ERA COMO SE O BIG BANG TIVESSE ACABADO DE estourar em meu nariz.
De um momento para o outro, minha vida havia explodido em faíscas, e os pedaços haviam sido jogados para longe, incapacitando minha habilidade de compreensão. Eu me sentia em meio a corrida desesperada de reunir todos eles novamente, tentar me encontrar novamente, tentar entender quando exatamente tudo havia sido virado de cabeça para baixo e sacudido.
Tia Peg tinha um olhar passivo no rosto, e se ela não estivesse dentro da Morada, e parecendo estar completamente ciente disso, eu ainda diria que ela me parecia a mesma de sempre.
Eu estava tão boquiaberta, que mal percebi quando Arena se pôs em pé, com um sorriso terno no rosto enquanto fazia uma leve reverência.
EU AINDA TENTAVA CONCILIAR A VOZ COM o dono dela quando ele emergiu completamente da penumbra que se escondia atrás dos portões, tornando o Parque um lugar separado da cidade, como se fizesse parte de um mundo paralelo. Era como se estivéssemos no centro do universo.Ele era completamente o que eu esperava que fosse quando apareceu. No máximo, dezoito anos, alto, magro, porém ainda tinha os ombros largos, os cabelos castanhos incomunmente maiores que o normal no topo da cabeça, onde eles recriavam as faces de um furacão, lançados em todas as direções. As roupas escuras eram coladas, como se ele fosse uma estrela do rock, e a jaqueta preta cheia de zíperes estava aberta, mostrando a camiseta com o decote V e o mais importante de tudo: uma marca.Um tornado escuro envolvido pelas pontas pontiagudas de uma estrela. El
O MAL DE ENCARA A VERDADE DE UMA VEZ POR TODAS, é que você passa a se acostumar com coisas estranhas que em outras circunstâncias, te deixariam com os cabelos em pé, de uma forma abrangente e assustadora. Era assim que eu me sentia. Eu deveria estar assombrada com o fato de que estava prestes a sair encarar o perigo de me deparar cara a cara com as Falanges das Trevas em massa pela primeira vez. Não contava meu primeiro encontro catastrófico com Jade.No entanto, era isso que eu ia fazer naquela noite, por que eu iria junto, eles quisessem ou não. Eu precisava descobrir o porquê de minha alma não ter virado pó ao tocar naquele livro.Mas no momento, eu estava preocupada demais tentando discutir com Arena a possibilidade de poder voltar para casa.Voltar para Havana.― N&a
P A R T E III _ A H O R A D O E S C U R O“As coisas mais bonitas do mundoSão sombras.”Charles Dickens.DE REPENTE, A GENTE PERCEBE QUE AS COISAS mais sensatas realmente não fazem nenhum sentido. Até elas são capazes de sair tão fora do eixo, a ponto de não conseguir mais nos deixar saber em que momento exatamente elas começaram a desandar. E não há uma maneira óbvia de fazê-las parar.Por exemplo, eu não conseguia parar de pensar que quase havia beijado uma Falange do fogo.Por exemplo, eu não conseguia parar de pensar que eu n&
-EVELINE, VOCÊ AO MENOS ESTÁ PRESTANDO ALGUMA atenção no que eu estou falando?Tirei a caneta da boca, sem me lembrar do momento em que passei a mordiscá-la, e encarei Ivi. Não. Eu não conseguia prestar atenção em nada do que ela falava. Eu não conseguia prestar atenção às coisas ao meu redor, e também não conseguia entender o que estava tirando toda a minha atenção com tanta facilidade.Mas não consegui dizer nada disso a Ivi. Tudo que consegui fazer, foi ficar encarando- como se essa fosse a primeira vez em que eu a estivesse vendo.Qual o seu maldito problema, Eveline Gringer? ― eu repreendia mim mesma em pensamentos enquanto tentava encontrar um jeito de fazer minha voz sair ― O mundo está praticamente entrando em fase de
SUOR FRIO ESCORRIA POR MINHAS COSTAS ENQUANTO eu tentava entender o que estava acontecendo. Eu já havia aprendido muito para saber que aquela não era uma frase qualquer e nem uma ameaça sem força.Estou vendo você.Entendido.Jade estava me vendo.Agora? Ele estava me observando agora mesmo? Ele estava ali, escondido em algum lugar de minha casa? E Peg? E Havana? Teria feito alguma coisa a elas? Onde estavam Arbo e Dublemore, afinal de contas? Pensar em encontrar Jade novamente fazia com que meu sangue se cristalizasse nas veias. Minhas recordações de nosso último encontro não eram nada agradáveis e nem convidativas o suficiente para que me fizessem querer repetir o ato.Finalmente, abri minha mente, fazendo tudo que eu podia fazer.Eron! Você está aí? Eron, por favor, pode me
QUANDO ERA PEQUENA, COSTUMAVA ME PERDER DE HAVANA no mercado imenso e sempre lotado de pessoas estranhas que costumavam me enviar olhares de solidariedade e pena. Nesses momentos, eu costumava ficar intensamente desesperada, correndo por todos os lados e tentando achar qualquer resquício de minha mãe, meu ponto de referência, minha pedra de sustentação.Era mais o menos assim que eu me sentia agora.Perdida. Em um lugar entre o Nada e o Ninguém.E para piorar ainda mais a situação, eu não conseguia pensar em nenhum mastro ou ponto de referência que me ajudasse a me achar dessa vez. No momento, eu não tinha nenhum marco em que me firmar.Rodeada por livros, eu me encontrava sentada mais uma vez em meio a enorme biblioteca da Morada. As paredes altas e enfileiradas de títulos estranhos e out
EM TODA A MINHA VIDA, EU NÃO ME LEMBRAVA DE ter tido uma amiga íntima como Ivi, a quem eu recorria a todo instante e a quem eu podia pedir conselhos sobre qualquer coisa. E mesmo que eu ainda não me sentisse completamente confortável com Arbo, eu havia me ligado a ela de maneira pouco comum.Havia algo sobre a garota Tempestade que chamava minha atenção de maneira quase peculiar. Era como se ela e Ivi fossem os dois lados opostos de uma mesma moeda. Ivi representava minha parte humana, e Arbo... bem, ela representava todas as coisas incomuns que haviam me assolado nos últimos dias. E isso não era ruim. Era até consolador, considerando a situação.Mas Arbo nunca pode saber o que aconteceu naquela sala, por que estávamos todos próximos demais, e isso dificultava qualquer conversa particular. E nã
DEVO DIZER QUE É EXTREMAMENTE IMPRESSIONANTE que vocês tenham mantido tudo isso escondido de Zórem e do Conselho há tanto tempo... Não é uma façanha tão fácil de ser realizada. ― Manson Pinnbolrg admitia enquanto os cantos de sua boca fina se baixavam em uma expressão de surpresa.A casa da família Pinnbolrg era bem iluminada e exibia características familiares que eu certamente esperava encontrar em uma casa comum. Mesmo que a fineza dos objetos fosse clara e obvia, comparada à visão rústica que a casa apresentava em seu exterior. As paredes internas eram lustrosas e brilhantes, como se a pedra polida emanasse luz própria, iluminando o ambiente de maneira pouco comum. Os estofados avermelhados e macios sugeriam um leve ar de luxo, ainda que de forma simples. As escadarias qu