Os galhos afiados da árvore espinhosa e seca lá fora arranhavam a construção de madeira velha enquanto ela observava pela janela branca com a tintura descascada. A chuva caía grossa lá fora, como se o mundo estivesse acabando em água, levando às enxurradas um gatinho branco bueiro abaixo e apedrejando com força o telhado da única construção mais próxima.
As vigas tremiam enquanto o vento forte acertava a casa velha, o ar em movimento entrando pelas frestas e emitindo rugidos aleatórios e assustadores enquanto o mundo uivava lá fora.
Ela não esperava menos.
Se perguntava se finalmente haveria acontecido.
Haviam tantos anos que ela observava por aquela janela! E nada nunca mudava. Porém, agora, a natureza parecia urrar com algo que ela rapidamente poderia identificar co
P A R T E I _ C H A M A S"Para o frio existe o calor.E essa chama até então desconhecidanãopermitiráQue o frio permaneça"._autor desconhecido.ANOITE ESTAVA SILENCIOSA. A lua grande e brilhante no céu escuro e limpo era uma clara evidência do clima agradavelmente quente que a atmosfera continha. As estrelas formavam uma linha torta e deslumbrante nas entrelinhas manchadas de cinza acima das nuvens, lembrando ás pagina rabiscadas de um caderno. Desorganizado, mas incrível.A cidade flutuava em um longo si
IVI ESCORREGOU EM UMA POÇA DE LAMA pela enésima vez.— Ora... malditos acontecimentos climáticos. Há algo malditamente errado sobre isso tudo... — ela chutou lama pra longe enquanto arrumava seus cachos ruivos em baixo da boina rosa novamente. — se eu der mais um espirro, vou me desequilibrar e acabar com a bunda bem em cima de uma dessas poças ridículas.Pisquei contra o vento frio, que soprava meu cabelo em todas as direções, menos para a direção certa. Com as mãos enfiadas em punho nos bolsos do casaco, eu tentava digerir pelo menos metade das coisas que vinham acontecendo em minha vida. Patético. Ao fim da tarde, os cafés ao ar livre que costumavam estar sempre cheios de gente bebericando coca gelada, agora era só um amontoado vazio de cadeiras geladas.
PROCUREI POR RESQUÍCIOS DE ALGUMA ANOMALIA no mais profundo de meus olhos enquanto encarava meu reflexo no espelho quadrado de meu banheiro, todo envolvido em ladrilhos brancos com cristânios arroxeados.Vamos lá, aconteça! Seja lá o que for que possa acontecer... se é que realmente está acontecendo de fato alguma coisa...Talvez, se eu balançasse as mãos para cima e para baixo...Oh, idiota...Mas minha imagem pálida parecia apenas a mesma imagem pálida de sempre. Meus cabelos cor de chocolate se emaranhavam em ondas até minhas costas, as sardas que salpicavam meu rosto estavam bem pronunciadas como de costume, o que me garantia aquele ar de criança ridiculamente petulante que Havana vivia dizendo que eu tinha. Só que reparando bem agora, examinando cada peda&cced
ACORDEI COM AS BATIDAS INSISTENTES TAMBORILANDO em meus ouvidos.Abri os olhos de vagar, tentando me lembrar de onde eu estava. A sala estava mais escura, apesar das luzes que saíam da tela da TV, e eu ainda estava sozinha em casa. Procurei o relógio de cuco na parede, enrugando a testa. Já havia passado das 3hrs, e tia Peg já devia estar em casa se planejara mesmo chegar antes do ônibus escolar.As batidas soaram insistentes de novo, e demorei um pouco a perceber que elas vinham da porta. Estava frio, a temperatura rastejando nos graus negativos, o que dizia que havia parado de chover a muito pouco tempo.Ainda coçando os olhos pesados, me levantei, cruzando a cozinha
EU COMEÇARIA POR TIA PEG.Pelo menos, era nisso que eu pensava enquanto descia as escadarias da academia junto com Ivi. E ainda era nisso que eu pensava quando meio sem querer, meus olhos deslizaram para o estacionamento, onde não demorei muito a localizar Eron, que andava em direção a Land Rover escura. E também havia alguém tentando puxar conversa com ele de uma maneira um pouco mais que evidente.Hanna.E claramente, ela parecia não estar tendo muito sucesso.Tá, e depois eu é que era estranha.Convenhamos. Hanna era a garota mais bonita da academia, porque fuinha ou n&atild
ANALISEI A FOLHA DE IVI ENQUANTO TROPEÇAVA PELO CAMINHO até o ponto de ônibus, com apenas Itham ao meu lado. Eu odiava quando Ivi tinha faltar a escola por estar com a garganta trancada, e também odiava quando ela empurrava para mim o dever de cobrir o treino dos Tigres da GL. Quero dizer, eu não era nenhuma repórter nem nada, e com certeza não tinha muito talento para escrever matérias, mas o que a gente não faz por uma melhor amiga cuja garganta se trancou?Ela havia citado em tópicos todas as partes importantes que eu deveria considerar antes de escrever, como se isso fosse realmente ajudar. Eu chacoalhava a cabeça enquanto terminava de ler.Grande droga.— Isso não é justo — reclamei enquanto Itham camin
P A R T E II _ N A S E S T R E L A S “Traduza a angústia em palavras, o sofrimento que não fala O coração carregado sussurra, e anuncia sua destruição.” Malcom, ato V, Cena 3,
ERA COMO SE O BIG BANG TIVESSE ACABADO DE estourar em meu nariz.De um momento para o outro, minha vida havia explodido em faíscas, e os pedaços haviam sido jogados para longe, incapacitando minha habilidade de compreensão. Eu me sentia em meio a corrida desesperada de reunir todos eles novamente, tentar me encontrar novamente, tentar entender quando exatamente tudo havia sido virado de cabeça para baixo e sacudido.Tia Peg tinha um olhar passivo no rosto, e se ela não estivesse dentro da Morada, e parecendo estar completamente ciente disso, eu ainda diria que ela me parecia a mesma de sempre.Eu estava tão boquiaberta, que mal percebi quando Arena se pôs em pé, com um sorriso terno no rosto enquanto fazia uma leve reverência.