa dos sonhos, a forma como seus cabelos caíam em seu rosto, sua boca carnuda...Maicon era mesmo muito parecido com Miguel quando pequeno e notando isso, o rapaz afagou a cabeça do filho e pensou que tudo que estivesse
LUCAS olhou para Miguel sentado confortavelmente em seu sofá. Sorriu e levou as mãos à cintura. Aquilo, para ele, só poderia ser uma piada.— Como assim, Miguel? — indagou o Dr. — Você não me disse que está sem memória? — ele lutava para falar calmamente, mas o que queria era terminar o que começou anos atrás.— Sim, mas eu disse que não lembro do acidente, como se tivesse sido apagado da minha memória — respondeu o rapaz. — E como a sua especialidade é a mesma que a minha, Dr. Juan disse que eu poderia ficar com você, assim pode me ensinar tudo que aprendeu nesses anos — explicou Miguel ao ex-amigo. — Eu estou apto para trabalhar, só não posso sozinho.— Eu não sei se isso é bom para você — disse, voltando a se sentar em sua mesa e desligando o computador.&mdas